quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O elogio do Ronaldo. Directo ao canto

Um disparate nunca vem só

Hoje na imprensa um tema recorrente:

Fado

Futebol

Fátima

Durão Barroso Nobel da Paz? Ronaldo é a melhor imagem de Portugal? Bispos do país ao lado que "sugerem" o melhor caminho politico a tomar?

Às vezes acho que o caminho é mesmo estar na bancada. Sentado e de barrete até a testa. Como na liga dos últimos. Resignados. E aparentemente soluções mesmo, só as do Correia de Campos. Rumo à saída sem fim.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Regresso aos clássicos

Descobrir este homem aos 28 anos:


Onde andavas tu, quando eu andava na faculdade de volta disto:

ou agora disto:

Segmentation fault (core dumped)

Fico-me com esta:

History is not like some individual person, which uses men to achieve its ends. History is nothing but the actions of men in pursuit of their ends.

E vou dormir porque estou cansado.

Tell me a story IX

Era uma vez um senhor ministro. Fez o negócio da altura. Prometeu as pontes aos homens do capital. Eles agradeceram. Depois eclipsou-se. Teve um rasgar minimo, quando quis ser presidente de todos. Não precisou disso. Anos mais tarde, foi parar aos homens da ponte. Tornou-se um deles. Uniu margens de lucro, que crescem para a foz do bolso. Tudo isto se fez. Hoje diz estar confortável com tudo o que se passou. Porque não há coincidências. Apenas derrotas. Impossíveis.

Uma vez que já tudo se perdeu

Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de troçar de nós a tua loucura? A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda nocturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, quem convocaste, que deliberações foram as tuas? Oh tempos, oh costumes! O Senado tem conhecimento destes factos, o cônsul tem-nos diante dos olhos; todavia, este homem continua vivo! Vivo?! Mais ainda, até no Senado ele aparece, toma parte no conselho de Estado, aponta-nos e marca-nos, com o olhar, um a um, para a chacina. E nós, homens valorosos, cuidamos cumprir o nosso dever para com o Estado, se evitamos os dardos da sua loucura. À morte, Catilina, é que tu deverias, há muito, ter sido arrastado por ordem do cônsul; contra ti é que se deveria lançar a ruína que tu, desde há muito tempo, tramas contra todos nós.
Primeiro discurso de Cícero contra Catilina.
O discurso foi proferido em 8 de Novembro de 63 a.C.
Todos os dias são dias a perder. Este elogio da derrota talvez siga inspirado pela derrota que todos sabemos anunciada. Derrota de quem? Será o Estado de direito democrático o grande perdedor? Serei eu? Serás tu, caro leitor?

“Gente que acerta, gente que erra”, na expressão do poeta de Queluz. Com efeito, existe uma derrota inevitável. A de todos os que teimam em procurar razões onde apenas forças, movimentos, inércias e vontades, repousos. O homem no lagar do mundo. O homem…

De modo que o estado de direito democrático são os soluços do peixe miúdo. Ou a forma liceal com que o Professor Aníbal lê os discursos. A forma caduca com que anuncia o que não faz. O que não fez. Ele já venceu. Nós, caro leitor, quem sabe num futuro próximo.

Quem sabe a paciência acabe. Quem sabe o bastonário acabe demitido, saindo por baixo, sem voz e com umas palmadinhas nas costas. Ou processado. Quem sabe sejam as palavras do poeta de Queluz a triunfar um dia. Ele que escreveu no Outono, esse inspirado livro denominado Homem de Palavras.

Talvez o bastonário seja um homem de palavras. Um homem inspirado. Talvez seja apenas o “estilo agressivo”. Ele que arrasta pela lama, com as luvas da “irresponsabilidade cívica”, a frágil honra da dignidade política – essa varonia da pátria ilustre. Parece que os advogados servem apenas para defender (com moderação e cálculo responsável) os interesses dos accionistas bancários. Ou fazer estudos sobre a aplicação jurídica do cágado francês. Não para proteger a República. Aliás, a República resume-se hoje às “boas práticas”. Quais práticas? Ah, já sei, as práticas do banquete oitocentista. Senhor Comendador faça o favor. Concerteza senhor Secretário de Estado. É para já Senhor Presidente da Tribunal Constitucional. Ohh, caríssimo Procurador. Como está ilustríssimo Senhor Ministro.

“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, perguntou um dia Cícero no meio da revolta, dos punhais do turbilhão em sangue.

O estado de direito democrático, a respeitabilidade, o bom nome, as boas práticas, a credibilidade do sistema. Quando vier o sangue e a fúria (como sempre vem) eu já aqui não estarei. Talvez esteja na bancada a torcer por um de vós. Um dos que no calor do jogo ainda acredita no lance.

Ou como diria o poeta de Queluz à boca da noite:
“Nada se perde por mais que aconteça, uma vez que já tudo se perdeu”.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Aqui vai um poemazito

Desculpem as rimas no infinitivo :D

Tu...Ser imperfeitamente perfeito
Retrato de um rosto metafisico, transcendente
Onde nem o mais profundo pensamento filosofico penetra
Um delinear de tracos, uma suave pele
Um amor por ti diletante

Amar?
Palavra que o passado faz relembrar
Uma quimera e uma utopia no presente
Uma realidade esperada amanha

Amar depois de Amar
Uma impossibilidade possivel
Um sentimento por ti platonico
Tornado real

Tu... Mostras-me o amar
A angustia, a inseguranca, o medo
que me apertava o coracao quando
Por entre os vidros do meu insconsciente
nao te via a meu lado

Porque tu...
tu es a minha fonte hedonista
um prazer intenso, mas suave
Um girar num turbilhao de sentimentos
Em que todos os instantes
que são gastos longe de ti
sao desperdicados

"Amo-te"
Talvez a expressao mais dificil de dizer
Mas que contigo tudo e facil

Mas tu...tu percebes?
Tu nao es apenas o meu consolo
Tu es o complexo labirinto
Onde a cada canto aprendo-te

Tu..Sera que percebes?
A ferida que nao sara
por nao deixar de pensar em ti

Nesta nausea em que apodreco
Ou melhor apodrecemos
Ficam estas as palavras
Que ditam as nossas regras:
AMO-TE

"Falar Claro"

Ouvi as declarações da ex-ministra Manuela Ferreira Leite no programa "Falar Claro" da Rádio Renascença. Já tinha ouvido, de outra fonte do PSD e a respeito do mesmo caso (Lusoponte), a mesma justificação.
Não me parece que esta "suspeição" sobre a classe política - que não é, certamente, a questão essencial - ponha em causa um Estado de Direito Democrático.
Também não entendo o alarido, tendo em conta que estas declarações do Bastonário da Ordem dos Advogados não passam de um "lembrete" - afinal, os casos e os protagonistas a que se refere já foram aflorados na nossa imprensa, sem que alguém se lembrasse de daí retirar consequências, ou agir consentâneamente...
E quanto ao incentivo claro ao desrespeito de uma decisão de um Tribunal, como no caso Esmeralda, por mais injusta que nos pareça ou nos seja apresentada pela imprensa, que hoje em dia vai dar ao mesmo, ou o apelo ao boicote à aplicação de uma lei, como a recente lei do tabaco, por mais "imperfeita"(?) que seja... Como fica o Estado de Direito Democrático?

Time to say goodbye

Foi com esta breve nota, que se anunciou a saída do ministro da saúde mais polémico e comentado dos últimos governos.

Sai um que não queria ver e entra uma que canta pelo mesmo tom, admitindo que acredita nas reformas efectuadas. Além disso já conhece o sistema (foi presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, quando a socialista Maria de Belém Roseira era ministra da Saúde, no governo de António Guterres). Aguardemos pelos próximos dias para ver se há diferenças.

Enquanto isso é chegada a hora de dizer adeus. Obrigado Sr. Ministro. Alijó e arredores estão contigo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Serviço público

Depois da situação do INEM era previsível que isto acontecesse:



Não tem o fulgor de outros sketches feitos por ele, mas acredito que seja difícil ultrapassar a realidade triste deste episódio. Retrato de um interior a falecer aos poucos por falta de tudo. E em que os cemitérios teimam em ganhar.

Comunicado à navegação

Os nossos leitores assíduos (num total de 2, talvez mais, 3 vá) devem ter reparado que alterámos o título do espaço. Usando linguagem de futebol, optámos por mudar a táctica, e garantir que os textos que aqui são escritos são opiniões independentes e que não se vinculam com a Ermida - Associação Cultural.
Pretende-se com o blog lançar um espaço de discussão livre e aberto, onde os temas da actualidade são abordados em opiniões fundamentadas (umas mais que outras).
Vamos assim começar com o elogio da derrota, que é como quem diz o FC Porto ontem perdeu e o Sporting ganhou.

sábado, 26 de janeiro de 2008

O elogio da derrota

Não há nenhum pensamento importante que a ignorância não saiba usar, ela move-se em todas as direcções e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem
Robert Musil, O Homem sem Qualidades



Rodney Stark, o autor citado pelo Magister, é o novo profeta de Deus. Afinal a questão é simples. O cristianismo (designação muito utilizada por tutti quanti mas que eu não sei o que seja) gerou o sucesso do Ocidente. Parabéns, caro leitor. Somos todos homens e mulheres de sucesso. Nas palavras de Stark, que o Magister aprova, este" sucesso do Ocidente deve-se a quatro grandes vitórias da razão. A primeira foi o desenvolvimento, dentro da teologia cristã, da fé no progresso. A segunda foi a forma como a fé no progresso incentivou inovações tecnológicas e de organização, muitas vezes apoiadas por centros monásticos. A terceira vitória foi que, graças à teologia cristã, a razão influenciou a filosofia e a prática política de tal maneira que surgiram na Europa medieval estados responsáveis com um elevado grau de liberdade pessoal. A vitória final foi a aplicação da razão ao comércio, que resultou no surgimento do capitalismo dentro dos ambientes seguros proporcionados por esses estados. Foram estas as vitórias que levaram o Ocidente a vencer. "

Não contesto. O ocidente venceu, o progresso venceu, a razão venceu, a tecnologia venceu, o capitalismo venceu. Tudo graças ao cristianismo e à crença num Deus racional (outra criatura que eu não sei o que seja).

Uma pesquisa no Google logo colocar diante do olhar estupefacto a multiplicação de textos, comentários, críticas positivas perante os livros e artigos de Stark. Entre os seus críticos contam-se uma minoria.

Descobrimos, entre outras coisas, um texto de Rodney Stark, "Fact, Fable, and Darwin" (2004) onde vemos desfilar toda a imponência criacionista de argumentos estilo…“ Nós somos muito humildes e não se pode saber nada sobre a origem do homem, logo Darwin e seus sequazes impuseram a teoria aos fracos e oprimidos do conhecimento”. Claro que, quanto às tolices históricas em torno da influência positiva de uma amálgama pastosa composta por cristianismo, Igreja, teologia cristã, comunidades cristâs primitivas, catolicismo, já podemos saber tudo e mais um saco de batatas. Et voilá, o “grande sociólogo das religiões" defende a abolição da teoria da evolução e o envio de Darwin para a gaveta. Porque será que isto não me espanta.

Sabe, caro leitor, às vezes acredito no conhecimento, na Universidade, na leitura, na capacidade de o homem discernir, pensar, avaliar, olhar para o passado, discutir sobre os factos, estabelecer o que são territórios conquistados e o que são mundos por descobrir. Mas depois assalta-me o fantasma de Darwin Nietzsche e Foucault. Então penso: não há outra coisa se não luta, “todo o ser vivo quer expandir a sua força, a própria vida é vontade de poder”.
Talvez fosse interessante este "duo dinãmico", Magister e Stark, Batman and Robin, dedicarem-se a um projecto de investigação:
a) Onde terá nascido esta canção do mercado e do sucesso que, agora pela mão de Deus e de Jesus, o Cristo, tudo engole?
b) Porque será que os discursos de poder têm esta capacidade de secar toda a possibilidade de crítica? (Os textos de Stark já devem ter tido mais leitores que 150 anos de Origem das Espécies). Já sei, é a força da razão e do Deus racional que escreve direito por linhas tortas, enterrando tudo o que cheira ao mínimo trabalho de interrogação e multiplicando edições da Bíblia e onde o racionalismo germina como lagartas em galinha podre, explondido em ciência e tolerância. Platão, Aristóteles, Sócrates, Heraclito, Tácito, Eurípedes, Plínio, Cicero, Arquimedes, Pitágoras, Sófocles, Lucrécio, Séneca, Ovídio, Epitecto, Empédocles, Anaximandro, Demócrito, Anaxágoras, Epicuro, Marco Aurélio, Tales, Plotino, Hiérocles, Antístones, Zenão, Plutarco, Heródoto, Tucídides não passam de um bando de intelecutais de gabinete às voltas com a derrota, coisas sem aplicação no mercado. Esta gente devia toda ser banida do nosso ensino escolar. Entretanto, surge à direita o meu gato:
Alf, mas essa gente há três séculos que não faz parte do ensino.
E muito bem, respondo eu.
Torna o meu gato: Mas olha que sem a filosofia grega e as instituições romanas não há teologia cristã. Por isso é que os filósofos das luzes, grande parte deles cristãos com uma cultura clássica consistente, voltaram às fontes para perceber o que se tinha perdido. O resto são as lutas marcadas pelo binómio saber-poder. Em todos os tempos o saber serve o poder e o poder serve o saber. Por isso esta desorientação com a verdade. O único saber que não se deixa domar pelo poder é o silêncio. Por isso nem Sócrates, nem Cristo, talvez os dois maiores professores, escreveram o que quer que seja.

Nisto, recordo que, como escreveu um dia Yourcenar, também eu sou daqueles que reconheceram demasiado cedo a derrota, logo na juventude. Baixei os braços e a cabeça. Na bela citação da Íliada, que Yorcenar tanto amava na limpidez do mundo grego, lembrou a pergunta inicial, aquele gosto luminoso que teima em não vencer, ao contrário do cristianismo e do Ocidente; o gosto de perguntar mais do que responder: “Filho do magnânimo Tydeo, porque te informas sobre a minha linhagem? As raças dos homens são como as das folhas”. Talvez se reconheça aqui a pergunta, indiferente e desmotivada de Pilatos, a pergunta sem resposta, permanecendo sem resposta, ensombrando o sucesso do cristianismo e do Ocidente: “O que é a verdade?”



Do baú das memórias

O Joselito quando era novo:



Depois disto andou nas drogas duras, foi mercenário e a vida azedou.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

César das Neves: o mestre que nos guia

O caro leitor irá desculpar a repetição. Parafraseando Ruy belo, por sua vez parafraseando o Livro dos Provérbios, “não convém que o cão volte ao seu próprio vómito”. Acontece que eu, autor destas linhas, cão negro, além de piolhento e deprimido, tenho por costume voltar ao próprio vómito, a fim de não esquecer a que sabem as entranhas da terra. Os cães costumam ser amigos do homem pelo que, além do vómito, não posso deixar de ladrar ao cowboy desta caravana sinistra e pejada de larápios, a quem, a caminho da Jerusalém celeste, não terá lembrado o facto de, por vezes, no meio do deserto que é Portugal, algum cão da periferia ter ultrapassado o 12º ano e lido pelo menos dois livros e meio de história. O caro leitor desculpará pela extensão do texto mas esta é uma longa viagem que merece a imensidão do espaço e a respiração dos astros. Tem o cheiro da expedição ao abismo e o ruído das perigosas feras na escuridão da noite. Nem o leitor encontraria animais tão raros em plena savana africana.


Recentemente surgiu no Diário de Notícias o texto “COMO A IGREJA CRIOU A EUROPA” da autoria do Magister César das Neves. Aviso desde já os mais sensíveis que, mais uma vez, a estrondosa argumentação, ao desmontar mitos de séculos, pode provocar uma visão do eterno, nalguns casos poderemos mesmo contemplar a face de Deus. Deste modo recomenda-se a leitura moderada de forma a evitar a perda de consciência.

O texto abre com as trombetas de uma novidade espantosa:

«’Como os debates da Constituição Europeia e Tratado de Lisboa mostram, a Europa vive uma grave crise de identidade. A origem profunda está num antigo mito que o volume A Vitória da Razão (Random House, 2006; Tribuna da História, 2007) do grande sociológico da religião Rodney Stark se esforça por destroçar. O subtítulo indica-o claramente: "Como o Cristianismo gerou a liberdade, os direitos do homem, o capitalismo e o milagre económico no Ocidente."»

Na verdade, não só gerou a liberdade, os direitos do homem, o capitalismo e o milagre económico, como a varinha mágica, a barbie, o martelo pneumático, a bíblia ilustrada e os pensamentos da irmã Lúcia que não devem ser descurados na emergência deste milagre cultural que é a Universidade Católica. Seguro desta verdade, única e inabalável, este catedrático avança por um poderoso encadeamento de factos indesmentíveis:

“Esta ideia não surpreende. Dado que a Europa criou os valores da sociedade moderna e é uma zona cristã, seria muito estranho não existir uma relação estreita entre esta origem e aqueles efeitos. Apesar disso é preciso afirmá-lo, porque segundo a tese comum, a Igreja manteve o continente na obscuridade e miséria durante séculos até que a emancipação, com o Humanismo e Iluminismo, permitiu a ciência, liberdade e prosperidade actuais. Esta visão, divulgada por discursos, livros de escola e tratados de História, é simplesmente falsa”

Em seguida conclui:

“Pelo contrário, a Igreja Católica, vencendo o paganismo obscurantista e civilizando os bárbaros, foi uma poderosa força dinâmica, estabelecendo os valores de tolerância, caridade e progresso que criaram a sociedade contemporânea. A Idade Média, conhecida como "Idade das Trevas", foi uma das épocas de maior de-senvolvimento e criatividade técnica, artística e institucional da História”

Não sei se o caro leitor reparou no salto "zona cristã para Igreja Católica". Eu, pelo menos, gostei muito. Apesar da leve indisposição, devo dizer que engoli com satisfação as galáxias de distância entre o percurso católico e os diferentes movimentos e credos iniciados com Lutero. O Magister Neves vai então expôr de forma pujante uma história que, pela sua eloquência, consistência, robustez e beleza, não tenho coragem de interromper. Até já, caro leitor. Vemo-nos daqui a uns séculos…

“As razões desse engano são muito curiosas. Como explica Stark, todas as ditaduras exploram o povo para criar obras grandiosas à magnificência dos tiranos. Foi assim Roma e os reinos orientais. Destroçado o despotismo com a queda do império, a Cristandade gerou um surto de criatividade prática, pois as populações não temiam a pilhagem dos ditadores. Assim as realizações da Idade Média resultaram em melhorias da vida das aldeias, não em monumentos que os renascentistas poderiam admirar. Por isso esses intelectuais posteriores, nos seus gabinetes, desprezaram uma época sem mausoléus, enquanto louvavam as tiranias de que só conheciam a arquitectura e a erudição. Os avanços conseguidos na chamada Idade das Trevas são impressionantes, todos dirigidos a melhorar a vida concreta (op. cit. c. II): ferraduras, arado, óculos, aquacultura, afolhamento trienal, chaminé, relógio, carrinho de mão, etc. A notação musical, arquitectura gótica, tintas a óleo, soneto, universidade, além das bases da ciência, a separação Igreja-Estado e a liberdade dos escravos (c. III) são também criações medievais. Em todos estes avanços, e muitos outros, têm papel decisivo mosteiros, conventos e escolas da catedral, bem como a confiança da teologia cristã no progresso, contrária à de outras culturas. Mais influente, nos séculos XI e XII em Itália nasceu o capitalismo (c. IV), sistema que suporta o desenvolvimento, e que tantos ainda julgam ter origem oitocentista e protestante. A prosperidade mercantil e bancária então conseguida gerou verdadeiras multinacionais que promoviam a manufactura e comércio na Europa saída do feudalismo. Depois a peste negra, a guerra e os déspotas iluminados, retornando à pilhagem clássica, destruíram esse florescimento e levaram os filósofos tardios a pensar ter descoberto o que os antepassados praticavam.

Nessa reconstrução perderam-se alguns elementos centrais da versão católica inicial. Por exemplo, no século XII, "cada vez que faziam ou reviam um orçamento era criado, com algum capital da empresa, um fundo para os pobres. Estes fundos aparecem registados em nome 'do nosso bom Senhor Deus' (...) quando uma empresa era liquidada, os pobres eram sempre incluídos entre os credores" (p.167).


Então? Sente-se bem? Vamos então ao relatório e contas. Devo confessar que neste momento hesito. Não sei se o que mais espanta é a má fé (concerteza uma invenção dos filósofos iluministas) se a ignorância (concerteza uma invenção dos ditadores romanos). Claro que não posso refutar esta bela canção. Os mistérios da arte devem ser respeitados. Mesmo a arte dos malabaristas, hoje em franca expansão com todas as artes circenses (outra bela invenção da idade média), deve ter um lugar no nosso coração. Fico apenas preocupado com os incautos alunos que, desprevenidamente, vão a caminho das aulas do Magister para ver levantar vôo a coruja de minerva e acabam a ouvir este faduncho inglesado. Nesta soturna noite em que nos encontramos, abandonadas as luzes excelsas da Igreja medieval, as noites são longas e o medo espreita outra vez nas carantonhas dos ditadores romanos. O belo e seráfico monge copia a sagrada escritura na placidez do bosque. À sombra dos carvalhos, o bom lavrador empurra o seu arado ao canto do ribero e o nobre (justo, bondoso e fraterno) protege os filhos de Maria, enquanto saltitam pelas veredas, a caminho do regaço doce, do casto gineceu da escola catedralícia. Todos dão as mãos em torno do criador e oram santificados pelos dons do espírito, elevados na comunhão do corpo místico de cristo. Uns governam, outros trabalham, os mais santos rezam. Não há sujidade ou impureza. Tudo é bom à sua volta. A guerra desvaneceu-se como uma nuvem cinzenta dispersa pelo sol da primavera, os tiranos greco-romanos (esses pérfidos homossexuais) foram degolados pela espada do viril bárbaro (agora civilizado pela mão do santo pregador da boa nova) e mergulharam na poeira do esquecimento, com os seus mausoléus e a arquitectura da sua oca erudição. A ciência e a fé, conduzidas ao redil da alegria pelo bom pastor, servem as aldeias bucólicas onde tudo é para todos, segundo os dons de cada qual. A alegria jorra pelos montes e a abundância das colheitas, animada pelas desobertas dos irmaõs monges, sacia a fome de todas as crianças, fazendo esquecer as lágrimas do tirano intelectualizado em Roma. Reina a Igreja de Cristo, mão protectora e doce, estrela que nos guia, sede da sabedoria.
Ó Magister, é noite e eu tenho medo, conta outra vez como foi.

O clube britânico

As afirmações de Berlusconi são prementes. Jesus Cristo não é o senhor. Berlusconi é o senhor Jesus Cristo. Logo na semana em que se falou de clandestinidade da Igreja, a semana em que o Papa saiu em ombros, com Rui Ramos (ó sábio de Entre-Campos) de bandeira liberal levantada bem ao alto. Resumo: o livre pensamento, as religiões como garante da protecção do indivíduo contra as religiões de estado, os nacionalismos assassinos e as religiões seculares do fascismo e do comunismo, que os arábes é que são culpados disto tudo sempre a arrebentar, a burka, o cinto de explosivos. Eu diria, em suma, que esta erudição histórica de quem acha que o mundo se inciou em 1776, com a publicação da Riqueza das Nações, cura-se de forma simples: sardinhas com vinho tinto.

Para quem não está familiarizado com a fina flor da pátria comenteira, Rui Ramos é o erudito pensador responsável pelo departamento humanidades do Compromisso Portugal. Nesse fantástico livro denominado Revolucionários vemos desfilar diante de nós, com todas as roupagens da revolução, o bafio secular do século XVIII (é claro, na sua versão via enciclopédia britânica traduzida por um adepto do Liverpool embriagado via golo do Simão em Anfield Road).

Alguém podia fazer o favor de me explicar o que fez esta gente em Oxford?

Em verdade vos digo. O Berlusconi é que sabe.

«While openly revelling in power, Berlusconi has also called it a burden, saying: "I am the Jesus Christ of politics." He once said he was second only to Napoleon in European political history, adding: "But I am definitely taller."»

Em verdade vos digo. É para rir.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Os relógios parados também estão certos

Após já boas horas de conversa com o Alf, tem sido fascinante aperceber-me (e vergonha minha só o fazer agora) que a História da Humanidade anda as voltas. ciclos que se repetem, com novas personagens, mas em que o fio condutor se volta a repetir. Eis mais um bom exemplo, muito bem apanhado via avatares:

"Palestinians streamed over the border to buy supplies that have been cut off from the Gaza Strip by Israel".

Não fogem do Egipto pelo meio das águas mar vermelho. Vão para Egipto em busca da comida tal como foram um dia os filhos de Jacob, os irmãos de José. É de facto espantos
o como pode ser cruel a falta de memória.

Génesis 42: 1-Vendo então
Jacob que havia mantimento no Egipto, disse a seus filhos: Por que estais olhando uns para os outros? 2-Disse mais: Eis que tenho ouvido que há mantimentos no Egipto; descei para lá, e comprai-nos dali, para que vivamos e não morramos.

Mais fotos do novo ciclo aqui

"E a ficardes cá só vós, que Deus me leve de vós bem antes disso"

via Bandeira ao vento

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Tabacaria



A lei do tabaco tem ocupado mais espaço do que merece. É inegável que a lei chegou, pelo menos em parte, porque os fumadores abusaram um pouco da paciência social dos não fumadores. Fumava-se em todo o lado onde, manifestamente, não era prudente que se fumasse. Plataformas do metro, espaços exíguos, até hospitais. Mas os bancos, as seguradoras, a PT, também abusam (todos os dias, sem que chegue uma lei que os meta no sítio). Acontece que com a lei do tabaco não chega apenas a protecção do fumo. Chega também um celofane contra esta sujidade imensa que é estar vivo. Há, é certo, o argumento do incómodo provocado a quem não é fumdador. O problema é que estarmos todos no mesmo espaço é incomódo. Porque uns preferem respirar o ar puro e outros respirar alcatrão, monóxido de carbono e nicotina. Assim como uns preferem ler Bento XVI, a irmã Lúcia ou Magister César das Neves e outros Marx, Foucault ou Ruy Belo. Tudo depende se preferimos ter a nicotina nos pulmões ou no cérebro. Há os bem-aventurados que não têm nicotina, nem nos pulmões, nem no cérebro. Calma. Não puxem já da pistola, perdão, do spray ambiente. Eu sei que estou a reduzir a questão. Mas são assim os lógicos, gostam de reducções e outras violências aritméticas.


Não está em causa que o tabaco é um vício que se agarra desprevenidamente pelas mais variadas razões e que nada de assinalável acrescenta à existência, para além dos problemas respiratórios. Mas esta é justamente a definição da maior parte das coisas que fazemos todos os dias (dos seguros ao trabalho dos merceeiros, da investigação em pedagogia de bolso ao vómito cimenteiro sobre o território, da medicina plástica à indústria dos enchidos, do ginásio ao marketing dos cereais fitness. Não tenho nada contra a protecção do ar ou a reprodução coerciva da vida saudável, simplesmente começo a sentir uma irresistível vontade de meter muitos cigarros na boca. Parece que mata mais depressa. Parece que tira em média dez anos. Está bem, concedo. Mas quantos anos nos tiram a ansiedade causada pelo mau planeamento do território, as discussões em torno dos baixos salários, a gordura do queijo, dos fritos, dos enchidos, da dobrada. Quantos anos, horas, perdemos em actividades inúteis, nas filas do trânsito, enquanto respiramos o saudável escape (parece que este caso a céu aberto não se inclui nos malefícios), de pé nas repartições enquanto desgastamos as articulações dos ossos (haverá estudos sobre os malefícios da religião como reducção da qualidade de vida, física e intelectual?), sentados no sofá enquanto queimamos os neurónios? Quantos anos de vida nos são retirados, pelo simples facto de estarmos vivos? Tudo isto, eu sei, pertence à liberdade de cada um. Exacto, tal como fumar. Pelo que voltamos à questão: apenas está em causa a protecção de quem não quer fumar, porque no que diz respeito a saúde, não me venham com proibições e virtudes (já disse que não me peguem no braço). Para garantir a protecção dos fumadores, proiba-se o fumo no espaço público, mas fique ao critério dos proprietários privados (empresas, cafés, lojas, restaurantes) a escolha do ar que querem ter no seu estabelecimento. Com ou sem fumadores. No caso de escolherem o fumo, basta sinalizar, sem qualquer necessidade de controlo do ar. Quanto a sindicatos, na protecçãod e trabalhadores não-fumadores. É um problema que devem negociar com a entidade patronal, tal como o salário e as férias, ou subitamente descobriram que têm direitos para não respirar fumo, mas não para impôr subidas dos salários. O sindicalismo está cada vez melhor...

Já sabemos que passamos a viver mais, a qualidade do sono, o gosto dos alimentos. Concedo novamente. Devo confessar que nem sequer sou fumador, embora, volto a dizer, me apeteça um cigarro. O problema, caro leitor, é o que vem aí. Ninguém duvide, começa a ser claro, que já vem a caminho passarada e da grossa. Algo me diz que não é a Igreja que vai passar à clandestinidade. Talvez a física teórica, a história e a filosofia passem mais depressa à clandestinidade do que a Igreja.


Tudo isto decorreu da bela prosa do Besugo, nestes dias de Prós e Contras, esse espaço sobre tudo e mais um cesto de maçãs.

“Multiplicai-vos e vivei para sempre, inenarráveis chatos, paneleiros e paneleiras do caralho. Mas a chá e a incenso não ides longe, nessa merda de viverdes saudáveis até se vos entupir a "veia da vida", uma que fica ao lado da inteligência, vós nem sabeis bem onde isso é, que não há bibliografia.
E a ficardes cá só vós, que Deus me leve de vós bem antes disso”

posted by besugo @ 3:02 PM 21.12.07, Blogame mucho




Ou se quiserem a versão mais elegante de Álvaro de Campos na Tabacaria

“E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando”



Einstein gostava de fumar cachimbo. Podia ter morrido de cancro. Podia não ter pensado sobre a relatividade. Pois é. Mas também podia não ter escolhido a ciência e ter aberto um negócio de exportação de camisolas de lã. Nem por isso deixou de poder escolher, facto que fez dele aquilo que foi. Um físico e um fumador. Além de que parece que defendia o socialismo e o planeamento da economia. Preocupava-se mais com Newton, Hume, Espinoza ou Gauss do que com o seu corpo. Sem dúvida, pertence a uma raça em vias de extinção.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Eles sabem bem o que fazem, não sabem é o que poderiam antes fazer

Um dia Cícero terá dito que o dinheiro é o nervo da guerra. Richelieu, na boa esteira do classicismo francês, não se cansou de o repetir. Toda a revolução industrial, apesar das "robinsonadas económicas" foi suportada pela guerra no Atlântico. A bomba, como reducção dos custos de transacção, continua a ser a estratégia de mercado mais eficaz. Em 2007 foi publicado na Princeton University Press um estudo sobre a importância da guerra no desenvolvimento da economia-mundo. Há quem acuse estas leituras de simplismo. Que a guerra é muito complexa, que a cultura e tal... Pode ser que seja. Nós somos muito mais que o nosso estômago. Acontece que almoçamos todos os dias (e como não se cansa de repetir o Magister Neves: não há alomoços grátis. Tomamos o pequeno almoço, o lanche, o jantar, a ceia, andamos vestidos, compramos casas, discutimos a inflacção, sonhamos com o aumento, pensamos nas contas, negociamos o crédito. É verdade que vamos à missa, à música na Gulbenkian, ao futebol. Acontece que a tudo isso subjazem relações de força, traduzidas nas relações económicas. A competição faz o mercado. A competição última, decide-se pela força dos argumentos. O melhor argumento é sem dúvida a exterminação do adversário. A guerra impõe-se como necessidade oculta das nossas relações objectivas, enquanto a competição não for substituída por outras formas de relação. A gasolina que compramos, as relações de mercado das quais fazemos depender o equilíbrio político e a segurança, a flutuação dos preço dependem de relações de força, onde concorrem factores muito variados mas que, nas suas consequências últimas gerninam nas relaçoes de força. Neste sentido, os homens da guerra precisam de ser protegidos, para que zangadas as comadres não se saibam as verdades. Às tantas poderia ficar claro que é tudo mais simples do que parece e isso não seria benéfico para o comportamento das bolsas.

Daí que a vida política esteja sempre dividida entre dois planos: o plano das acções concretas, que é simples e deriva das relações sociais objectivas; e o plano das explicação das acções concretas, que é complexo e se relaciona com as motivações dessas relações sociais subjectivas. Ninguém, depois de Marx, sintetizou isto melhor do que Pessoa: "o único sentido oculto nas coisas é as coisas não terem sentido oculto nenhum"

Perdoem-lhes porque não sabem o que fazem

Uns sobem ao topo do mundo. Outros fazem o possível para descer o mais que podem. Parece não haver limites para este senhores:



via dragão

Tell me a story VIII

Um dia um homem decidiu escrever poesia. A vida não corria bem, o tempo mudava rapidamente, a política instável como as estações. Ao escrever poemas pensou que, não salvando o mundo, salvava pelo menos a língua. Conheceu a guerra, deu morte a homens e outros animais. Regressou à noite, aos poemas e às mulheres. Nisto, aconteceu uma noite de fados e navalhas no dia do Corpo de Cristo. O resto, já se desconfia: tocado a vinho furou um homem importante e acabou na Índia como servidor do rei de Portugal. Passaram alguns anos, mais umas quantas mulheres, mais umas quantas páginas de poesia. Pelo meio um naufrágio e muitas dívidas.
Parece que muitos erros e alguma má fortuna, como convém a homens esclarecidos.
A morte surpreendeu-o entre a poesia. Não se rasgou o templo, não se converteram centuriões, não se inaugurou um novo reino. Foi apenas um homem que passou.

Fariseus e Doutores da Lei: o regresso

O caro leitor terá reparado que a polémica em torno do não discurso do Papa causou alguma turbulência nas sempre impassíveis águas do nosso quotidiano. A agitação universitária foi lestamente aplacada pela indignação. No Domingo os jornais multiplicavam a boa nova. No Vaticano, milhares de pessoas apoiavam Bento XVI. O Correio da Manhã dava o mote sob um título sugestivo, «Contra “censura” na Universidade». Não restavam dúvidas que dezenas de milhar de estudantes, políticos e cidadãos anónimos se tinham concentrado junto do Papa numa demonstração de solidariedade. Parece que o Papa, radiante e eufórico, naquele mesmo rosto alienado que lhe vimos à janela de S. Pedro, no dia da eleição, encorajou os “queridos universitários a respeitar sempre as opiniões dos outros e a procurar a verdade e a rectidão”. Aceitamos o desafio. Nesse sentido, respeitamos todas as opiniões (tanto a dos maçaricos-de-bico-direito como a do senhor Professor Marcelo). Quanto à verdade, à rectidão, e à consistência intelectual, resolvemos percorrer as páginas desse hino à liberdade de opinião, e de expressão, que é o Catecismo da Igreja Católica.


Na abertura desse magno texto, a Constituição Apostólica Fidei Depositum, assinada por João Paulo II, recorda que em 1986 foi confiada a supervisão de um novo catecismo a uma Comissão “presidida pelo senhor Cardeal Joseph Ratzinger”. Essa comissão tinha como missão “vigiar o desenvolvimento dos trabalhos”. Cá está mais um belo verbo (vigiar) que dignifica a tradição do pensameno livre preconizada pelo cardeal Ratzinger
A Comissão, ao vigiar o desenvolvimento dos trabalhos e a redacção, devia ter em conta conta as “explicitações da doutrina que, no decurso dos tempos, o Espírito Santo sugeriu à Igreja”. Ora aí está mais um consistente princípio intelectual, passível de verificação e discussão alargada. A “sugestão do Espírito Santo” tem aberto horizontes na explicação do homem, na libertação dos corpos, na melhoria das condições de vida das populações, no caminho da democracia, no desenvolvimento económico, no enraízamento da ética, no controlo da bola de Berlim, no aumento das diversões na feira popular, etc…

De qualquer forma, ao percorrermos as páginas do catecismo encontramos verdadeiras pérolas da consistência intelectual, da reflexão metódica, do pensamento estruturado, passíveis de crítica científica e de um verdadeiro manjar para a discussão universitária.

A título de exemplo vejamos o Parágrafo 390 em que se explana todo o profundo significado antropológico da Queda. Esse relato mítico, quase da mesma ordem do calcanhar de Madjer, interpreta com grande sapienza Gn, 3. Nessas sagradas linhas surge “uma linguagem feita de imagens, mas que “afirma um acontecimento primordial", um facto que "ocorreu no início da história do homem”.

“A Revelação dá-nos a certeza de fé de que toda a história humana está marcada pelo pecado original cometido livremente por nossos primeiros pais”. O acerto com que é fundamentada esta conclusão, a erudição das provas, a sabedoria das intuições, a solidez do argumentário é de fazer corar um Athusser, ou mesmo um Hegel.

Continuando a fértil leitura surge por exemplo que na opção de desobediência dos “nossos primeiros pais há uma voz sedutora que se opõe a Deus e que, por inveja, os faz cair na morte”. Só as galerias de conhecimento que se abrem, perante a nossa ignorância do processo de hominização, nesta metáfora dos “nossos primeiros pais”, justificaria por si só um triplo doutoramento honoris causa (Harvard-Oxford-Sorbonne) a Bento XVI, como representante do “livre pensamento e consistência intelecutal” do magistério.

Há mais. Se quisermos discorrer sobre a matéria angélica é todo um exposição clara e ambiciosa. A "queda" consistiu também na “opção livre dos espíritos criados, que rejeitaram radical e irrevogavelmente Deus e o seu Reino”. Temos um reflexo desta rebelião nas palavras do Tentador ditas aos nossos primeiros pais: "E vós sereis como deuses" (Gn 3,5). O Diabo é "o pecador desde o princípio" (1Jo 3,8), "pai da mentira" (Jo 8,44).

Mas não se pense que isto é um defeito de fabrico. Claro que não, em nome da sustentação do insustentável, perdão, em nome da consistência intelectual, foi “o caráter irrevogável da sua opção, e não uma deficiência da infinita misericórdia divina”, que fez com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado.

Todavia, não há razão para preocupações: “o poder de Satanás não é infinito. Ele não passa de uma criatura, poderosa pelo facto de ser puro espírito (…) Embora Satanás actue no mundo por ódio contra Deus e o seu Reino em Jesus Cristo (…) esta acção é permitida pela Divina Providência, que com vigor e doçura dirige a história do homem e do mundo. A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas "nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam" (Rm 8,28).

Depois desta leitura proficiente, resta-me pedir desculpa por ter duvidado da consistência intelectual de Bento XVI e congratular-me pela rápida reposição da verdade. Farei penitência na cinza e rasgarei as vestes. Aproveito para censurar fortemente, reprovando a sua atitude desrespeitadora das opiniões, os professores e estudantes da Universidade de Roma. Iníquos, na forma como insultaram a dignidade pontifícia e a multidão de Católicos, esses universitários teimam em não perceber que a agitação que provocam, a sua luta contra a tradição, o seu desrespeito pelas veneráveis autoridades da fé, numa palavra, o seu reino, não pertence a este mundo.

Escrito na pedra

"As pessoas não decidem ser extraordinárias. Decidem fazer coisas extraordinárias."
Sir Edmund Hillary


Acabo de descobrir que o homem que chegou ao topo do Everest morreu aos 88 anos. Descubro que o mesmo homem era apicultor e conseguiu ir aonde ninguém tinha ido antes. E que depois disso continuou a explorar e ajudar quem o ajudou mais: os Sherpas. É na simplicidade dos gestos que se conseguem fazer coisas extraordinárias. E o céu ali mais perto.

Ler mais aqui

Edmund Hillary took this photograph of Tenzing Norgay as they became the first human beings to set foot on the summit of Mt. Everest, the highest point on earth.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Adoro segundas feiras

Ler estes posts I, II e III ao som disto:



imaginando novas personagens. Bem vindo ao Far West caro turista que nos visita.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Como apanhar o mundo pelos cornos da desgraça e fazer da tristeza graça

em jeito de legenda: imagine-se as reuniões do BCP

Não sou cliente do BCP mas adoro tourada

Temos acompanhado ao longo das últimas semanas o caso BCP. Uma atitude responsável exigiria, como agora recomendam vários especialistas, uma regulação atenta, moderação nos ordenados, rigor nas contas, decoro nas declarações. Estamos completamente de acordo.

(neste sentido, há que efectuar, e já, uma pega de caras ao BCP)

Contudo, o doutor Teixeira Pinto esclareceu que todos os valores pagos (infamemente alardeados nos jornais) se deveram ao "exercício de 2007". Além do mais passou à situação de reforma, como o próprio esclarece, em função de relatório de Junta Médica. Deve então ser clarificado que a ganadaria do Doutor Teixeira Pinto não produziu o animal.

(as feras pisam por vezes terrenos interiores, junto às tábuas, talvez seja melhor ficar para outra altura)

De maneira que diz o inteligente que acabaram as canções

Olé!!!

Namorados de Lisboa

Hoje pensei falar de mercados. De mais um editorial brilhante do senhor director e dos seus equívocos, agora que está quase a descobrir, embalado pela voz mansa e doce do Financial Times, a necessidade de regular a economia. Pensei falar de mais uma página em marfim, esculpida pela elegência intelectual de Larinda Alves: "é impossível não falar do casal Sarkozy-Bruni". Com efeito é impossível não falar de qualquer casal que se atravesse entre a maioria dos colunistas dos jornais portugueses (excepção para Rui Tavares, António Barreto e Pacheco Pereira) e os meus olhos (mesmo se esse casal são apenas namorados de Lisboa, entalados num vão de escada, num cacilheiro a caminho do Montijo, enfim os amantes sem dinheiro daquele poeta portuense nascido na Beira Baixa). Mas reconheço que Lisboa não é Paris. Oh, como podia ser. Ao menos temos a cronista das coisas da vida dizendo-nos que haverá sempre "quem nos salve".

Contudo, apesar do inegável conforto desta certeza salvífica, é impossível manter a lucidez no mar em que se agitam estes personagens forjados pela mercado da concorrência entre jornais. Agoniado decidi recolher ao meu lugar dentro deste grande navio onde vamos a caminho do progresso. Fui para dentro, como sempre aconselha paternalmente o António Silva (obrigado António). Hoje pensei falar de mais um artigo na fogueira da escola pública: "o estado como garante e não como prestador". Contudo, fiquei embasbacado com a eficácia do mercado, na forma como cria valor nas páginas dos nossos jornais: a erudição dos comentadores, o rigor das suas análises, o cuidado com o discurso, a independência da reflexão, a profundidade das ideias, o acerto dos temas... Nisto, talvez tenha passado mais um casal a caminho do cinema. Se bem que não era nem Sarkozy nem Bruni. Apenas dois adolescentes do Cacém, à procura do tal poema de que falava Ary dos Santos. Reconheço que sem o brilho dos franceses. Nós somos assim, comemos pevides e bebemos cerveja.

Talvez este seja um tema tão esgotado como os meus olhos nestas últimas semanas (as páginas cada vez mais enevoadas). Deve ser do tempo. Deve ser da chuva. Oblíqua.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Tell me a story VII with smoke

Era uma vez um país à beira-mar. Inventaram uma lei, e 6 meses depois aplicaram-na. O povo achou estranho, mas começava a habituar-se. De repente um individuo que se dizia director de saúde diz que afinal a lei não é bem como se pensava. Há excepções. E todos quiseram ser excepção. A bandalheira do costume instalou-se. E veio para ficar.

Leia-se mais
aqui.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Ciclo de concertos: Música na Ermida

teO ciclo de concertos Música na Ermida pretende reunir, na Ermida do Senhor Jesus dos Navegantes, públicos interessados na música coral e instrumental. Estes concertos contarão com a presença de músicos convidados, aos quais se juntará a actuação do coro. Esta dinâmica de concertos, que se pretende regular (Janeiro, Março e Maio para o primeiro ciclo), visa devolver ao centro histórico uma forte tradição musical iniciada em 1929 pelo Orfeão de Paço de Arcos, dirigido pelo maestro Gustavo de Lacerda. Este trabalho, entretanto esquecido, promoveu a cultura musical através da realização de concertos na vila e arredores. A Ermida-Associação cultural acredita que, num tempo em que tanto se fala de qualidade de vida, não pode haver vida com qualidade sem a existência de encontros públicos em torno da música.

Caminhada Filosófica #1

tesDia 16 de Fevereiro iniciam-se as Caminhadas Filosóficas. As inscrições estão abertas e são limitadas a 25 pessoas. Mais informações por email: ermida.associacao.cultural(@) gmail.com

Previsões 2008

Recebi há dias na minha mailbox um email com o titulo de Previsões para 2008. Uma mistura de astrologia tipo Maya, Professor Xibanga e com humor a Malucos do Riso. Um estrondo portanto. Apesar de serem muito fraquinhas as previsões, refiro algumas que me tocaram particularmente (de uma forma ou de outra, não interessa aonde). Assim por categorias:

1. Religião

"Nossa Senhora faz aparição em poste de muita alta tensão."

2. Politica

"Sempre inspirado por Sarkozy, mas à sua escala, Luis Filipe Menezes começa a namorar com Mafalda Veiga."

3. Fado

"ASAE lança franchising de restaurantes de fast-food."

4. Futebol

"Scolari consegue feito inédito ao ser campeão da Europa só com empates."

A primeira previsão tinha que falar em Fátima. Sempre ela a iluminar-nos. Oremos então. Na segunda acertam no facto do lider do PSD andar a fazer pinturas de sonhos. Mas só na cabeça dele. A terceira está em fado porque a ASAE canta bem. E falta-lhe ir ao McDonald's. A quarta previsão conta a história de um burro rico e o sonho do ajudante de bigode que queria ser campeão. E a nossa que choramos com eles.

O conflito das interpretações III

Passamos então a explicar. O papa proferiu há alguns anos um discurso em Parma. Não é possível repôr na íntegra esse discurso mas aqui fica o excerto recolhido no blogue Ratzinger:

La crisi della fede nella scienzatratto da Svolta per l'Europa? Chiesa e modernità nell'Europa dei rivolgimenti, Paoline, Roma 1992, p. 76-79.
"Nell'ultimo decennio, la resistenza della creazione a farsi manipolare dall'uomo si è manifestata come elemento di novità nella situazione culturale complessiva. La domanda circa i limiti della scienza e i criteri cui essa deve attenersi si è fatta inevitabile. Particolarmente significativo di tale cambiamento del clima intellettuale mi sembra il diverso modo con cui si giudica il caso Galileo. Questo fatto, ancora poco considerato nel XVII secolo, venne -già nel secolo successivo- elevato a mito dell'illuminismo. Galileo appare come vittima di quell'oscurantismo medievale che permane nella Chiesa. Bene e male sono separati con un taglio netto. Da una parte troviamo l'Inquisizione: il potere che incarna la superstizione, l'avversario della libertà e della conoscenza. Dall'altra la scienza della natura, rappresentata da Galileo; ecco la forza del progresso e della liberazione dell'uomo dalle catene dell'ignoranza che lo mantengono impotente di fronte alla natura. La stella della Modernità brilla nella notte buia dell'oscuro Medioevo (1).
Se qui entrambe le sfere di conoscenza vengono ancora chiaramente differenziate fra loro sotto il profilo metodologico, riconoscendone sia i limiti che i rispettivi diritti, molto più drastico appare invece un giudizio sintetico del filosofo agnostico-scettico P. Feyerabend. Egli scrive: «La Chiesa dell'epoca di Galileo si attenne alla ragione più che lo stesso Galileo, e prese in considerazione anche le conseguenze etiche e sociali della dottrina galileiana. La sua sentenza contro Galileo fu razionale e giusta, e solo per motivi di opportunità politica se ne può legittimare la revisione» (2).
Dal punto di vista delle conseguenze concrete della svolta galileiana, infine, C. F. Von Weizsacker fa ancora un passo avanti, quando vede una «via direttissima» che conduce da Galileo alla bomba atomica. Con mia grande sorpresa, in una recente intervista sul caso Galileo non mi è stata posta una domanda del tipo: «Perché la Chiesa ha preteso di ostacolare lo sviluppo delle scienze naturali?», ma esattamente quella opposta, cioè: «Perché la Chiesa non ha preso una posizione più chiara contro i disastri che dovevano necessariamente accadere, una volta che Galileo aprì il vaso di Pandora?». Sarebbe assurdo costruire sulla base di queste affermazioni una frettolosa apologetica. La fede non cresce a partire dal risentimento e dal rifiuto della razionalità, ma dalla sua fondamentale affermazione e dalla sua inscrizione in una ragionevolezza più grande. [...] Qui ho voluto ricordare un caso sintomatico che evidenzia fino a che punto il dubbio della modernità su se stessa abbia attinto oggi la scienza e la tecnica".
(1) Cfr. W. Brandmüller, Galilei und die Kirche oder das Recht auf Irrtum, Regensburg 1982.
(2) P. Feyerabend, Wider den Methodenzwang, FrankfurtM/Main 1976, 1983, p. 206.© Copyright 1990-2008 - Libreria Editrice Vaticana


Ora, não restam dúvidas. Foi mesmo Bento XVI que afirmou que a fé não cresce a partir do ressentimento e da recusa da modernidade. Estava a referir-se às posições de Feyerabend e de Weizsacker que empreenderam reflexões contra o absoluto da ciência. Qualifica mesmo Feyerabend como “filosofo agnostico-scettico”. E porquê? Porque o autor de agaisnt the method revê (e não defende) as posições da Igreja seiscentista contra Galileu apenas do ponto de vista das particularidades da vivência das populações contra um racionalismo cego que se pretende impôr com Galileu. Se o director Fernandes tivesse perdido algum tempo a ler Feyerabend teria percebido que sua crítica assenta sobre a recusa de racionalidades englobantes e unívocas (como as defendidas por Bento XVI). A racionalidade totalitária (recorrente ao longo da história) expressa-se hoje pela ciência. Equivale a uma ideologia representando hoje o papel que o cristianismo desempenhou na sociedade ocidental. É sugestivo que o capítulo se intitule “crise de fé na ciência”.

O que nos conduz ao significado do protesto dos universitários. Não sei se interpretaram correctamente ou não o discurso de Bento XVI. Provavelmente não. Sei que o consideraram intelectualmente inconsistente. Sei que estão no seu pleno direito de o considerar e de expressar por escrito no seu abaixo-assinado a recusa de que venha proferir o discurso inaugural. É curioso como o liberalismo do senhor directos Fernandes, de Pacheco Pereira ou de Pulido Valente, seja um liberalismo, como sempre, selectivo. A menos que todos tenhamos ficado subitamente ingénuos, tanto os universitários, como Feyerabend, sabem que os discursos são lugares de poder. Que a escolha de um Papa para o discurso é um sinal claro mas precisamente do contrário do que afirmam Fernades, Pereira e Valente. É inegável que há um retomar social fortíssimo do peso da Igreja. Precisamente por isso surgiram os protestos na Universidade de Roma. Não terá lembrado a estes pensadores que quem não tem poder talvez não motive reacções.

Para grande pena do director Fernandes, Bento XVI, não foi agredido, os seus livros não foram queimados, a sua liberdade não foi coarctada. Apenas se ouviram vozes (escritas a tinta em pedaços de lençol) que desmente os lugares comuns todos os dias repetidos pelo poder das televisões e dos jornais quase de forma unânime. Ratzinger “é um dos grande intelectuais da actualidade” repetiu pela enésima vez Fernandes. Os Universtiários de Roma apenas disseram: nós recusamos essa racionalidade, porque temos uma outra visão do mundo. Aqui na Universidade é o nosso espaço, um dos últimos redutos contra a alinça ideológica totalitária do liberalismo parlamentar, todos os dias defendida pela rançosa versão ocidental do cristianismo de domingo de manhã.

O conflito das interpretações IV

Vejamos mais um exemplo sem contaminações hermenêuticas onde se torna clara a confusão intelectual daquele que dizem ser um dos maiores intelectuais. Numa recente comunicação aos professores universitários europeu afirmou Beto XVI que “se não conhecermos Deus em e com Cristo, toda a realidade se tornará um enigma indecifrável”. Continua no mesma tonalidade: “a ciência jamais pode limitar-se meramente ao saber intelectual; pois ela inclui também uma renovada capacidade de observar as coisas de uma maneira livre de preconceitos e de superstições, e de permitir que fiquemos “admirados” com a realidade, cuja verdade pode ser descoberta mediante a união entre a compreensão e o amor. Somente Deus dotado de um rosto humano, que se revelou em Jesus Cristo, pode impedir que ponhamos limite à realidade (…)” Termina com a “salvaguarda materna de Maria, Sede da Sabedoria”. Discurso do papa bento XVI aos participante no 1º encontro europeu de professores universitários 23 de Junho de 2007


Se restam dúvidas, o discurso da Universiade de Roma que não chegou a ser acrescentava que a "mensagem cristã, segundo suas origens, tem que ser sempre um empurrão rumo à verdade e uma força contra a pressão do poder e dos interesses'.” Ora o próprio Bento XVI representa um interesse e um poder fortíssimos. Logo, apenas me parecem válidas uma de duas conclusões: ou é intelectualmente inconsistente (uma vez que a defesa da mensagem cristã deve ser uma força contra pressão do poder, sendo que um Papa é, portanto, a suprema contradição, como bem viu Nietzsche no Anticristo, lendo bem que o sacerdote era o tipo social mais violentamente atacado pela vida pública de Jesus) ou é um poder intrusivo procurando lutar dentro da universidade por uma apologética da verdade irrefutável. Nos dois casos os universitários de Roma terão sempre razão na sua vontade de reclamar o direito de decidir sobre quem fala na sua Universidade.

o conflito das interpretações II

Parece também que a polémica do Papa na sua não-ida à Universidade de Roma residiu numa espécie de equívoco hermenêutico à semelhança da polémica de Rastibona: os reles universitários interpretaram mal um suposto discurso do papa em Parma. Indignado, o director do Público vitupera esta atitude dos universitários intolerantes, que em “vez de notarem que o Papa citava outrem para a seguir marcar as suas distâncias, pegaram nas palavras do autor citado – em Parma, o filósofo das ciências Paul K. Feyerabend para, atribuindo-as a Bento XVI, considerarem que esta dava razão à Igreja na sua querela com Galileu. O sentido do discurso de Parma, prosseguia o mesmo Giorgio Israel, era exactamente o contrário da caricatura que este na origem do protesto: afirma que a «a fé não cresce a partir do ressentimento e da recusa da modernidade»”. Este Giorgio Israel, explica o director Fernandes é Professor de História da Matemática e também criticou os universitários.

O problema é que nesta altura já nada se percebe do editorial do senhor director. Se é Giorgio Israel, se é Bento xvi, se é Feyerabend quem afirma que a fé não deve crescer a a partir do ressentimento e da recusa da modernidade. Como diria o meu treinador nos juvenis dos Leões de Porto Salvo isto é o que se chama um verdadeiro engalfinhamento com a bola.

o conflito das interpretações


Esta semana, terão todos notado, o papa bento xvi decidiu não comparecer na Universidade de Roma. Ora aí está uma bela decisão. Claro que logo surgiram proféticas interpretações em torno de uma perseguição diabólica, movida contra Igreja e e o cristianismo, em curso na actualidade. Um dos campeões desta teoria é o senhor director do Público José Manuel Fernandes. No estilo surf-em-Palm-beach a que nos tem habituado multiplica erros, atrapalhações e alguns pirolitos no complexo oceano do pensamento onde o senhor Fernandes apresenta comportamentos de peixe fora de água (ou se quiseros surfista de prancha no arrozal). No seu editorial de 17 de janeiro começa logo por assinalar o cumprimento das profecias dos pensadores Pacheco Pereira e Pulido Valente (mais dois ilustres varões do pensamento em português): “a Igreja é capaz de ter de viver novos tempos de clandestinidade”. Com efeito, bem gostariamos que assim fosse mas, lamentavelmente, não consta que corram processos crime pela realização da santa missa, ou circulem ordens para demolição do santuário de Fátima. Aliás, deve ser recordado que o santuário de fátima revela bem a feroz perseguição arremetida contra a fé em Jesus, o Cristo.

Uma rápida visita ao sítio da rádio vaticano logo revela todo um mundo de opressão e mordaça. Em primeiro lugar damos logo de caras com um dos excertos do hipotético discurso que o papa realizaria (traduzido em Português). Curiosamente é o mesmo excerto trasncrito por José Manuel ferandes no editorial do Público. De facto, eu tentei obter o discurso on-line e não consegui pelo que o director Fernandes deve ter muito melhores canais de informação e leu concerteza o discurso. Concerteza que não fez copy no sítio da rádio vaticano.

Depois podemos adquirir 5 dvd multi-linguagem sobre João Paulo II e as suas viagens. Ficamos ainda a saber que “A decisão [do papa em cancelar o discurso] desconcertou e preocupou a opinião pública italiana e gerou uma avalanche de reações de jornalistas e personalidades que defendiam o direito de o papa falar e que lamentavam o cancelamento da visita.”

É portanto com estupefacção que nos apercebemos que a perseguição, a censura, a opressão reside numa decisão do próprio papa, em face de um abaixo assinado de alunos e professores da Universidade. Parece que a censura se resume à inauguração de uma semana anti-clerical, onde cartazes e palavras de ordem causaram ataques de pânico a várias senhoras e crianças. Tiveram mesmo que ser socorridos devido ao som ensurdecedor dos gritos dos reles universitários, vários cachorrinos e coelhos domésticos.

Tudo isto porque, nas palavras do senhor director “um grupo de professores mobilizou um protesto que conseguiu levar o papa bento xvi a declinar o convite para falar na sessão inaugural do ano lectivo”.
Ó suprema violência da opressão e da censura, quando um protesto escrito consegue levar o Papa a recusar um convite. Talvez uma outra questão fosse mais relevante para tratamento editorial: quem deve escolher e como deve ser escolhido aquele que discursa na aula inaugural da universidade?

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

News Flash #1

Não há melhor leitura que os jornais desportivos. Descobri esta pérola no jornal "O Jogo":

Lisandro já fez 8 "bis" mas nenhum "hat trick"

em que o jornalista nos elucida da importância das trivialidades no mundo do futebol. Cito algumas:

"É que apontar três golos num jogo é o que lhe falta. De resto, já fez de tudo com a camisola do FC Porto."

"esta foi a oitava vez que Lisandro marcou dois golos no mesmo jogo"

"é uma questão de continuar a tentar, não lhe faltando oportunidades até ao final da temporada"

"Cristiano Ronaldo precisou de treze bis para chegar ao "hat trick""

"Lisandro conseguiu com os dois golos ao Braga tornar-se no melhor marcador nos jogos realizados no Estádio do Dragão"

O ultimo paragrafo é um estrondo de literatura futebolistica:

"Há outro pormenor interessante nos golos de Lisandro. Com o Braga marcou ao minuto cinco, que curiosamente tinha sido o minuto em que tinha apontado golos ao Leixões e ao Setúbal esta época. Um "hat trick" diferente, portanto. Mais rápido só o golo que marcou ao Setúbal na época passada"

Muito interessante de facto. Hoje durmo mais descansado. E Lisandro no próximo jogo fico a torcer por ti.

Recomenda-se

Gostava de ficar o dia inteiro a ver isto. E quem diz ver Grifos diz procurar Abetardas no Alentejo. Para saber mais: SPEA

Poesia de bolso

Partilho o gosto pelo Ruy Belo e do Daniel Faria com o Alf. Mas coloco aqui agora uma de um autor que ele desconhece. O seu autor é o sistema operativo Solaris. Atentem nas métricas:

SC Alert: Host System has Reset

Boot device: /pci@1e,600000/ide@d/cdrom@0,0:f File and args: -sv
Size: 0x5edcb+0x14c35+0x2530f Bytes
SunOS Release 5.9 Version Generic_118558-11 64-bit
Copyright 1983-2003 Sun Microsystems, Inc. All rights reserved.
Use is subject to license terms.
Using default device instance data
mem = 16777216K (0x400000000)
avail mem = 16499269632
root nexus = Sun Fire V440
pcisch0 at root: SAFARI 0x1c 0x600000
pcisch0 is /pci@1c,600000
pcisch1 at root: SAFARI 0x1d 0x700000
pcisch1 is /pci@1d,700000
pcisch2 at root: SAFARI 0x1e 0x600000
pcisch2 is /pci@1e,600000
pcisch3 at root: SAFARI 0x1f 0x700000
pcisch3 is /pci@1f,700000
PCI-device: ide@d, uata0
uata0 is /pci@1e,600000/ide@d
/pci@1d,700000/scsi@1 (glm0):
Rev. 5 Symbios 53c876 found.
PCI-device: scsi@1, glm0
glm0 is /pci@1d,700000/scsi@1
PCI-device: scsi@1, glm0
glm0 is /pci@1d,700000/scsi@1
/pci@1d,700000/scsi@1,1 (glm1):
Rev. 5 Symbios 53c876 found.
PCI-device: scsi@1,1, glm1
glm1 is /pci@1d,700000/scsi@1,1
PCI-device: scsi@1,1, glm1
glm1 is /pci@1d,700000/scsi@1,1
/pci@1d,700000/scsi@2 (glm2):
Rev. 5 Symbios 53c876 found.

Adoro o trabalho de engenheiro. Espectacular diria.

Perguntas para que te quero

Coloco três questões que me assolam o espirito de segunda feira:

1. Porque falamos em aeroporto de Alcochete, se o terreno onde aquilo vai surgir fica em Benavente e Montijo?
2. Porque ninguém fala do que vai ser feito à Portela?
3. Porque é que o sporting insiste em não ganhar jogos?
4. Porque é que não sei o dia em que fui baptizado?
5. Porque é que o Camacho fala em espanhol mas diz asneiras em português?
6. Porque é que o mistério redentor de Jesus Cristo ressuscitado é o 25 de Abril que a sociedade portuguesa precisa?

para os mais atentos, coloquei mais questões do que as prometi, mas a vida é feita disso: mais perguntas do que respostas. Para o Alf: ler isto enquanto se ouve "The show must go on"

domingo, 13 de janeiro de 2008

O chefe da polícia

Hoje, Domingo, 13 de Janeiro de 2008: a opinião de Vasco Pulido Valente intitulada de "O polícia". Apenas discordo do título deste senhor, que até custumo gostar das opiniões dele, à excepção de quando se arma em profeta e revelador da verdade. Nesta sua opinião, VPV, faz aquele retrato de Socrates, a que todos estamos habituados a ouvir do autoritário, arrugante e prepotente que o nosso "pseudo-engenheiro"-primeiro ministro é.

"Sócrates tem um poder como não teve nenhum outro político português. Ora isto, que devia meter medo, só favorece" é a frase que mais se salienta desta sua opinião. Mas agora deixando um pouco a parte o senhor VPV, que esteja bem descansado lá a a ler um livrito em sua casa e que amanhã nos brinde com mais umas das suas boas opiniões, parece que o povo português gosta de ditadores, ou esta nova figura, que são ditadores democráticos, espécie de Sócrates, Chávez e de alguns outros governates de países bem conhecidos de todos nós. Mas é assim, apesar dos povos serem normalmente contra ditadores, parece que até acabam por gostar daqueles que o são, mascarados pela palavra "democracia".

Pois porque para Sócrates, tudo vai bem, vai muito bem. Até ja conseguiu assinar um tratado de Lisboa (Constituição Europeia, mas em vez de lhe chamar "Francisco", como está no registo, chamam-lhe chico- uma analogia feita José Medeiros Ferreira, antigo dirigente Socialista)e que agora não vai referendar como prometeu ao povo (mas como já disse em cima estamos na presença de um ditador, em que tudo é possível). Em 2 dias já escolheu a localidade definitiva para o novo aeroporto, ajudado por um grupo de empresários, que em nome "dos maiores estratégicos para o País" fez um estudo que ajudou o sr. Socrates a decidir por Alcochete. Até apoio o local, embora gostaria de saber quem foram os financiadores desse estudo e porque é que, sendo ainda a decisão "preliminar",já existe rumores de especulação imobiliária ali á volta de Alcochete, e de grandes empresas nacionais que já ali compraram terrenos.Não quero criticar mais senão qualquer dia o corpo de intervenção leva-me à tortura para ver se deixo de criticar aquele homenzinho que tem um risozinho (desculpa lá mãe mas é um riso estúpido) e que apesar de ganhar cerca de 12000 euros por mês, não olha para aqueles que em média ganham 500 euros por mês.

Enfim, qualquer dia convido o sr. Sócrates para correr comigo e com o meu amigo Alf, nas nossas habituais corridas de Sábado. Pode ser que tenhemos sorte e assim podemos aprender com o nosso "Políca", como lhe chama VPV, a sua visão para Portugal e para a sua visão do nosso Futuro.



Bem já dizia uma figura importante e infeliz da ASAE, (se não foi desta entidade que me perdoêm)que todas as leis eram para serem cumpridas e quem não as quisesse cumprir que imigrasse. Então aplicando ao meu caso vou mesmo imigrar, não por não cumprir as leis, mas por não querer viver num país governado pelo meu futuro colega de profissão (engenheiro-também quem tira um curso na Independente diz tudo!!!) sr. "Eng." José Socrates.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Temos cá muitos iguais a este

A verdade. Pura e dura

O vómito do Maradona

"Vergonha, vocês são uma vergonha"

Ao som de cânticos das claques sportinguistas, continuo com a minha depressão (e a que o jogo de ontem adicionou uma azia com sabor a choco frito) ao ler esta noticia:

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1316153&idCanal=12

Ao que parece o Convento que foi prisão durante um curto espaço de tempo foi agora vendido. Até aqui tudo bem. Vamos aos pormenores:

"Quando o Governo ali decidiu instalar uma cadeia para resolver o problema da sobrelotação das prisões, era então ministro da Justiça o socialista Vera Jardim, o edifício e os quase cinco hectares da propriedade foram reafectados por decreto ao Ministério da Justiça. Para efeitos da compensação financeira prevista na lei nestes casos, o conjunto foi avaliado em 800.000 contos (4 milhões de euros), valor que o Ministério da Justiça pagou ao Ministério da Defesa."

Um convento? as prisões estavam lotadas...aparentemente tudo servia na altura.
"No final de Maio do ano passado, semanas depois da extinção do estabelecimento prisional, o Convento de Brancanes e os terrenos envolventes foram vendidos pelo Estado à imobiliária Estamo, uma empresa de capitais exclusivamente públicos, para que esta procedesse à sua alienação. Nesse mesmo mês, ainda antes de se tornar proprietária, a Estamo requereu à Câmara de Setúbal que alterasse o Plano Director Municipal, por forma a que na antiga cadeia pudessem ser construídos 18.300 m2 de habitação e equipamentos hoteleiros ou de saúde."

Mudam-se os tempos, mudam-se as normas. O convento hoje já não reúne as "condições de habitabilidade que as actuais normas exigem". Curiosamente rapidamente o espaço transforma-se num alvo para novos empreendimentos imobiliários. Uma novidade em Portugal. Assim como alterações ao PDM. Setúbal também vale mais a pena.

"foram feitas dez propostas, sendo que a melhor foi a da firma Diraniproject III, com "cerca de 7 por cento acima do segundo classificado, pelo que a venda lhe foi adjudicada". O valor do negócio não foi revelado, nem a identidade dos outros concorrentes, mas a escritura de compra e venda celebrada em Novembro entre a Estamo e a adquirente, representada pelo seu administrador único, António Lamego, mostra que esta pagou 3,4 milhões de euros - um preço particularmente interessante para o caso de ali virem a ser autorizados os 18.300 m2 de construção pedidos à câmara."

Um bom negócio diria eu. Ficamos todos contentes pelo Estado perder mais de 800 mil euros. Recupera-se no tabaco, gasolina e na caça ao fisco. Diria eu.

"Por outro lado, a documentação do registo comercial evidencia que a Diranniproject III ainda não existia à data, anterior a 12 de Junho, em que foi apresentada a proposta que lhe permitiu ficar com o imóvel. A escritura da sua constituição foi celebrada apenas em 18 de Julho último, sendo que a totalidade do seu capital é detida pela Diraniproject SGPS, uma holding detida em 99,2 por cento por António Lamego e criada no mesmo dia."

É o simplex a funcionar! Num dia cria-se uma empresa! E compra-se um terrenozito! obrigado Simplex!

"Entre 2000 e 2005 este advogado foi sócio dos dirigentes socialistas Alberto Costa, António Vitorino e José Lamego (seu irmão) na sociedade de advogados criada por estes últimos em 1999 e dissolvida em 2005."

Aqui não preciso de comentar. A justiça e a corrupção confundem-se. E no país na West Coast vamos aos soluços para o fundo azul que preenche os cartazes por Lisboa. Salve-se se puder. "Só eu sei porque não fico em casa". Ou outra forma de dizer que apesar da vergonha, a luta continua. Com tranquilidade.

As coisas que me deprimem

Mais uma vez via blog do P. encontrei isto:



Que é um pequeno excerto do todo que pode ser encontrado aqui:

http://www.storyofstuff.com/

A abordagem é directa e bastante clara. Estamos a gastar e a usar mais do que temos. Somos levados a isso e nem nos apercebemos. Há uma sensanção de inutilidade perante o sistema. Nem aquele que escolhemos nos valem. Apesar de tudo o que já sabia, não pude deixar de me sentir deprimido.

Resta-nos a sugestão/proposta: get involved.

ps no mesmo tema do desenvolvimento e na aparente ideia do terceiro mundo recomendo a vista ao site http://www.gapminder.org/

domingo, 6 de janeiro de 2008

West Coast of Europe? Não havia necessidade, tsss, tsss


Gostava de partilhar aqui convosco um assunto que me tem vindo a causar uma crescente... comichão..., por assim dizer. Estou-me a referir à nova campanha nacional e internacional da marca Portugal.

Os primeiros artigos que li sobre esta campanha, antes do lançamento da mesma, deixaram-me com água na boca; davam a entender que desta é que era, tínhamos acertado no vinte, finalmente ía chegar um conceito global que verdadeiramente lança a imagem de Portugal lá fora e, consequentemente, cá dentro.

Talvez por ser designer, e estes assuntos me serem muito queridos, estava quase saltitante (de um pezinho para o outro) de ansiedade para conhecer a grande obra prima.

E eis que esta é apresentada ao público, os seus mistérios desvendados. E eu? Eu fiquei com um gosto muitíssimo amargo (quase bílis) na boca.

Eu não sei se sou demasiado conservadora, ou pouco erudita, ou as duas coisas, mas, aqui entre nós que ninguém nos ouve... o rei vai nú??? A alguém estas imagens traduzem o nosso país? Não ponho em causa o mérito dos "talentos" fotografados, longe disso, até fico muito feliz de ver que a maioria é jovem, e indiscutivelmente talentosa.

No entanto, estas fotos meio a atirar para o abstracto, retirando os traços das personalidades que representam, fazendo com que seja quase impossível identificá-las e com imagens sobrepostas, em tons de azul, a mim não me convencem!

E, se não estivesse a palavra Portugal lá pespegada, e eu tivesse de adivinhar qual o país em questão, acho que último que iria enumerar seria mesmo o nosso. A série de anúncios lembra-me mais, sei lá, a Islândia, a Finlândia ou outro país assim a atirar para um dos pólos. Alguém não prestou atenção nas aulas de teoria da cor.

Como se isto não bastasse, em vez de serem as imagens ou personalidades do país a vender, afinal não, era preciso acrescentar o nome do fotógrafo, obviamente estrangeiro, nos posters. Para Portugal estar na moda é preciso usar um fotógrafo das passerelles. Como já alguém dizia: Ó meus amigos... não havia necessidade!

Só um país sem confiança em si mesmo é que faz destas. Ainda por cima parece que uma singela semaninha foi tudo quanto bastou para o génio da fotografia preparar todo o material da campanha. E levar para casa um chorudo cheque de 700 mil euros! Devíamos era ter vergonha na cara...

A mim dá-me a sensação (se calhar é só azia) que esta campanha é apenas para minorias; minorias estrangeiras ou nacionais que até gostam e seguem o futebol, ou o fado... hum, assim de repente deu-me uma clara sensação de déjà vu. Ou então está a chamar de ignorantes aqueles que, depois de superada a prova de identificação, não reconhecem as caras. Julgo que um país que pretende receber cada vez mais turistas não devia deixar de fora uma maioria tão grande do público.

Se calhar sou mesmo eu que tenho as vistas curtas. Então se grandes cabeças pensadoras, de uma das mais prestiadas agências de publicidade da nossa praça, mais uns quantos ministros - que já se sabe andam curvados perante o peso da sua sabedoria - dizem que, isto sim, é que é Portugal, devo ser eu que ando a ver mal as coisas. Se calhar a operação à vista que fiz para corrigir a miopia e o astigmatismo não foi assim tão bem sucedida quanto isso.

Não é tanto o conceito que está em causa, e sobre esse se calhar ainda vão ter de me ouvir, mas sim a sua dúbia concretização.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008