terça-feira, 30 de junho de 2009

A seguir atentamente a partir de sábado


The many faces of Lance Armstrong


Eles são cientistas. Eles são políticos. Eles são cientistas políticos.

Da Crónica de Miguel Monjardino no Expresso: «Na segunda-feira, o Centro de Tropas Comandos na Serra da Carregueira comemora o Dia dos Comandos e o Encerramento do 113º Curso de Comandos. Os Comandos são uns dos melhores símbolos da elite militar nacional. São também uma das unidades mais bem preparadas para defender os interesses nacionais no exterior em missões de guerra e de paz. 'A Sorte Protege os Audazes' é a sua divisa».
Estou desolado. Não vesti o meu camuflado, não oleei a minha J3, não revi os fabulosos textos de Jaime Neves sobre relações internacionais e a técnica de guerrilha, nem fui ver Monjardino marchar ao som da Portuguesa, nem jurei bandeira, nem enchi 44, nem gritei filhos da puta, nem perdi quatro dedos na guerra colonial, nem voltei para afogar a minha vida no alcool, nem fiquei encerrado entre as paredes xistosas de uma serra a vomitar a juventude que me foi roubada, nem repeti indefenidamente o medo ante o cheiro do capim, nem escutei as pás do helicoptero a varrer a planicie moçambicana, nem incendiei a minha casa porque já não controlo o que faço com os cigarros, nem ouvi o meu camarada a chamar pela mãe, nem engoli as lágrimas que me chamavam para a morte, nem fiquei atolhado de silêncio a interrogar fotografias sépia a amarelecer numa caixa, nem prometi nunca mais voltar, nem regressei ontem do mato a desejar uma bala, nem apertei a fotografia dela, nem me lembrei como era, juro que não lembrei como era porque estas coisas, sabes, estas coisas a gente esquece tão depressa, ou faz por esquecer.

Vasco Campilho, não por acaso, rima com pampilho e deve ser amigo de Raposo, o autor da metáfora mais estúpida da história mundial da crónica

Hoje já não estaremos tão familiarizados com a linguagem tauromáquica: quando o forcado, sacudido pela cabeça do animal, retesava os braços e balançava logo se podia ouvir: «Fechou-se à córnea com querer e vontade de ficar». Podia eu dizer o mesmo de Manuela Ferreira Leite, de acordo com o que afirmava Maurício do Vale nas lendárias corridas RTP dos anos 80, no tempo em que o Muro ainda não tinha caído, ao som de coros eslavos e colocando bandeiras vermelhas sobre o coração, mas isto se tivesse por passatempo desenvolver as técnicas semântico-metafóricas de Henrique Raposo, que permitem alinhavar frases como esta: «E, já agora, convinha reinvestir no aeroporto de Beja, que poderia funcionar como o Sancho Pança aéreo do nosso D. Quixote marítimo, o porto de Sines ». Olé. Adiante. Quando surgiram as Farpas, as águas da sociedade Lisboeta eram calmas e pacíficas. Foi então que surgiu a famosa dupla, tomando o conceito emprestado ao farpear do touro, a besta constitucional que, saindo para a arena, se sujeitava à impetuosa virilidade dos folhetinistas diabólicos que forjaram o realismo português. Hoje é Vasco Campilho quem vem farpear a fera. A fera é José Socrates. O viril lidador é Campilho, patilha larga, mão no colete, encarnado, claro, meia rendada e calça justa, olé. E como farpea este campino de vara à ilharga - qual pampilho - doce tradicional, da Azambuja ao Cartaxo, passando pelo Vale de Santarém, e pelos olhos verdes de Joaninha, olé. Atira Campilho com um par de bandarilhas, olé: «Se porventura ele (PS) vier a ser de novo o partido mais votado, iniciar-se-á o ciclo político mais turbulento que Portugal conheceu desde a década de 70. Definitivamente, a governabilidade já não é atributo que o PS possa reivindicar para si.» Eu, como sabe todo o auditório, sou uma besta que gosta de ser farpeada e gostaria que Campilho começasse por sacar do seu capote e explicasse, desenhando na areia democrática, ao estilo dos esquissos de que tanto gosta, de que enormes alturas aristocráticas extrai ele tão formosos conceitos, como, por exemplo, o de «governabilidade». Governabilidade tem quem ganha as eleições. Mas isto, claro está, na minha terra, um pobre lugar onde os cidadãos não cursam ciência política, relações internacionais e, por isso, não atingem as gloriosas intuições da harmonia social, guiados por partidos que têm, na verdade, "governabilidade", generosamente concedida por entidades supra-pragmáticas como Vasco Campilho.

Derrota TV

Aqui ao lado esse jogo onde o Benfica perdeu graças ao penalti falhado do Veloso. A final maldita do Alf.

Great Bustard



Colocamos aqui o manifesto dos 51 porque o dos 28 é mais chato de se ler

Um manifesto com prioridades

entretanto leia-se o Rui Tavares para perceber um pouco melhor como funciona os bastidores do jornalismo e da suas influências politicas.

‘“O que fez antes do doente morrer?”’

Nem de propósito



os Comteporâneos fazem aqui uma rábula quase perfeita do que nos espera. É o regresso dos Jotas. Cruzes canhoto.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

2031 da Armada mas com reconhecimento da Causa Real, se Vossas Magestades o Permitem

Nos últimos meses os portugueses têm sentido sérias dificuldades em não serem convidados para escrever no 31 da Armada, uma vez que tutti quanti o tem sido. Entre pérolas como este post, da autoria de um membro do Conselho Superior da Causa Real, engenheiro aeronáutico com funções na ANA, e declarações como as deste outro post que contrariam as leis da gravidade, tem valido tudo. Entretanto, Pedro Marques Lopes começou novamente a comentar a missão histórica do PSD pelo que de imediato vou mergulhar a cabeça num alguidar de água fria.

Anti-americanismo secundário motivado por uma extrema admiração, quase amorosa, por Rosseau, um homem de boas maneiras

Raquel Vaz Pinto, Paula Moura Pinheiro e Soromenho Marques dançaram ontem uma contradança na rtp2. Entre os vários passos de belo efeito, gostei particularmente daquele em que se procurou definir o estilo geral do povo americano, exercício tão caro ao historicismo do século XIX e que os nossos liberais gostam de apresentar vestido à moda do último grito do pensamento analítico. E o que são os americanos, isto partindo do princípio de que os "americanos" são alguma coisa? Não sabem, mas distinguem, claramente, a ética e glorificação do trabalho, a responsabilidade individual e o pragmatismo político, uma espécie de sabedoria divina nos princípios de governo, no que se diferenciam dos europeus - líricos, utópicos, cavalgados por esse diabólica excrescência da história que se chama Jean-Jacques Rosseau. Deixem-me contar-vos uma história. Quanto o governo britânico das colónias americanas começou a cheirar a moscambilha, um rapazola chamado George Washington, filho de proprietários rurais da Virginia, zelador de imensos territórios, pelo menos desde 1748, foi encarregue de levar uma mensagem diplomática a um oficial francês, em 1752, pelo facto de estes terem ultrapassado o rio Ohio. Foi recebido com particular elegância, dado o carácter pacífico da sua missão, tratado com deferência e cortesia, bebendo bom vinho, alojado em óptimas instalações, dialogando com os oficiais do rei de França, que escutaram com atenção as suas razões, tendo, contudo, recusado o seu ultimato. Depois de regressar a Virgínia, passou a chefiar um pequeno Regimento que deveria expulsar os franceses do sul do Ohio, essas terras das grandes águas. Como fontes dessa missão existem hoje cartas do próprio Washington em que este relata um episódio que o terá marcado particularmente. No decurso dessa missão à frente de um Regimento, onde pontificavam tropas indígenas arregimentadas em negociações duvidosas, defrontaram-se com um contingente francês, também em missão diplomática. Ao contrário do tratamento cortês, o exército de Washington liquidou todo o grupo, sendo que foram os índios a tomar as despesas da operação, perpetrando, entre várias habilidades com faca, o escalpe do oficial francês que chefiava a missão. Depois de aberto o crâneo, o líder das tropas indígenas, sob o comando de Washington, apertou-o nas mãos, espremendo-o. É uma bela história, da qual não quero apresentar nenhuma conclusão. Em todo o caso, quando se trata de pensamento político seria desejável que Soromenho Marques e Raquel Vaz-Pinto limpassem os pés à entrada para não me sujarem o tapete da sala.

Quod erat demonstrandum se bem que talvez seja mais qualquer coisa relacionada com um ornitorringo

Revelo em primeira mão ao auditório que quase sofria, ontem, pelas 21h47, uma paragem cardíaca ao deparar com uma alusão súbita de José Pacheco Pereira a Vitorino Nemésio, chegando aquele a invocar, como hipotético souvenir de tão cómico programa, essa lendária figura do panorama (palavra bela, entre o miradoiro bracarense e a teoria sociológica) literário português. Acontece que Pacheco Pereira não é um bom romancista, não é um homem erudito, não é um grande professor, não é um excelente comunicador, não nasceu em Ponta Delgada, não usa óculos de massa, não impõe respeito, não segura o telespectador mais do que 23 segundos, não faz elaborações sobre as investigações náuticas do Infante D. Henrique, não publicou livros de poemas, não escreveu o Mau Tempo no Canal, não se recostou no sofá de casa, não coçou os tomates em directo e assim sucessivamente, parafraseando César Monteiro. Pelo contrário, Pacheco Pereira farta-se de ler jornais de referência e relatórios do Parlamento Europeu o que não chega para invocar Nemésio como guarda-chuva para os insultos de mediocridade que vao desabar na sua cabeça quando Portugal perceber que inaugurou uma nova modalidade nacional: a censura em estilo pesca à linha disfarçada de Programa crítico em directo no horário nobre da Sic notícias.

Escola e educação

Não é só nos EUA que fazia bem aprender probabilidades e estatística.




"It's analysing trends, it's predicting the future".
"...If all of them knew what two standard deviations from the mean means..."

E sobre este tema já muita gente disse muita coisa mas a meu ver Mark Twain disse-o melhor: "I have never let my schooling interfere with my education."

Há 10 anos chorei neste dia

E não há mais nada a dizer. Senão que o tempo ultrapassa-nos.

Violência

Depois disto e disto (e, já agora, aqui na p. 28), para quando acabar com as claques?


Talvez quando os negócios escuros de alguns dirigentes já não se alimentarem destas pessoas, quando a segurança ou insegurança de outros não depender delas ou quando o resultado de eleições não estiver dependente do seu apoio (para que azuis, vermelhos e verdes não fiquem de fora).

E isto nada tem a ver com desporto. O negócio só pode ser outro e bem mais rentável.

sábado, 27 de junho de 2009

Ninguém, se deixarmos de fora Zandinga o que na minha opinião é manifestamente injusto

Procuro desesperadamente seguir no encalço desse grande fenómeno da contemporaneidade que é o sucesso da geração atlântico, sem, contudo, vislumbrar o mais pequeno traço do lugar onde se escondem. Uma coisa, porém, é certa: repetem com grande vénia - dobrando os joelhos, segurando levemente na casaca, e enrolando a cabeleira setecentista -, o seu respeito e penhor eterno por Tocqueville, o homem que vem substituir Marx no panteão da análise política, sem que isto seja sequer uma originalidade pois consiste no argumento mil vezes repetido por François Furet antes de fazer a sua contrição e chorar dois Nilos e um Amazonas em cima da ilusão juvenil: - Ah aquelas paxiões adolescentes por miúdas sabujas embuídas pela revolução e transformadas num bazar indiano ambulante com toneladas de missangas e colares marroquinos, que nos levaram (aos senhores) a ler com devoção as obras completas de Mao Tse Tung. Claro que agora temos a reacção: os filhos desses senhores (Tunhas, Ramos etc) vêm assanhados pelo facto dos pais não terem corrido logo com a chupeta na mão quando eles gritavam no berço. Não compreendem que os pais estavam nesse momento a fazer o seu próprio caminho, mesmo se isso consistia na leitura de Althusser. Daí que agora tenhamos que interpretar estas enternecedoras declarações de génio, com certidão académica e reflexão tão profunda que já sinto pequenas agitãções intestinais: Ninguém como ele previu (e antecipadamente descreveu) o advento de um Estado tutelar e minuciosamente inquiridor dos actos privados dos indivíduos , afirma Tunhas no seu elogio do maior pensador de todos os tempos, de tal modo que A Bola avança hoje com a hipótese de ser, precisamente, Tocqueville o próximo treinador adjunto de Jorge Jesus. Nem se conhece outra missão tão necessária à democracia portuguesa.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Já que continuamos a falar de pop

eu sei. muito fraquinha esta. mas enfim é sexta feira. perdoem-me.

O que é ser pop

Se ser pop é falar para as massas. Se ser pop é saber falar para as massas. Se ser pop é saber fazer boa propaganda, então eu proponho este senhor para o título de rei da pop:



Rebelde, iconoclasta, independente...
Agora é só aprender a dançar e está pronto a tomar o lugar ainda vago de Robbie Williams nos Take That

Alguém falou em rei da pop?

Durante muito tempo, o fim da tarde, do lado do Casal das Chocas - bairro clandestino avistado da grande marquise da minha cozinha -, era sinónimo de um video-clip que levei mais de vinte e cinco anos a compreeder e que passava ininterruptamente no canal 2, quando o sol se preparava para completar a sua revolução, não obstante as tentativas desesperadas de acompanhar os movimentos «rápidos e severos» da figura destacada no ecrã. Entretanto, a decadência chegou, como sempre chega a quem não se preparou o bastante, repetindo para si próprio «não há se não uma imensa derrota a esperar no fim da linha». Durante todo este tempo continuei, também eu, a ir para a cama cedo, por onde ecoavam electrodomésticos em funcionamento nocturno, grilos falantes, o som do vento nas macieiras do quintal, o pano fresco dos lençois percorridos com os dedos e uma frase rtimada cujo sentido só agora se clarificou: «cause this is thriller, thriller night/And no ones gonna save you from the beast about strike».

...

Porque todos nós temos um qualquer Moscovo para sermos estranhos (estrangeiros):




Tantas memórias de Angola são de estar com os meus amigos a ouvir este homem...

Elogio ao rei da pop



do outro não falo. Nunca fui grande fã. Mas compreendo e respeito a importância do homem no mundo da música. E como seria de esperar a blogoesfera já está cheia de comentários sem interesse. Por isso já chega.

Afinal as nossas escolas... diz que são boas!

Para melhorar o ensino, basta olhar para Portugal!

Don Tapscott sugere que Obama "take a look at a modest country across the Atlantic that's turning into the world leader in rethinking education for the 21st century".

Mais curioso ainda... A agora famosa Fundação para as Comunicações Móveis é referida no artigo, pela citação indirecta do seu responsável: "Lots of ideas are already making their way into Portuguese classrooms, says Mario Franco, chair of the Foundation for Mobile Communication, which is managing the e-school program".

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Desta nem o Sócrates ou a Ferreira se lembraram (até agora)



video oficial da campanha de Berlusconi em 2008

Há sempre noticias piores Alf

Balboa: «Vou incentivar Saviola a vir»

Variações ao tema mais caro a Pilatos e a Jesus de Nazaré mas reconhecidamente ineficaz no campo político pelo menos desde o século IV

A consideração do post O ataque à política de verdade acabou de destronar Jorge Jesus no ranking que define pessoas ou objectos que despertem em mim um desejo absurdo de sofrer e que era liderado há já alguns anos, antes destes últimos e agitados dias, pelo famoso poema de Cesário, Sentimento de um Ocidental. A verdade é que a política de verdade vai fazendo o seu caminho como a mula de um marquês da corte de D. João V que no caminho das Caldas até à Corte acabou por projectar o referido aristocrata causando-lhe uma morte inesperada e muito chorada pela fidalguia, olé. A analogia erra por completo o alvo, é certo, mas o blogue onde pontificam indivíduos com apelidos do género Homem de Cristo, Van Zeller e Picoito turvou de tal forma a minha capacidade de entendimento que estou agora a tentar encontrar séries logarítmicas em textos biblícos que apontem no sentido da concretização da política de verdade, isto sem contar com as listas bibliográficas que tenho recolhido no blogue de Casanova a fim de as confrontar com os últimos números do Borda de Água, no sentido de destacar afinidades entre a cultura da beterraba e a circunscrição dos tipos de inteligência mais comuns em espécimes com opinião sobre um vasto conjunto de questões que vão da análise etnográfica da zona de Famalicão à teoria simbólica de Geertz, enfim um modesto exercício de tipologia que espero seja profícuo na descodificação das razões que tenham levado Pacheco Pereira a proibir a sua entrevista ao jornal "I" ou a escrever frase enigmáticas digitadas em capslock como por exemplo «OS ABCESSOS DE FIXAÇÃO». Isto tudo ocorreu muito antes de ter verificado, com grande perplexidade e alguma indigstão, as possibilidades de Adu ser reintegrado no plantel do Benfica acontecimento que destronou, sem apelo nem agravo, o post «Ataque à política de verdade» no ranking do sofrimento pessoal, facto que não preciso de justificar de tal forma se torna evidente as repercussões da gestão benfiquista neste defeso do ponto de vista das probabilidades de um vitória no campeonato num espaço mínimo de dez anos.

A propósito de uma entrevista de Ferreira Leite falemos de elites

Vamos reincidir em reflexões antigas e recomentar aqui um texto já comentado. Explica-se isto por duas razões: a) os cronistas gostam de republicar as suas crónicas jornalísticas em livro pelo que devemos acomapnhá-los nesse processo; b) não leio literatura inglesa chegada agora mesmo na London Review of Books, não tendo novidades de erudição para oferecer ao caro leitor. Neste sentido, apresentamos um texto de rara beleza, publicado no Diário de Notícias, um dia destes, por João César das Neves onde a oração inconclusiva – “As desventuras da democracia” se explana em diáfanos desenvolvimentos historico-teoréticos. Este texto de César das Neves é antes do mais um trabalho de rigorosa reflexão sobre elites e a natural e saudável existência de classes:“Portugal e a Europa vivem mudanças ocultas mas radicais na sua política. Estas provêm da degradação das elites e, por reacção, do excesso democrático que reduz a democracia”.“excesso democrático que reduz a democracia”? Não compreendo totalmente o alcance deste raciocínio…Tentemos percorrer mais algumas linhas deste fértil mas enigmático pensamento.“A sociedade precisa de elites políticas, culturais, intelectuais e económicas. Destacando-se da população, elas influenciam decisivamente a evolução social. A democracia não se opõe, pelo contrário necessita dessa classe dirigente, desde que seja aberta, móvel, lúcida e respeite as regras. Nem sempre o povo entende o caminho proposto e é normal que desconfie dos líderes. Estes, sob pressão, sentem necessidade de se justificar, corrigir, gerar resultados. Esta interacção saudável entre classes faz a comunidade progredir, mesmo com zangas e lutas”.Um pouco mais claro Magister César das Neves, agora sim. As elites são a malta que tem poder, uma vez que cultura, intelecto, política, economia são dimensões idealistas de valências humanas que, neste caso, se querem destacadas e apuradas por um pequeno grupo - as elites (ou se o leitor quiser os poderosos, aqueles que nossa senhora referia no seu Magnificat: derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes, encheu de bens os famintos e aos ricos despediu de mãos vazias - mas isto era tudo em sentido metafórico, não é para levar a sério. Para levar a sério é aquela questão da rússia e da queda do comunismo por intervenção de nossa senhora). É então saudável que a população se divida entre dirigentes e dirigidos. Porquê? Perguntará o leitor mais incauto. Eu explico: porque o Magister baseia o seu pensamento numa reflexão de domingo à tarde, a saber: o homem é um animal cheio de pecaminosas sensualidades pelo que apenas aqueles que são tocados pela graça do senhor conseguem libertar-se desta materialidade (aquilo a que os teólogos chamam “o mundo”) para virarem o seu olhar, em eterna contemplação, para as coisas do alto. Neste momento as coisas do alto (que no passado estavam relacionadas com a meditação dos evangelhos, a recitação da liturgia das horas, a leitura desse imenso comentário que são as Patrologias Gregas e Latinas) incluem também as relações entre a econometria e os pastorinhos de Fátima. Claro que nem todos podem atingir sem vertigem estas altitudes. Resta ao povo “que não entende o caminho proposto” deixar-se dirigir, numa “interacção saudável” a caminho do progresso. Não se julgue que o Magister Neves não acredita no progresso.“Um dos maiores dramas sociais é, portanto, a decadência cíclica das elites. Quando tal acontece aparece a tentação de as eliminar. Há 200 anos os jacobinos e há 100 os comunistas disseram criar a democracia perfeita na "sociedade sem classes". Mas a anulação das diferenças é tonta, como impor igualdade de gostos ou alturas. As classe sociais são um fenómeno tão natural como o sono, a família ou a chuva. Este facto, evidente com um mínimo de atenção, é negado em certas épocas mais arrogantes que julgam poder mudar a natureza humana, acabando por sofrer os efeitos do atrevimento.”
Magister Neves, gosto especialmente desta parte em que nos é revelado qe as classes sociais são um “fenómeno natural como o sono, a família ou a chuva”. O estimado leitor pergunta-se sobre quem terá comunicado ao magister estas certezas sobre a imutabilidade da natureza humana. Talvez ele tenha habitado um gruta paleolítica, erguido um menir nessas festas agrícolas do neolítico, integrado uma dessas desgraçadas comunidades de remadores escravizados nas galeras romanas. Foi por esse mundo de experiência inter-classista que o Magister compreendeu biblicamente, em profunda união com o objecto do seu conhecimento, a panóplia de virtualidades de uma estratificação social bem vincada. Depois vieram os jacobinos e os comunistas e deram cabo desta perfeita harmonia. Os escravos revoltaram-se (malandros), os camponeses pegaram em foices (insurrectos), os operários fizeram greves (gatunos), os filósofos arrogaram-se o direito de circunscrever o clero no seu raio de acção (bestas diabólicas) e foi um forróbódó de excesso democrático, degradando-se essa saudável prática de haver tipos que mandam, tipos que rezam e tipos que trabalham.
“O pior de tudo é que, ao insistir na tolice de recusar diferenças, se deixa de actuar onde é conveniente e necessário. O esforço de cada época deve ser, não eliminar desigualdades mas injustiças, não erradicar classes mas evitar a sua degradação e promover a mobilidade. Cada grupo deve cumprir o seu dever no bem comum. Os problemas surgem quando, por cobiça ou preguiça, se alteram os papéis sociais. Como disse Confúcio: Deixem o dirigente ser um dirigente, o súbdito um súbdito, o pai um pai, o filho um filho." (Analectos XII, 11). O Magister esqueceu-se da última recomendação, talvez a mais importante de todas: deixem o parvo ser um parvo. Pois concerteza. Faça o favor de prosseguir.“O estádio actual da integração europeia manifesta bem o problema. Desde sempre a CEE constituiu um projecto das elites. Os grandes avanços comunitários de partilha de soberania são rasgos de génio de um punhado de líderes que mal conseguiram o apoio alheio e distraído das massas. Os sucessivos tratados europeus foram aprovados de forma expedita, com o povo concordando tacitamente e sem entender bem o que se passava. Houve erros e abusos, mas grandes benefícios. O sucesso das elites trouxe a desorientação. A arrogância levou-as à fúria do alargamento que mudou para sempre a Comunidade. Pior, embebedadas de euforia, acharam que o povo ia aprovar a malfadada Constituição Europeia. O resultado foi, não mais representatividade, mas a maior crise institucional da Europa que, se vier a ser resolvida, deixará cicatrizes duradouras. Entretanto, Portugal caía num mal-entendido equivalente. Adoptando eleições directas para escolher os seus líderes, os grandes partidos mudaram para sempre a natureza da política portuguesa. O resultado, como nos EUA, não é mais democracia ou eficácia, mas mais populismo. Isso trará ao poder dirigentes como Clinton e Bush, Menezes e Santana, com relações ambíguas com os aparelhos e as ideologias.”
Aqui o Magister circula por territórios interessantes. É pena que não leve as suas conclusões até às últimas consequências. Os problemas da natureza, como o Magister Neves tão bem sabe, são sempre os problemas das origens. Falta perguntar porque associa o Magister a degradação das elites às eleições de Clinton e Bush, de Menezes e Santana. Aí surpreendemos a questão no seu ponto mais interessante. Porque por esta ordem de argumentos toda a democracia seria um perversão da sociedade corporativa baseada no poder das elites, as únicas preparadas para conduzir o povo. Aí estariamos no território do sistema de Salazar e Caetano. Se não, porquê deixar de fora outras eleições igualmente desastrosas para a democracia portuguesa como a do senhor professor Aníbal Cavaco Silva e do seu secretário de estado João César das Neves? O Magister invoca a questão das primárias. Pode ser que isso signifique dar o poder de voto a quem não possui suficiente esclarecimento para decidir. Mas essa é precisamente a coragem da democracia: colocar a decisão sobre o poder, com todos os perigos que isso implica, nas mãos de todos os que são afectados pelo poder, isto é…todos!!! Recomendo o livro O Pensamento Conservador de Albert Hirschman, onde podemos ler que a estrutura dos argumentos do Magister Neves, que aparecem por vezes aos mais distraídos como novidades excepcionais (Cf. a título de exemplo o livro prefaciado por António Carrapatoso Revolucionários - em suma um conjunto de soluções estafadíssimas ao longo de trezentos anos), é exactamente a mesma daqueles que tentaram a todo o custo impedir que o direito de voto fosse concedido aos operários e camponeses (o direito de voto começou por ser baseado num dado valor de rendimentos) às mulheres e até aos negros.“A degradação das elites na Europa e Portugal levou ao sufrágio populista, dos referendos e directas. Mas, sem se equilibrar em classes sociais naturais e saudáveis, a democracia cai na oligarquia ou na demagogia. Como veremos por cá nas próximas décadas”. (o destaque é meu)Há de facto um problema do Magister com a natureza. Ó Magister, experimente ler um pouco menos a irmã Lúcia e mais filosofia jacobina. Merleau-Ponty ensina que a natureza corresponde a uma longa história semântica. Filologicamente está associada às raízes grega (vegetal) e latina (verbos relacionados com o acto de nascer, viver). Segundo o filósofo existe natureza “por toda a parte onde há uma vida que tem um sentido mas onde, porém, não existe pensamento; daí o parentesco com o vegetal: é natureza o que tem um sentido sem que esse sentido tenha sido estabelecido pelo pensamento”.Kant procurou resolver o problema entre o impensado dado a priori e a estrutura do pensado (que é no fundo o da política como conservação ou como mudança que, como adivinhará o estimado leitor, tem sérias consequências para a questão das classes como orgânica natural dos grupos humanos).Se por um lado em Kant, na leitura de Merleau-Ponty, a natureza é algo sobre o qual nada podemos dizer, salvo através dos nossos sentidos, por outro, a natureza é sempre conhecida como constructum, o que significa o retorno a Espinosa – que tanto tem fascinado António Damásio, pela antevisão que o filósofo luso-holandês foi capaz de fazer da análise da consciência como diálogo perfeito entre a dimensão pessoal e construída do filme da mente (em articulação com as emoções sociais) e a mecânica fisiológica do organismo.O velho pensador de Könisberg bem sublinhou que o homem “é antiphysis (freheit – liberdade) e arruína a natureza opondo-se a ela. Arruína-a ao fazê-la emergir numa ordem que não é a sua, ao fazê-la passar para uma outra ordem”. Ou como escreveu Bachelard aquilo a que se chama «natural» não passa, com frequência, de má teoria”.

Provedor de Justiça

Um ano depois de o mandato de Nascimento Rodrigues ter cessado, ainda foi eleito novo Provedor de Justiça.


Para o PSD, Jorge Miranda não era suficientemente competente ou independente para o cargo, sendo mesmo o responsável pela crise que se instalou.


O Provedor de Justiça tem sido uma figura apagada nos últimos anos e talvez o complexo processo de selecção, muito ligado a concessões entre os dois principais partidos, seja uma das razões para a sua pouca visibilidade. O Provedor de Justiça deve defender o cidadão contra abusos de entidades públicas ou de interesse público, mas a sua influência em situações concretas, a verificar-se, não tem sido tornada pública e tem certamente poucas repercussões.


Espero que este impasse também sirva para a eleição de alguém verdadeiramente independente e com força suficiente para influenciar decisões políticas.


Aproveito a oportunidade para me candidatar publicamente ao cargo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Mais um sobre o Irão

Pelos visto os iranianos não querem intervenção estrangeira (leia-se intervenção por parte dos EUA) no seu país. Querem um regime mais livre (sim mais livre porque ao contrário do que se diz as coisas no Irão não são tão opressivas assim) e querem-no a sua maneira.

"America’s moral authority in Iran is all but non-existent. To the idea that the US should jump into the Tehran fray and help bring democracy to Iran, many Iranians would roll their eyes and say: “We had a democracy here until you came in and crushed it!

E já agora leiam também este e todos os outros artigos que são referidos.

E para que fique bem explícito eu apoio totalmente os protestos que estão a ser realizados no Irão. Apoio totalmente a busca de maiores liberdades dos iranianos. Mas o que me chateia e chateia mesmo é a habitual selectividade e parcialidade dos media a tratar toda esta questão.

Agora que o dia acaba

A questão que importa colocar

Quem é que grita mais alto: a Michelle Brito ou a Sharapova?

Não se compara com Pedro Adão e Silva mas aqui fica na mesma dedicado a Rui Ramos que gosta muito mais do pequeno-burguês Fernando Pessoa

Poema do Alegre Desespero

Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,

ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.

Compreende-se.

E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,

e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,e os poemas de António Gedeão.

Compreende-se.

Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.

Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.

E o nosso sofrimento para que serviu afinal?


António Gedeão

Sou uma espécie de Job da literatura cruzado com o poema em linha recta (muita porrada) porque ó deuses eu estava preparado para tudo menos para isto


«Para que conste: O Sal na Terra não é apenas um manual para surfistas. É um dos mais belos livros da poesia portuguesa.» José Tolentino Mendonça

Ou será antes: Angelina Jolie é um António Guterres mas com decote

O que é verdadeiramente extraordinário nos textos de Raposo é a sua capacidade de nos convencer a cada palavra lida da sua imensa incapacidade de utilizar a língua portuguesa para expressar com elegância e fineza um pensamento complexo. «Mas o menino socialista-católico, que fugiu em 2002, continua a ter boa imprensa. Porquê? Porque anda a salvar os pobrezinhos do mundo. Cagou em nós, fugiu, mas como é uma Angelina Jolie sem decote tem boa imprensa. link» Este excerto não é apenas a tradução de uma grande análise, repleta de finas deduções e recortes estilísticos, embora sóbrios, de grande estilo com manifesto domínio da expressão escrita: é a transformação da crónica jornalística ou do post blogosférico num novo modelo da Renova para a linha hard de um novo papel higiénico, juntanto a opinião à prática da higiene pessoal. Eu limparia, de bom grado, o meu corpo a qualquer ecrã onde pontificassem restos das fezes que António Guterres terá largado sobre as nossas cabeças, não fossem as dificuldades logísiticas da operação. Quanto ao conteúdo político não vamos sequer ousar atravessar esses cumes nevados por onde se move a análise do governo de António Guterres, tal a vertigem que nos assalta quando lemos Raposo e as interpretações da situação política portuguesa. Desde os finos gostos musicais («Bolero de Ravel é a primera música de elevador») a coerentes proclamações da ordem liberal («E depois venham-me dizer que sou antiquado por não confiar na wikipédia e demais coisinhas livres da net») tudo se pode encontrar à excepção de elogios à obra filosófica de Karl Marx. Contudo, Dr. Raposo, gostaria apenas de deixar uma pequeniníssima recomendação: olhando cuidadosamente à justíssima comparação entre Angelina Jolie e António Guterres creio existirem mais uma ou duas diferenças para além do decote. Mas posso estar enganado e aí terei que ler mais 10047 vezes o Caminho para a servidão de Haeyk a fim de vislumbrar como a frequência dos assuntos internacioanis e as vastas leituras liberais nos põem a ver em António Guterres uma Angelina Jolie sem decote. Comentadores de todo o mundo: matriculai-vos rapidamente no curso de ciência política e preparai-vos para um mundo novo bastante mais apetecível do que o dos mártires mçulmanos depois de puxado aquele pequeno cordel que pende da cintura.

Neda Soltan

Não me ponham perante imagens que não quero comentar. Não preparem discursos ou análises. Não sou sequer um pequeno-burguês. Não tenho loja a defender nem mercado a conquistar. Não tenho qualquer interesse em movimentos democráticos, mesmo em países de tendência autoritária e cultura muçulmana, que vestem as mulheres da cabeça aos pés a fim de não se verem confrontados com a precaridade da virtude, com a estupidez incomensurável que há no sentimento religioso que pretende religar aquilo que para sempre foi rompido. Não tenho qualquer interesse na geo-estratégia e nas suas particulares influências no campo energético, falamos, como é bom de ver, na possibilidade de uma linha de abastecimento alternativa ao gás russo, com planos e interpretações de planos, bibliografia, comunicados oficiais reconhecidos pelas embaixadas, com todas as consequências do ponto de vista do equilíbrio entre facções, seja nos processos negociais do médio-oriente, seja nas ramificações ideológicas destes conflitos no resto do mundo, das margens arenosas do Lago de Tiberíades aos terraços ventosos do Empire State Building. Não tenho qualquer interesse em redigir posts sintético e certeiros, informados pelos pergaminhos analíticos da ciência política, avançando soluções, prognósticos, recomendações, palpites, planos de desenvolvimento, medidas a implementar para o aprofundamento democrático, denúncias de crimes, repressões, disparos, desvio de informação privilegiada, leitura sobre a importância das redes sociais na oposição a forma centralizadas de autoritarismo. No fim, nada há a acrescentar. Seria útil que convsersássemos longamente sobre as montanhas nevadas de Alborz, o imenso espelho de água colocado aos seus pés, a humidade aí abundante e a sua influência no cultivo de oliveiras e de chá. De resto, nada a comentar. Podemos seguir num carro utilitário ou na carruagem de um metro. Na rua, ou no hospital, de súbito ou demoradamente, ao som do bip ininterrupto da tecnologia que nos garante suporte aritifical e vida. Nada há a fazer. Não há declarações eloquentes, juramentos de fidelidade, promessas de justiça numa outra vida, ou da sua realização, ainda nesta, para os que ficarem. É certo, sou um pós-moderno e não acredito em missões democratizantes ou em razões que justifiquem a nossa morte. Mas o leitor não deve levar a mal esta profissão de fé, uma vez que a proclamo com o mesmo desinteresse com que recolho a roupa lavada e a penduro, cuidadosamente, no estendal. Acredito apenas na filosofia e na sua capacidade de nos colocar, inevitavelmente, perante a violência, tarde ou cedo, conforme o movimento incontrolável dos corpos e dos tiros, desde séculos disparados cobardemente na ilusão de que alguma coisa, alguém, algum sistema nos vai salvar da morte.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Vozes, intensidade, crítica, agressividade, silêncio. O que é uma entrevista?

O número 59 da revista O tempo e o modo, Abril de 1968: Não é novidade para ninguém que V. [jorge de sena] é um dos seus maiores e mais seguros admiradores. Mas a frequência com que proclama o seu talento, ou a “obrigação” e necessidade que parece sentir em proclamá-lo não denunciarão uma certa insegurança, a par, naturalmente, de recusa a falsas modéstias?
Responde Jorge de Sena: É um engano total.Não sou. A única razão pela qual parece que eu proclamo a cada instante o meu talento é porque, até muito recentemente, se eu não o fizesse, ninguém o faria. E, se eu sou agudamente sensível a todas as formas de injustiça haveria de deixar que ela se exercesse impunemente comigo? Poucos escritores portugueses de relativo mérito deverão tão pouco à crítica como eu. De todos os sectores, ou o amesquinhamento foram de regra durante quase trinta anos (…) Dado que eu não acredito em nenhuma forma de imortalidade, e tenho erudição bastante para saber que cemitérios são as bibliotecas e as histórias literárias; e dado ainda que não me dou a participar em partidarismos que me ofereçam, por substituição, a ilusão da imortalidade, será bem clara a razão de exigir o reconhecimento que me cabe por muito e bom que tenho feito. Tenho horror de falsas modéstias, de facto. Mas tenho ainda mais horror da mediocridade que se compraz em recusar-se a reconhecer o que a excede. Não, não sou um dos meus mais seguros admiradores (…) O problema não está em eu me considerar muito grande – mas sim em os outros serem, na maioria, tão pequenos. De resto, devo acrescentar uma palavra de justiça e de grato reconhecimento: foram muitos dos pequenos que não se julgam grandes, e aos quais durante muitos anos não dei nem uma palavra de correspondente louvaminha, quem honestamente, e com isenção, se ocupou mais de mim do que a crítica oficial das várias chafaricas individuais e colectivas. A eles devi, por muito tempo, um comovente incentivo que muitas vezes não recebi de amigos. E, ainda, quero fazer uma pergunta: quantos escritores de categoria se têm ocupado tão largamente e tão numerosamente dos outros seus contemporâneos, como eu fiz durante trinta anos? Quantos? O mais que fazem é louvar às vezes um medíocre ou desenterrar um morto, com medo da sombra que lhes seja feita. A diferença entre mim e eles é que não temo o juízo do futuro, e não procuro tapar o sol com uma peneira.Não: a minha segurança é total e absoluta: ninguém pode destruir-me senão eu mesmo.

A estrutura de gestão, profissionalizada e profissionalizante, agindo em todo o seu esplendor


«Vivo uma grande paixão pelos petróleos e pelo gás», afirma Amorim, que é como quem diz recebi um título honoris causa sem saber ler nem escrever

Américo Amorim é um empreendedor. Ora, Von Mises bem nos alertou para a importância do empreendedor a partir do clássico exemplo que misturava o homem que toma um café pela manhã, sem consciência de que é o sistema capitalista que lhe traz, despreocupadamente, aquele café, e o mesmo homem que lê no jornal as ordens do governo brasileiro, no contexto da grande depressão, ordenando a destruição das plantações de Café. Mises dizia que esse homem diria, inconscientemente, «é nisso que dá o capitalismo». Conseguimos imaginar Von Mises abanando a cabeça e retomando a sua explicação do nossos erros, descrevendo como o intervencionismo é o verdadeiro cancro da criação de riqueza. Mas tanto Mises como Amorim ignoram factos determinantes, mesmo tendo em conta as dificuldades que tendem a instalar-se em sociedades com uma tendência inapelável para a burocratização: falamos da interferência económica de investidores do gabarito de Jorge Jesus. Isto leva-nos, inevitavelmente, à enorme relevância do texto assinado por mais de trinta economistas, invocando a necessidade reavaliar o investimento público, recorrendo a estudos custo benefício das mesmas obras, texto depois espalhado em tudo quanto mexe para que os portugueses interiorizem bem o peso dos argumentos produzidos pela ciência económica. Eu sugiro um estudo custo benefício dos referidos estudos já que entre os economistas se encontra uma percentagem considerável de potenciais receptores da roda viva de valores gerada pela cascata de estudos que vai precepitar-se sobre as nossas cabeças. Entretanto, os comentadores especulam sobre os índices de suavidade utilizados por Ana Lourenço em entrevistas políticas. Por mim, desde há muito, por influência de Artur Jorge, assisto a entrevista política ou comentário reduzindo o som da televisão e colocando um cd de Tony de Matos, por exemplo o tema «Procuro e não te encontro», onde podemos ouvir sínteses espectaculares da ciência política como esta: «Só sei, que por vezes ficamos frente a frente/E ao ver-te ali finalmente /Procuro, mas não te encontro!». Não sei ao certo qual a relevância deste assunto para a interpretação do plano geral de obras públicas mas esse mistério pode facilmente ser decifrado com um telefonema ao doutorado Honoris causa Américo.

Agora que começa o Verão, já falta pouco para o Outono


Derrota TV

Foi actualizado aqui ao lado a Derrota TV com essa final da Liga dos Campeões de 1999 entre o Bayern e o Manchester United, perdida pelos alemães nos últimos 2 minutos do jogo, já durante os descontos finais do árbitro. Uma grande derrota.

domingo, 21 de junho de 2009

Tibério, Sejano, «a loura do PSD» e muitas outras curiosidades pela mão de um dos maiores intelectuais de sempre com Casa na Marmeleira

Nem todas as horas gastas na leitura de jornais de referência terminam, ociosas e vãs, numa completa desolação da mente e do corpo. Sempre que o leitor se levanta, depois de terminada a semana de trabalho, iniciando o Sábado com a leitura do Público, rapidamente se depara com iguarias argumentativas dispostas na mesa pela mão do Professor e crítico – essa espécie raríssima em Portugal – José Pacheco Pereira. Além do mais, nestes últimos dias – como diriam os mormons – verifica-se esta riqueza cronística numa dupla consideração, juntando-se à acutilância corajosa de Pacheco Pereira os ventos favoráveis ao PSD, soprados pela estima dos portugueses. Longamente empenhado e comprometido – no bom sentido do termo, claro está – em desmascarar o governo atroz e socializante do engenheiro Sócrates, Pacheco Pereira é um homem livre, mordaz, parcimonioso na retórica, profundo nos argumentos, sólido nas convicções, que solta a sua veia crítica, como um vendaval em milharal desprotegido, sobre os artificialismos da propaganda. As suas crónicas demarcam-se do estilo geral, praticado no jornalismo português, senão mesmo no jornalismo universal, considerado o passado e o futuro. Que riqueza de imagens, que vitalidade sugestiva nas analogias, que elegância nas construções, pulvilhadas aqui e ali de expressões latinas – infundidas pelas vastas leituras de Cícero – e englesismos que aportam à lingua portuguesa para modernizar a reflexão política quais transantlânticos chegando ao porto de Lisboa carregados com os últimos gritos da civilização. Pacheco Pereira encerra-se, como viúva da República, nesta arca do saber que é a sua casa da Marmeleira. Sobe à estante – arriscando a vida nos velhos degraus – e tira da prateleira um calhamaço de história antiga, amarelecido pelos séculos e coberto de pó. Depois, cofiando a barba, reflecte, para mais tarde tocar a rebate os sinos da consciência cívica, contando-nos a história arrepiante de Sejano (o inventor da guarda pretorina, como força política) que compara ao engenheiro Sócrates. Ó portugueses que não tocais estes limbos da história comparada. O leitor treme na cadeira, engasga-se com a torrada, sente nos olhos o relâmpago sanguíneo a percorrer a neve dos globos oculares, injectado de terror perante a recordação deste facto: o primeiro-ministro é um homem mefistofélico, que frequenta imperadores e maneja o gládio como o telemóvel. Com Pacheco Pereira desfilam Sejano, Tibério nadando entre “golfinhos”, as expressões sugestio falsi e fast food – no mesmo período, pasme-se – o inner self, a ilha de Capri, Facebook e Twitter, o Parlamento Europeu, a co-inceneração, Medeiros Ferreira, soluções governativas, o modo italiano de eleições legislativas e toda um vasto conjunto de problemas a que não ouso guindar os meus neurónios. E o leitor, cansado, leva para casa a declaração de fé que o pode salvar nos próximos meses: o primeiro-ministro é «um animal feroz que parte cada vez mais o país em dois e é gerador de instabilidade por sí só», tudo isto – instabilidade, partir-se o país em dois – conceitos rigorosíssimos da maior utilidade numa relexão que se quer profunda quando, nas próximas eleições legislativas, tivermos que convencer a metade de nós, entretanto partida, que a Drª Manuela Ferreira Leite é a portadora da chave unificadora da pátria, em suma, a União Nacional que urge restabelecer.

Jornalismo sensacionalista e dificuldades cognitivas: que relações?

Descia eu a Avenida dos Bons Amigos no Cacém, congeminando estranhas articulações entre a naturalidade e distinção dos campanários de Combray – imagem fetiche das incursões de Proust no tempo perdido – e a final da Taça dos Campeões Europeus perdida pelo Benfica em 1988 – após penalty desastrosamente cobrado por António Veloso – fetiche das minhas próprias incursões no tempo passado – quando me surpreendi com a seguinte questão: o que será necessário para dirigir um jornal como o 24 horas? É que, poucos segundos antes, tinha deslizado o olhar por estas palavras de Pedro Tadeu, director do 24 horas: «Estou convencido que Fernanda Serrano cria uma empati especial com muitas pessoas por reverem nela episódios da sua própria vida: o casamento, a morte de familiares, o nascimento dos filhos, a doença, a calúnia, a difamação (...)». Estas cenas da vida comum não abandonavam facilmente a minha cabeça. Assim, perdido entre grinaldas com flor de laranjeira, ataúdes, bouquets de malmequeres, caixões com forro de veludo, cascatas de camarão, e o desfile de várias pessoas criando empatia súbita e especial comigo voltava a lembrar a palavras de Tadeu: «é que ao noticiar os comportamentos quotidianos das pessoas mais influentes de um país – e Serrano, pelo que foi exposto anteriormente, é sem dúvida alguém extremamente influente em Portugal – indicam-se referências civilizacionais, morais e éticas de um povo, como compete a um jornal.». Esmagado pela referência civilizacional exclamei: - É isso mesmo! Ignorância total e rigorosa de qualquer coisa assemelhada à lógica (aristotélica, cartesiana ou da batata).

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O tejo, as luzes, a maresia, a contratação de Jorge Jesus, inspiram-me um desejo absurdo de sofrer

Ainda sobre intelectuais de café, uma vez que gostei da qualificação da participante bulimunda: é isso mesmo, em Loures, na Amadora, no Cacém, uma ou outra vez em Alhos Vedros, Corroios, Seixal. Snack-bar, talvez seja mais indicado, as mesas marmoreadas recortadas contra o ladrilhado branco ainda cheirando à lavagem matinal, a azáfama dos galões, cafés escaldados, cariocas, abatanados - dá sandes mista - os rótulos gordurosos das bebidas brancas acumulando pó e desbotando ao sol que, tarde feita, já vai baixando quando levanto os olhos da mesa pela primeira vez. Na rua passa um cão malhado, sacudindo as moscas da ferida ocasional - atropelamento inapelável perto de uns freixos secos e delgados - dois brasileiros balançando ao som do pandeiro bombeado nas colunas do café, ritmado com o sangue tropical em pleno sul da Europa, uma adolescente de olhos húmidos teclando, furiosa, uma mensagem e atrás dela, dois polícias de mãos sobre o cinto armado varrendo a rua com um olhar de raiva engatilhada. Sem dúvida, intelectual de snack-bar, de preferência periférico (há pão quente) é mais certeiro, é mais coloquial.

Para os verdadeiros amantes dos automóveis!

Escola pública e publicação de protestos sobre o governo da escola: algumas notas e um profundo bocejo

Tendo passado pela escola, uma das coisas que não compreendo é a confusão entre a exigência na sala de aula e a avaliação dos alunos. Posso ser muito exigente e mesmo assim passar, no fim do ano, um aluno que, em teoria, não cumpriu os objectivos que, globalmente, estavam definidos para a disciplina. Nem tudo que se pode contar é importante e nem o que é importante se pode contar. O que é um 2? O que é um 8? Onde começam as falhas do aluno e findam as incapacidades do mestre? Não é ele, precisamente, o mestre? Normalmente, os professores que colocam a tónica na exigência - utilizando o chumbo ou a pretensa necessidade de fazer exames "exigentes" para elevar os conhecimentos - escondem-se nesses instrumentos como forma de fugir ao verdadeiro ponto complexo da educação: como convencer uma criança ou um adolescente sobre a importância do conhecimento sem o ameaçar com um teste dos seus conhecimentos. Por isso, se verifica a confusão que Paulo Guinote apresenta relativamente à sua crítica das ideias de Valter Lemos, sujeito que não conheço e em quem avalio o corte de cabelo muito negativamente. Diz Paulo Guinote ironizando sobre as ideias do empreiteiro da educação:
Um segundo ciclo de mais seis anos, em que as não-transições poderão acontecer, mas só depois de esgotados 23 impressos e um batalhão de ferramentas como os planos de recuperação (a estender até ao 12º ano), de modo a que qualquer aluno que saiba assinar o nome completo, distinguir o presente da Pré-História, um animal de um mineral e multiplicar com uma máquina de calcular, poderá ter acesso a um curso superior, bolonhizado claro está, e acabar em profissional de obra por fazer ou professor(zeco?) incapaz de pedir rigor e mérito a alguém, por ele próprio nunca o ter experimentado.
Mas este é o problema: 1) como garante Paulo Guinote que esta não é já a realidade de muitos dos professores que entraram no sistema democratizado, em nítida, e inevitável, queda de exigência depois de 1990? 2) se assim for, quem morre se os alunos apenas tiverem estas curtas ferramentas? Como disse outrora um Presidente da República que não prima pela exigência educatia, há que continuar a trabalhar. Não me digam que vão agora invocar o desenvolvimento económico ou a emancipação do cidadão, quando a escola é, como todos sabemos, o braço do Estado na manipulação intelectual da sociedade civil. Mais uma vez, isto explica-se com a teoria do naufrago no meio do oceano. Os professores, acossados por uma sociedade que lhes vai roendo a autoridade, precisamente porque a autoridade lhes vinha do prato onde agora cospem - o ME -, cerram fileiras quando talvez fosse mais útil optarem por uma visão integrada dos problemas públicas deixando de vez esse cancro das democracias - virus forjados pelos liberais no século XIX - que é precisamente uma "visão reflectida da educação" que não é mais do que um cadáver adiado que continua a procriar, depois da ruína do estado-nação.

Estava no café e vai daí toma lá com mais uma reflexão dual

O caro leitor não levará a mal que voltemos a um tema recentemente focado: os debates em torno da educação. Ora, esta actividade, hoje tão difundida entre espíritos brilhantes como outrora o jogo do chinquilho entre os camponeses, pressupõe grandes méritos intelectuais, um esforço ininterrupto, horas de leitura, exaustiva, da Harvard Educational Review, bem como larguíssima experiência dessa actividade absolutamente punitiva que se chama ensinar. Entretanto, ninguém tem reparado que o problema da educação, como muitos outros na história das sociedades, é muito mais simples de compreender do que à vista desarmada nos pareça. Também como em muitos outros aspectos a questão está em escolher um angulo de visão sistemático e crítico. O que é o problema da escola pública? Simples: é a dificuldade em democratizar um ensino liceal (básico e secundário) numa população com índices de analfabetismo elevados, em 1974, seguindo-se um investimento em capital físico e humano coordenado pelo poder público. A necessidade de educação, como é evidente, não correspondeu a uma missão ontológicamente estabelecida pela comunidade, qual raio crístico a iluminar Paulo na estrada de Damasco: é antes o resultado do processo de industrialização e das necessidades de qualificação, depois de choque petrolífero de 1973, para fazer funcionar uma economia a europeizar-se e com necessidade de se terciarizar. Este plano educativo implicou, como todos sabemos, a contratação de milhares de professores numa população completamente avessa a hábitos culturais escolarizados (António Nóvoa escreveu com propriedade sobre isto). Isto faz dos professores monstros? Não, mas implica que olhemos com alguma calma para o que se seguiu. Como em muitas outras classes profissionais (veja-se o que está a acontecer na Ordem dos Advogados) este crescimento do ensino, na medida em que cresceu desligado de uma tradição enraízada de frequência da escolas, com hábitos de avaliação, justa retribuição dos professores, dignificação do seu importantíssimo papel social, relações fortes entre as escolas e a comunidade, começou a entrar em roda livre quando o paradigma político (neo-liberal) começou a colocar problemas ao financiamento dos serviços públicos (o senhor Roberto Carneiro não é um iluminado, apenas está na charneira do impacto do neo-liberalismo nesta república atlântica). O que ainda hoje se verifica é a dramática ruptura entre o poder público, eleito democraticamente e sujeito a escrutínio eleitoral, e a constituição de uma classe profissional (tal como os juízes ou os médicos) que entretanto gerou a sua própria lógica de interesse, autónoma e completamente desligada do deus criador (os ministérios da república). Para quem conheça um pouco de história o fenómeno é conhecido. Weber, uma espécie de armado em intelectual de café, esplicou isto de forma clara. António Hespanha, fez o mesmo em relação aos juristas e à criação do Estado no século XVII. A própria profusão de livros sobre educação nas prateleiras das livrarias, absolutamente escandaloza na proporção da sua importância relativamente à biologia, a matemática, a filosofia ou mesmo a história - e a reflexão educativa que Paulo Guinote apresenta como vital para definir políticas educativas - são já uma perversão do sistema de ensino público. Tal como em qualquer outro plano da vida social, invocar saber especializado para criticar uma política educativa é, no minímo, estúpido. E lá temos, novamente, a confusão entre técnica e política, um engano a que a sociedade industrial não consegue escapar. A escola está na iminência de se começar a servir do Estado, em vez de servir o Estado, que é, para os mais distraídos, a emanação da soberania democrática. Não há consciência de classe, nem fé na absolvição da história que possa resolver este diferendo. Ou então podem fazer como eu, que não acredito um corno no estado de direito liberal como não acredito um chavo no papel de escolas habitadas por professores que acham normal deixar posts como os que podem ser longamente contemplados no blogue A educação do meu Umbigo.

A fotografia pode mudar o mundo

Muito interessante o trabalho deste senhor. Veja-se a reportagem no site da BBC.

É do calor. Deu-me para isto






Retrato impressionista das doenças para as quais fui recentemente vacinado devido a uma viagem que vou ter que efectuar ao el dorado dos negócios portugueses: Luanda. Dão-se bons prémios a quem adivinhar os nomes de todas.

Porque encontrar é melhor que procurar

A vida segue o seu rumo. Mais um verão. Mais uma melancolia de que estamos a ficar velhos. Por nós passam gentes. Pessoas muito diferentes. Com o Paulo foi assim. Num trabalho horrível partilhamos horas e mais horas. Frustrações. Hoje vive longe e procura novos rumos. Num mundo da música tão fechado e tão procurado ao mesmo tempo. Aprecio-lhe a coragem e a determinação. Para já fica aqui o link para o projecto a solo dele e uma amostra do que ele anda à procura:

<a href="http://aghosttrain.org/track/o-teu-nome">O Teu Nome by A Ghost Train</a>

elogio da escrita barroca - quase uma derrota

Sem que seja claro o seu sentido, a história vai arrastando sobre nós o seu peso morto. Podemos mesmo dizer que os mortos nos perseguem e, perseguindo-nos, talvez lhe devamos um pouco a vitalidade que nos impele para o futuro. Na verdade, sabemos que a industrialização, tragando-nos todos os dias como Cronos os seus próprios filhos, não logrou ainda roubar-nos o Verão. Acertamos o relógio, produzimos toneladas de lixo, vemos desembarcar mercadorias nos portos do Atlântico, partirem comboios internacionais, despenharem-se aviões com mecânica indiferença, ascenderem inevitavelmente os índices de desenvolvimento, na mesma proporção em que são deportados africanos como quem depõe uma caixa de ferramentas ao fundo da arrecadação; enquanto as oliveiras, melhor adaptadas à invenção do tempo, insistem numa contorção cinzenta, enrugada, coroada pelo verde seco das suas múltiplas folhas mas como que a lembrar, com humilde persistência, que por cá continuarão, depois de fracassarem todos os nosso esforços para travar o envelhecimento da pele. Todavia, continuamos a pressentir desde muito cedo a chegada das férias: o cheiro a palha inundando lentamente o fim da tarde, efeito do sol que se vai demorando, cada vez mais, na descida melancólica que empreende cada dia. No mar acumulam-se barcos, velas ao largo, e na praia vemos as luzes prateadas, os toldos listados, os chapéus de sol feitos moinhos de vento coloridos sobre pequenos risos longínquos.
Séneca poderia escrever-nos de uma qualquer praia mediterrânica, devastado pela sua derrota política ante a loucura de Nero, repetindo que devemos reclamar o direito de aproveitar o tempo; alertando-nos, uma última vez, contra o erro de imaginar que a morte está à nossa frente, quando grande parte dela já pertence ao passado. Talvez por isso o Verão nos pareça ao mesmo tempo o sonho de uma noite edílica e a invocação do tédio - a nossa assombração mais terrível. Seria agora o momento exacto para exaltar o tempo que nos foge e, por isso, incitar, didacticamente falando, à resolução de exercícios espirituais que nos permitissem resgatar, da imensa noite a que vamos escapando, os nossos preciosíssimos dias. Porém, meus caros colegas e alunos, como o velho professor desenhado por Graham Greene, e interpretado por Jeremy Irons, I’m history: por isso, «não há que fingir claridade, onde permanece a escuridão», li uma vez num velho filósofo, ocasionalmente, numa viagem de autocarro entre o Cacém e a Amadora. No entanto, deve reconhecer-se, convocando o auxílio do poeta mais desgraçado de Portugal, Ruy Belo – título disputadíssimo, mas roubado na reta da meta a Camões -, que chegarão para todos nós, e inevitavelmente, os primeiros frios de Outubro, pelo que, nessa altura, será tempo de interrogações: «os lilases crudelíssimos de junho/ inalteráveis como o céu das férias grandes/ talvez desdobradas sobre a adolescênciade/ que nos valerão perante a insinuante música do outono?». Reconheço que o tom talvez não seja o mais propício. É certo que nos espera o pó de caminhos cobertos de videiras, a ondulação tranquila das praias mais ao sul, a cal branca dos muros onde se recortam, na sombra, frondosas buganvílias, a sensação do sal cobrindo a nossa pele, o crepitar do fogo no halo nocturno dos choupais, passeios entre casarios labirínticos, figueiras dobradas sobre velhos muros, o cheiro frutado das roseiras descendo no granito das casas de montanha, tardes pesadas de um silêncio xistoso, a tonalidade infinita da terra plana diante dos olhos. Nalguma conversa, as ondas despenhando-se ao fundo, surgirá um apelo de verdade: lembramo-nos de Newton, desvalorizando as suas especulações sobre a gravidade, confessando não ser mais que um rapazinho, junto ao mar, recolhendo pedrinhas coloridas e brincando com as conchas. Eu sei, são palavras pouco oportunas, agora que as férias anunciam a alegria. Mas estava só, diante de um canavial que se agitava ao vento, enquanto me chegavam frases pouco articuladas, estevas que rompessem a aridez do chão, repetindo que «o Verão era afinal a única estação».

Porque rir é o melhor remédio

George Carlin morreu há pouco tempo e enquanto foi vivo fez rir muita gente. E fê-lo abordando temas sérios de forma nada trivial. Para mim, ainda que exponha de forma cómica certos assuntos fá-lo de uma maneira muita mais séria que muitos jornalistas. E mais não digo. Seja como for cá ficam alguns vídeos:

Política americana:


As pequenas coisas que nos tornam humanos:


The upper class keeps all of the money, pays none of the taxes. The middle class pays all of the taxes, does all of the work. The poor are there just to scare the shit out of the middle class! Keep 'em showing up at those JOBS!

Religião:


Religion has actually convinced people that there's an invisible man living in the sky who watches everything you do, every minute of every day. And the invisible man has a special list of ten things he does not want you to do. And if you do any of these ten things, he has a special place, full of fire and smoke and burning and torture and anguish, where he will send you to live and suffer and burn and choke and scream and cry forever and ever 'til the end of time!
But He loves you. He loves you, and He needs money! He always needs money! He's all-powerful, all-perfect, all-knowing, and all-wise, somehow just can't handle money! Religion takes in billions of dollars, they pay no taxes, and they always need a little more. Now, you talk about a good bullshit story. Holy Shit!
Política america novamente:


Nem sei o que dizer sobre este para além do facto que not in my backyard não é só uma mentalidade presente nos grande EUA.
E o comentário relativo ao golf leva a minha assinatura por baixo. Várias vezes!

Direitos e privilégios:


Yeah! I'll tell you about as much truth as the people wo wrote that fucking bible! How do you like that?

E um texto para a leitura.

Impressionante:


Impressionante mesmo! Claro que os donos de um país nunca são os eleitores. Nunca! Pelo menos nunca até agora.
Germany lost the second World War, but fascism won it.

Salvando o planeta:


Esta rotina está mesmo a pedir por discussão, mas ele levanta pontos muito pertinentes.

Sobre a morte:


He wants to help fuck 'em!, call his bluff! Call his bluff! "Don't hesitate to ask"The nerve of these pricks!
We use a lot of euphemisms when we talk about death you know?!


E para terminar:
"
And people say, Oh, your conspiracy thing. Listen, don't be making fun of the word "conspiracy". It has meaning. Powerful people have convergent interests. They don't always need a meeting to decide on something. They inhabit the same clubs. They sit on the same boards. They have all this common ownership and they are very few in number. They control everything, and they do whatever they want. [Their] two-party system keeps the people at bay. They give them microwaves, fanny packs, sneakers with lights in the heels, dustbusters, to keep them distracted, keep them just calm enough that they're not going to try something."

Grande texto do João Lopes

Façam o favor de ler: Os novos mártires da televisão

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Esta coisa da escrita barroca começa a incomodar-me

É que a minha professora de História dizia o mesmo: não tens uma linguagem da história. E não tinha. Tinha uma linguagem de um gajo que está completamente lixado com a merda de aulas a que assistia. Antes que tracem o meu perfil psicanalítico, devo confessar que estou em paz com o meu passado. Adoro professores. Até casei com uma. Quanto à água da cacheira, não tenho visto telenovelas brasileiras.

Ganharam, porque eu, meus caríssimos, não estou mesmo nada satisfeito comigo mesmo

Foi um quase entendimento. Só existe um lugar mais complexo de liderar do que o ministério da educação! Exactamente, é o balneário do Benfica.

Match point

Para encerrar esta desagradável questão da falta de humor dos professores, deixo aqui um mapa sobre a forma como respondem espectacularmente às questões colocadas, eles, os professores que estão habituados aos labirintos espinhosos da pedagogia. E com isto, fazendo uma vénia, deixo assuntos que, de facto, transcendem a minha curta capacidade de absorção.
Disse eu:
Um post, ilustre Guinote, nunca é ao lado quando o espera a correcção de quem já criticou erros da formação passada e presente e até tem ideias sobre o que se poderia fazer. Confesso que não fiz a referida pesquisa. Compreenda as minhas razões: estou normalmente imerso na escrita de posts ao lado, desfeito pelas bicadas dos galináceos que, de todo o lado, correm a disputar o milho do galinheiro. De qualquer modo, fica prometido que o vou fazer. Na verdade, parece-me que acusou um pouco o toque, ao jeito de quem tem coutada nestas matérias, uma vez que coloquei questões que julgava pertinentes, mesmo se no fim se considera a contra-tecnocracia como insultuosa. Porque não trocar a publicação de sínteses blogosféricas pela organização de equipas de trabalho que encontrem solução para as ignominiosas injúrias a que são sujeitos, qual mártir cristão nos pelourinho de Roma, os honrados professores. Neste sentido, seria bom ter-me poupado uns minutos e ter deixado aqui o link para as ditas reflexões. Pelo que a questão fica em stand by.
Disseram eles:

bulimunda Says: Junho 18, 2009 at 9:14 pm
Pois então vá adorar o seu grande líder coreano…costuma-se dizer que o carácter de uma pessoa se vê PELA FORMA DE ESCREVER E PELA FORMA DE COZINHAR…ou seja se nada tem a esconder a sua cozinha +é simples e nada sofisticada…se por outro lado é alguém com carácter dúbio , falso…enche os prato de reduções , molhos e afins…tenta encobrir o verdadeiro sabor da comida…na escrita é o mesmo…uma escrita escorreita e simples como o Torga o Ferreira de Castro ou até o Virgílio Ferreira são como à agua de um cachoeira….outros tentam elaborar escritas labirinticas kafkianas de tal forma herméticas que quase não percebem o que escreveram…apenas para armarem ao intelectual de café …
Paulo Guinote Says: Junho 18, 2009 at 9:03 pm #34,Escritura arrevesada para pouca uva.Parece-me gostar de se ler a si mesmo.Acontece a todos, até a mim de quando em vez.
coeh Says: Junho 18, 2009 at 9:31 pm
18#isto não é um espaço de discussão? É também um espaço de liberdade…Quem entra em casa alheia sujeita-se ao anfitrião e à sua disponibilidade? regra básica da boa educação…
Disse eu:
Aí, caro coeh, temos um ponto. Apenas confessei a minha surpresa, não cuspi no prato que me puseram diante. O anfitrião não está, é certo, temos que aguentar o silêncio da sua ausência, estalando na noite, quais foguetes de lágrimas que o próprio céu chorará. Desde já, peço perdão à Professora de Literatura. A prosa é má: é um facto. Nem todos podemos ser esclarecidos e eu, negro como um cão, diria que a minha «boca é bilingue» e que, normalmente, sou «um homem de palavras[s]» para citar, novamente, um colega do ensino nocturno, desaparecido há alguns anos, no tempo em que os professores escreviam com correcção.
Continua a faltar o tal link para as ideias sobre avaliação. Sobre escritura arrevesada confesso que não estou familiarizado com o conceito. Como é evidente, embora não esteja satisfeito comigo, gosto de me ler a mim mesmo: se isto acontece ao Paulo Guinote, mesmo que de quando em vez, é porque deve ser uma coisa positiva. Já reparou como estes comentários estão cheios de gente ressabiada? Compreendo que seja desagradável, de quando em vez chocar com a realidade, mesmo se os aplausos vêm de todo o lado. Na verdade, não pretendia ofender ninguém, não sei se repararam. Apenas continuo a supreender-me (já sabem, sou narcisista) no meio de várias perplexidades, tendo em conta a forma como os professores conduzem o problema da educação. Sugiro que me digam um ministro que tenha feito um bom trabalho nos últimos trinta anos? Aceito a lição que derem, neste como noutros assuntos. Os senhores é que são, afinal, os professores. E desde já regresso ao silêncio de onde talvez não deveria ter saído.

Acabaram de me mandar para a rua com falta de comportamento

Estava a fazer outra coisa na aula porque o tom monocórdico se tornou insuportável. Pelo que vos deixo, professores de todo o mundo, um belo poema para desintoxicação da quotidiana labuta. No fundo, no fundo, sois uns porreiros.
Os rouxinóis inexoráveis da primavera
trazidos até nós por certa curta carta
em que canto da noite cantarão agora
que já os frágeis frios vindimam?

E os lilases crudelíssimos de junho
inalteráveis como o céu das férias grandes
talvez desdobradas sobre a adolescênciade
que nos valerão perante a insinuante música do outono?
E a mãe que o filho suga a ruga
que mãos estenderá sobre estes rostos
onde poisaram patas implacáveis dias?

E quando o vento verga os choupos do princípio
e despe os ramos dos plátanos familiares
faltará muito que nos cubram provisioriamente
as folhas fatigadas das desoladas árvores?
Já sobe a nossos pés o cedro do silêncio
Promete-nos o sol que sobre os nosso rostos
hão-de na primavera ondular os trigos.
Ruy Belo

Aos que nos queiram apontar que os professores não devem ser gozados pelos alunos, poderíamos evocar o artigo 21º Constituição

«Aos que nos queiram apontar que não compete a cada cidadão definir a forma de cumprimento das leis que se lhe aplicam, poderíamos evocar o artigo 21º da Constituição da República Portuguesa, mas bastará sublinhar o que acima ficou explicitado sobre a forma como encaramos as consequências dos nossos actos. A todos os que considerarem que esta é uma radicalização excessiva do nosso conflito com o Ministério da Educação reafirmamos que o fazemos em consciência e coerência com os nossos princípios éticos, sem calculismos ou outros oportunismos de circunstância.»
Como o caro leitor poderá observar este é apenas um pequeno excerto da prosa de Paulo Guinote, no que respeita à luta sem quartel em que os professores, ao que parece, devem «saltar das trincheiras e avançar contra um inimigo velho, moribundo e há muito ferido de morte. Um inimigo que só precisa de um sopro para cair redondo.(...) Não tenham medo.Não se ponham com cautelas excessivas.Mudem o mundo! Levantem-se das trincheiras!» Se isto não fosse trágico poderíamos dizer que é ridículo. Devo lembrar que esse inimigo lhes deposita, respeitavelmente, todos os meses, uma certa quantia na conta bancária.
É comovente observar como os professores ainda não repararam que estão a cavar a sua própria sepultura. Aqui fica o 21º artigo da constituição para o próximo estudante que for obrigado a respeitar uma avaliação que considere injusta, ou uma ordem que o obrigue a permanecer numa sala contra sua vontade.
"Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública".

Com este calor está bom é pra ir ao pick-nick do Tony Carreira

Algés, 13 horas, esplanada de um café periférico, enquanto lá atrás se agitam ulmeiros de um verde garrafa que, intensificado pelo sol, se assemelha à penugem de uma árvore exótica, subitamente desembarcada no verão mediterrânico. Um senhora idosa atira:
- Gosto muito do Tony Carreira, ouço os discos, gosto muito das músicas mas não vou a lado nenhum com ele.

«Y así, del poco dormir y del mucho leer, se le seco el cerebro de manera que vino a perder el juicio»

Aguardamos a todo o momento a chegada furiosa de batalhões de professores a fim de apedrejar este indivíduo adúltero que se permite detestar José Sócrates e, simultaneamente, ter uma opinião complexa sobre a performance profissional da classe docente.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

À consideração do Irão, estado de direito democrático em construção, além do mais, nº 1 em bigodes por metro quadrado, bela tradição mediterrânica

Não quero escandalizar o caríssimo leitor, desenhando comparações que serão, concerteza, desproporcionadas, pelo menos tanto como as incursões de Di Maria pelo flanco esquerdo, isto tendo em conta a progressão estocástica que implicasse séries de arremetidas do Argentino, levando a bola no pé esquerdo, em articulação com o número de infrutíferos pontapés de canto, eventualmente resultantes de todos os centros remate que acabaram desviados, milagrosamente, pela testa de centrais adversários que já tivessem alinhado, pelo menos uma vez, pelo Desportivo da Baía. Contudo, não deve deixar de recordar-se um exemplo do belo estado de direito democrático que é Portugal - os lusíadas - território que é capaz de fazer brotar à luz do dia a prosa que se segue, a título de um concurso público empreendido pela Câmara Municipal de Oeiras, que é suposto ser compreendido pelos cidadãos, tendo em conta efeitos de igualdade, liberdade e, como não poderia deixar de ser, sã convivência fraternal.

9 — O recrutamento para constituição da relação jurídica de empregopúblico por tempo indeterminado inicia -se sempre entre trabalhadorescom relação jurídica de emprego público por tempo indeterminadopreviamente estabelecida. Em caso de impossibilidade de ocupaçãode todos ou alguns postos de trabalho por aplicação da norma atrásdescrita, proceder -se -á ao recrutamento de trabalhadores com relaçãojurídica de emprego público por tempo determinado ou determinávelou sem relação jurídica de emprego público previamente estabelecida,nos termos dos n.os 4 e 6, do artigo 6.º da Lei n.º 12 -A/2008, de 27 deFevereiro, conjugado com a alínea g) do n.º 3 do artigo 19.º da Portarian.º 83 -A/2009, de 22 de Janeiro."

«As sardinhas decapitadas no azeite»

Um pouco ocasionalmente encontro no meio do lixo blogosférico, para o qual contribuo religiosamente, cada dia, com a minha quota parte, um pequeno pedaço de treva com luz por dentro. Um texto assinado por Manuela de Freitas onde podemos observar, escondidos pela esquina da avenida, pedaços dos dias de Ruy Belo. Sabemos que o poeta ainda procurou colocar algum juízo no mundo, levando o menino Miguel Sousa Tavares, pela mão, a ver o sol, naqueles tardes paradas de solidão, no imenso estádio da luz, no tempo em que José Cutileiro escrevia artigos sobre os superportugueses do Sport Lisboa e Benfica . Talvez não seja indiferente saber agora, demasiado tarde, é certo, os serões, partilhados com os amigos, «nas noites desmedidas de novembro, das castanhas assadas compradas depois da tourada, onde íamos ver o João, irmão do Rui que era forcado». Manuela de Freitas conta apressadamente as suas impressões. «Um dia, reencontrámo-nos no meio da rua, falámos muito e à despedida perguntou-me “Eu vinha dali ou ia para ali?". Com efeito, caro leitor, quantos portugueses existem, existiram, ou existirão, que sejam capazes de colocar esta pergunta, ao atravessar a rua, desprevenidos, sob o olhar cruel de plátanos oscilando ao vento, perturbados pelo ulular da ambulância que desaparece, na forma de uma curva mais difícil, no final da avenida? Passou, depois, por alguns dos meus serões já diferentes onde, uma noite, leu sem parar a Margem da Alegria, que tinha acabado de escrever.» Na verdade, aproximava-se Agosto. É um mês terrível na cronologia nacional. Que sorte, Portugal, não teres ainda reparado como foi para ti terrível a chegada do Verão.