sábado, 30 de janeiro de 2010

Entretanto...

...o manuel machadês está de volta

"A arbitragem em Portugal não é cristã. Ou esqueceram os princípios ou então não foram à catequese"

Não sei se chore, se ria

O Núcleo do Algarve da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores promoveu na passada Quinta-feira, dia 21 de Janeiro, um jantar-conferência com o presidente do grupo Renova, Paulo Pereira da Silva, subordinado ao tema ‘A excelência na Gestão: Jesus, CEO’

Paulo Pereira da Silva, engenheiro físico de formação, interpelou os gestores e empresários algarvios partindo do exemplo de Jesus Cristo que considerou o melhor “director-geral” ou “presidente”.

Paulo Pereira da Silva desafiou os empresários a “usar a sabedoria do Evangelho como meio para desenvolver a excelência numa empresa”. Lembrando que “o staff de Jesus Cristo era humano e analfabeto”, constatou que “os doze avançaram no desempenho da missão para a qual foram treinados”.


Entretanto uma busca no Google sobre noticias da Renova e descobre-se isto:

Mas soube-se ainda mais: a Renova, fábrica de papel sedeada em Torres Novas, está a produzir suportes de papel higiénico para casas de banho, totalmente em ouro e com 148 diamantes incrustados. Custam 100 000 euros. Haverá pessoas muito ricas, cujo capricho as levará a ter uma peça na casa de banho para pendurar o papel higiénico que custou 100 000 euros. Asseguram que quem adquirir estas peças fica com papel higiénico assegurado para toda a vida

Lá está a excelência de Jesus na gestão

ps: o homem até parece ser boa pessoa. Ou melhor procura ser boa pessoa junto dos seus funcionários. Mas simplesmente não resisti a colocar o titulo da conferência, naquilo que me parece ser um disparate.

Um blog a seguir

Fiquei estupefacto com tão grande sagacidade:

"Os cientistas orgulham-se - e com razão - de terem a capacidade de, quando entram no laboratório, colocarem de lado as suas crenças, para não se iludirem no seu trabalho de investigação."

Mais pérolas aqui.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Realmente, esta realidade que teima em ser real

De acordo com o Excelentíssimo Senhor Presidente da República «muitas das leis produzidas entre nós não têm adequação à realidade portuguesa», uma vez que a realidade portuguesa pertence a um domínio cognitivo de que apenas indívíduos do sexo masculino, nascidos em Boliqueime, cujo preenchimento dos boletins escolares incluía o conceito dono de uma bomba de gasolina, são portadores, o que nos obriga a qualificar os «impulsos do legislador», não como a decorrência da legitimidade eleitoral democrática e republicana mas como «ditados por puros motivos de índole política ou ideológica», conceitos de uma transparência tão aquosa como o peixe em aquacultura, palavras tão doces como o mel da Ti Palmira quando se estatela no chão, índole política e ideológica que transcende o espaço técnico e especular da realidade vista pelo canudo de York que o Excelentíssimo Senhor Presidente da República trouxe como recordação da pátria da realidade, a Inglaterra, política e ideologia que são como a peçonha dos liberais, que são como a doença venérea dos espíritos contritos criados na social-democracia germânica, que são como o sarampo dos militantes do psd, que são como as lombrigas dos economistas, o que tudo somado quer dizer que as leis muitas vezes produzidas sem o auxílio do Excelentíssimo Senhor Presidente da República «não vão ao encontro das necessidades reais do país» (outra vez a realidade a aflorar as franjas neuro-semânticas do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, quer dizer, dos seus acessores imberbes e lobotomizados), «nem permitem que os portugueses se revejam no ordenamento jurídico nacional», o que tudo somado que dizer que temos leis inadequadas mas, em contrapartida, graças ao divino espírito santo, temos um Excelentíssimo Senhor Presidente da República completa e totalmente adequado às necessidades reais do país, tão adequado, mas tão justamente adequado que já sinto comichão pela real proximidade que as suas palavras provocam na minha infeliz, e horrorosamente real, consciência de ser português. Como diria Valentim Loureiro, «Foda-se».

A luta continua

Completei hoje mais um capítulo do livro espectacular que estou a escrever em parceria com aquela metade mim mesmo que abomina visceralmente todas as formas de cornucópia intelectual menos as que são desenhadas em prol da expulsão de Jacinto Lucas Pires do território nacional. Atente-se que o livro referido, do qual nada posso dizer (a capa é constituída pela minha esfinge, mas em nu) é escrito como quem tira imperiais: pressão, rigor, golos do Benfica e muita espuma. O capítulo em questão descreve como dois gandulos interagem durante um exame de piano prestado por uma jovem monumentalmente talentosa mas destrambelhada candidata a pianista mais famosa do século, enquanto num outro plano, em pano de fundo com papel de parede padronizado anos oitenta, em homenagem ao homossexual Almodovar, decorre uma moscambilha que envolve uma velha caduca, um estudante de medicina, um poster do Benfica - época 93-94 -, e uma mesa de cozinha de madeira prensada de cor verde-garrafa. Mal finalizei o capítulo entreguei a mim próprio o prémio nóbel de Vila Franca de Xira. Só não esperava, ao sair do café, ser trespassado pela primeira página do Jornal de Letras, pendurada no quiosque manhoso que surgiu, qual cogumelo alado, na calçada mijada da rua em frente. valter hugo mãe acenou da página e mirou-me, recomendando que metesse o capítulo no lixo ou ainda acabava careca, com ar de gay, na primeira página do Jornal de Letras. Como não sou escritor, não obedeci à recomendação e fui para a porta do cabeleireiro esperar pela saída de miúdas que decidiram cortar o cabelo, e vêm, apesar de inseguras e selvaticamente belas, chorar a mágoa de terem decidido cortar o cabelo por qualquer coisa que sempre permanecerá inacessível para níveis cognitivos dotados de sexo masculino (diga-se em passagem, o Tolan é de facto genial, e ainda o seria mais se tivesse adoptado como nickname a espectacular palavra -Tolano - que vi estampada no chapéu de um pastor na Serra Amarela, vai para dez anos, dois segundos antes de aterrar com o focinho num charco de um ribeiro naturalmente biodiverso).

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

isto não é um bocado óbvio mas tem de ser dito

é sempre com alegria quando se descobre um blog que foge completamente a rotina da blogoesfera nacional (e a mim condeno-me no elogio sempre com posts aborrecidos). Génios há poucos, mas há sempre lugar para mais um:

as pessoas merecem o Miguel Sousa Tavares. Merecem o José Rodrigues dos Santos. Merecem o Nilton. Merecem a Margarida Rebelo Pinto. Merecem o José Luís Peixoto. Merecem o Paul Auster e merecem o Dan Brown. Mas ninguém merece o Jacinto Lucas Pires. Ou aquele comentador da SIC, o dos caracóis que não levou porrada que chegue ainda.

E o que dizer deste texto sobre os escuteiros? e sobre novas namoradas? e o corolário:

"Se fores fraco e não conseguires vencer os outros, então faz com que outros tenham pena de ti e tomem contem de ti. Mas não contes comigo. - pai, 1982 ou 83 "

A realidade dura do Haiti



O melhor site do mundo no Haiti aqui e aqui

Por causa deste monte de terra hoje saí de casa as 7h


E a culpa não é de ninguém

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

À luz desta invenção de linguagem, cuidado José Luís Peixoto e valter hugo mãe...

José Guilherme Aguiar - As coisas têm que ser ditas pelos nomes que são.

(às 22 54 no Dia Seguinte).

Em tese geral sou estúpido por não me ter ainda lançado da janela

José Guilherme Aguiar - Um empurrão é ou não uma agressão?
Silvio Cervan - Podemos dizer que n'alguns casos é e noutros não.

Isto era o início de um post absolutamente espectacular não fosse ter sido acometido por uma não menos espectacular cólica

Silvio Cervan é um comentador causídico ou é um casuista estupidamente comedido?

Qual será a maior imbecilidade: a verdade em forma de clube de futebol ou em estilo de equação matemática?

Uma das mais insistentes características do discurso contemporâneo é justamente a tentativa de caracterizar insistentemente o que é o discurso contemporâneo, procurando para o efeito, cada respectivo pensador, em sua teia de análises identificadoras da contemporaneidade, destacar as formas de verdade mais adequadas a expressar o seu pensamento como se ele fosse a-histórico e pleno de subjectividade, não querendo o opinador, ai de nós, fixar qualquer espécie de conteúdo prosélito ou evagelizador, ai deles, mesmo que para o efeito seja preciso desdizer-se três vezes na mesma frase e dar três cambalhotas no alcatrão de um post mal amanhado. Retendo uma irresistível vontade de rir, gostaria apenas de proclamar duas verdades tão naturais como a água do Luso. a) Aqui, neste post que nos revela a multiplicidade esfíngica da realidade, procura desmontar-se uma alegada tentativa de naturalização da posição - sempre relativa, ai de nós - das ideias do Daniel Oliveira - como se todo o discurso não fosse sempre uma naturalização do pensamento. A única divergência entre os argumentos de Zé Neves e Daniel Oliveira assenta sobre um aspecto vagamente aparentado com as virtudes do amaciador - isto passando de lado o claríssimo fenómeno diferenciador que consiste no volume de crescimento do cabelo que brota do magestático crâneo que ambos possuem: enquanto Oliveira naturaliza com argumentos de classe D (sensacionalismo humanitário, ameaças escatológicas no domínio financeiro, juízos éticos carregados de maldições até à quarta geração) Zé Neves naturaliza com argumentos de classe C (desqualificação da forma, alusões metafóricas incompletas - bicicleta? -, cornucópias antitéticas entre objectividade e subjectividade). É verdade que existe uma superioridade relativa do nível C sobre o nível D, ou não fossem o homem do trapézio um dos momentos altos em qualquer alinhamento circense. Porém, não é suficiente para aplausos. Em síntese, continuo a preferir o cruzamento orangotango/jornalista de guerra (exercitado por Daniel Oliveira) ao registo intelectual com convicções/camaleão (recriado por Zé Neves).
b) Já ali - Avatares de um Desejo -, avulta, entre vários defeitos de forma, uma outra particular tendência do mundo contemporâneo: a recuperação romântico-revolucionária da posição de cada emissor de opiniões, a partir de uma identificação com os males (ai de nós) reconhecidamente atribuídos a D. Quixote de La Mancha. Neste caso, os comentadores da TVI (em serviço no épico-trágico "Os Belenenses" versus F. C. - pugilistas de túnel - do Porto) fazem o papel de salteadores que vêm uma vez mais perseguir com violências inauditas o cavaleiro Sena Martins, um indivíduo que está convencido de que o F.C. Porto é um clube de Futebol.
Em ambos os casos, continuo a preferir Jorge Luís Borges a Aníbal Cavaco Silva.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Frankie Valli

Fascinam-me estes tipos. Que fazem originais que depois ficam mais conhecidos quando revisitados e alterados por outros que simplesmente se aproveitam da qualidade do que já tinha sido feito. Este foi mais um que descobri por acaso.



ps o que é um facto é que já nessa altura (1967) a música tinha um ritmo mesmo muito bom.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Afinal era tudo uma questão de opinião

E opinião quer dizer cientificamente comprovado.

Parece-me bem, sim senhor!

E há mais...

A homossexualidade é uma doença e tal é comprovado cientificamente...

Tão burro e ignorante que eu sou...

Acabei de ler algo chocante e que mudou a minha percepção do mundo

Aparentemente os homossexuais não podem adoptar porque nesse caso as crianças seriam necessariamente (ou quase de certeza) homossexuais também. Ou seja por viverem numa realidade homossexual (seja lá o que isso for) também seriam homossexuais quando crescessem...

Assim sendo veio-me a dúvida: de onde raios vieram todos estes homossexuais que temos? É que a maior parte deles vêm de ser criados em realidades heterossexuais (se lá o que isso for)...

Nada como lógica da mais alta qualidade para me alegrar nestes dias cinzentos.

Não sei se repararam...

... Mas mudei de nome.

E é só isto.

Generation Kill - a origem

Os artigos que deram origem ao livro que deu origem à minisérie que deu origem ao comentário do binary solo que deu origem a este post que dará origem a algo originado por este post.


The Killer Elite

The Killer Elite, Part Two: From Hell to Baghdad 

The Killer Elite, Part Three: The Battle For Baghdad 

Não sou fá de jornalismo embebido, mas...

 

Por falar em ciência

Recebi há pouco tempo um email que muito sinceramente era capaz de fazer o menino Jesus chorar. Passo a citar, sem mais delongas, o email que me chegou com o seguinte subject:


Educação Sexual: as 10 perguntas (ainda) sem resposta


"No próximo dia 19/01/2010 vai ser lançado, na Biblioteca Municipal, Camilo Castelo Branco, em Vila Nova de Famalicão, o livro “Jovens com Saúde – Diálogo com uma Geração”, de Daniel Sampaio e Margarida Gaspar de Matos que são dos principais responsáveis pela definição do actual modelo compulsivo de educação sexual na escola.


Devemos aguardar com expectativa esse momento, pois esperamos que finalmente se revele:  


  1. quais os pressupostos teóricos que permitem pensar que o modelo vai resultar;
  2.  onde foi o modelo submetido a "experiência", ou pelo menos a uma "quasi-experiência", com população de estudo e de controle estatisticamente equivalentes;
  3. quem foram as personalidades independentes e de reconhecido mérito que levaram a cabo essa experiência;
  4. qual a amostra estatisticamente representativa da população escolar portuguesa que foi estudada;
  5. consequentemente, onde foi verificado que os bons resultados previstos no modelo foram de maneira tecnicamente significativa constatados na prática;
  6. em que revista com referee e indexada no ISI (as únicas relevantes para a FCT) foram publicados os resultados dessa avaliação;
  7. qual o follow-up da experiência;
  8. em que países foi um modelo semelhante aplicado;
  9. em que países um modelo semelhante foi associado à diminuição da gravidez adolescente e das Infecções de Transmissão Sexual;
  10. qual o efeito previsível da distribuição de contraceptivos hormonais ao nível da saúde física (cancro, antes de mais) e mental das alunas, ao nível relacional e ao nível da feminização da pobreza (no sentido de G. Ackerloff o Nobel da Economia que estudou o efeito dos contraceptivos na sociedade). 
Até termos respostas claras e objectivas a estas questões, não há razões para considerar que o modelo legal de educação sexual se funde num trabalho científico metódico e sério.

Na falta dessas respostas, apenas haveria razões para pressentir que é um modelo exigido pelo “achismo” de pessoas cuja falta de qualificação em educação sexual era, aliás, já de todos conhecida."


Uma resposta clara e objectiva é que quem escreveu isto não faz a mínima ideia do que quer dizer Ciência, nem o que quer dizer científico. Sim, é um termo de difícil definição e assim sendo pode ser utilizado como arma de arremesso aquando de discussões com vista a intimidar o interlocutor, mas o pior é que tal não resulta comigo. 
Para já começam por pedir referências a experiências passadas sem sequer se darem conta do quão idiota isso é: se toda a gente fosse a pedir por experiências passadas nunca tal medida seria implementada (isto é tão simples que até um miúdo de 5 anos lá chegaria). Ou seja alguém inevitavelmente tem que se chegar à frente e esse alguém pode muito bem ser Portugal.


Depois vêm com as reconhecidas personalidades... E muito sinceramente nem vou comentar o valor científico que tem este pedido, mas digo que é imenso. Faz-me lembrar a história de um Matemático que nos tempos antigos chegou a uma Universidade com uma carta de recomendação de um outro Matemático mais velho e do mais alto gabarito que basicamente louvava o matemático mais jovem. Claro que a pessoa a quem o Matemático que o recebeu tomou a atitude mais inteligente que se podia tomar: mandou-o para trás e disse que aquela carta não tinha valor nenhum uma vez que ele não o conhecia de lado nenhum. Assim sendo o matemático mais jovem decidiu escrever um manuscrito com algumas das suas descobertas, dirigiu-se de novo à Universidade e desta vez sim foi aceite... 
O que é isto tem a ver com o que atrás disse não sei, mas por algum motivo decidi contar isto aos leitores...


O ponto 4 e 5 até são bons mas falham pelo facto de que tem sempre que haver alguém que se chegue á frente em primeiro lugar. Porque se ser científico é repetir mecanicamente o que alguém já fez então não há nada mais científico que as linhas de montagem.


Os pontos 6 é do mais idiota e simplista que pode haver e muito sinceramente demonstra bem a distância que separa quem escreveu o texto da prática científica actual.


Os ponto 7,8 e 9 é mais do mesmo e chega de bater no ceguinho e o ponto 10 para além de nada é um bocadinho de name dropping. O que como toda a gente sabe é do mais científico que pode haver: dizer ma nome de uma pretensa autoridade num dado assunto é demonstrar uma imensa agilidade intelectual e uma vontade sincera de participar num troca de ideias como não á igual.


Agora vou mazé acabar o que tenho a fazer que não me pagam para isto...


São frases como esta que me lembram, insensivelmente, que no fundo, no fundo, sou mesmo um palhaço

Yes, there is a march of Science, but who shall beat the drums of its retreat?
Charles LAMB, 1832

A ver de manhã

Esta história é notável. Um exemplo de coragem e determinação.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Uma chapada na cara

Chegar ao trabalho ontem e ter um email a informar da morte de um colega. Para me lembrar que os nossos problemas são bem relativos.

Macacos à solta

Hoje deu para perceber que foi dia de futebol. Agressões. Escutas. Confusões. No fundo um circo bem montado para entreter a malta.

ps. recomendo que vão ao youtube e procurem por pinto da costa e escutas. o que eu me ri hoje.

Se dúvidas houvesse. De tão bom que é. Radiohead senhores e senhoras

Vale a pena ouvir isto

VID091228_Mike_Prysner from Passa Palavra on Vimeo.

Ui, ui, eis o catedrático-cronista especialista no saber económico tratando da vida, e vivendo: e viva a excelência do ensino na Universidade Católica



Cá está a vibrante e multicultural sociedade americana

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

7 golos no jogo Sporting

e certas e determinadas pessoas ainda me dizem que o SCP não marca, coiso e tal. Está certo que 3 foram do Mafra, que foi roubado pelo árbitro. Mais uns minutos de compensação e ganhavam o jogo. Menos mal que para o ano o Zhang estará a jogar de águia/dragão ao peito.

Estas pessoas percebem imenso de política porque leram muitos livros e nós andámos simplesmente a passear o couro cabeludo

Preparava-me para criticar violentamente postas do Jorge Costa e do Miguel Morgado, duas pessoas de altíssima estatura mental e tudo, que fazem o favor de nos oferecer ocasião para contemplar publicamente a sua análise filosófica, secundados por essa outra figura tutelar da direita-livros-comprados-na-Amazon que é Paulo Tunhas, quando me deparo com uma dificuldade irreparável: não se encontram quaisquer vestígios de ideias nestes dois textos. Ou melhor, encontram-se os trágicos vestígios de ideias bárbaramente assassinadas pela violência analítica com que os ilustres pensadores obrigaram as pobres ideias a servir a sua febril consciência científica da política como uma coisa de onde se atiram livros muito difíceis de ler e que eles, apostados em fazer trabalhar as ideias até à exaustão corporal, esgrimem com vertiginosa energia. Desesperado, ainda procurei agarrar a palha e joeirar com enérgico furor, a ver o que nos dizia o amontoado de restos mortais das esforçadas ideias. Saltitaram então o «contexto histórico europeu actual» - conceito de uma espectacularidade a toda a prova de rigor -, e «a ideia de que a uma "Nação" deve corresponder um "Estado", isto é, que as fronteiras da Nação devem coincidir com as fronteiras do Estado,» isto como ideia tipicamente liberal. A confusão histórica é de tal ordem que na convulsão sobram braços liberais, cabeças revolucionárias e pernas tipicamente despolitizadas. Agitei novamente. Saltitaram ainda John Stuart Mill, a Revolução francesa, o liberalismo e as despolitizações. Que será que nos pretende dizer Miguel Morgado: que a recorrência de Manuel Alegre na invocação da defesa de direitos - («"as pessoas têm direitos", os direitos "adquiridos", os direitos violados, "temos o direito de"»), de acordo com o humor indignado de Morgado, «Direitos, direitos, direitos.» -, é tornar estes mesmos direitos, entretanto já muito mais cansados pelo esforço esclavagista de Miguel Morgado do que pela alegada senha esquerdisto-conservadora de Manuel Alegre, no «alfa e ómega da reflexão política». Porquê? «Ora, é precisamente esta lógica de reduzir a política à ossificação do dogma dos direitos individuais que mais despolitiza a política. Mais até do que a sempre vilipendiada insistência na economia. A "economia", é bom não esquecer, é também questão de poder e de rivalidades.» Morgado não explica o seu dogma. Porque é que um discurso em torno dos direitos individuais despolitiza a política? E eu sei porque é não explica: porque não faz a mais pequena ideia do que está a dizer, e apenas é claro no seu espírito que não gosta de Manuel Alegre. Ao utilizar palavras como Política, Estado, Nação, Economia, Morgado é muito mais "falado" do que "fala" alguma coisa. Mas foram os instrumentos que lhe deram e agora talvez seja tarde para forjar outros. Além de que o preço de forjar as próprias palavras é ter de percorrer o calvário da criação. Mas isso levar-nos-ia longe. Morgado, duas notas:
a) a política não é, e nunca foi, coisa nenhuma que possa ser identificável por mim ou por ti, e por isso também a despolitização é um conceito tão vago como o próprio conceito de política. As pessoas criam discursos para formar exércitos, impressionar uma namorada, conseguir um juro mais baixo, tirar uma nota mais alta num exame, conquistar votos ou filiar apoios, e procuram persuadir a cidade ( e a família, quando não os amigos) pela retórica, instrumento que permite criar consensos em torno dos espaços entre indivíduos, das fronteiras que esses indivíduos podem ou não pisar ou dos meios à sua disposição para dirimir os conflitos, sempre que esses espaços são violados. Rómulo matou Remo porque este passou a fronteira reconhecida por ambos. O que nos impede de nos matarmos uns aos outros, sempre que passamos a fronteira, é a capacidade de convencer e sermos convencidos por discursos. E aqui entronca a segunda nota.
b) ao contrário do que pensam os meus amigos (Morgado, Raposo, Costa e tutti quanti), os discursos não obedecem a nenhuma verdade pre-figurada, nem podem levar-nos ao caminho do desenvolvimento, muito menos com as balelas da "ciência política", e é por isso que Miguel Morgado é capaz de escrever um post em que a análise de grande profundiade é apenas uma lança no flanco de Manuel ALegre (e é legítimo que o faça, apenas recomendamos mais elegância e energia no golpe). Morgado procura, numa série de abstrações e citações pedantes, tornar os "direitos", invocados por Alegre, uma acção discursiva desajeitada que remeta para coisas como a rigidez do código do trabalho (direitos) os subsídios vários do estado social (direitos) ou mesmo a aprovação do casamento gay (direitos) de forma a que no final do seu post a economia (como arena de rivalidades e de luta pelo poder) surja novamente como o verdadeiro saber, mascarando pela enésima vez aquilo que sempre foi a a natureza genealógica da "economia política inglesa" (discurso técnico que esconde sob a linguagem da abstração numérica - a objectividade da quantificação - a subjugação das franjas mais pobres do mundo) quando o espaço do poder, como Miguel Morgado sabe, ele que leu tantos livros, sempre foi, essencialmente, o da linguagem. Por isso, Manuel Alegre assusta tanto.

Eu também amo muito a América do Nuno Gouveia e do José Gomes André ao contrário da América de Henrique Raposo que nos maltrata todos os dias

«Partilho o amor (obsessão?) pela América do Nuno Gouveia e do José Gomes André. Passarei pelo Era uma vez na América todos os dias, para saber o que se passa no centro do mundo.» Aqui

Vai um shot de propaganda com cereja e duas pedras de gelo?

Nuno Gouveia, pensador filo-americano, 32 anos
José Gomes André, pensador filo-americano, 29 anos

Sempre me fascinaram as interminávies acusações, especulações, considerações e estimativas em torno da verdadeira idade (ou mesmo sexo) dos atletas africanos participantes em competições desportivas internacionais. Todavia, nada se compara com a intentona do blogue «Era uma vez na América» ao procurar convencer os imberbes internautas de que os seus autores se enquadram no intervalo etário dos jovens agricultores ou naquele espaço fronteiriço, acossado por todas as frentes, situado algures no âmago da massa encefálica dos jornalistas, que faz diferenciar um jovem 29 anos assaltante de uma Ourivesaria no Barreiro de um homem de 33 anos que matou o cunhado no lugar da Bouça, em Moimenta da Beira. A simples análise a olho nu das fotografias acima colocadas, desmente qualquer tentativa de justificar o facies torturado e maduro apresentado pelos dois brilhantes, mas idosos, investigadores. De qualquer modo, são de especial notoriedade algumas das reflexões que os dois veteranos de guerra no Afeganistão apresentam ao público bondoso mas escandalosamente desconhecedor da realidade Estado Unidense (para parafrasear os nossos sempre inigualáveis irmãos brasileiros - aquele abraço). Se é verdade que temos assistido «à ascensão de países outrora quase irrelevantes no panorama mundial», e não estamos seguramente a falar de Portugal, o facto é que «os Estados Unidos continuam a ocupar um lugar singular no quadro internacional, pelo seu dinamismo económico, competência tecnológica e poderio militar, bem como pela sua sociedade vibrante, multicultural e empreendedora.» Com efeito, todos temos sentido o vibrar da sociedade multicultural americana, especialmente a forma como uma parte considerável dessa sociedade vibra com o facto de pendurar indivíduos de raça negra (podem ser também hispânicos na versão actualizada) em árvores tornadas irrelevantes no quadro do desenvolvimento da economia americana. Sobre o multiculturalismo, vamos passar ao lado, para não ter que recorrer a palavras cabadas em «brón». Nunca será demais agradecer aos nossos irmãos filo-americanos a tentativa de contrariar «motivos históricos, geográficos ou culturais», como sabemos, história, geografia e cultura, tudos coisas irrelevantes quando está em causa criar «um veículo de proximidade com aquela que é, ainda, a "nação indispensável" de que Madeleine Albright falava há uma década atrás.» Apesar de sempre termos simpatizado com Madeleine Albright, não obstante os seus tenros 31 anos, temos que reconhecer que por vezes bem poderiamos dispensar a nação indispensável, por exemplo no que toca à produção cinematográfica mais recente, para não falar da exportação em massa do economês, língua que mais tem contribuído para a desorientação políticas de países sub-desenvolvidos como Portugal. Tudo isto poderia ser também traduzido pela expressão «Ó bife paga aí a minha tosta mista». Em todo o caso, há no blogue citado muitas palavra belas que não poderão deixar de estimular o saco lacrimal do leitor: «Se existe uma mensagem intemporal no "sonho americano", ela reside na exaltação da capacidade do sujeito para superar os mais temíveis desafios, e assim realizar a humanidade de cada um num palco colectivo. No "Era uma vez na América", procuraremos honrar a essência dessa mensagem, que não só é um guia inspirador para os tempos conturbados em que vivemos, como expressa uma ideia adequada ao espírito deste projecto: a criação de um espaço informativo e reflexivo partilhado, mas onde coexistirão duas opiniões individuais.» Depois de várias leituras destas duas frases tenho tido algumas dificuldades em identificar o elemento especificamente Estado Unidense na «exaltação da capacidade do sujeito» e muito mais dúvidas me têm sacudido a consciência sobre o que será a «realização da humanidade de cada um num palco colectivo». Com certeza, existem em mim imperfeições analíticas, históricas, geográficas e culturais (que algumas semanas de férias em Nova Iorque rapidamente poderiam ter resolvido) que me impedem de estar à altura de honrar a essência da mensagem e o espírito do projecto.



terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Num piscar de olhos estes pés já têm 30 dias

Digo qualquer coisa sobre o Bispo de San Sebastian ou leio este livro pela noite dentro?


Detesto repetir-me

mas os jogos do benfica são, como toda a gente sabe, uma seca. Sempre a ganhar, sempre a marcar. Ai e tal, Saviola marca. Ai e tal, a bola ressalta num paraguaio e entra. O SCP, essa dádiva do Conde de Alvalade ao futebol, por outro lado tem sempre emoção. Será que perde por mais de dois ? Vai conseguir empatar contra os colossos do futebol insular ? Será que vamos ser assim tão tansos ao ponto de aplaudir o jogador da equipa adversária que não só marcou um golo como a seguir assina pelo FCP ? Como podeis ver, emoções só de leão ao peito.

Acho que posso viver um milhão de anos mas nunca hei-de ouvir nada tão idiota como isto

Se este homem me aparecesse à frente levava uma tareia que não se punha em pé tão cedo. Se eu fosse haitiano então nem sei o que lhe faria...

Triste mesmo!

Já somos três então

Por isto

Citando um escritor da Estrada de Benfica, «desculpem, mas vou falar de futebol»


A comoção relativa à carica de Santana Lopes (carica nunca tão badalada como agora) prende-se de facto com uma questão de estatuto. Aproveito para dizer que cada vez amo mais profundamente Santana Lopes. Se qualquer comentador pudesse constatar, num relance, num relampejo, numa nesga, num intervalo de espirro, a absoluta irrelevância das intermináveis listas de tipos humanos que já receberam a carica, rapidamente consideraria Santana Lopes uma frágil folha na grande árvore das condecorações pátrias. Acontece que Lopes é um indivíduo que não frequenta os salões correctos, o que é uma contradição deliciosa, como diria Margarida Rebelo Pinto. O único político que se pode orgulhar de frequentar com visibilidade os salões é penalizado justamente por não frequentar os salões. Mas os salões de quem? Naturalmente, os salões daquelas famílias de Casaca e relógio de bolso (como estão vossas senhorias) que mandam nisto. Mas a comoção verdadeiramente interessante é a que por aí vai com a fulgurante época desportiva do clube da Estrada de Benfica. Eduardo Barroso confessou publicamente trazer uma bengala na mala do carro para o que der e vier. Por sua vez, Dias Ferreira confidenciou preferir o Valência versus Valhadolid à serena goleada inflingida pela equipa do momento aos bravos maritimistas, no imortal Estádio dos Barreiros (ouviu-se menos o bombo e a peixeira estridente, o que deveria levar todos os telespectadores a agradecer eternamente ao futebol do Benfica). Mas o que o futuro nos reserva são delícias que não podem sequer comparar-se ao maná do deserto. Quando o Futebol clube do Porto começar a resvalar na lama dos jogadores falhados e no óleo das arbitragens incompetentes (realidades que não conhece com profundidade há pelo menos trinta anos) o desespero dos seus adeptos será um espectáculo digno das convulsões espasmódicas presentes na clássica representação do Rapto da Europa, pintada por Pietro Paulo Rubens no já longínquo ano de 1630.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O problema não é a personagem

mas sim o estado das coisas que permitiram que até o Santana Lopes chegasse ao primeiro-ministro. Anda para aí uma comoção por que o presidente vai/quer condecorar o Santana Lopes com um abre-latas que é costume todos os primeiro-ministros receberem. A contestação chegou já até ao Facebook, um site onde parece que a modos que tal serve para, tás a ver ?! Tremo só de pensar nas twitadas que se aproximam, o novo megafone da política chique.

O problema do país resume-se a esta pequena política, própria de crianças mimadas. Não está em causa os mui nobres serviços prestados por Santana Lopes ao país. Igual ou pior fizeram os que o antecederam e o que se lhe seguiu. Esta gentalha apenas não quer que o Santanta Lopes tenha a carica. Porque não é gente da nossa (deles). Esta política portuguesa mete-me nojo.

O bigode

Descobri na radio este novo cantor, artista, (como chamar-lhe??) Gonçalo Gonçalves e por ele cheguei a este outro. A mística do bigode no seu pleno:

Ouvido no rádio entre um mercedes e um volvo

"E se os contratos de casamento entre homossexuais passassem a ser a recibos verdes?"

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ui o véu da noiva

Embora isto possa parecer um número retirado do meu larguíssimo chapéu versado na prostituição intelectual, quero aqui expressar uma certa solidariedade estética para com o comentador Carlos Abreu Amorim. Mesmo que influenciado pecaminosamente por leituras estruturalmente encalhadas nas praias inquinadas do cepticismo político - do tipo (segurança) agora somos todos tendencialmente bestas selvagens prontos a desfazer com os dentes as crias indefesas dos nossos semelhantes com oscilação para (assuntos de carga fiscal) agora somos todos burros amestrados com necessidade de rápido alívio para enfim chegarmos aos baldes de ração do desenvolvimento económico - os seus textos diferem em correcção gramatical e originalidade expressiva, ou como diriam os românticos ingleses, têm estilo. É verdade que as suas oscilações político-futebolísticas são um problema recorrente em indivíduos que cursaram Direito, e por isso pouco preparados para a consideração dos problemas da coerência e a patologia atinge especial relevância em estilistas do português vernáculo como Carlos Abreu Amorim. Em todo o caso, é justo reconhecer que é dos poucos indivíduos que, como Garrett, é capaz das piores porcarias menos de uma frase mal escrita, característica cada vez mais rara em indivíduos com pretensões discursivas ao nível dos meios de comunicação audio-visual e que me vejo obrigado a aplaudir, inclinando a cabeça e levantando a dobra da minha casaca. Veja-se isto a título de exemplo. Na questão do activismo artístico homossexual devo secundar as posições da direita-de-recorte-inglês quanto ao carácter deprimente da rábula parabólica que consistiu na simulação de um casamento em contornos católico-deprimentes de insidência estética burguesa, isto em plenas escadas do antigo Convento da Ordem de S. Bento.

Bom fim de semana

A incidência psicopatológica da infância no trabalho da oposição política: o caso do 31 da Armada


Aquilo que distingue um indivíduo do 31 da Armada, clínica e estruturalmente falando, de um outro indivíduo qualquer assenta sobre fundamentos complexos e pantanosos, cuja justa ponderação implica recorrer a ciências de conteúdo não totalmente fundado em metodologias universalmente reconhecidas e cuja implicação filosófica só pode rodear-nos de um desagradável cheiro a sardinha assada. Porém, é nosso dever tentar. O colaborador do 31 da Armada acorda estremunhado por noites de pesadelo e a primeira imagem que rompe o nevoeira matinal da sua consciência é o primeiro-ministro montado num corcel diabólico chicoteando a pátria e empurrando hordas de portugueses famélicos para prisões de incidência siberiana nas franjas do Marão, enquanto num carvalho esconso, por sinal bastante seco, se avista uma velha trajando flanela negra e lavada em lágrimas, piscando os olhos repetidas vezes e ameaçando suspender a democracia, mas segurando um santo sudário de linho de Castelo Branco onde horrorozamente o tal indivíduo do 31 da Armada descobre a cópia perfeita do rosto angustiado de Aníbal Cavaco Silva. Nós, pelo contrário, pensamos numa forma de escapar a mais um dia de cerco artístico, assaltados pelo fantasma de vater hugo mãe rabiscando a máquina de fazer espanhóis e os lancinantes gritos pop-espiritualizados dos imortalizados em Cristo «Flor Caveira». Não vou aqui analisar toda a problemática da angústia com emoções primitivas de Carlos Nuno Lopes ou das alucinações auditivo-verbais (que são de claríssima incidência no caso de Raquel Vaz Pinto) passando pelo pensamento desagregado de Afonso de Azevedo Neves ou as ecmnésias com falso reconhecimento delirante de Nuno Gouveia. A verdade é que só uma profunda discrepância no capítulo das sensações cutâneo-espasmáticas pode explicar que alguém seja capaz de postar uma fotografia gloriosa deste grupo imortal que se avista aqui em cima, em pose olímpica, vindo entre estrelas e querubins do país da infância, e como legenda rabiscar qualquer coisa sobre o facto de «Lisboa poder transformar-se na praia de Madrid». É sempre com grande alegria que constatamos a selectividade do pensamento humano, selectividade sempre estreitamente unida, quais amantes adolescentes à sombra dos plátanos, ao bem-próprio que é ditado - tecnicamente falando, claro, e sem qualquer implicação ideológica de carácter material - pela preferência partidária que normalmente se encontra alinhavada por aquela mesma visão da infância de cada um, (como vão os pais e mães de Vossas Senhorias, querem que este humilde servo traga já o chá com bolinhos ou só quando chegar a senhora Dona Marquesa?) que os inteligentes analistas abrigados á sombra do 31 da Armada se recusam a reconhecer no estranho caso do Verão azul ligando-o a aspectos do turismo hodierno. Com que então o turismo serve para reabilitar economias se o ministro do Turismo (entretanto abortado) usar patilhas oitocentistas cortadas à moda do tempo em que a Rainha D. Amélia era viva. Mas se o governo se encontra liderado por um indivíduo cuja corrupção corre em sentido contrário ao do latifúndio alentejano, mesmo que a força da merda que polui o rio seja a mesma, então o turismo passa a ser aquela actividade aviltante que "zôologiza" os nossos velhinhos à ignominiosa observação pitoresca das nações estrangeiras (como se os estrangeiros não o fizessem já - para eterno gáudio da elite político-parlamentar - pelo menos desde o tempo do saudoso Lord Byron). Como diria Piranha, respondendo muy enfadado à troça de Xavi, Sancho e Quique, num episódio especialmente edificante de Verano azul: «mierda para todos».

E para irritar o Alf...

Mais um da Flor Caveira: João Coração e aqui album para download.



e esta rapariga que descobri ontem na rádio. A seguir atentamente.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

É favor aparecer

The horror, the horror



o melhor site do mundo na cobertura da desgraça do Haiti

14,28 euros

Uma das coisas que mais me tem perturbado nestes últimos meses é precisamente a teoria da formação do preço, sobretudo depois de um indivíduo nascido no estado no Paraná, e auferindo um ordenado de para aí 560 euros, me ter gentilmente pedido, no saudoso bar da Cinemateca, primeira vez pisado e última vez frequentado, a módica quantidade monetária de cerca de 2,60 euros em troca de um folhado de queijo de cabra com bróculos, o que me colocou numa daquelas situações a que Truffaut chamaria pseudo-lixadas e que muito devem ter contribuido para os seus actos de delinquência na escola. Escolarizado, paguei e pronto, um folhado de cabra. A Cabra cegou da obscenidade do preço a que a venderam. Mesmo os bróculos pareciam já ter sido mastigados por indivíduos com óculos de massa. Em todo o caso, há quem aceite trocar cerca de 2o eruos por uma fúria bem humilde (e não esqueçamos a etimologia da palavra humilde que nos prende bem ao chão enlameado destes dias) para ser sovado olimpicamente por José Rodrigues do Santos, um homem com ligações simultâneas à Al-quaeda (vocábulo forjado por Manuel Pinho que expressa a derivação de uma queda no Algarve com intuitos turísticos) e às Tardes da Júlia, cujos gritos simulam um bombista suicida três segundos antes de detonar os explosivos num bairro de Jerusalém repleto de discotecas em pleno funcionamento. Por outro lado, uns módicos 14,28 podem permitir-nos levar para casa o livro que Maradona introduziu sozinho em Portugal (este) onde se colecionam coisas como as comparações entre a arte de Keats e a observação das estrelas, a glorificação de Wordsworth como versejador da ciência e do céu, o engenheiro de minas John Budle, a revolução francesa e suas consequências miraculosas na secularização das coisas, descrições feitas de balão pelas charnecas inglesas, a pureza do conhecimento e o seu coração terrífico sedento de sangue, viagens no interior de África, o poder enciclopédico e poético do avô de Darwin, tudo coisas que não se comparam com monhés de fraldas na cabeça a rodopiar em cima de jipes e armados de j-3 até aos pelos púbicos prontos a fazerem saltar os intestinos a toda a gente só porque alguém se enganou no dia em que Maomé viria à Montanha. Existe, eu sei, a questão do suspense. Uma coisa pode ser chata: por exemplo, a descrição minuciosa de uma homilia do senhor cardeal patriarca. Mas se por trás vier, pé ante pé, um turra munido com uma faca na cozinha bem alçada, vão todos à loja a correr comprar o livro. É claro que o medo explica muita coisa. Embora não seja clara a diferença entre morrer recortado pela pressão atmosférica dos explosivos e morrer recortado pelas frases ferrugentas de verbos e pontiagudas de adjectivação circense despoletadas pelas bombas vendedoras de Rodrigues dos Santos. Uma coisa é certa: ou isto é assim, ou o maradona vai ter que me devolver 14,28 euros.

É com a alegria de sempre que noticiamos que o novo livro do valter hugo mãe sai até fim de Janeiro o que significa que ainda não morreu da escrita

PS. o caro leitor não se assuste com a imagem que se colocará diante dos olhos ao escorregar neste link: é apenas o alçapão do mau gosto. um grande beijinho à clara capitão e muito ternura e panasquice para todos vós. Com muita simplicidade à mistura.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Dúvida

Duas pessoas (o João e o Luís, a Andreia e a Maria, o Joaquim e a Lúcia) pretendem casar. Se não é para assumir o compromisso de construir uma vida a dois e constituir família, querem-se casar porquê ?

O post do ano é do sr.martins que comenta no elogio. Com esta qualidade volte sempre

"O Plano da Salvação de Deus Pai E UNIÃO EM CRISTO, é simples assim: Se Jesus causa sofrimento, dor e morte. Jesus é o Diabo. Por outro lado, se Jeová da vida, para não causar sofrimento, dor e morte. Jeová é o Senhor de nossas vidas. Agora, você vai lá na Bíblia e vê, quem é quem. O Espírito Santo é totalmente transparente. Se Jesus dá a vida para não causar dor, sofrimento e morte. Jesus é o Senhor Libertador e Salvador. Se Jeová causa dor, sofrimento e morte. Jeová é o diabo. Palavras DE JESUS CRISTO NO LIVRO DO ESPIRITO SANTO VERDADEIRO. http://livrodoespiritosanto.webnode.com.br/ É teu dever ler a revelação e publicar, porque o dilúvio de fogo está muito próximo, e a última páscoa vem logo depois. E você tem que escolher o lado que vai agir e ficar."

Li hoje

no DN que solteiros podem adoptar crianças. Fico portanto sem saber para que é que serve o casamento homossexual.

O rissol estragado

Além de invulgarmente inteligente e bem constituído fisicamente eu sou uma pessoa espectacular, como é do conhecimento público. Partilho, aliás, estas raras qualidades com outros dois espécimes da blogoesfera: casanova e maradona. Caro senhor leitor: acalme-se. Isto é apenas um exercício de estilo. Não vale a pena ranger os dentes por tão pouco. Repare nisto: vinha eu a descer as escadas do metro, mergulhado numa forma de começar um post de forma menos desastrada, quando me surge hierático, no horizonte sombrio dos túneis, o espírito de Pedro Lomba montado numa libelinha cujo corpo metalizado verde-ranho era concerteza uma alegoria da Constituição da República Portuguesa. Espantado com esta aparição, acontecimento único na história pátria deste as famigeradas vidências dos pastorinhos da aldeia de Fátima, perguntei-lhe em que vinha montado, a ver se a coisa era real ou resultava de um rissol de camarão com sabor a gasóleo que tinha comido há cerca de 5 minutos e meio. Pedro Lomba respondeu: «Não conheces este belo insecto? No Brasil designam-no por vários nomes: papa-fumo, helicóptero, cavalinho-de-judeu, cavalinho-do-diabo, corta-água, donzelinha, jacina, jacinta, lava-bunda, lavadeira, odonata, macaquinho-de-bambá, pito, ziguezigue ou cabra-cega.» Um pouco abalado logo perguntei: «Lomba, que merda de artigo era aquele no Público de Ontem? O espírito comanda a matéria? De onde é que te sopraram esse aforismo ridículo rachado pelo prego ferrugento da profunda ignorância?» E logo Pedro Lomba, puxando o nó da gravata contra o pescoço esgalritado, fitou-me com duas fogueiras de gelo em lugar dos olhos e disparou: «Ó esquerdalho, não sabes que "onde Marx falhou com estrondo foi em pensar que a consciência pessoal é tudo menos determinista e económica. Uma pessoa pode ver-se como um burguês e não passar de um pé-rapado. Tal como podemos aperceber-nos de que somos tão socialmente desarrumados que a nossa classe está em não ter nenhuma classe. O espírito comanda a matéria".» Esmagado pelo espírito omnipotente de Lomba, a minha pobre matéria sentiu um leve sopro de fome na arcada do estômago. Desorientado, perguntei: «Lomba, não me queres pagar aqui, espiritualmente falando, claro, uma tosta mista?» Pedro Lomba, zurziu o chicote de prata no corpo da libelinha (e só então reparei que a coroar o corpo fusiforme do insecto, agitava-se frenética a cabeça de Pacheco Pereira que entoava em surdina o hino de Inglaterra). Lomba e o seu insecto alado de asas transparentes dispararam pelo túnel a grande velocidade, afundando-se na escuridão constitucional do metro.

Por amor de Deus, suplico-vos: deixem a literatura em paz

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Depois do homem avisar que o computador não estava seguro eis que

E-mail com notícia da morte de Cavaco Silva encaminha para vírus

As corujas são criaturas espectaculares mas as minhocas ganham em facilidade de locomoção

O problema da literatura tem ocupado quantidades de tempo da minha vida, inacreditavelmente disponíveis, para fazer alarde de erudição às cavalitas de um conhecido bloger, o que não tem sido suficiente para resolver esta questão base: como integrar qualquer esforço de dignificação de uma actividade na qual Luísa Castelo-Branco já vai na 4ª edição do seu último produto? Claro que os mais experientes enconstam-se à coluna canelada do templo e recomendam, com um ar profundo de sacerdote já muito baralhado pelos incensos dos ritos públicos, que me agarre ao trabalho do texto como o náufrago ao mastro flutuante. O problema é que entretanto estes eventos (e outros que me escuso de contar) vão fazendo o seu trabalho de minhoca, decompondo os restos mortais de motivação que ainda me assistiam. Se optar por dar importância ao que diz o gravador maluco, William Blake, a minhoca cortada em dois perdoa ao arado. Como não sou Blake resta-m ser uma minhoca erudita, o que não é pouco, com todo o respeito pelos escaravelhos.

Ontem esqueci-me de referir, inclinando-me respeitosamente, que lamento muito o facto

que consiste na morte, aos 89 anos, de Eric Rohmer. Embora esteja muito mais preocupado com a deslocação do Benfica a Guimarães no dia de amanhã.

Descansai irmãos atenienses das vossas perturbações e muitos trabalhos porque o Grande Oráculo da Sacedotiza recebeu ontem um Cidadão


Afinal, havia ali mesmo um problema

Temperaturas

O Francisco Proença de Carvalho (como está o pai de Vossa Senhoria? Quer que vá preparar o Cavalo?) tem tentado raciocinar numa sala do palácio da justiça onde parece que está frio e já descobriu que, embora o problema da justiça não esteja directamente relacionado com o frio ou o calor (graças a Deus), a incapacidade de controlar um ar condicionado parece ter implicações na manutenção de uma justiça digna. Como é possível que «durante horas a fio, juízes, advogados, funcionários, autores, réus, testemunhas» consigam resistir «dias inteiros a tentar contribuir para uma das tarefas mais importantes e dignas da sociedade»? Eu diria que talvez por razões diferentes mas quanto aos advogados parece-me (embora isto seja apenas uma suposição que carece de prova material) que este estoicismo se deverá a uma inclinação natural e abnegada em prol da nação, com grande sacrifício pessoal e denodado empenho em busca da realização social dos cidadãos. Obrigado Francisco Proença de Carvalho, ao menos tu não viras a cara ao apelo dos nossos igréjios avós porque eu, como tu já sabes, não ando aqui a fazer nada.

Devo ser o único que ainda não tinha linkado o gordo da margem sul

Segundo João Távora a ciência retira "perspectiva, espanto ou angustia" à visão humana do universo. Bom, se João Távora acha que quem está ligado à ciência não padece de "angústias" é porque nunca teve que entrar na repartição da Fundação para a Ciência e Tecnologia; ainda bem para ele, não queriamos ver a sua fé em Deus decisivamente abalada por ser apanhado num remoínho de burocracias oriundo de um instituto financiado por um Estado laico.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Glee

"Girl trying to vomit but can't:
- It seems that I don't have a gag reflex

Teacher:
- One day when you get older, you will see it as a special gift.
"

Porque é que

o comandante da GNR do posto onde foram presos os terroristas da ETA, escondeu a cara durante a entrevista que deu à SIC ? O sr. comandante foi vítima de algum crime ?

Keats

Estive algum tempo bloqueado pela facilmente compreensível atmosfera gerada a partir da contemplação da imagem colocada em baixo. Porém, fui salvo por mais um post de Nogueira Leite, o economista que manobra as ideias económicas com a destreza do espadachim maneta (não estou a falar de Cervantes) colocando as suas ideias num tabuleiro de marfim ao cuidado do dr. Aguiar-Branco, acompanhadas de bolinhos de arroz e chá inglês. A proposta de congelamento dos salários dos funcionários públicos fica desculpada pela revelação de que também a mulher de Nogueira Leite sofrerá (ó clemência, ó piedade) as farpas do draconiano e corajoso projecto do economista. Como é difícil e perigoso expressar uma opinião! As sobrancelhas tremem com a vibração da ideia, os olhos flamejam de risco, os dedos atacados pelos suspiros da crítica, o peito arfando entre as vagas alteradas da decisão frásica e Nogueira Leite, impávido como Washington atravessando o Hudson, comanda a barca do Congelamento dos Salários pelo frio glacial do país sindicalista, enquanto na sua conta bancária cai um ordenado roliço e anafado recém chegado de férias nas caraíbas de pele tostada e bem alimentado pelo sol particular dos negócios meridionais. Congelamento de salários com estas temperaturas? Gelado pelo Inverno inglês, morreu Keats aos vinte e cinco anos, quando exilado na tropical Roma contemplava a sensação de que aquelas pessoas se encontravam em 1821 mas ele se encontrava algures num prado de flores silvestres. Rezei toda a noite para que Deus concedesse ao poeta a graça estético-temporal de que Frances 'Fanny' Brawne fosse tão bonita como Abbie Cornish. Morrer novo, sem um tostão, a mendigar quartos famélicos, com os pulmões a derreterem-se em sangue, enquanto ao longe se formava aquele vago remoinho de moscas em torno das cabeças dos economistas ingleses (apopléticos de jantaradas no Parlamento e em quintas de recreio) - remoinho que por má sorte viria até nós para assombrar as escassas possibilidades de resolução desta fractura chamada Portugal - é sina que nem tuberculoso romântico, entre ravinas e ondas tumultuosas, conseguiria suportar.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Aprovaram o quê?


Ruth Marlene o quê?

Como tutti quanti também aqui se celebra o aparecimento de mais um blogue - constituído por pessoas que, além de uma manifesta incapacidade em espremer uma ideia que seja, a partir dos citrinos evolucionados que são as suas cabeças áticas de grandes personalidades, têm a particularidade de escrever bastante mal (veja-se o post Pelo regresso à república dos professores!), isto, como é evidente, do ponto de vista de alguém que nunca foi administrador do grupo Melo nem estudioso de ciência política e que se penitencia por não ter avisado os portugueses de que a hora é de sacrifício. Mas nem tudo são cardos. Temos também o cheiro de Rosas deste novo blogue, o Albergue Espanhol. Com efeito, o Elogio da Derrota junta-se com satisfação ao imenso auditório e aplaude. Aplaude. Porque um blogue que junta António Nogueira Leite, Carlos Abreu Amorim e José Adelino Maltez só pode aspirar a chegada aos cornos da lua, isto se entretanto não chegar a uma doença venérea. O blogue tem também a particularidade de publicar fotografias de Clara Pinto Correia num esgar de extâse sexual (pode ser também do momento em que Clara Pinto Correia televisionava o gesto técnico em que Veloso falha a grande penalidade na famigerada final de 1989. Comprove o caro leitor As caras de Clara, enquanto aguardamos esclarecimentos sobre este mistério. Reveste-se de particular beleza um post muito bonito, Quem é aquele senhor meio-escondido, em que Carlos Abreu Amorim chama homossexual a Paulo Portas sem chamar homossexual a Paulo Portas, num gesto político-analítico de pura elegância elefantina. Claro que todas estas personalidades partilham de um justo mediatismo, conferido pelo brilhantismo com que defendem ideias em público, mesmo quando o público tem alguma dificuldade em distinguir onde se escondem essas ideias, quais coleópteros refugiados perante o incêndio de uma floresta de frases mal urdidas, fotografias de veleiros oitocentistas e ideias políticas que parecem forjadas na bigorna de Nuno Graciano. Mas Nogueira Leite merece destaque. Não só assina uma crónica chamada Economia Livre no Correio da Manhã como assina uma crónica chamada Sociedade Livre no Expresso. Nogueira Leite é um homem livre que gosta de insistir no conceito de liberdade. Recupera crónicas de 2001. É livre. É sempre com ternura que o público assiste à defesa abnegada da liberdade, principalmente quando a liberdade se casa com a ideia de que não temos em casa crianças suficientes para um dia serem contribuintes activos do sistema de segurança social e pagar a nossa tosta mista, perdão, as nossas reformas. É uma ideia da ordem do prodígio. É uma ideia da ordem do progresso. É uma ideia que nos põe em ordem. Connosco e com as nossas qualidades reprodutoras. Os coelhos de capoeira não diriam melhor. Em suma, uma lição de elegância e boa formação escolar, muito necessárias num tempo em que o ensino, como saudosamente lembrou Paulo Rangel, ontem, no sempiterno Concelho de Anadia, precisa de exigência e autoridade. Venha de lá essa réguada que o meu rabinho está pronto.

É justo reconhecer, perante o Bernador Pires de Lima, que isto é um grande post

Lucidez em geadas de inverno

Vamos lá limpar os macacos do sotão, num bom texto do complexidade.

ps. agora que o casamento para todos já avançou, podemos finalmente discutir sobre realmente o que nos afecta? desemprego, divida externa, politicas sociais? boa? obrigado.

Se vocês fossem todos tão clarividentes como o Michael Seufert seria evidente que este post não é sobre o casamento gay

O simples facto de o Insurgente contar entre as suas fileiras com um bloguer registado na República com o nome de Bruno Alves merece desde já o nosso repúdio porque nos transporta para ambientes de insenso e meditação zen impedindo uma vivaz troca de argumentos. O André Azevedo Alves, uma pessoa de certo brazonada, com vetustos pergaminhos e ancestrais adestrados no venerando instituto do matrimónio, considera que o Sport Lisboa e Benfica foi ajudado pelo árbitro contra o Nacional da Madeira. Rodrigo Adão da Fonseca acha que existe uma dificuldade congénita na "nossa esquerda" em não reconhecer a justa propriedade de "César" em matérias de etc e tal. Já o Rui Carmo procura endireitar uma quase-ironia, tão torta como uma vinha seca nas encostas pedregosas do Douro, acerca do escandaloso subsídio dado pela direcção-geral das artes (cerca de 2,4 milhões de euros) a um bando de malandros mais insidiosos que uma matilha de cães negros tossindo pelas ruas ao frio do inverno. A Elisabete Joaquim ataca com as suas frases de cetim chinês os que defendem a "lógica estadista" defendendo o casamento enquanto «união que goza de reconhecimento social, pelo simbolismo que acarreta, como fonte estruturante da unidade familiar que compõe as comunidades e, consequentemente, a sociedade.» O que quererá isto dizer? A situação é deveras complexa. Como não tenho tempo de explicar à Elisabete Joaquim que existe todo um mundo de "unidades estruturantes", que ela julga como naturalidades edénicas, mas que foram forjadas a ferro e fogo pela "lógica estadista", das quais, aliás, ela amplamente beneficia, opto por fazer notar como nestes blogues se acotovelam filhos famílias (e aqui me inclino respeitosamente enquanto vou já preparar o cavalo de vossa senhoria) cujos apelidos despertam em nós um pequeno adejar de asas perturbantes na grande abóboda da nossa sã consciência cívica. Estes gajos frequentam-se todos? Ou já brincavam juntos, ainda de bibe, bolsando nos cantos da Assembleia da República, enquanto os pais aprovavam no emi-ciclo coisas completamente naturais como a estrutura fiscal bancária ou a privatização da gestão das auto-estradas, esse mercado altamente concorrencial?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Todo o tipo que coloca um cacho de bananas e um skate retro no video clip merece o nosso respeito

Acho que vou ter que discordar de ti caro Alf. Musicalmente pode não ser brilhante, mas pelo menos tenta.

Sol na eira e chuva no nabal: uma velha aspiração portuguesa

Francisco José Viegas descobriu esta semana que nos EUA há mais bibliotecas do que McDonalds. Em boa hora a descoberta afectou a sua regularíssima crónica no Correio da Manhã, um jornal que, como sabemos, tudo faz para a difusão das Bibliotecas no território nacional. Viegas também descobriu que os padrões do alcoolismo em Portugal estão a ficar semelhantes aos do norte da Europa e que o fumo é proibido em locais onde, a escassos metros da porta, crianças de 12 anos entram em coma depois de se enfrascarem com bebidas destiladas. Isto é verdadeiramente uma surpresa. Ainda bem que Francisco José Viegas reparou, ele que tanto tem lutado contra socialização do Estado. Isto é verdadeiramente um processo supreendente. Chama-se economia de mercado. E de vez em quando, quando os intérpretes do processo têm cabelo louro, também chovem bibliotecas.

Tenho dúvidas de que um gajo com este nome esteja a fazer alguma coisa na Assembleia da República

Michael Seufert «Tenho dúvidas da necessidade da Lei regular as relações humanas.»

Alguém se importa de me corrigir se estiver errado?

Ou muito me engano ou Jacinto Lucas Pires é o maior embuste intelectual do século XXI.
Confirmação aqui.

Isto em tradução católica é o chamado pop religioso (este blogue aqui em baixo é um nunca mais acabar de rir, palavra do Senhor)

Estes gajos são ainda mais perigosos do que os outros porque estes, embora igualmente afectados por uma má escolarização, acreditam mesmo naquilo

Viagens

Para quem quiser seguir as viagens de Franz pelo melancólico e erudito centro da europa, aqui fica o Journeys of Franz Kafka. Para quem quiser saber porque razão a blogosfera se transforma vertiginosamente num local onde além do comentário político-deprimente e das sugestões de livros comprados nos EUA (de onde o Pedro Lomba regressou recentemente, como simpáticamente notificou na última crónica do público, generosamente estendida sobre problemas de liberdade em aeroportos, com o belo intuito de nos brindar com a sua vocação cosmopolita), apenas encontramos pequenas notas biográficas, em forma de borboleta, a coisa torna-se bastante mais complicada.

Todo um texto que vale a pena ler

Não perdendo muito tempo do Filipe Nunes Vicente. Ou porque é que o Pedro Arroja estava correcto em identificar o João Miranda com a esquerda.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Amo-te Kafka

Não é supreendente que João Almeida, o conhecido-desconhecido deputado do CDS que quase preenche os requisitos mínimos para administrativo na Escola C+S da Arrentela, com todo o respeito pela prestigiada comunidade docente, seja, no actual contexto da performance educativa do sistema de ensino público, um rotundo analfabeto saído de uma prestigiada escola superior, a veneranda Universidade Lusófona, Amen. O que supreende é a agressividade com que vários comentadores do Sporting Clube de Portugal têm relacionado a actual posição atlético-espiritual do plantel do Benfica com um hipotético favorecimento das equipas de arbitragem, ainda por cima quando isso implica uma direta referência a um indivíduo que toca concertina (ou seria acordeão) e que responde pelo apelido Benquerença. É absolutamente normal que os narizes afrancesados das várias famílias brazonadas que militam nos quadros do comentário psico-jurídico-sociológico ao serviço do Sporting Clube de Portugal já farejem no ar o cheiro a escabeche e a fritos que sempre acompanha um movimento de ressuscitação do Sport Lisboa e Benfica, mas isso não lhes confere qualquer legitimidade para estenderem no piquenique do panorama comunicacional as suas toalhas rendadas de mau perder compradas a baixo preço em Florença (ou seria Veneza), numas férias longínquias da infância. O que já surpreende é que Rogério Casanova me tenha plagiado escandalosamente assinando um artigo na Revista Ler deste mês (5 escandalosos euros) com referências a Kafka e a Nabokov. Como é bom de ver, assim não dá.

Binary solo is flying

Um bom ano cheio de vida. Estamos cá para isso.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Estas pessoas são espectacularmente inteligentes

Acontece que dedicar um trabalho académico a Kafka é demonstrar com eloquência como Kafka estava certo quando escolheu um escaravelho para ilustrar os problemas, digamos auto-referenciais, de Gregor Samsa e não uma barata, insecto que, diga-se a talhe de insecticida, cairía muito melhor no espírito que preside ao impulso de escritor frustrado que guia instintivamente todas estas pessoas de cabelo louro. Acontece que Kafka era moreno, judeu, e detestava-se a si próprio com tal energia que foi capaz de produzir um dos textos mais fulgurantes da história de uma disciplina que ainda não foi intentada: a auto-bio-ficção-total, iniciada e desenhada magistralmente nesse monumento do rigor no desespero que é a Carta ao Pai.

Likufanele

Finalmente um post que não é sobre a blogoesfera

Algo que me incomoda profundamente nesta discussão sobre o casamento homossexual é a acusação que se faz aos adversários de quererem impôr a sua vontade aos portugueses. Se o objectivo da discussão é decidir sobre o problema*, não é claro que uma parte irá sempre impôr a sua vontade às restantes ?

Fico com a ideia que estas almas, eleitores e eleitos, querem fazer leis que os cidadãos não estão obrigados a cumprir.

(*) que em rigor não existe, mas isso fica para outras núpcias

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A Ordem do Discurso

O que há de confrangedor na blogosfera não é o desperdício de tempo e energia em querelas bizantinas que cansariam ao primeiro round um escolástico versado nas infinitas falácias das possibilidades linguísticas do ser humano. O que cansa não é o facto de o insulto ainda ser julgado como uma afronta à constitucionalidade, como se cada emissão do Jogo Duplo em horário nobre não fosse um insulto bem mais perfurador das couraças democráticas do que qualquer filho da puta que se lance ao vento. O que cansa é o facto de um sistema alegadamente livre reproduzir com estrondo as mesmas hierarquias de estupidez condensada, e mediatização opaca, acumuladas pelos circuitos ditos normais da comunicação. Como se não existisse possibilidade de falar sem a protecção de um qualquer sacerdote político-jornalístico dos vários disponíveis para o efeito. Mas tenho que ir trabalhar porque este assunto é demasiado difícil.

Isto pretende ser a resposta inteligente de um intelectual ao insulto do Maradona

De Ricardo Noronha a 5 de Janeiro de 2010 às 01:38
Aposto que jogo mais à bola do que tu, só para começar. E depois, os insultos referiam-se a mim e não à minha mãe. Ao menos não sou um nerd dos pássarinhos. Não há nada de sólido em ti e o mais preocupante nem são, acho eu de que, os teus argumentos, mas tudo o resto. Sou suficientemente inteligente para te achar otário sem dar demasiada importância ao assunto. Quem é que se lembra de ter blogs alojados no Sapo?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Questões oníricas

(Aqui estavam dois palavrões)! Finalmente chegou a crónica em tom indignado. Repare o leitor neste argumentário de José manuel Fernandes: Ora, a maioria dos portugueses não é feita da massa varonil de José Manuel Fernandes, um homem habituado a enfrentar o risco com um sorriso nos lábios. Nós, todos os que lamentavelmente não somos José Manuel Fernandes, temos medo e queremos recolher ao colo protector do Estado. A aversão ao risco, longe de ser uma característica humana, é o coração da fragilidade ontológica dos portugueses. Como Adão caído do Éden, em busca de redenção, qual Moisés à procura da terra onde corre leite e mel, o português sonha com a protecção do Estado. Qual Estado? Aquele que paga à maioria dos portugueses salários miseráveis quando comparados com os dos altos quadros da Sonae? Ou aquele Estado que paga salários principescos a altos quadros da função pública quando comparados com os dos explorados caixas de supermercado da Sonae? Aquele Estado cujos altos quadros da função pública saltam depois para altos quadros da Soane? Falemos antes de Concursos Públicos. Concursos públicos para a direcção do Público? São, como todos sabem, de uma transparência cristalina, que digo eu, de uma transparência totalmente pelicular. Uma pergunta: qual é a diferença substancial entre o regaço protector do Estado e o regaço protector da Sonae? Será o facto de a Sonae pagar melhor e conferir mais prestígio social? Será o facto de na Sonae, ao contrário do que ainda vai acontecendo nalguns sectores do Estado, sujeitos a maior escrutínio pela natureza da exposição pública, qualquer ignorante poder chegar a cargos de direcção desde que seja produtivo. Ou desde que garanta emprego. Não será este um problema de liberdade? A que toneladas de imbecilidade cultural, como as manifestadas por altos quadros da Sonae, me devo submeter sob os auspícios da liberdade política do investimento económico? Não achará estranho José Manuel Fernandes, o facto de iniciar a sua crónica pelos resultados de uma consulta do Portal do Governo acerca dos currículos de todos os membros do Governo? Em que Portal podemos consultar o currículo de todos os membros da administração da Sonae ou do Público? A diferença talvez palpite na legitimidade democrática, esse lugar pouco respeitado pelos liberais sempre que governos de esquerda, mesmo que apenas salpicados de esquerda, ameaçam o poder, uma legitimidade que José Manuel Fernandes insulta, desesperado, perante a incapacidade de remover Sócrates, o seu arquinimigo, do poder executivo. Sócrates é parvo (olha aí o processo judicial) mas isso não dá a José Manuel Fernandes o direito de confundir Sócrates com a democracia, ontem vibrante, quando elegeu Cavaco, hoje decadente, quado reelegeu Sócrates. Mas se há um problema de funcionamento executivo, o ex-director do Público que recorra ao poder judicial. Também não funciona. Recorra ao poder da inteligência. Também não funciona. Recorra ao poder da metáfora que ainda é uma coutada imune a fanfarrões e embustes intelectuais. É interessante como para os cultores da liberdade, a saúde do regime se encontra genitalmente ligada ao predomínio da sua preferência política. Mas a questão que nos faz mergulhar nas profundezas oceânicas da interpretação histórico-política vem a seguir. . Rui Ramos e António Barreto como oráculos píticos da genealogia dramática do Leviathan numa história de Portugal que é uma pirueta xamânica na mais reaccionária interpretação que em Portugal vê a luz do dia desde os tempos do senhor Pinheiro Chagas. Deus que me arranje uma doença terminal, daquelas rápidas e indolores, que eu não ando mesmo aqui a fazer nada.

Prova da existência da confrangedora ignorância científica em estudiosos de humanidades

Se eu tivesse que escolher entre os nomes 'amor', 'ternura', 'honra', 'direito natural', 'fé', e 'Deus' escolheria antes a coisa sem nome que é uma forma de dizer que o homem cria palavras como 'lógica', 'história' e 'dever' para designar funções recreativas de vária espécie, três nomes justificativos, diga-se de passagem, bem mais indicados para colar na camisola de Deus. Com efeito, Deus é o meu número 10 preferido. Varre todo o campo de jogo, da esquerda à direita. Transporta bem a bola, simula faltas, ganha penalidades, marca cantos e ainda consegue inspirar uma crónica apocalíptico-redentoro-espiritual a um especialista em pragmatismo detentor da opinião de que os malandros da Bela Vista são o fruto da política paternalista de subsídios estatais a famílias onde há uma tendência natural para gerar preguiçosos delinquentes. Se esta prosa lacrimejante não fosse digna de uma rotunda gargalhada seria digna de um daqueles postais de natal confeccionados por crianças pobres de países de terceiro mundo, vendidos em dias de frio, nas baixas de opulentas cidades do mundo ocidental, repletas de lojas da Cartier que vendem relógios pelo valor de 100 milhões de refeições a crianças à beira da subnutrição, valor que pode ser trocado por 30 milhões de vacinas salvíficas para crianças a contas com uma qualquer doença terminal do ponto de vista geográfico. Apenas um 'dever' situado acima da lógica e da história me faria quebrar a promessa de não voltar a referir Henrique Raposo. É o dever de o mandar ir pastar macacos a uma qualquer biblioteca que conte entre as suas prateleiras uma Introdução aos fundamentos da Biologia.

E não é que estes gajos afinal existem mesmo?

Escândalo na blogosfera

Acho absolutamente lamentável que o maradona tenha citado um blogue do calibre do 5 dias.net (alegadamente este título é um trocadilho com a revolução russa e aviso desde já que os seus espectaculares autores manejam a cronologia e as vicissitudes íntimas dos actores revolucionários como um cozinheiro maneja a faca da carne) e apelidado o Ricardo Noronha de filho da puta, quando este blogue há muito se esforça por uma curta citação do maradona mesmo que seguida do epíteto de filho da puta. Daqui se solicita a reposição da justiça sob pena de estar em absoluto descontrolo o sistema de citações meritocráticas da blogosfera. Maradona: passou-te pela cabeça o número de infelizes que com esse singelo insulto vais precipitar nos labirínticos corredores da hermenêutica comunista?

Alguém falou em soluções novas?

Vladimir Nabokov e Vera Nabokov, em 1977, na varanda do hotel suiço onde viveram vários anos.

Porque é que não vale a pena dizer nada?

Num blogue mundialmente famoso por vestir estátuas com pedaços de bandeiras desactualizadas, pode recolher-se um exemplo daquilo que constitui o ponto "Pacheco Pereira" de um dado problema político. Para o leitor menos familiarizado com os modelos de análise estúpidos, o ponto "Pacheco Pereira" é aquele ponto em que um determinado problema é identificado nos seus contornos essenciais. Ora, o ponto "Pacheco Pereira" a que me refiro é atingido por um exemplo de Sofia Bragança Buchholz no 31 da Armada. Depois de espatifar o seu carro, alegadamente novinho em folha, Sofia Bragança Buchholz guinda a sua elegante pessoa à espectacular consciência da Absoluta Relatividade das Coisas , conclusão alcançada pela experiência e pelo passar dos anos, segundo confessa, e subitamente trazida ao salão da sua decorada mente pelo emergir de um acidente na espessura interessantíssima dos seus dias. Tive um acidente com um carro novo? As coisas são relativas. Podia ter chegado às mesmíssimas conclusões pela leitura de Marcel Proust ou pelas operações aritméticas nos princípios matemáticas da filosofia da Natureza de Newton, mas isto seria "apenas" teoria que não se compara com os altos picos de incidência emocional de um acidente com um carro novinho em folha. O carro podia ser velho, o que não nos levaria à relatividade das coisas. Mas novinho em folha? Ele há coisas relativas. O ponto "Pacheco Pereira" está em que o pensamento político dos primatas se faz normalmente pelos mesmos indícios da experiência: o que me acontece é certamente um prisma definitivo para avaliar a justiça da organização do mundo. É por estas e outras como estas que «não vale a pena dizer nada», conclusão melancólica que dará título a um livro que, em parceria com um filósofo amigo, certamente nunca escreveremos.