terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Citando um escritor da Estrada de Benfica, «desculpem, mas vou falar de futebol»


A comoção relativa à carica de Santana Lopes (carica nunca tão badalada como agora) prende-se de facto com uma questão de estatuto. Aproveito para dizer que cada vez amo mais profundamente Santana Lopes. Se qualquer comentador pudesse constatar, num relance, num relampejo, numa nesga, num intervalo de espirro, a absoluta irrelevância das intermináveis listas de tipos humanos que já receberam a carica, rapidamente consideraria Santana Lopes uma frágil folha na grande árvore das condecorações pátrias. Acontece que Lopes é um indivíduo que não frequenta os salões correctos, o que é uma contradição deliciosa, como diria Margarida Rebelo Pinto. O único político que se pode orgulhar de frequentar com visibilidade os salões é penalizado justamente por não frequentar os salões. Mas os salões de quem? Naturalmente, os salões daquelas famílias de Casaca e relógio de bolso (como estão vossas senhorias) que mandam nisto. Mas a comoção verdadeiramente interessante é a que por aí vai com a fulgurante época desportiva do clube da Estrada de Benfica. Eduardo Barroso confessou publicamente trazer uma bengala na mala do carro para o que der e vier. Por sua vez, Dias Ferreira confidenciou preferir o Valência versus Valhadolid à serena goleada inflingida pela equipa do momento aos bravos maritimistas, no imortal Estádio dos Barreiros (ouviu-se menos o bombo e a peixeira estridente, o que deveria levar todos os telespectadores a agradecer eternamente ao futebol do Benfica). Mas o que o futuro nos reserva são delícias que não podem sequer comparar-se ao maná do deserto. Quando o Futebol clube do Porto começar a resvalar na lama dos jogadores falhados e no óleo das arbitragens incompetentes (realidades que não conhece com profundidade há pelo menos trinta anos) o desespero dos seus adeptos será um espectáculo digno das convulsões espasmódicas presentes na clássica representação do Rapto da Europa, pintada por Pietro Paulo Rubens no já longínquo ano de 1630.

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