quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Senhoras e Senhores, convosco, o Pai Natal

Proclamação: «Mesmo os livros de Llansol, na sua atemporalidade, e ainda que remetam para a história humana, não deixam de tocar a história portuguesa.»

Comentário: Os livros da Maria Gabriela Lençol parecem saídos da imaginação torturada de uma adolescente problemática com dislexia (peço desculpa a toda a gente) sendo que, remetendo para a humanidade da história humana, e apesar de uma primeira abordagem da história dos pinguins, Maria Gabriela Lençol limitou-se a deixar paletes de folhas manuscritas lá no sótão da casa em Fontanelas, ou na Praia das Maçãs ou em Colares, agora não tenho presente, terão de consultar a obra crítica do Pai Natal.


Proclamação: «O mesmo aconteceu com a poesia em grupos como o do Cartucho (Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Helder Moura Pereira,António Franco Alexandre) que obrigaram a poesia a um regresso ao real. Mas um real que espelhava o novo Portugal, urbano, fortemente desencantado,profundamente melancólico, mesmo se irónico. É aqui que encontramos também poetas como Vasco Graça Moura, Fernando Pinto do Amaral, Luís Miguel Nava, Al Berto…»

Comentário: A poesia - contrariada - lá se dispôs a regressar ao real.


Proclamação: «A importância das escritoras para a renovação da literatura portuguesa é algo que já vem dos anos 60 mas que se vai solidificar nos anos 80e 90. Quer no romance, com Agustina, Lídia Jorge, Maria Velho da Costa,Teolinda Gersão, quer no conto com Maria Judite Carvalho, Teresa Veiga, Luísa Costa Gomes, quer em obra sem género definido como são os livros de Llansol ou Hélia Correia, foram as mulheres que mais arrojaram em termos temáticos, estilísticos. Elas introduzem uma desordem, com a polifonia, a meta-narrativa, a intertextualidade, uma nova ordem do simbólico que se manifesta na forma como usam os tempos, a auto referencialidade, a subjetividade. Nas escritoras a busca de uma voz é a busca de um sentido e, nesse caminho, elas fizeram uma rebeliãocontra o discurso masculino que dominava a ficção portuguesa.»

Comentário: Aprende, aprende humildemente, o velho é que a leva direita. Gostava entretanto - se me é permitido - de dizer (com todo o respeito) duas ou três palavras: Carlos de Oliveira. Tem pilinha, mas alegadamente, de um ponto de vista da «desordem, polifonia, meta-narrativa, intertextualidade, uma nova ordem do simbólico que se manifesta na forma como se usa o tempo, a autoreferencialidade e a subjetividade» parece-me indiscutivelmente que. Quanto ao referido grupo, tenho dificuldade em, digamos, expressar o meu sentido crítico por motivos, digamos, autoreferenciais, mas note-se: a Hélia Correia não gosta de sol e tem como principal atributo o coleccionismo de memorabilia em torno de uma ou duas notas de rodapé da história da literatura decadentista. Alegadamente, também leu os clássicos, mas lamentavelmente, nunca a vi no estádio da Luz, pelo que, não pode ser. A Teolinda Gersão também sabe alemão, de resto, é uma pessoa espetacular que tenho o prazer em desconhecer absolutamente. A Lídia Jorge diz que a literatura é o prolongamento da infância, uma coisa a todos os títulos de uma originalidade infinita. A Maria Judite de Carvalho não sei quem é. A Teresa Veiga confundo com uma pessoa que vive na Madeira, mas se calhar é a mesma. A Luísa Costa Gomes, calma camaradas. A Agustina é chato, é rural, é exótico, é psicótico, é Camilo com peso a mais.


Proclamação: «A literatura e a poesia são sobretudo um trabalho deestruturação de um olhar sobre o mundo e depois a colocação desse olhar sob aforma de linguagem. Uma linguagem que não se limite a contar factos (isso, láestá, é o que fazem os media) mas que dê a ver o invisível através do visível.»

Comentário: Ôéó-ó! Ôéó-ó, Ôéó-ó-ó-ó-ó, Ôéó-ó-ó-ó-ó!


Proclamação: «A imposição do romance quase como sinónimo de literatura apagando a poesia e o conto, o realismo de cariz conservador e banal, a pobreza da linguagem, são sintomas de um mundo sem memória, onde a cultura, a arte e aliteratura se regem por paradigmas economicistas. O único lugar onde ainda existem valores é na Bolsa. A vida das pessoas gira em torno do consumo e das vivências do corpo mas apenas na sua perspetiva hedonista. Logo, o simbólico, aletra, a palavra saem a perder. A tecnologia apaga a palavra. A literatura foi totalmente contaminada pela acumulação de a tualidade, de informação, abdicandodo espaço da História, da memória. Obriga-nos a um eterno presente onde imperam as imagens.»

Comentário: A confusão é de tal ordem que temos dificuldade em desatar este novelo de disparatada oração ao Santíssimo Sacramento da Literatura. Se o romance é uma forma comercial e metiaticamente apetecível (tal como o era o teatro grego na antiguidade ou o drama isabelino no final do século XVI ou o folhetim, depois romance em fascículos no século XIX) que tem isso a ver com a qualidade (risos) e a originalidade do conteúdo (olé) veiculados por essa forma? E se a mesma é apreciada por um público disposto a pagar a liberdade do artista, onde está a relação linear entre as preferências do público e a suposta falta de qualidade do produto consumido para fins de edificação mental? Paradigma economicista? Mas agora somos forçados ao paradigma economicista das Universidades centralizadamente financiadas com impostos onde todo o respeitável e reputado escritor deve inexoravelmente ir ajoelhar? O simbólico clube de Portugal está em crise? Mas não estão os estádios cheios? Mas estaremos aqui a ignorar a revitalização do salto-agulha? Professor, doutor, camarada, Barrento, o excelentíssimo professor possui apenas 76 anos, não os transforme, com todo o respeito, em 1776 anos.

Vejamos a seguinte ilustração simbólica do paradigma economicista-consumista numa dimensão, digamos, hedonista de satisfação do corpo enquanto vivência ou quisermos, enquanto delinquência moral, embora, como diria Anselmo Ralph, nem lhes tocamos, apesar de serem duas, a dançar ao som de um torturado e bem-aventurado mancebo, prestes a ser introduzido no maravilhoso mundo da tragédia masculina. Em que gaveta do seu esclerosado instrumentário de apreciação do mundo coloca o senhor professor doutor este conjunto poético-comercial de estímulos mentalmente simbólicos no que à produção da linguagem diz respeito?

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Proclamação: «Há agora também a moda da violência espetacular de um autor de quem já gostei mas que hoje não acho nada interessante que é o Paulo José Miranda. Na mesma linha li um livro do Valério Romão e achei que apesar de tudo ele tem mais recursos. De entre estes novos e mediáticos escritores o único cuja obra eu considero original é o Gonçalo M. Tavares. É um escritor douto,capaz de abarcar um largo espectro de temas, de formas de linguagem, é imensamente culto e consegue trazer essa cultura para dentro dos seus livros.»

Comentário: Calma, não se zanguem. Está tudo bem.


Proclamação: «Penso que, recentemente, há a redescoberta de uma certa fé na poesia aliada a um olhar crítico e irreverente que muito me agrada e que está a acontecer com os poetas muito novos, na casa dos 20/30 anos. Entre eles destaco dois grupos: os criaturistas, Diogo Vaz Pinto, David Teles Pereira e Golgona Anghel ligados à revista Criatura que depois se transformou na editoraLíngua Morta. E os Apócrifos, um conjunto de poetas muito jovens ligados àrevista Apócrifa, cuja primeira antologia vai sair em breve com prefácio meu.Também prefaciei, a pedido da editora [Maripoza Azul], o livro Groto Sato de Raquel Nobre Guerra. Era um bom livro. Infelizmente este novo dela, Senhor Roubado, já achei fraco. Mas o que importa é fazer.»

Comentário:
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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Neste sentido, não há nenhuma evidência no sentido de considerar que uma pessoa gostar de ver gajas na internet seja sinal de superficialidade



Antes pelo contrário, os instintos funcionam a níveis, para utilizar linguagem freudiana, bastante profundos, ainda que não tenhamos qualquer pejo em afirmar que os instintos, por si só, nada explicam, sendo necessário colocar no terreno, para estudo empírico-teórico, toda a parafernália de experiências linguístico-mentais, a que por vezes se dá o pomposo nome de literatura. A psicanálise bem tentou colocar ordem neste albergue espanhol, mas acabou a fazer programas de rádio com mulheres maduras, por sinal, de voz bastante atraente.

Consideramos que recorrer ao conceito de superficialidade para comentar as redes sociais é uma das coisas mais superficiais de todos os tempos

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Apesar de todos os acontecimentos histórico-histéricos, nós, os verdadeiramente derrotados, vamos continuar a manter níveis de calma em posições espectacularmente elevadas

Professor Lord's book, like the studies of Milman Parry, is quite natural and appropriate to our electric age, as The Gutenberg Galaxy may help to explain. We are today as far into the electric age as the Elizabethans had advanced into the typographical and mechanical age. And we are experiencing the same confusions and indecisions which they had felt when living simultaneously in two contrasted forms of society and experience. marshall mcluhan, gutenberg galaxy, 1962



the-complete-works-of-william-shakespeare-parody

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Agora que o alf voltou achei por bem pôr isto aqui


do não menos espectacular scorpion dagger

A Bíblia grega e a economia das mordidelas

Numa aliança cósmico-deprimente o universo em todos os sentidos e extensões conjugou-se numa semana fundamentalmente triste. Este autor foi obrigado a ter conhecimento de uma belíssima entrevista onde valter josé antónio hugo saraiva mãe se queixa do poeta Vasco Gato, pessoa sensível em todos os sentidos, caracterizada literária e academicamente por ser um jovem poeta e ser humano muito promissor, isto vai para mais de vinte anos. Não vou entrar em pormenores sobre o incidente, tendo em conta que nessa mesma entrevista (e aviso todas as adolescentes com ligações ao Opus Dei) o referido escritor das Caxinas (terra de Fábio Coentrão) aparece integralmente nu a passear a mangueira num corredor. Também não quero com isto ser acusado de homofobia, adoro homens - Grimaldo, Lindelof, Pizzi (este também já fotografado, embora acidentalmente, em nu integral), só para referir três exemplos morfológicos muito distintos - mas considero lateral à arte da literatura a exposição pública dos órgãos genitais, no fundo, sou um gajo que apenas gosta de livros.

Por outro lado, a entrevista, e sem ponta de reprocessamento, é uma entrevista interessante, quanto mais não seja por vermos um gajo que fala de coisas, e não se esconde apenas em tópicos de neuromarketing acerca do sofrimento humano. Deve ter sido a primeira vez que um autor falou do preço de um livro e se acertaram contas com quem de direito, sobretudo com gajos que fazem as vezes de sofredores e devem ser uns gajos sofredores com muita capacidade de comercializar o seu sofrimento, pelo que temos todos a agradecer ao valter josé antónio hugo saraiva mãe, o facto de ir a jogo com mexericos da sua própria lavra, metendo os colhões no lume, e não invocando qualquer auxílio do reino dos mortos. Os meus parabéns. Só falta começar a escrever bons livros.

Por outro lado, o cervejeiro amador, Afonso Cruz, foi agraciado com 15 000 euros, na sequência do prémio literário Fernando Coitado Namora, cuja verba foi arregimentada pelo Estoril Sol, yeah, e com um júri presidido pelo boneco embalsamado, Guilherme de Oliveira Martins, uma pessoa que deve a sua carreira a um remoto grau de parentesco com um amigo do cônsul de Portugal em Paris, José Maria o Espertalhaço Eça de Queirós, júri esse onde se conta ainda um membro da Associação Portuguesa de Críticos Literários (com francas relações de amizade com a Associação Portuguesa de Protecção da cabra do Gerês). O valor pecuniário em apreço, 15 000 euros, é bastante simpático, sobretudo por se ter anunciado que a cabeça de Salman Rushdie só vale cerca de 500  mil euros, segundo os ai-atolas do Irão, o que eu desconhecia em absoluto, caso contrário, talvez tivesse considerado uma outra saída profissional. Justa, portanto, esta menção ao autor de Flores, Afonso Cruz. A literatura, o turismo, a cerveja e todos os escritores de simpatia marxista a quem já só resta um nome, estão de parabéns.

A encerrar esta improvável sequência de acontecimentos bastante prováveis, José Tolentino Mendonça escreve sobre a tradução do livro mais estafado de todos os tempos, a Bíblia. Como é comum no nosso quintal, Frederico Lourenço meteu-se no quintal do vizinho e foi agraciado com o chamado cartão amarelo, pois segundo o vice-reitor da Universidade Católica, «é bom não morder a mão que nos dá o pão» isto pelo singelo facto de Frederico Lourenço, um católico convicto, se ter arriscado a dizer a impossível máquina de perversidades que se transcreve em seguida:


E remata Tolentino Mendonça, ponta de lança da interpretação organizada num colégio com voto de castidade, a Igreja: «Cada um tem direito à sua naiveté e às ilusões que quiser, mas entendamo-nos: não existe “a tradução” da Bíblia.» Com isto, crava uma rebrilhante e franjada bandarilha no cachaço taurino de Frederico Lourenço, ponta de lança da interpretação organizada num colégio sem voto de castidade, a Universidade.

Pois é caros leitores, saudemos a festa da vida e celebremos o facto de termos vivido o tempo suficiente para vermos um teólogo oficial da Igreja Católica, a invocar a pluralidade das interpretações, para se defender do contra-ataque universitário das Humanidades, desta feita, Humanidades decadentes e forçadas a disputar o parco alimento disponível no campo da auto-ajuda, pois que já só isso resta. Quando são muitos os cães a disputar um naco de pão, já muito velho e bolorento, é normal acabar tudo à dentada, pelo que apenas posso recomendar ao avisado leitor: cuidado com os dedos, quando for alimentar cães demasiado esfomeados.

Conheça algumas das principais doenças que afectam os cães

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Os livros

A Inês Fonseca Santos introduziu um novo problema na literatura, a saber, como é que um gajo se constitui cidadão de pleno direito no mundo das pessoas sensíveis: boa noite, bem-vindos aos livros, são 14 euros e 50 cêntimos: Pim. De igual modo, no fim da ceia tomou o cálice, e apresentou o livro de Valério Romão, com toda a certeza uma natureza (trau) sofredora com as suas experiências pessoais e públicas (Pim), pois só um gajo traduzido nas mais diversas línguas (incluindo a Suiça), pode aspirar a dizer alguma coisa sobre a natureza humanóide, embora a língua da Inês Fonseca Santos deva estar fora de um texto que se quer credível, responsável, profundo (trau) e mais que tudo, decente. Em defesa da literatura, dos livros, e do mundo em geral, só posso dizer-vos: TRAU.

Crianças, Hospitais e patologias, ora aí estão três tristes temas que fazem a eleição dos intelectuais de esquerda e das medicinas alternativas, mas longe de mim entrar numa polémica em torno do sofrimento de cada um (Milton Friedman já o disse, a cada um a sua filha da putice), mas como diria esse cabrão de Turim, Frederico o Grande filho da puta Niezzscchzhese (viva o acordo Ortográfico) os poetas - esses filhos da puta - são impúdicos para com as suas vivências, e se são impúdicos, ora bem (trau) terão de levar com a crítica crítica, pois Marx - cuja filha se matou de pobreza, miséria e desejo de ser grande - passou as passas do Algarve e Além Mar para conseguir elaborar uma teoria lógica e sistemática do capitalismo (incluindo os filhos da puta dos escritores) onde - hoje em dia - todos mijam sem qualquer noção do mijo. Não quero com isto dizer que os livros são um comércio como outro qualquer, pois é muito pior quando os livros, não sendo um comércio, acabam como substitutos da palavra divina, uma teologia da palavra voando sobre as águas sujas do estruturalismo, uma panaceia para as dores espirituais, um substituto da catequese, uma versão de auto-ajuda revista e alegadamente (pela Inês Fonseca Santos - a grande cavalona) melhorada, isto é, a cura dos paralíticos, a lição parabólica do rabi palestino - esse terrorista árabe educado no judaísmo chamado Jesus - quando colocando dois dedos no lodo, os esfregou nos olhos do cego: senhor, senhor, lembra-te de mim quando vieres como o teu reino (trau). Pois a literatura, não é mais que religião privatizada e vendida em fascículos.

A relação entre uma relação em ruínas e o incumprimento de um sonho - segundo Valério Romão (um homem traduzido na Suiça) ou ainda mais, segundo a princesa egípcia (desculpem) e torturadora do nosso sono, a Inês Fonseca Santos - são o grande tema deste excerto da cultura ocidental, o programa Os Livros, onde se fala de silêncio, incapacidade, medo, e incongruências das instituições - essas costas largas da civilização moderna (e que são sempre pau para toda a obra) - um programa apresentado pela incomensuravelmente sábia, porque talvez distante (Deus nos ajude), Inês Fonseca Santos, pois da instituição da literatura (essa antologia de santos laicos forjados pela nova religião, a sensibilidade, dada à estampa por esse grande maricas e abandonador de crianças, o Jean-filho-da-puta-Jacques-e-muito-meu-amado-Rousseau) ninguém trata das incongruências ou medos (trau) pois que é ganha pão de muito malandro. Pim. Pam, Pum.

Mas queria mesmo era falar dessa trilogia das paternidades falhadas, se paternidade falhada estiver relacionada com a doença - que espreita sempre ao virar da esquina - pois não estou a ver bem onde reside a diferença entre o livro Autismo e o Prometo Falhar do Pedro Chagas Freitas, a não ser no facto de não termos os nosso livros lidos pela boca ululante e pacificadora da bela e monstruosamente bela, Inês Fonseca Santos, a de olhos decapitadores da nossa tranquilidade. Pim. Dizia eu que, pois claro, se a doença e a eterna patologia da denúncia (os terapeutas são santos que nos falham) vão facturando o lucro das nossas fragilidades (sem ensinar nada ou arriscar nada), a paternidade falhada é uma coisa que nos não deve merecer muitas lágrimas, se tivermos coragem para nos foder todos uns aos outros (o que é o motor do progresso), sendo fiéis ao silêncio sobre a nossa privacidade e combatentes jihadistas desse acidente estatístico que é a doença - grande ganha pão da nossa contemporânea idade - à qual (doença) não desculparemos nada, pois que estamos apostados em contrariar a natureza do poder e o poder da natureza. No fundo - o leitor já adivinhou - este alf é um gajo com inveja do Romão (voilá) sendo muito justamente a inveja que move os portugueses e o mundo, e eu assim me confesso invejoso de não ser violentamente criticado (com chicote e napa) pela Inês Fonseca Santos, mesmo que economicamente isso não fosse grandemente favorável, embora, dito de outro modo, a vontade de poder passe pelo domínio do eterno feminino, razão pela qual existem hospitais, crianças e autismo: no fundo, quem nos fode são as mulheres: o senhor seja louvado, bem dito seja o senhor Deus.

Basta ouvir esse guerrilheiro mexicano, o Valério Romão, para não descortinar qualquer diferença com um mau episódio de uma novela da TVI - a não ser preferirmos gajas boas afogadas no drama a dramas sem gajas boas e relatados pela boca de um guerrilheiro mexicano. «Intensidade e profundidade» - diz a Medusa letal que leva no seu abençoado colo a cabeça apaixonada de Perseu, ou seja, a minha - repito, intensidade e profundidade (trau, trau, trau) que «Valério Romão explora a seu favor, isto é, a favor da história que cria, através de recursos como a linguagem que acelera e abranda ao ritmo das personagens e da estrutura narrativa que dispensa regras», isto diz a Inês Fonseca Santos (daqui em diante IFS, ou seja, Isto Foda-se Só-se-chorando, mas já assentámos que não, como diria o Vergílio Ferreira). Também nós dispensaríamos todas as regras num mundo onde a Inês Fonseca Santos nos pudesse conduzir por corredores de bibliotecas com livros e livros e livros, e onde o confessionalismo das personagens fosse apenas um pretexto para criticarmos cada centímetro do seu corpo mediático (salvo seja a vossa vontade, assim na terra como na biblioteca) corpo mediático explorado por uma política de educação pública paga pelo Orçamento devidamente vigiado pela Unidade Técnica de Apoio ao Orçamento, mas ainda assim, política largamente compensadora de todos os sacrifícios feitos pelo povo português desde a crise financeira de 2008; «O aviso está escrito, não dá para escapar. Até aos próximos livros». 

E a Inês Fonseca Santos (trau) devolve o livro às prateleiras, indiferente ao seu poder de acumulação da poupança, uma mulher criada nesse espaço perverso das ligações entre a cultura, a Escola de Frankfurt e a alocação de recursos públicos, e a gaja - do alto da sua autoridade literária - avisa cada um de nós (e cada um de vós, leitores deste blog) que no caso de um dia aspirarmos ao banquete dos eleitos, teremos de colocar o nosso chapéu de guerrilheiro mexicano, e invocar esse supremo calcanhar de Aquiles da nossa civilização - o sentimentalismo -, no fundo, somos todos habitantes da Casa dos Segredos a quem os pais - por benefício da economia de mercado - pagaram estudos superiores de letras, embora no nosso coração, sagrado, sejamos tão iguais como todos esses anónimos leitores de Pedro Chagas Freitas (embora  Teresa Guilherme no Domingo tenha empurrado as mamas - um pouco já decrépitas - contra um vestido de lantejoulas) o que em nada, por ser a TVI uma empresa de direito privado, deve perturbar os contribuintes (iguais em esperança e caridade) que pagam os Hospitais (essas instituições medonhas) onde não se tem em conta a economia específica do autor, para grande pena nossa, pois cada dia sofremos horrores por não poder fazer feliz e habitar (cada um dos centímetros de toda a falha) que porventura possa perturbar a Inês Fonseca Santos, et in saecula saeculorum, sabendo, todavia, como no fundo, gostaríamos era de estar no lugar mediático, topográfico e erótico do Valério Romão, autor muito justamente consagrado e constrangido, a quem, e desde já, desejamos - com toda a sinceridade - muitas e muitas felicidades.

A literatura como saída profissional.

Ora aí está uma coisa que pode sempre acontecer:

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Aproveitando a onda de emoções positivas que a Seleção nos proporcionou


deixo aqui o meu honesto e sentido desejo de que os editores e livreiros do país vencedor do Euro16 sejam enrabados por todos os jogadores, técnicos, massagistas e roupeiros das selecções perdedoras. Duas vezes.

Lojas online em que raros são os livros a custarem menos de 15€, sendo que alguns clássicos não se ficam por menos de 25€ ! Sites absurdos, pensados para analfabetos, com um catálogo éxiguo. E como se não bastasse, na confirmação do processo de compra sou brindado com um "ocorreu um erro, tente mais tarde". Tento mais tarde, o caralho ! (Éderzito, 12 de Julho de 2016)

Como é que é possível tamanha incompetência e azelhice no século XXI ?!


domingo, 27 de março de 2016

A f. fez barda da grossa, eis porquê

É importante perceber porque esta cagada é efectivamente uma cagada.

Porque todo o texto tem um sabor a reportagem antropológica sobre uma tribo perdida na Amazónia, feita enquanto a autora matava tempo até abrirem as lojas do Sablon e da Avenue Louise. É uma falta de respeito por quem lá vive.

Porque é uma caricatura de um bairro e como tal, apoia-se em esterótipos e preconceitos. É tão idiota caracterizar Molenbeek como um viveiro de terroristas, como é dizer que aquilo é tudo gente de bem. Para criticar certo tipo de esteótipos, a Fernanda Câncio limita-se a utilizar outra classe de estereótipos.

No 40 miutos que estive na Bourse, com um custo monetário de 2.30€ em estacionamento, fui entrevistado pela CNN para a América Latina, estiveram estes marmanjos a gritar e a fazer confusão, nas escadarias da Bourse discursava um senhor, presumo que, paquistanês, ao meu lado estava uma tuga a cortar na casaca de uma colega de trabalho e atrás estava um negro a beijar o BI belga enquanto uma criança loirinha desenhava a giz corações no alcatrão. Para além da minha presença na Bourse e os 2.30 € por 40 minutos de estacionamento, que mais poderemos dizer sobre estes 2400 segundos que não sejam absolutas banalidades sociológicas ? Não será antes preferível o reconhecimento da nossa ignorância, seguido por um esforço continuado em atenuar a dita ?

quarta-feira, 23 de março de 2016

Vénia profunda a Dostoievski, um dos poucos que sabe escrever sobre a locura

O mais difícil para mim, neste dia pós atentado, tem sido eu descobrir em mim uma sede de sangue, de vingança. Passo o tempo a discutir comigo próprio, porque não agarrar numa kalash e varrer Molenbeek a chumbo. Ou então, ir esta sexta-feira largar granadas numa das mesquitas de Bruxelas. Ou fazer uma visita aos familiares dos terroristas. Ou....

Eu sei que é errado. Eu sei que provavelmente seria até contraproducente. Eu sei que depois de derramado o sangue, não é possível voltar atrás. Mas não consigo calar esta sede de sangue.

Também sei que daqui a uns dias, volto à normalidade. Foi assim em Novembro, quando Bruxelas foi fechada durante um fim-de-semana fechada. Foi assim aquando os ataques de Paris. Mas até lá cohabita em mim um ser medonho.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Carta aberta à minha própria estupidez.

Aos desiludidos com o silêncio retroactivo sobre o assunto do momento, tenho respeitosamente a declarar a minha falta de jeito para as simplificações. A partir do momento em que começo a ser arrastado para a lama, fruto da estupidez sempre galopante em todas as matérias consideradas virais, reservo o direito de subir à minha torre de marfim, e apagar qualquer vestígio sobre tão deprimente figura e assunto. Fizeram de um parvo, publicamente agressivo contra pessoas e instituições, e atrevidamente ignorante, um mártir da liberdade de expressão. Com que então, um cronista de um dos jornais de maior tiragem, com acesso a televisões, financiado por uma das instituições culturais mais ricas do país, alçado a combatente pela liberdade, passou a ser apresentado como intelectual perseguido e silenciado? Ao que chegamos. Só nos últimos dois dias, já vi três novos textos do referido «silenciado» em três órgãos de comunicação social de grande tiragem (para não falar dos directores de jornais, televisões, revistas, políticos, jornalistas, almirantes, poetas, empresários, farmacêuticos, que logo correram a fazer soar as trombetas do alarme, em solidariedade com a vítima do povo em armas). Para isto, contribuiu uma incrível falta de inteligência, a começar por mim, mas sobretudo de todos os que. estupidamente, correram a insultar e a ameaçar a figura, da forma mais desajeitada e selvagem possível, incluindo na caixa de comentários deste blogue.

De um simplificador boçal e cheio de si mesmo, fizeram um herói da coragem literária e da biografia pessoal. Pois bem, não contribuirei mais para essa inacreditável perversão dos factos. Por estar nos antípodas do estilo e substância de um autor como Henrique Raposo, só posso vir a público reconhecer o meu erro. Quem sabe não terei ajudado, fruto da ironia mal compreendida, a incendiar algumas consciências. Quem sabe não terei contribuído para as tristes ameaças e insultos, e muito pior, para a construção do mártir. Só posso nesse caso fustigar a minha própria burrice e incapacidade.

A melhor forma de combater os estúpidos, é ignorar a estupidez, eis um princípio estrutural de uma boa vida, que teimo em não aprender. O controlo (e a proeminência) no espaço mediático pertence invariavelmente aos brutos, insensíveis e ignorantes. Os mais críticos de si mesmos, inteligentes, sensíveis e delicados com os outros e os seus problemas, afundam-se na incapacidade de resistir ao caos, à falta de sentido do mundo. Os mais cuidadosos e responsáveis acabam torturados pela sua consciência, perdidos e assustados no labirinto de consequências e desastres criados no seio da sua poderosa (desgovernada?) imaginação. Hesitam até à paralisia, diante da enorme variedade dos imprevistos humanos, receosos de terem prejudicado indevidamente alguém, triturados na máquina de esconder a injustiça a que chamamos realidade.

Talvez se possa chamar a isto cobardia. Ou cansaço de viver.

quarta-feira, 2 de março de 2016

A vida é curta mas não podemos recuar diante dos grandes dilemas da humanidade.

Na sequência da vaga de fundo irreprimível, vamos voltar a publicar a nossa entrevista fictícia (e satírica) e repito, entrevista fictícia, ou seja, inventada (ficou claro?) ao ilustre Henrique Raposo, mártir da liberdade de expressão.


Henrique Raposo, cronista do Expresso, licenciado em História, investigador em Ciência Política, homem desassombrado, considerado provocador, atacado pela esquerda, bastião da liberdade. Fomos entrevistá-lo a propósito do seu mais recente livro, Alentejo Prometido, no contexto desta recente polémica. A obra incendiou as redes sociais e alegadamente, um grupo de alentejanos já considerou a hipótese de invadir o local de apresentação do livro, apimentando o evento com uma carga de porrada bem distribuída, e fazendo jus à acusação de que o Alentejo é uma terra de violência, num estado de pré-guerra.

Henrique Raposo, obrigado por nos ter recebido aqui em sua casa. Antes de mais, sabendo da sua relação amor-ódio com o Alentejo, pergunto: como é viver em Lisboa?
Sabe, viver em Lisboa é excelente, as pessoas confiam imenso umas nas outras e as raparigas usam variadas vezes a palavra violação, sobretudo para descrever os preços das saladas vegetarianas.

Henrique, já que fala nisso, deixe-me ir direito ao assunto. Durante a sua polémica participação no programa Irritações da Sic Radical afirmou: «as alentejanas antigas não têm a palavra violação para descrever os abusos que sofriam. Ele chegou-se ao pé de mim e pronto».
Isso foi mal interpretado pelas redes sociais, aliás, as pessoas, burras e esquerdistas como são, neste país socialista, atrasado e cheio de alentejanos, tendem a interpretar mal as minhas lições de vida. Eu próprio, ao ser convidado para escrever este livro pela prestigiada Fundação Francisco Manuel dos Santos, fui alvo de uma experiência parecida. O gajo responsável por estes livritos (note-se, livritos vendidos praticamente ao preço do quilo da Amêijoa vietnamita, 3,15 euros, isto é quase dado) chegou-se ao pé de mim e pronto, convidou-me a escrever uma merda qualquer, desde que batesse nos comunistas. Como o Alentejo está cheio deles e a minha família é de lá, não precisava de perder tempo com esses vícios do socialismo como ler livros e exercer a crítica lógica.

Como definiria a experiência de escrever esta magnífica obra, Alentejo Prometido?
Vou dar um exemplo. Sabe, ainda em tenra idade, no monte da minha avó, um maltês pousou a pistola na mesa, e enquanto lhe eram servidos os ovos com linguiça, eu, uma criança já irrequieta, considerei aquilo uma infâmia e perguntei ao maltês se não tinha lido as obras completas de Toqueville. Ele encolheu os ombros. Irado perante o esquerdismo evidente do gatuno, quis saber se o mal-educado não tinha um Pingo Doce onde ir comprar os ovos e a linguiça.

Desculpe interromper, a esquerda é muitas vezes acusada de considerar o Pingo Doce uma instituição perversa, e considerando que o incentivo à criação intelectual deve ser controlado por instituições públicas, com critérios de selecção públicos, critérios esses passíveis de revisão por debate e mudança eleitoral.
Nem mais. Como vê, um absurdo, de outro modo, o público não teria sido brindado com a obra em apreço. Não é para me gabar, mas temos aqui um livro essencial como representação de segmentos da sociedade, descurados pela produção cultural, nomeadamente, os jumentos, mas adiante. O maltês ali estava, a mamar à conta da minha diligente e empreendedora família, quando podia perfeitamente ter adquirido os ovos e a linguiça num magnífico estabelecimento da excelente empresa Soares dos Santos. Mas não, bem pelo contrário, veio incomodar a minha família com uma pistola, dando uns tiros, e pousando a referida pistola em cima da mesa, num claro e inaceitável gesto de terrorismo regional.

Bem, é como diz, Henrique, e isso não o impediu de alcançar uma obra penetrante e arguta, sobre uma das regiões mais trágicas do país, o Alentejo.
Não, de todo, até porque ao escrever, não costumo utilizar o raciocínio lógico. Misturo umas memórias mais ou menos esfarrapadas de mau cinema americano, leio duas ou três páginas daquele velhinho meio holandês, e já um bocado tolinho, o José Rentes de Carvalho, passo a minha língua pela banda magnética do cartão multibanco, e sai-me naturalmente esta capacidade de provocar e combater os lugares comuns.

Fale-nos um pouco mais desta sua especialidade: a provocação. O Alentejo do turismo e do neo-realismo não é o verdadeiro Alentejo. Há toda uma verdade por revelar. No Programa da Sic Radical diz: «Os meus avós (avôs) não tinham carinho pelos filhos porque não tinham a palavra que afunilasse (e sublinho o afunilasse) o carinho, que é "criança"». Esta teoria de palavras capazes de afunilar conceitos, neste caso, o carinho, é algo que nestes últimos dias tem feito brado em algumas revistas de linguística, das mais prestigiadas universidades norte-americanas. Um estudioso chega a sugerir que a origem desta sua clarividente teoria, pode estar relacionada com o facto de os Alentejanos usarem muito o funil, quer para passar o azeite dos tonéis para os galheteiros, quer para passar o vinho dos garrafões para as garrafas.
Não me parece, nunca vi nenhum alentejano a utilizar o funil. A relação entre os conceitos e as palavras, no seio dos alentejanos, é uma relação feita através da faca e da pistola, razão pela qual existe tão pouca gente no Alentejo. E se pensar nisso, verá que é natural, as pessoas têm medo e vão viver para locais onde a confiança é predominante, como Rio de Mouro ou Almada, locais onde, em vez dos Malteses, os antepassados são decoradores de interiores vegetarianos e adeptos de budismo.

Algumas pessoas, tomadas pela inveja, avançam uma outra hipótese para a sua teoria do funil e da criança: a de os seus avós poderem eventualmente ter conhecimento da palavra criança, mas não se sentirem convidados a usá-la, diante de uma figura com a sua maturidade, mesmo quando tinha 6 ou 7 anos, e já lutava pela liberdade das galinhas poderem estabelecer o seu próprio sistema de saúde. Concorda?
Não concordo e vou explicar porquê. Essas pessoas devem ser todas alentejanas. O alentejano é por natureza uma pessoa desconfiada. Pense no cão, por exemplo, o rafeiro alentejano, ninguém fala nisso, mas é uma vergonha. Se chegar a uma aldeia ou vila alentejana, verá um grupo de cães a caminhar na diagonal, de um lado para o outro, em busca de um bocado de osso ou de uma cadelita onde sossegar os instintos, sem que as cadelitas conheçam qualquer latido para designar violação. São animais egoístas os cães alentejanos. Mas se chegar a Arouca ou a Vila Nova de Gaia ou a Santa Comba Dão, verá os cães reunidos em assembleia, desde rafeiros até galgos, a tocarem violino em orquestras de câmara ou reunidos em Parlamento, de onde se conclui que as escolas do norte do país, por estarem menos dependentes do socialismo do Ministério da Educação, e por serem fruto da liberdade cívica e do fervor das comunidades religiosas, até entre os cães conseguem estabelecer laços de confiança e criatividade.

Segundo afirma, os laços de comunidade são fortes no Norte e fraquíssimos no Sul.
Rigorosamente. No sul, como disse, predominaram sempre os malteses, uma espécie de cowboys, bandidos e revolucionários. Uma espécie de cruzamento entre Che Guevara, John Wayne, um cesto de coentros e umas calças de ganga. Os malteses ameaçavam incendiar as colheitas dos proprietários e com este repugnante ataque à propriedade privada, semeavam a violência, e por isso, a desconfiança. Como toda a gente sabe, os malteses são os antepassados da Mariana Mortágua. Só lhe falta ladrar.

Mas no norte, não existirá registo ou vestígio de violência similar?
Nem pense, de todo. Conheço bem o norte, tenho um primo maluco que fez a tropa em Chaves.

Mas em que dados históricos ou sociológicos se baseia?
Ora, não me diga que também é socialista. Baseio-me na minha rica e paranóica experiência em casa dos meus familiares em Santiago do Cacém. Mas deixo aqui mais uma prova irrefutável: já viu a quantidade de malucos no Alentejo? A opção de semear sobreiros ou oliveiras, espaçados entre si, decorre de uma intenção perversa. É para melhor se poderem enforcar em solidão, e com absoluta desconfiança entre si. No norte, por exemplo, predomina o pinhal e nalguns casos, o castanheiro, ou o carvalho. Em todo o caso, tudo árvores altas, precisamente devido ao facto de as pessoas não gostarem de se suicidar. No caso de se verem forçados a fazê-lo, as árvores estão todas juntinhas, o que reforça os laços de confiança.

Mas diga-nos Henrique Raposo: o suicídio é ou não um fenómeno natural no Alentejo?
É curiosa essa pergunta. Repare: ninguém contesta moralmente um terramoto ou o nevoeiro.

Depende, no estádio da Choupana, na Madeira, contesta-se o nevoeiro.
Está bem, nesse caso, sim, mas em geral, as coisas chatas acontecem e pronto. O alentejano vê o suicídio como um fenómeno natural. Olha, matou-se. O que é uma vergonha, as pessoas julgarem que podem agarrar numa corda, enrolar um ramo de figueira, fazerem um nó, e enforcarem-se, num mundo onde existem tantas maravilhas, como eu próprio, ou os livros do Pingo Doce. No outro dia, pretendia ir a um café, numa aldeia da zona, algures no Alentejo, e a senhora, olha para  mim, com um ar de alentejana e diz: está a ver aquele ajuntamento ali. Ele matou-se. E disse isto como quem diz: eu sou do Porto ou do Benfica, ou mesmo, ofereceram-lhe um livro do Henrique Raposo. Já viu bem? Isto não é admissível.

Há muitas pessoas que o consideram apenas um parvo, a quem foi dado um incrível protagonismo, ou por razões comerciais, uma vez que a raridade da sua estupidez atrai imenso público, ou simplesmente por similar estupidez de quem o convidou a escrever, incentivando a sua falta de noção perante o disparate, dando livre circulação à sua despreocupada ignorância e olímpica burrice. O que diria a estas pessoas?

Sinceramente, diria que não passam de uma cambada de socialistas e inimigos da liberdade de expressão, adeptos dos lugares comuns e dessas banalidades, nomeadamente, a crítica esclarecida, a especialização, o trabalho e conhecimento da literatura específica dos assuntos em apreço. Se dermos demasiada importância a essas pessoas, corremos o risco de acabar encurralados numa sociedade totalitária, controlada por alentejanos, sem venda retalho e sem lucros, nem Fundações, sem incentivos privados à criatividade dos verdadeiros intelectuais, num país tão necessitado dos meus conhecimentos.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O que raio se passa com a academia portuguesa ?

1. O Mário Centeno foi apresentado ao público, e pelo Público, como sendo o campeão intelectual da esquerda. A pessoa que suportava intelectualmente o exercício da "Agenda para a Década".  Afinal o homem é doutorado em Harvard.

Não faço puto ideia o que é que se ensina em Harvard, que eu só andei por chafaricas nacionais.  Mas estou curioso em saber se em Harvard é normal argumentar que não se devem “transpor conclusões de artigos científicos para a legislação nacional, porque se tentar fazer isso é um passo para o desastre”.

Primeiro porque é falso. Prova, bastaria um exemplo, mas eu sou um tipo generoso: o plano nacional de vacinação, a saudosa RITA dos anos 90, as siglas NP e CE. A não ser que sejam catástofres nacionais o aumento da qualidade de vida da população, a existência corriqueira de um telefone fixo cá em casa ou o meu micro-ondas não ter rebentado quando aqueci a sopa da garota.

É perfeitamente normal que as conclusões de um doutorado, por exemplo em Harvard, não sejam aplicáveis ao Portugal de 2016. Porque os pressupostos que sustentam o estudo não são válidos, porque o estudo afinal tem erros, porque um paper não se resume ao abstract e às conclusões, etc....

Que o Mário Centeno, em vez de falar claro e sem preconceitos, se tenha refugiado numa desculpa esfarrapada é triste. 

2.O Paulo Pereira Trigo por seu lado é doutorado em Leicester. E consegue nos dois artigos que publicou no Observador, (no primeiro) confundir a média com a mediana e (no segundo) demonstrar uma perfeita ignorância do mundo fora da academia. O primeiro erro é lamentável vindo de quem vem, o segundo é patético. E como não é um doutorado em Harvard, termina por aqui a crítica.

3. O Porfírio Silva tem um doutoramento em filosofia, ignoro a alma mater. E lançou hoje a hipótese de que "é bem possível que a Comissão Europeia esteja a tentar tramar o governo português".

Sim é bem possível. Como também é bem possível que a Comissão Europeia se esteja nas tintas para o Costa. Outra possibilidade é a de que o mundo seja um disco, suportado por quatro tartarugas que por sua vez estão suportadas cada uma por uma baleia com um foguete a cagar lume do cú. Possibilidades, tal como os chapéus, há muitas. A estupidez essa, é infinita.