segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Qual será a maior imbecilidade: a verdade em forma de clube de futebol ou em estilo de equação matemática?

Uma das mais insistentes características do discurso contemporâneo é justamente a tentativa de caracterizar insistentemente o que é o discurso contemporâneo, procurando para o efeito, cada respectivo pensador, em sua teia de análises identificadoras da contemporaneidade, destacar as formas de verdade mais adequadas a expressar o seu pensamento como se ele fosse a-histórico e pleno de subjectividade, não querendo o opinador, ai de nós, fixar qualquer espécie de conteúdo prosélito ou evagelizador, ai deles, mesmo que para o efeito seja preciso desdizer-se três vezes na mesma frase e dar três cambalhotas no alcatrão de um post mal amanhado. Retendo uma irresistível vontade de rir, gostaria apenas de proclamar duas verdades tão naturais como a água do Luso. a) Aqui, neste post que nos revela a multiplicidade esfíngica da realidade, procura desmontar-se uma alegada tentativa de naturalização da posição - sempre relativa, ai de nós - das ideias do Daniel Oliveira - como se todo o discurso não fosse sempre uma naturalização do pensamento. A única divergência entre os argumentos de Zé Neves e Daniel Oliveira assenta sobre um aspecto vagamente aparentado com as virtudes do amaciador - isto passando de lado o claríssimo fenómeno diferenciador que consiste no volume de crescimento do cabelo que brota do magestático crâneo que ambos possuem: enquanto Oliveira naturaliza com argumentos de classe D (sensacionalismo humanitário, ameaças escatológicas no domínio financeiro, juízos éticos carregados de maldições até à quarta geração) Zé Neves naturaliza com argumentos de classe C (desqualificação da forma, alusões metafóricas incompletas - bicicleta? -, cornucópias antitéticas entre objectividade e subjectividade). É verdade que existe uma superioridade relativa do nível C sobre o nível D, ou não fossem o homem do trapézio um dos momentos altos em qualquer alinhamento circense. Porém, não é suficiente para aplausos. Em síntese, continuo a preferir o cruzamento orangotango/jornalista de guerra (exercitado por Daniel Oliveira) ao registo intelectual com convicções/camaleão (recriado por Zé Neves).
b) Já ali - Avatares de um Desejo -, avulta, entre vários defeitos de forma, uma outra particular tendência do mundo contemporâneo: a recuperação romântico-revolucionária da posição de cada emissor de opiniões, a partir de uma identificação com os males (ai de nós) reconhecidamente atribuídos a D. Quixote de La Mancha. Neste caso, os comentadores da TVI (em serviço no épico-trágico "Os Belenenses" versus F. C. - pugilistas de túnel - do Porto) fazem o papel de salteadores que vêm uma vez mais perseguir com violências inauditas o cavaleiro Sena Martins, um indivíduo que está convencido de que o F.C. Porto é um clube de Futebol.
Em ambos os casos, continuo a preferir Jorge Luís Borges a Aníbal Cavaco Silva.

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