sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Agora é que eu percebi

Não vi o ultimo episódio dos gatos, mas o youtube dá uma ajuda. E encontram-se estas pérolas:



Precisamos de heróis deste calibre. Que lutem contra histórias destas de um país na margem oeste à deriva no oceano atlântico e com ganas de teimosia para tudo o que não leva a lado nenhum.

"Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi"

Assim pegando na mensagem heróica, envio para a gente da minha terra um desejo de um santo Natal. Honesto e simples. A roçar o essencial.

ps: E talvez venha cá antes do fim de ano. Em forma de suspiro.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

1000 visitas

Marcamos um dia bonito para este blog: 1000 visitas. Obrigado a quem passa por aqui.

domingo, 16 de dezembro de 2007

O rei vai nu

Há dias felizes. Ao ler isto:


In Público
15.12.2007, José António Cerejo

A tese da acusação, que o juiz considerou consistente, é a de que o autarca se serviu das suas funções para enriquecer ilegalmente

"Caricatas." É como o juiz qualifica as alegações de que a fortuna de Isaltino teria origem na sua ex-sogra a Isaltino Morais depositou entre 1993 e 2002, só nas suas contas da Suíça e nas da sua ex-secretária, quase quatro vezes mais dinheiro do que declarou ter ganho no exercício das suas funções. E o IRS que devia ter pago e não pagou nesse período ascende a cerca de 630 mil euros - lê-se no despacho judicial que esta semana o pronunciou, para posterior julgamento, pelos crimes de participação económica em negócio, corrupção passiva, branqueamento de capitais, abuso de poder e fraude fiscal.
A tese central da acusação do Ministério Público (MP), que o juiz de instrução subscreve no seu despacho de 126 páginas, é a de que o fio condutor da acção de Isaltino como presidente da Câmara de Oeiras foi a procura do enriquecimento ilícito. Desde o início dos anos 90, diz o texto, o autarca "formulou o propósito de orientar a sua actuação com vista a obter" benefícios e valores "indevidos" junto dos promotores imobiliários e construtores do concelho.
Com esse objectivo, refere o despacho, trocou muitas vezes a aprovação de projectos de duvidosa legalidade, mesmo contra os pareceres dos serviços camarários, por quantias em dinheiro, que lhe eram entregues pesssoalmente pelos empresários, ou por apartamentos e outros bens, a preços inferiores aos do mercado.
Para além de João Algarvio e Mateus Marques, ambos acusados de corrupção activa neste processo, aparecem igualmente nos autos indícios de favores prestados ao principal arguido por outros construtores como Tomás Fernandes de Oliveira, Tomás Fialho de Oliveira (filho do anterior), Evaristo e José Marques Esteves.
O caso de João Algarvio resume-se na execução gratuita de grande parte da moradia que Isaltino possui no concelho de Castro Marim e na entrega de um cheque de 4000 contos (20 mil euros) em troca da aprovação de dois edifícios que violavam as normas em vigor. Tanto Algarvio como Isaltino alegaram que as obras foram pagas pela sogra do autarca, já falecida, e que o cheque se destinava a pagar uns quadros que o primeiro teria comprado ao segundo. O perito consultado avaliou, no entanto, o aobra em 500 contos, refere o juiz, notando contradições entre os depoimentos e conclui que os indícios justificam o julgamento.
Já Mateus Marques, da empresa Girmaco, terá conseguido, em 2001, que Isaltino desembargasse, sem base legal para o fazer, as obras de um condomínio na Quinta da Giribita, dias antes embargadas. Em troca, diz a acusação, comprometeu-se a vender-lhe por um preço especial uma fracção do empreendimento. Isaltino chegou a pagar 76 mil euros, sem ter sido fixado o valor final do negócio. Já depois da publicação das notícias sobre as contas na Suíça, em 2003, o então ministro do Ambiente veio a desistir do negócio, tendo-lhe sido devolvido o sinal.
Mateus Marques terá compensado Isaltino logo a seguir, facilitando-lhe a aquisição de um Audi A8 S, por um valor muito baixo, sem que ele fosse posto em nome do novo dono. O veículo valia 41.550 euros, o autarca pagou 35 mil e seis meses depois vendeu-o por 60.000. E a quem o vendeu? A um outro construtor civil, precisamente Tomás Fialho de Oliveira, cujo pai, entretanto falecido, lhe deveria grandes favores.
Segundo a acusação, Isaltino terá conseguido, após repetidas recusas da Comissão de Coordenação da Re-gião de Lisboa e Vale do Tejo e pareceres contrários dos seus serviços, que o então secretário de Estado da Administração Local, Pereira dos Reis, viabilizasse, em 1993, a urbanização da Quinta de São Miguel dos Arcos, em Paço de Arcos. Como recompensa reservou-lhe um dos lotes do condomínio, com valor superior a 200 mil euros, e pagou-lhe o projecto de arquitectura da moradia que ali queria construir. "Há mais de nove anos, desde 1998, que a sociedade Tomás de Oliveira tem mantido reservado o lote 21 para o arguido Isaltino Morais, sem que este tenha assumido qualquer encargo, e ainda custeou o projecto de arquitectura, tudo em cumprimento do anteriormente acordado entre o falecido Tomás Fernandes de Oliveira e este arguido", diz a acusação. O projecto custou pelo menos 17.400 euros e foi apreendido pela PJ em casa de Isaltino.
Mas se nestes e noutros casos os favores terão sido retribuídos em géneros, em muitos outros os pagamentos seriam feitos em dinheiro. Só assim se justificarão, tal como confirmam algumas testemunhas, as entregas regulares de envelopes com notas e moedas que Isaltino faria aos seus mais próximos colaboradores para depositarem em diversas contas. De acordo com as conclusões do MP, Isaltino depositou entre 1993 e o final de 2002, na Suíça e nas contas da sua antiga secretária, um total de um milhão e 312 mil euros em numerário. Os seus vencimentos como autarca e ministro atingiram, nesse mesmo período, 351 mil euros. "Sendo certo que, para além daquelas [funções], o mesmo nunca declarou exercer qualquer outra actividade remunerada", sublinha o despacho.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Sempre a inovar. Oeiras vale a pena?

No largo da Igreja de Oeiras podemos encontrar isto:


que ficará segundo o site da CMO "Para sempre, frente à Igreja Matriz". Ler o artigo completo da CMO aqui. Não querendo entrar em questões de merecimento ou não de monumentos (talvez o faça no futuro) e não tendo nada contra o Prior de Oeiras, permitam-me que levante aqui um inquérito online:

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Ermida TV - O Concerto de Natal



Vá, vá, vamos ver se aos poucos eu consigo fazer o upload do concerto de Natal inteiro. Por enquanto aqui fica uma música para adoçar a boca... e bem bonita que é!

Estou a ver se consigo incorporar títulos e também melhorar o som mas não percebo muito do assunto, por isso não prometo nada.

Ermida TV

A Ermida Associação Cultural lança-se no YouTube com o ErmidaTV, canal que permitirá ver os vídeos dos Concertos do Coro da Ermida e de outras actividades que o justifiquem.

http://www.youtube.com/ErmidaTV

Para já deixo o primeiro e único vídeo disponível no canal (mais virão, aguardem com paciência)


Nuestros hermanos

Recordo-me de há uns anos, era eu criança, a emoção que foi atravessar a fronteira pela primeira vez para ir a Espanha comprar chocolates e caramelos baratos. Depois desta primeira vez (que não se esquece) passei mais vezes pela fronteira, mas sempre de passagem ou de fugida. Nestes últimos dias vim até Madrid por motivos profissionais. Mais uma vez pela primeira vez vim à capital. Com tristeza noto que os chocolates deixaram de ser baratos. Mas reparo numa cidade cheia de movimento e demasiados El Corte Ingles. Anoto que aqui os latinos da america do sul estão para os restaurantes como os brasileiros para os nossos lugares de pasto. Mas menos hospitaleiros, para não dizer mal educados. Gostei de andar a pé pelos passeios largos de avenidas largas. Cidades grandes são sempre assim. Vibrantes. Fica para a próxima uma visita mais aprofundada. Ahora volto a Portugal. Até já

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

“Eu sei. Tu tens razão. Eu realmente”

O caro leitor já terá reparado que há em mim uma certa obsessão com Ruy Belo. Não sei descrever de que forma a palavra se agarrou ao corpo mas não terá sido alheia a essa situação a inexplicável forma como o vento, os plátanos, o ronco do farol persistem neste território. “Não vazes tantas vezes a tua voz rente ao vento”… É que nem sempre o vento se harmoniza com a voz e acontece que os plátanos se entristecem numa permanente queda outonal. O vento sopra por vezes a caminho de Vila do Conde, a diligência serpenteia pela serra e há ainda, todos o sabemos, a estrada da beira onde o poeta tísico regressa todos os anos para morrer junto do mar. “Há é gente que acerta, gente que erra”; pessoas que fazem pela vida outras que deixam que a vida faça nelas variadas construções de sentido: um berlinde, uma gaivota num céu de cinza, uma vereda pedregosa no flanco da serra.
Os textos que tenho vindo a colocar no blog podem por vezes sugerir uma contundência excessiva. Pode ser que sim. Talvez todos ganhassem com mais opinião e menos argumentação: textos mais curtos, menos maçudos, mais humor e menos crítica do pensamento. Quem sou eu para pronunciar juízos? Ora aí está o tipo de pergunta que não devia ocorrer num blog que se quer respeitável. Que me fizeram os ilustres cronistas para merecer tão biliosa prosa? Ora aí está o tipo de interrogação a responder a todo o custo. Porém, nunca tive jeito para responder a perguntas. Mesmo na primária, que é onde se determina o valor do cheque da reforma, à pergunta do professor apenas estalinhos nervosos, tremores, uma humidade esquisita nas maõs, qualquer coisa como o difícil equilíbrio dos flamingos, uma oscilação estranha, uma antena no telhado em dia de vento. Perguntas? Lembro especialmente uma formulada na Margem da Alegria: “Quem viu o meu falcão moços do monte?”. Esta e outras aves de rapina deixaram-nos sós a entender a direcção do vento. Talvez que a Ermida, apesar dos textos do Blog não vincularem a sua posição institucional, não devesse acolher a crítica efectiva das situações reais, nem estas formas do vento ser cruel com a direcção das coisas. Talvez devesse antes voltar para o silêncio televisivo onde vamos todos embalados a caminho da catástrofe. Exagero?
“Eu sei. Tu tens razão. Eu realmente”.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Always on my mind II



Pela segunda vez consecutiva temos connosco o Magister César das Neves. Apresentamos um texto de rara beleza, publicado no Diário de Notícias, onde a oração inconclusiva – “As desventuras da democracia” se explana em diáfanos desenvolvimentos historico-teoréticos. Este texto do Magister é antes do mais um trabalho de rigorosa reflexão sobre elites e a natural e saudável existência de classes:

“Portugal e a Europa vivem mudanças ocultas mas radicais na sua política. Estas provêm da degradação das elites e, por reacção, do excesso democrático que reduz a democracia”.

“excesso democrático que reduz a democracia”? Não compreendo totalmente o alcance deste raciocínio…Tentemos percorrer mais algumas linhas deste fértil mas enigmático pensamento.“A sociedade precisa de elites políticas, culturais, intelectuais e económicas. Destacando-se da população, elas influenciam decisivamente a evolução social. A democracia não se opõe, pelo contrário necessita dessa classe dirigente, desde que seja aberta, móvel, lúcida e respeite as regras. Nem sempre o povo entende o caminho proposto e é normal que desconfie dos líderes. Estes, sob pressão, sentem necessidade de se justificar, corrigir, gerar resultados. Esta interacção saudável entre classes faz a comunidade progredir, mesmo com zangas e lutas”.

Um pouco mais claro Magister, agora sim. As elites são a malta que tem poder, uma vez que cultura, intelecto, política, economia são dimensões idealistas de valências humanas que, neste caso, se querem destacadas e apuradas por um pequeno grupo - as elites (ou se o leitor quiser os poderosos, aqueles que nossa senhora referia no seu Magnificat: derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes, encheu de bens os famintos e aos ricos despediu de mãos vazias - mas isto era tudo em sentido metafórico, não é para levar a sério. Para levar a sério é aquela questão da rússia e da queda do comunismo por intervenção de nossa senhora). É então saudável que a população se divida entre dirigentes e dirigidos. Porquê? Perguntará o leitor mais incauto. Eu explico: porque o Magister baseia o seu pensamento numa reflexão de domingo à tarde, a saber: o homem é um animal cheio de pecaminosas sensualidades pelo que apenas aqueles que são tocados pela graça do senhor conseguem libertar-se desta materialidade (aquilo a que os teólogos chamam “o mundo”) para virarem o seu olhar, em eterna contemplação, para as coisas do alto. Neste momento as coisas do alto (que no passado estavam relacionadas com a meditação dos evangelhos, a recitação da liturgia das horas, a leitura desse imenso comentário que são as Patrologias Gregas e Latinas) incluem também as relações entre a econometria e os pastorinhos de Fátima. Claro que nem todos podem atingir sem vertigem estas altitudes. Resta ao povo “que não entende o caminho proposto” deixar-se dirigir, numa “interacção saudável” a caminho do progresso. Não se julgue que o Magister Neves não acredita no progresso.“Um dos maiores dramas sociais é, portanto, a decadência cíclica das elites. Quando tal acontece aparece a tentação de as eliminar. Há 200 anos os jacobinos e há 100 os comunistas disseram criar a democracia perfeita na "sociedade sem classes". Mas a anulação das diferenças é tonta, como impor igualdade de gostos ou alturas. As classe sociais são um fenómeno tão natural como o sono, a família ou a chuva. Este facto, evidente com um mínimo de atenção, é negado em certas épocas mais arrogantes que julgam poder mudar a natureza humana, acabando por sofrer os efeitos do atrevimento.”

Ó Magister Neves, gosto especialmente desta parte em que nos é revelado qe as classes sociais são um “fenómeno natural como o sono, a família ou a chuva”. O estimado leitor pergunta-se sobre quem terá comunicado ao magister estas certezas sobre a imutabilidade da natureza humana. Talvez ele tenha habitado um gruta paleolítica, erguido um menir nessas festas agrícolas do neolítico, integrado uma dessas desgraçadas comunidades de remadores escravizados nas galeras romanas. Foi por esse mundo de experiência inter-classista que o Magister compreendeu biblicamente, em profunda união com o objecto do seu conhecimento, a panóplia de virtualidades de uma estratificação social bem vincada. Depois vieram os jacobinos e os comunistas e deram cabo desta perfeita harmonia. Os escravos revoltaram-se (malandros), os camponeses pegaram em foices (insurrectos), os operários fizeram greves (gatunos), os filósofos arrogaram-se o direito de circunscrever o clero no seu raio de acção (bestas diabólicas) e foi um forróbódó de excesso democrático, degradando-se essa saudável prática de haver tipos que mandam, tipos que rezam e tipos que trabalham.
“O pior de tudo é que, ao insistir na tolice de recusar diferenças, se deixa de actuar onde é conveniente e necessário. O esforço de cada época deve ser, não eliminar desigualdades mas injustiças, não erradicar classes mas evitar a sua degradação e promover a mobilidade. Cada grupo deve cumprir o seu dever no bem comum. Os problemas surgem quando, por cobiça ou preguiça, se alteram os papéis sociais. Como disse Confúcio: "Deixem o dirigente ser um dirigente, o súbdito um súbdito, o pai um pai, o filho um filho." (Analectos XII, 11). O Magister esqueceu-se da última recomendação, talvez a mais importante de todas: deixem o parvo ser um parvo. Pois concerteza. Faça o favor de prosseguir.“O estádio actual da integração europeia manifesta bem o problema. Desde sempre a CEE constituiu um projecto das elites. Os grandes avanços comunitários de partilha de soberania são rasgos de génio de um punhado de líderes que mal conseguiram o apoio alheio e distraído das massas. Os sucessivos tratados europeus foram aprovados de forma expedita, com o povo concordando tacitamente e sem entender bem o que se passava. Houve erros e abusos, mas grandes benefícios. O sucesso das elites trouxe a desorientação. A arrogância levou-as à fúria do alargamento que mudou para sempre a Comunidade. Pior, embebedadas de euforia, acharam que o povo ia aprovar a malfadada Constituição Europeia. O resultado foi, não mais representatividade, mas a maior crise institucional da Europa que, se vier a ser resolvida, deixará cicatrizes duradouras. Entretanto, Portugal caía num mal-entendido equivalente. Adoptando eleições directas para escolher os seus líderes, os grandes partidos mudaram para sempre a natureza da política portuguesa. O resultado, como nos EUA, não é mais democracia ou eficácia, mas mais populismo. Isso trará ao poder dirigentes como Clinton e Bush, Menezes e Santana, com relações ambíguas com os aparelhos e as ideologias.”

Aqui o Magister circula por territórios interessantes. É pena que não leve as suas conclusões até às últimas consequências. Os problemas da natureza, como o Magister Neves tão bem sabe, são sempre os problemas das origens. Falta perguntar porque associa o Magister a degradação das elites às eleições de Clinton e Bush, de Menezes e Santana. Aí surpreendemos a questão no seu ponto mais interessante. Porque por esta ordem de argumentos toda a democracia seria um perversão da sociedade corporativa baseada no poder das elites, as únicas preparadas para conduzir o povo. Aí estariamos no território do sistema de Salazar e Caetano. Se não, porquê deixar de fora outras eleições igualmente desastrosas para a democracia portuguesa como a do senhor professor Aníbal Cavaco Silva e do seu secretário de estado João César das Neves? O Magister invoca a questão das primárias. Pode ser que isso signifique dar o poder de voto a quem não possui suficiente esclarecimento para decidir. Mas essa é precisamente a coragem da democracia: colocar a decisão sobre o poder, com todos os perigos que isso implica, nas mãos de todos os que são afectados pelo poder, isto é…todos!!! Recomendo o livro O Pensamento Conservador de Albert Hirschman, onde podemos ler que a estrutura dos argumentos do Magister Neves, que aparecem por vezes aos mais distraídos como novidades excepcionais (Cf. a título de exemplo o livro prefaciado por António Carrapatoso Revolucionários - em suma um conjunto de soluções estafadíssimas ao longo de trezentos anos), é exactamente a mesma daqueles que tentaram a todo o custo impedir que o direito de voto fosse concedido aos operários e camponeses (o direito de voto começou por ser baseado num dado valor de rendimentos) às mulheres e até aos negros.
“A degradação das elites na Europa e Portugal levou ao sufrágio populista, dos referendos e directas. Mas, sem se equilibrar em classes sociais naturais e saudáveis, a democracia cai na oligarquia ou na demagogia. Como veremos por cá nas próximas décadas”. (o destaque é meu)

Há de facto um problema do Magister com a natureza. Ó Magister, experimente ler um pouco menos a irmã Lúcia e mais filosofia jacobina. Merleau-Ponty ensina que a natureza corresponde a uma longa história semântica. Filologicamente está associada às raízes grega (vegetal) e latina (verbos relacionados com o acto de nascer, viver). Segundo o filósofo existe natureza “por toda a parte onde há uma vida que tem um sentido mas onde, porém, não existe pensamento; daí o parentesco com o vegetal: é natureza o que tem um sentido sem que esse sentido tenha sido estabelecido pelo pensamento”.
Kant procurou resolver o problema entre o impensado dado a priori e a estrutura do pensado (que é no fundo o da política como conservação ou como mudança que, como adivinhará o estimado leitor, tem sérias consequências para a questão das classes como orgânica natural dos grupos humanos).
Se por um lado em Kant, na leitura de Merleau-Ponty, a natureza é algo sobre o qual nada podemos dizer, salvo através dos nossos sentidos, por outro, a natureza é sempre conhecida como constructum, o que significa o retorno a Espinosa – que tanto tem fascinado António Damásio, pela antevisão que o filósofo luso-holandês foi capaz de fazer da análise da consciência como diálogo perfeito entre a dimensão pessoal e construída do filme da mente (em articulação com as emoções sociais) e a mecânica fisiológica do organismo.
O velho pensador de Könisberg bem sublinhou que o homem “é antiphysis (freheit – liberdade) e arruína a natureza opondo-se a ela. Arruína-a ao fazê-la emergir numa ordem que não é a sua, ao fazê-la passar para uma outra ordem”. Ou como escreveu Bachelard aquilo a que se chama «natural» não passa, com frequência, de má teoria”.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Explicação dos governos portugueses dos últimos trinta anos em trinta segundos

Estas palavras de Sá Carneiro descrevem uma base social de apoio a um partido que entretanto se foi estilhaçando por muitos outros segmentos. Portugal enriqueceu, floresceram sacos de cimento e automóveis de alta cilindrada. Desfizeram-se e fizeram-se novos grupos económicos com toda a tranquilidade que habita o espírito de um historiador dos séculos XVI-XVIII. Nas entre linhas dos tratados europeus a desigualdade cresceu, ainda que os portugueses tivessem prosperado (pelo menos ao nível das condições de vida). Porém, a situação descontrolou-se. Parece inegável que o mundo ocidental, como aliás vários historiadores tinham previsto, ao apostar no liberalismo económico se encontra outra vez perante muitos dos problemas de início do século XX. O problema não é o lucro, o problema é a educação política. Já Descartes dizia que as nossas diferenças talvez provenham de não lermos todos os mesmo livros. Não se assuste estimado leitor. Não defendo programas de leitura obrigatória nem revoluções culturais. Apenas acho que um pouco de história, para variar, talvez fosse um bom complemento ao choque tecnológico. Além de que é tempo de perceber que o problema do lucro não se prende apenas com a inveja que o doutor Júdice tanto vitupera (aliás, se tivesse lido Aristóteles teria compreendido, antes do mais, não ser boa ideia negligenciar a inveja dos cidadãos perante os mais ricos, uma vez que talvez essa riqueza traga nas entrelinhas o problema do equilíbrio que tanto revolta o espírito dos liberais). O problema do controlo do lucro, logo o problema do sistema de travagem do enriquecimento desregrado, representa um escândalo para a nossa consciência? Concedo que sim. É uma questão complexa? Claro que é. Contudo, também a igualdade perante a lei fazia levantar os cabelos aos liberais europeus do século XIX (mesmo os ingleses caro leitor, mesmo os ingleses). Nesta altura já espreitam os fantasmas do socialismo soviético, os leitores já brandem no ar a memória das vítimas e o sangue dos inocentes. Como tal, despeço-me com uma pequena incursão histórica e duas ingénuas interrogações: será que sempre que se discute uma solução política socialista se tem que acabar sempre a contar mortos? Para quando a contagem dos mortos da economia de mercado?

No Prefácio escrito para a edição inglesa de 1888 do "Manifesto do Partido Comunista", Engels referiu-se ao facto do Manifesto não ter sido chamado de Manifesto Socialista, justificando-se: "Por socialistas, em 1847, entendia-se, de um lado, os adeptos dos vários sistemas utópicos: os owenistas na Inglaterra e os fourieristas na França, ambos já reduzidos à condição de meras seitas em vias de desaparecimento gradual; de outro lado, os vários charlatões sociais que por meio dos mais variados truques pretendiam remediar, sem qualquer perigo para o capital e o lucro, todos os males sociais".

Vários charlatões sociais que por meio dos mais variados truques pretendiam remediar, sem qualquer perigo para o capital e o lucro, todos os males sociais? Por acaso, o estimado leitor estará a pensar em alguém em especial?

Linda, Linda esta balada que te dou

O estimado leitor decerto estranhará o perfil deste dueto: Armando Gama em pano de fundo, uma espécie de baixo contínuo, enquanto o Professor João Carlos Espada entoa virtuosos solos de liberalismo bolorento. Na verdade, estimado leitor, eles combinam a erudição e a sabedoria das coisas simples. Prepare-se confortavelmente, ponha o video em movimento. Depois agarre-se bem para não ser arrebatado em êxtase místico.

"A PROPÓSITO DE FÁTIMA"
pelo Professor João Carlos Espada in Expresso

Em Fátima, no fim-de-semana passado, terão estado cerca de meio milhão de pessoas. Numa intervenção radiofónica, José Miguel Júdice comentou o fenómeno com a sua habitual perspicácia. Observou a intensa manifestação de fé, que contraria os cíclicos prognósticos sobre o declínio da religião. E chamou a atenção para que essa manifestação, ao contrário de outras noutros países, foi profundamente pacífica, inclusiva e não política. Acrescentou que a igreja católica tem em Portugal uma vastíssima acção social de apoio aos desfavorecidos que devia ser mais acarinhada pelos poderes públicos.Seria desejável que estas palavras sensatas pudessem contribuir para atenuar o preconceito anticatólico, ainda tão forte entre nós.Um elemento importante deste preconceito continua a residir no argumento de que o catolicismo se opõe à democracia. Mas os factos também não corroboram essa tese. Os estudiosos da transição à democracia reconhecem hoje que o 25 de Abril português esteve na origem da chamada “terceira vaga de democratização mundial” — uma tese inicialmente proposta por Samuel Huntington.Entre 1974 e 1989, observou Huntington, mais de trinta países, na Europa, Ásia e América Latina, transitaram de regimes mais ou menos autoritários para regimes mais ou menos democráticos. Dois dos três primeiros países a democratizarem-se (Portugal e Espanha) são maioritariamente católicos. A seguir, o movimento de democratização atingiu seis países da América do Sul e três da América Central, todos eles dominantemente católicos. As Filipinas foram o primeiro país asiático a reunir-se à ‘terceira vaga’. E a Polónia e a Hungria católicas foram os primeiros países do Leste europeu a ensaiar a democratização. Como observou Samuel Huntington, “três quartos dos países que transitaram à democracia entre 1974 e 1989 eram dominantemente católicos”.Mas seria ainda um equívoco reconhecer apenas esses contributos mais recentes da religião cristã para a liberdade. Muito antes de Voltaire ter escrito sobre a tolerância, John Milton e John Locke fundaram o dever da tolerância na moral cristã. Lord Acton, o célebre católico liberal inglês do século XIX, argumentou persuasivamente que S. Tomás de Aquino lançara os fundamentos da atitude liberal. E o católico Alexis de Tocqueville observou, em páginas veementes, que a democracia na América não podia ser compreendida sem o contributo da fé cristã para alicerçar o ideal das limitações constitucionais ao poder político e do direito natural dos indivíduos “à vida, liberdade e busca da felicidade”.

Caro leitor, busquemos a felicidade e a limitação do poder político nesta feroz ditadura que é Portugal, conduzidos pela mão do Professor Espada. Quando em Portugal governava esse grande democrata, António Salazar, não me lembro de ter lido ou ouvido que o santuário de Fátima desempenhasse especial papel na limitação do poder político. Parece que houve até um bispo corrido à pedrada em Nampula (com valentes puxões de orelhas do magistério) por manifestar opiniões contra a guerra - essa forma eloquente de ser liberal de G3 na mão. Mas isso é a minha falta de perspicácia. Desgraçadamente ela foi toda concedida ao Doutor José Miguel Júdice. Eis que agora o Professor Espada canta triunfante a influência dos católicos na revolução e no processo democrático. Afinal o papa vinha em cima da chaimite, secundado pelos anjos e ninguém foi capaz de o saudar. Conta-se até que Otelo pediu em primeiro lugar o "a 13 de Maio" mas o MFA achou que era um exercício de humildade mortificador conceder antes o privilégio de canção da revolução ao fascista José Afonso (qual bofetada de luva branca dos democratas devotos marianos a esses comunistas defensores da ditadura do proletariado. Pelo que a virgem não pôde encabeçar a revolução, nem o "13 de Maio" ser entoado pelas gargantas dos soldados. Não faz mal! Viva o 13 de Maio e viva o pensamento liberal.
Professor Espada...linda, linda esta balada que nos dás/ Linda, linda esta balada que nos dás.


sábado, 8 de dezembro de 2007

There's No Business Like Show Business


Caro leitor, a vida é um imenso palco, um jogo de dados, uma canção efémera, um mercado de alfaces. Não podia ser de outra maneira ou o tédio talvez nos sepultasse. O tédio ou os juros bancários que nestes dias balançam como o galo no campanário da igreja. Sabemos que o jogo tem inclinações, ritmos, tendências acentuadas, virtualidades e arbitrariedades: jogar é ter experiência com o acaso. Contudo a economia não é um jogo, é uma ciência, uma teoria nas palavras do senhor engenheiro Miral Amaral. Há que jogar e não esperar mais que o resultado da jogada. O perigo é talvez que o jogo não corra bem, talvez que a jogada não seja a mais apropriada ou pior… talvez a nossa vida não esteja adaptada ao acto de jogar. A questão, caro leitor, está em saber quem joga mal. Ou quem possui os atributos do jogo. Não falo de quem define as regras porque cheira a humanidades. Antigamente os homens jogavam à malha no adro da igreja. Os cãos da velha quinta ladravam ao longe, as flores dos plátanos, tal como os juros e os galos dos campanários, balançavam no vento. Por vezes um homem acendia o cigarro no frio de Dezembro e efregava as mãos uma na outra. A vida era então como a trajectória dessa malha - viva e precária antes de caída.


Hoje, a vida não é um jogo. A vida é a economia de mercado, no sentido em que é norteada por conceitos modernos, pensados, reflectidos, contruídos. Quando há já alguns dias convidavamos o director Avillez de Figueiredo para que avançasse, sabiamos, caro leitor, que ele avançaria mais tarde ou mais cedo. Mas sabiamos como? perguntará o caro leitor. Sabiamos com toda a evidência que há na realidade das coisas que, com efeito, são coisas. O mundo económico é, verdadeiramente, uma grande coisa. Em primeiro lugar há players. Tipos que jogam ou são jogados ou agarram-se ao jogo para que não joguem por eles. Depois há relações de mercado:


Um tipo diz – é a 20


ao que responde o mercado – não é não senhora, é a 15,5


e o tipo novamente – é a 19,95 se não levas já com este malho na cabeça


e o grande mercador – aqui não vale malhos, quanto muito chamas a polícia


e o tipo novamente – é a 19, 999 que é para pagares a despesa da polícia


e o mercado – está bem senhor engenheiro.


Estas relações de mercado são transparentes e conferem aos players oportunidades de desenvolvimento pessoal e colectivo. Esta semana no programa negócios da semana (SICnotícias) o senhor engenheiro Mira Amaral era confrontado – com tudo o que isto significa de pueril diante do continental saber do senhor engenheiro – com a diferença de informação no acesso ao crédito. O raciocínio do jornalista da sic era, como é bom de ver, igualmente pueril: como lidar com o problema da contratualização de produtos de crédito nas instituições bancárias uma vez que nem todas as famílias têm a mesma capacidade de aceso à informação e, consequentemente, de negociação. Responde o senhor engenheiro:


- É a vida.


Na verdade, é de facto a vida. Como em tudo, explicava o senhor engenheiro, é a vida. Repare o caro leitor que o senhor engenheiro tem toda a razão. Um tipo vai na rua e aparece um outro com um malho (aquele mesmo do mercado, por exemplo). Nisto o gajo do malho dá com ele na cabeça do segundo tipo que responde incrédulo e abalado


- Ai que me estão a matar.


- É a vida (diz o gajo do malho).


Por falar em jogo é conhecido o incidente com o líder do Movimento Compromisso Portugal António Carrapatoso. De acordo com o Diário de Notícias em 2006, a Direcção-Geral de Contribuições e Impostos (DGCI) deixou caducar uma alegada dívida de António Carrapatoso respeitante a rendimentos auferidos pelo presidente da Vodafone em 2000:
"A notificação do contribuinte devia ter sido feita até 31 de Dezembro de 2004, mas só aconteceu em 2005. De acordo com o mesmo jornal, um funcionário das Finanças terá colocado no sistema informático que a liquidação foi feita ainda em 2004, mas sem qualquer documento que o comprove. O presidente da Vodafone apresentou uma reclamação, alegando a caducidade do direito à liquidação e o Fisco acabou por lhe dar razão, acrescenta ainda o Diário de Notícias.»


Parece que no Expresso o mesmo senhor director e ilustre líder, António Carrapatoso, afirmou que «se se alimenta um sistema destes, vale mais a uma empresa fugir aos impostos do que ser competitiva para conseguir mais retorno». Nem mais. Esta concepção institucional da acção política do cidadão é verdadeiramente relevante. Pois que permite novas leituras sociais. Um economista da cova da moura afirmou ontem ao Expresso: “se se alimenta um sistema deste mais vale um gajo roubar uma ourivesaria e fugir à polícia do que trabalhar nas obras para ganhar 500 euros”. De maneira que a polícia entabula (bela expressão) neste momento denodados esforços para prender este economista da Cova da Moura.



Como compreenderá o estimado leitor a vida é como um jogo, que decerto correrá bem, especialmente se tivermos um malho na mão. O problema é que nem todos somos estúpidos e há por vezes inadaptações ao terreno de jogo, players que fazem entradas por trás, golos com a mão e até mesmo, pasme-se, agressões sem bola.
Voltando ao assunto que aqui nos trazia a noticia do expresso on-line não deve ter deixado os players indiferentes:

Martim Avillez Figueiredo, director do "Diário Económico", será nomeado director da Sonae SGPS, com as funções de de coordenação das relações institucionais do grupo e gestão da Marca. O senhor director Avillez seguiu as indicações do Alf e avançou. Em boa hora o fez porque desta forma, segundo o Expresso «Paulo Azevedo dá mais um passo na reestruturação interna que está a promover, desde que subsituiu o seu pai à frente da "holding"». Portanto tudo continua em bom ritmo na monarquia.



Convém esclarecer o auditório que não nos move qualquer especial preconceito contra a monarquia Sonae. Apenas gostamos mais da República e continuamos a achar que os impostos são uma forma de intervenção política. Cheira a bolor? Pois é, música dos anos oitenta…Consequências para o tecido empresarial? Não sei, a vida é um jogo.
O expresso noticiava ainda que o senhor director se despedia «num tom emocionado» classificando os seus três anos à frente do “Diário Económico” como «“electrizantes”. O ainda director acrescentou, também, que o seu “trabalho só foi possível com a extraordinária equipa do 'Diário Económico', que provou que um jornal pode conciliar o rigor e a profundidade da informação com a criação de valor”».


A criação de valor é um outro dado importante da economia. Temos além dos players e do mercado, o valor – outro conceito de grande significado para nós. Para esclarecermos melhor este magnífico conceito podemos lançar o olhar ao que escreve o colunista, do diário económico on-line, Ricardo Costa que assina a crónica “Um chá no deserto”. De maneira que o meu gato salta da janela e pergunta:


- Este não é aquele da sicnotícias e do expresso da meia-noite, onde já esteve algumas vezes o senhor director Avillez?


- É (respondo com ironia perante a inaceitável ignorância do meu gato em assuntos de comunicação).


Temos que o senhor director sicnotícias Costa é colunista no diário económico e convida o senhor director do diário económico Avillez para comentador no programa do sicnotícias do senhor director Costa. Ao que chegamos ao conceito final da economia: a diversidade de informação. Temos em suma players, mercado, criação de valor e diversidade na informação.
Quanto à coluna do chá no deserto eu diria que é mais um champagne na savana.

Foi então que entrou Ruy Belo, um dos que não conseguiu emprego e infinitamente pesa sobre a economia, ou como é mais comum dizer-se – um lírico -, proclamando com voz forte o seu lirismo:

E entretanto tudo a noite rodeou e o jogo acabou

e pelo céu do tempo houve um homem que passou

ou uma certa malha arremessada por acaso à vida

e viva na precária trajectória antes de caída.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Não tens pais ricos? vai ao kiva.org

Eis uma boa sugestão para o Natal: fazer de banco e emprestar dinheiro a quem precisa. Baseado num modelo de microcrédito, o esquema é fácil: empresto o dinheiro que quiser, o site entrega esse dinheiro a instituições que por sua vez o distribui pelos empreendedores. Que precisam apenas de um pequeno empurrão. Estamos a falar de 1000$ na maioria das vezes. Garantem no fim que o dinheiro volta, como num empréstimo normal. Apenas não há juros exorbitantes nem comissões de utilização, etc pelo meio permitindo que assim seja possível iniciar o impossível. Ajudar os outros a vencer pequenos obstáculos de uma forma simples. Para que possam ter também a oportunidade de vencer numa vida que se quer digna e se possível feliz.

A pergunta que se coloca: não será isto um esquema para ganhar dinheiro fácil à custa dos outros? vejam a reportagem do NYTimes e tirem conclusões.

Tell me a story V with comments

Era uma vez um país. Onde tudo era bem pensado. Com saúde gratuita para todos. Energias renováveis. Prisões abertas. Indices de escolaridade altos. Um exemplo de sucesso. Um país livre de preconceitos. E supreendente.



Graças ao blog do P. consegui ver este pequeno filme sobre a Noruega e que não foi incluído na versão final do filme Sicko porque, segundo o realizador Michael Moore, os norte-americanos não iriam acreditar.

Em resposta tardia a um comentário e pergunta em que país gostaria de viver, respondo que gostava de viver em Portugal. Apenas teriamos que mudar umas coisinhas sem importância. A Noruega é um bom exemplo a seguir. Também acredito que a falta de sol durante 4 meses e a proximidade do norte magnético deve influenciar a cabeça desta gente, levando a que sejam mais sérios e responsáveis, não havendo lugar a chico-espertices tão tipicos aqui em terras lusas. Talvez estejamos condenados a viver mal, e à medida que o tempo avança, apenas os mais adaptados (leia-se os mais corruptos) consigam safar-se neste tipo de ambiente. Porque por razões históricas e culturais não ha mesmo nada a fazer. A malta quer é sol e imperiais (ao contrário da Noruega não estamos a criar energia com isso). De lá só mesmo o bacalhau. A pergunta que realmente importa colocar nesta altura é: já alguém ouviu falar do futebol da Noruega? Eu também não. Aleluia Sra do Caravagio e amen Cristiano Ronaldo.

ps. em relação ao cimento e sua influência, veja-se mais uma luta

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Concerto de Natal

Em jeito de entabular uma conversa


No mesmo país onde o presidente não sabe falar e parece perdido no espaço:



surge esta ideia: a auto-estrada I35 que corta o pais ao meio, é fruto de obra divina e é a mesma que é referida em Isaias, no Antigo Testamento. Para alem disso, ao longo da estrada, estão a juntar-se movimentos de jovens cristãos que curam homossexualidade entre outros.



Afinal Deus é contrutor civil, caro Alf. Afinal há razões para tanto cimento. Afinal Os nossos "politicos" são pastores do Senhor e vão curar-nos. Salvé aleluia, amén.

ps. os videos foram retirados do BiToque e do ZdC

Confuso, céptico, angustiado



Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better
Samuel Beckett


Nada como dois portugueses cosmopolitas para logo desabrochar em mim uma enorme e provinciana vergonha de ser português. Na semana passada o doutor Mário Soares e a doutora Clara Ferreira Alves passearam por sítios vários empoleirados em conversas sem qualquer nexo, sem preparação, em jeito de opinião avulsa. Será que uma carreira política fulgurante (se é que o serviço político pode ser casado com o fulgor) justifica opinar sobre tudo sem qualquer ideia prévia do que se vai dizer?
O doutor Soares deambula por inúmeras matérias, surfando a onda do acaso com a prancha do seu pensamento, uma peça oleada, bem constituída, composta por madeiras de várias proveniências (a social democracia alemã, um cabelo de Marx, as obras completas de Miguel Torga resumidas para estudantes de direito, Camus na diagonal, Victor Hugo para crianças, Proudhon em 5 minutos, um manual de retórica dos anos vinte e uma gramática da liderança com promessa de resultados a curto prazo). Contudo, convém reconhecer que o doutor Soares é uma agradável presença. Uma espécie de Professor Cavaco Silva sem economia mas com educação e cultura. Por justiça deve também reconhecer-se que a doutora Ferreira Alves diz coisas inteligentes, embora às vezes se passem alguns segundos de intervalo.
O diálogo entre os dois monstros da cultura portuguesa é entremeado com alguns exercícios de gosto. O doutor Soares refere, entre várias outras sensibilidades, a sua antipatia por Beckett: um autor “confuso, céptico, angustiado”. Com efeito, caro leitor, com efeito, que para angústia, cepticismo e confusão já bastam os diálogos entre o doutor Soares e a doutora Clara Ferreira Alves.

O programa seguiu escorreito por portos do mediterrâneo, subúrbios de Paris e o cais das descobertas. A dado momento o assunto inevitável. A doutora Ferreira Alves refere a hodierna cultura do fait-divers. O doutor Soares aponta a criminosa televisão. Os dois encolhem os ombros, enquanto continuam o seu passeio. Não lembrou a nenhum dos dois que aquele programa, gravado para a criminosa televisão, onde aliás os dois pontificam com abundância, é, precisamente, um claro exemplo do fait-divers hodierno, neste caso para o segmento dos licenciados. Vejamos um exemplo:

- Quantos livros tem hoje? (perguntava a pluma caprichosa)
- Uns 50 ou 60 000 volumes… (responde grave, hierático e circunspecto o doutor Soares)
- Dá para várias bibliotecas (risos). (interpela novamente a pluma caprichosa em jeito de elogio abasbacado).

Perante este proficiente diálogo somente uma nota solta (a minha sentida homenagem ao doutor Vitorino):
É que a troca de palavras logo correspondeu a uma de várias cosmopolias conversas entre outros dois portugueses proficientes e cosmopolitas. O meu avô, nas longas tardes de verão na cova da beira, enquanto cuidava das laranjeiras e do batatal, perdido num vale poluído pela extracção do minério entre a estrela e o açor, costumava entabular longas conversas (não sobre urbanizações, como é bom de ver) com um amigo moleiro que amanhava uma horta ali perto. Sentados no xisto às vezes lançavam no ar quente da tarde algumas relevantes reflexões:

- Quantas cabras trazes hoje? (perguntava o meu avô afagando com o olhar os múltiplos animais da encosta no momento em que retirava da mala a bucha)
- Aí umas 100 ou 150 peças. (respondia o moleiro com orgulhosa gravidade)
- Dá para vários currais. (sorria em saudação o meu avô, enquanto se debatia com o queijo e os incómodos gumes do xisto)


Alguém devia explicar a estes insólitos produtores televisivos que um programa de televisão pode ser um espaço de tempo bem utilizado. Depois de António Vitorino de Almeida e Bárbara Guimarães passearem desnorteados por algumas capitais europeias, concorrendo entre si na caça à irrelevância vejo emergir na minha mente um projecto de sucesso garantido: Cecília do Carmo e Eusébio pisando os relvados europeus em busca dos mais valiosos momentos futebolísticos do século XX, comentando as vivências particulares, exprimindo os seus desejos e ambiguidades, os seus anseios e as suas expectativas. Caro leitor, deixo-lhe como consolação dos aflitos uma velha reflexão de Marx, também aplicável à história da programação televisiva – a história repete-se, primeiro como tragédia e depois como farsa.

A chave estruturadora

A política, como saberá o leitor, é a arte do possível. Ora, em Portugal não é possível a política porque no seu lugar está um saco de cimento. Explico melhor. O nosso El_presidente estranha a qualidade estética do “parque dos poetas”. Eu não! Porquê? Porque não sou poeta. Sou apenas um provinciano depremido da periferia. Logo, costumo deambular pelo parque no sentido de entender de que forma podemos nós contribuir para que em Portugal, em vez de um saco de cimento, exista, enfim, uma informada discussão política. Os poetas, quase tão deprimidos como nós, caro leitor, segredam-me por vezes algumas soluções. Em primeiro lugar seria preciso cidadãos em vez de clientes. Gente que entre o vinho alentejano e a leitura do código Da Vinci pudesse dar uma espreitadela às Assembelias (Municipais e Nacional) e inteirar-se dos processos, das ambiguidades, das escolhas em questão.
Uma vez que tal não é possível resta-me uma consulta ao sítio da Câmara Municipal de Oeiras para esclarecer a nossa ignorância (minha e do el_presidente) na apreciação da superior qualidade estética do parque dos poetas:
“A ideia seria contar a história da Poesia através da arte escultórica, ao longo de um percurso designado por “Alameda dos Poetas”. Tornou-se no mote para uma ideia mestra, entendida como chave estruturadora para o nascimento da obra do Parque dos Poetas.”
Portanto a ideia é contar uma história. Uma vez que a biblioteca é um sítio desagradável, cheio de livros e de pó, vamos fazer aqui uma espécie de poesia portuguesa em 15 minutos. Uma “ideia mestra” entendida como “chave estruturadora” (mais uma bela expressão) para o nascimento da obra… Digo mais: em vez da "chave estruturadora" acho que deviam ter usado uma retro-escavadora e prolongado a alameda dos poetas até à estação agronómica. Compreendo, contudo, que isso não esteja ao alcance de um saco de cimento, perdão, de uma política sustentada economicamente.
Continuando a leitura do sítio, continuamos, em simultâneo, a aprender. Sem esforço e com alegria, que é como se quer a ciência das aprendizagens:
“Para além de desportivo e de lazer, este parque é sem dúvida um “caso singular” de espaço de cultura, que dadas as suas características constituirá um marco no território, não só do Concelho de Oeiras e Área Metropolitana de Lisboa mas também uma referência a nível Nacional.”
Um marco no território, sem dúvida. Ao que proponho, para culminar este marco no território, a construção de uma estátua de vinte metros ao doutor Isaltino de Morais. Não a partir do chão - que está sujo e não é condicente com tamanha visão das alturas - mas aproveitando, como “chave estruturadora” da reciclagem ambiental, o prédio embargado na zona do Espargal. Penso que é hora de reparar a injustiça feita e devolver, com estrondo épico, o pedestal ao seu herói. Entretanto mais uma pequena informação:
“É importante referir que, por força do planeamento da execução das obras, sobretudo no sentido de acautelar prejuízos ou incómodos na sua envolvente, o Parque dos Poetas, que abrange uma área de 25 ha, tem uma execução programada em duas fases. A 1ª fase, constituída por uma área de 10 ha"
Curiosamente, a segunda fase não é mencionada. Nem sabemos quantos hectares terá. Nem importa desde que não tragam para a obra a “chave estruturadora”. Em suma o parque dos poetas “conta uma história”, “é um marco no território” e “acautela prezuíjos e incómodos”. Com efeito, tenho que fazer um acto de contrição: a política não é um saco de cimento, é um passeio no parque.
Entretanto através de Mário Negreiros chega um texto “O triunfo do motorizado” publicado on-line pelo Jornal de Negócios a 2 de Novembro de 2007. Ficamos a saber que decorre neste momento a reposição da estrada que há uns anos cortava ao meio o adro da igreja de Oeiras (pensava o leitor que era apenas uma estátua a esse grande obreiro da cidadania e da vida pública em Oeiras que é o prior da vila). O incómodo Negreiros quis saber como se cheegou a esse golpe de teatro no centro-histórico e procurou “o vice-presidente da Câmara e vereador dos centros históricos (e de 9 outros pelouros), Paulo Vistas”. O senhor Vereador começou por dizer ao incómodo Negreiros que “atendia, assim, a um antigo anseio da população, expresso num abaixo-assinado com centenas de assinaturas”. O senhor Vereador teve a amabilidade de oferecer ao incómdo Negreiros uma cópia desse abaixo-assinado. Ao que consta podem contar-se 151 assinaturas. Lança o incómdo Negreiros: “Não é grande coisa quando o que se pretende é legitimar uma intervenção tão radical em pleno núcleo do centro histórico de Oeiras”. Ora aí está um espírito que não compreende o critério da decisão política. São uns demagogos, filhos do populismo e da multidão que, como já ensinava Kieerkgard, não passa de uma mentira. As decisões são para se tomar com critérios objectivos, sustentados, globalizados, desnvolvimentistas, conceitos que podem traduzir-se por uma “chave estruturadora do real”. Mas logo volta à carga o incómodo Negreiros: “Perguntei-lhe se fecharia outra vez a estrada se lhe entregasse mil assinaturas. Disse-me que não. Quis saber que argumentos técnicos justificavam o rasgar ao meio do largo da Igreja e disse-me que o que se pretendia era "dinamizar" o centro histórico, aumentar a "circulação" e, com isso, aumentar os negócios do comércio tradicional”.
Objectivo e estruturante. Só não percebo qual a racionalidade que preside ao aumento de negócios do comércio tradicional com a abertura de uma estrada no adro da Igreja na mesma medida em que se abre mais uma grande superfície “o allegro” a 5 minutos de automóvel do centro. Acabei agora mesmo de perceber, peço desculpa pelo lapso. É exactamente a mesma racionalidade empreendida pelo BCP na criação da Somerset: no comunicado pode ler-se que esta offshore de José Goes Ferreira, beneficiou de um empréstimo de 27 milhões de euros como, e passo a citar, “«veículo» constituído pela então administração do BPA para compensar insuficiências de balanço”. Traduzindo, são medidas que deslizam como veículos e balançam para compensar insuficiências.
O incómodo Negreiros vai mais longe e lança a acusação insidiosa: “A única explicação racional (embora escandalosa) que já ouvi para que tenham rasgado o largo da Igreja de Oeiras é a de que tudo (do abaixo-assinado à obra) teria sido engendrado para beneficiar um condomínio de luxo em construção no lado sul do largo. De facto, os futuros moradores do condomínio perdem um largo mas ganham três minutos na volta (de carro) a casa”. Não merece qualificação esta atoarda, este boato mentiroso (bela expressão de José Socrates, uma vez que, se é boato, é por natureza mentiroso. Logo, uma redundância de mentiras, em aritmética portuguesa, costuma resultar numa verdade. Que digo eu, numa mentira, numa grandessíssima mentira). Repito: um calúnia mentirosa, uma mentira cobarde e injuriosa, uma inaceitável generalização, lançando lama sobre as honradas insituições sobre as credíveis empresas de construção que garantem o pão a tantos e tantos portugueses. Caro leitor, digníssimo el_presidente, senhoras e senhores munícipes: a política não é um passeio no parque, é uma “chave estruturadora”.
P.s. Aqui vai um brinde de 2005 (informação on-line publicada pelo Jornal de Notícias) com um pequeno TPC: onde está a fronteira entre o cimento e o parque?
A presidente da Câmara de Oeiras, Teresa Zambujo, admitiu esta segunda-feira, dia 7, durante uma sessão da assembleia municipal, a possibilidade de levar a reunião de câmara a questão do licenciamento de uma urbanização que está a ser feita junto à zona de expansão do Parque dos Poetas e que um grupo de moradores quer ver anulado. Na passada semana, um grupo de munícipes entregou um documento com mais de mil assinaturas contra a construção do empreendimento Edifícios do Parque, alegando que o projecto viola o Plano Director Municipal. Em causa estão sete edifícios (alguns dos quais com oito e nove pisos acima do solo), com 125 fogos e uma área de construção de 25.330 metros quadrados. Presente na reunião da assembleia que se realizou na noite de segunda-feira, um dos promotores dos protestos, João Lourenço, disse à Lusa que Teresa Zambujo admitiu discutir o assunto na próxima reunião do executivo camarário após ter sido questionada sobre pormenores do projecto. Segundo João Lourenço, os moradores queriam saber, entre outros pormenores, em que órgãos de comunicação social foram publicados os avisos de consulta pública do projecto, obrigatórios por lei. «No dossier (que está na câmara) não consta nenhuma fotocópia ou recorte de jornal» com o aviso aos interessados de que o projecto está para consulta pública, precisou o morador.

O empreendimento em causa, localizado junto à segunda fase do Parque dos Poetas (Paço de Arcos), já deu origem a um abaixo-assinado e a uma queixa junto do Ministério Público de Sintra. O projecto integra sete edifícios (alguns dos quais com oito e nove pisos acima do solo), com 125 fogos, índices construtivos demasiado elevados e que violam o PDM em vigor, segundo os moradores.

Em Julho do ano passado, um grupo de cidadãos apresentou ao procurador do Tribunal Administrativo de Sintra uma queixa contra a câmara de Oeiras e contra o promotor da urbanização - J. Dias e Dias - alegando que o empreendimento violava o PDM.

O Processo remonta a 1982

Segundo os autores da queixa, os antecedentes remontam pelo menos a 1982, já que foi neste ano que deu entrada na câmara um pedido de licenciamento de loteamento dos terrenos entre as ruas Joaquim Moreira Rato e Carlos Vieira Ramos.

"Após várias vicissitudes ocorridas durante o licenciamento" foi emitido um alvará, em nome de uma outra construtora, que caducou. Os terrenos foram entretanto adquiridos pela J. Dias e Dias, com vista a solicitar novo pedido de loteamento.

"Para se assegurar das capacidades construtivas do terreno em causa, em vez de recorrer ao procedimento de informação prévia, (o construtor) optou por entabular conversações directas com o então presidente da câmara, Isaltino Morais", refere a queixa. Após "reuniões informais", chegaram a acordo em relação à volumetria, tendo o alvará sido emitido em Março de 2004 e as obras começado a 14 de Maio.

Sei por experiência própria que estas maçadoras questões da informação prévia demoram tempo, exigem cuidados técnicos e algum “jogo de cintura” administrativo. Como tempo é dinheiro vamos antes a uma conversa. Caro leitor, proponha esta semana um aumento de salário ao seu patrão. Se não tem patrão, suba os os seu preços. Se houver dificuldade experimente uma conversa. Verá que o entabular de conversações directas continua a ser a melhor fomra de resolver um problema.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

As time goes by me

Há um ano estava aqui:
Fui escrevendo umas coisas enquanto lá estive, e é curioso voltar a ler os textos e do que dessa leitura surge. Pensar no que pensava há um ano atrás. Entretanto muito mudou. A terra continua a girar. E nós vamos com ela.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Poesia de bolso

"Então todos compreenderam que a memória da árvore nunca mais se perderia, nunca mais deixaria de os proteger, porque os poemas passam de geração em geração e são fiéis ao seu povo." A Arvore, Sophia de Mello Breyner Andresen


Volto à carga em Oeiras. Desta vez o tema é o Parque dos Poetas. Há muito que falo nisto, mas nunca o escrevi antes. O Parque dos Poetas é feio. Perdeu-se uma boa oportunidade de ser ter um espaço verde com uma area consideravel (25ha no projecto original, o Central Park tem 341ha por exemplo), para passar a ter um espaço com demasiado cimento, marmore e estruturas metálicas, estadio de futebol e respectivas bancadas, e pior de tudo uma alameda de consagração a poetas. Esta ideia de homenagem fruto de um riquismo foleiro e de cultura de pedra marmore, acompanhada por intervenções de jardinagem muito discutiveis, é na minha opinião um grande erro. Um parque urbano por conceito é um espaço livre de edificios e de intervenções, onde existe em abundância espaços verdes de forma a que o visitante possa extactamente usufruir desse espaço. Uma alternativa com espaços de relva, pequenos lagos, etc, alem de muito mais barata teria uma componente importante: não está associada a temas, é imtemporal. É legado para o futuro. Nada me move contra os poetas, pelo contrário até, mas acredito existirem outros meios de perpetuar a sua obra.

Outra questão é a propria expansão do parque para o futuro. Neste momento dos 25ha apenas 10 estão construidos. Já houve polemicas com a construção de um predio de varios andares no espaço do parque e que foi embargado. Durante a campanha das autarquicas foi prometido novas revelações para o parque, assim como girassois que iam alegrar o espaço. De facto foram colocados, de facto cresceram. De facto secaram. O Parque continua parado. O prédio continua de pé apesar de embargado e aguarda-se por decisão do tribunal. Que futuro? Olhemos para lá fora. Veja-se o Central Park ou o Hide Park. Não era preciso ir muito longe. Veja-se o parque da Cidade do Porto. O betão em Oeiras claramente começa a ganhar e há que começar a pensar seriamente que rumo que tomar e que alternativas existem, para evitar males piores. A luta ainda mal começou.

O mais espantoso instrumento

Não pretendo fazer publicidade nem à marca nem ao modelo, mas este vídeo é, na minha opinião, uma ode à voz humana. E, essa sim, vale a pena celebrar, ou não será ela o mais espantoso e complexo instrumento musical?

Tudo Passará



Mas tudo passa tudo passará
E nada fica nada ficará
Só se econtra a felicidade
Quando se entrega o coração

Não sou economista nem gestor e cheguei mesmo a receber um 4 num teste de matemática do 12º ano, o que me valeu a qualificação de “pobreza franciscana”: desculpem mas não é para todos. Desde então tenho procurado perceber se o epíteto estava relacionado com a minha barba adolescente mal semeada, o facto de ter pouco dinheiro ou as goradas tentativas para resolver questões de trigonometria em estilo chilreio de pássaro. Contudo, tenho que confessar o acerto da minha saudosa professora: haverá coisa mais pobremente franciscana do que um exercício de probabilidades mal resolvido por um adolescente da periferia? Como diz um ilustre pensador, há 50% de possibilidades de qualquer coisa acontecer. Ou acontece ou não acontece. E comigo a matemática não aconteceu. Foi como uma mulher bonita que vemos cruzar a rua e perder-se na multidão urbana.

Vem isto a propósito do alegre exercício que, desde então, venho fazendo a título de penitência. Folheio, ocasionalmente, a imprensa económica. Devo dizer, caro leitor, que é um festa cívica de pensamento e vitalidade participativa. Esta semana o Expresso economia traz algumas reflexões prementes. Ficamos a saber que o senhor Comendador da Ordem de Mérito Agrícola, Comercial e Industria João Picoito, gestor de mérito reconhecido, é também Professor Catedrático convidado da Univesidade de Aveiro. Na procura de alguma informação sobre administração, a simples curiosidade, que em tempos matou o gato e hoje, felizmente, não mata sequer uma mosca, levou-me a uma notícia perdida na espuma dos dias: o senhor comendador Picoito recebeu em 2006 o doutoramento honoris causa. A justificação deixa todos sossegados e não envergonha o prestígio secular da universidade. Da mesma forma é indiscutível o trabalho científico-empresarial do agraciado: “o seu contributo persistente, relevante e singular, para o fortalecimento das relações entre as universidades e o meio empresarial, nomeadamente no domínio estratégico das Telecomunicações e o seu percurso profissional brilhante num domínio de actividade e num ambiente empresarial altamente competitivo em termos internacionais” conforme pode ler-se na notícia do sítio Ciência Hoje. Esta imposição das insígnias doutorais celebra uma nova etapa na vida dos portugueses, dos europeus, do mundo inteiro. Leite e mel correndo no deserto.

No sítio da Siemens pode também ler-se “Para quem conhece este professor, gestor e engenheiro electrotécnico, as razões de tal distinção são óbvias: o seu papel na criação e desenvolvimento de grandes centros de investigação de nível internacional em Portugal, o seu contributo para o fortalecimento das relações entre as universidades e o meio empresarial e o seu relacionamento institucional com a Universidade de Aveiro - com consequências positivas para a academia e para a região”. Nada a obstar. A política de aliança entre o tecido empresarial e os centros de investigação, neste sinergia de conteúdos para a criação de emprego e para o desenvolvimento económico português é arguta, poderosa, irrepreensível. Apenas uma pequena sugestão: enviem um mail ao director Martim Avillez de Figueiredo a avisar que o plano está em marcha e que não está sozinho nessa luta desigual contra a grande ilusão dos cursos de letras e a sua famigerada promessa de um bom emprego.

Quanto à universidade caro leitor tire o casaco e a gravata preta do armário que toca a finados. Somos nós, tu e eu, que não compreendemos a força da mudança, os ventos do progresso, as “forças progressistas” na expressão do gestor Carrapatoso que comandam o amanhã que canta.
Chegou a nossa hora, e não nos fica mal aceitar a derrota. Sobre o penalty do Veloso não digo mais nada. Sobre a velha citação do eclesiastes – “quem acrescenta ciência, acrescenta sofrimento à existência” – que Platão não se cansava de repetir, é bom que a coloques na reciclagem que o futuro não se compadece com hesitações.

Sobre o carácter crítico do conhecimento é coisa de alemães oitocentistas com barbas, atacados por problemas intestinais e falta de recursos. Sobre a relação entre ciência e independência é uma teia de aranha a limpar dos cantos esconsos do armário com os livros comprados naqueles desconcertados dias adolescentes de 68. Mas logo vem em meu auxílio esse canto profundo da ciência económica: convém não esquecer nelson ned, o conforto das solidões africanas nas colónias um pouco antes do retorno, o sonho das mulheres portuguesas que esperavam o regressos dos soldados – não esqueça o caro leitor que, também na economia, tudo passa.