domingo, 6 de janeiro de 2008

West Coast of Europe? Não havia necessidade, tsss, tsss


Gostava de partilhar aqui convosco um assunto que me tem vindo a causar uma crescente... comichão..., por assim dizer. Estou-me a referir à nova campanha nacional e internacional da marca Portugal.

Os primeiros artigos que li sobre esta campanha, antes do lançamento da mesma, deixaram-me com água na boca; davam a entender que desta é que era, tínhamos acertado no vinte, finalmente ía chegar um conceito global que verdadeiramente lança a imagem de Portugal lá fora e, consequentemente, cá dentro.

Talvez por ser designer, e estes assuntos me serem muito queridos, estava quase saltitante (de um pezinho para o outro) de ansiedade para conhecer a grande obra prima.

E eis que esta é apresentada ao público, os seus mistérios desvendados. E eu? Eu fiquei com um gosto muitíssimo amargo (quase bílis) na boca.

Eu não sei se sou demasiado conservadora, ou pouco erudita, ou as duas coisas, mas, aqui entre nós que ninguém nos ouve... o rei vai nú??? A alguém estas imagens traduzem o nosso país? Não ponho em causa o mérito dos "talentos" fotografados, longe disso, até fico muito feliz de ver que a maioria é jovem, e indiscutivelmente talentosa.

No entanto, estas fotos meio a atirar para o abstracto, retirando os traços das personalidades que representam, fazendo com que seja quase impossível identificá-las e com imagens sobrepostas, em tons de azul, a mim não me convencem!

E, se não estivesse a palavra Portugal lá pespegada, e eu tivesse de adivinhar qual o país em questão, acho que último que iria enumerar seria mesmo o nosso. A série de anúncios lembra-me mais, sei lá, a Islândia, a Finlândia ou outro país assim a atirar para um dos pólos. Alguém não prestou atenção nas aulas de teoria da cor.

Como se isto não bastasse, em vez de serem as imagens ou personalidades do país a vender, afinal não, era preciso acrescentar o nome do fotógrafo, obviamente estrangeiro, nos posters. Para Portugal estar na moda é preciso usar um fotógrafo das passerelles. Como já alguém dizia: Ó meus amigos... não havia necessidade!

Só um país sem confiança em si mesmo é que faz destas. Ainda por cima parece que uma singela semaninha foi tudo quanto bastou para o génio da fotografia preparar todo o material da campanha. E levar para casa um chorudo cheque de 700 mil euros! Devíamos era ter vergonha na cara...

A mim dá-me a sensação (se calhar é só azia) que esta campanha é apenas para minorias; minorias estrangeiras ou nacionais que até gostam e seguem o futebol, ou o fado... hum, assim de repente deu-me uma clara sensação de déjà vu. Ou então está a chamar de ignorantes aqueles que, depois de superada a prova de identificação, não reconhecem as caras. Julgo que um país que pretende receber cada vez mais turistas não devia deixar de fora uma maioria tão grande do público.

Se calhar sou mesmo eu que tenho as vistas curtas. Então se grandes cabeças pensadoras, de uma das mais prestiadas agências de publicidade da nossa praça, mais uns quantos ministros - que já se sabe andam curvados perante o peso da sua sabedoria - dizem que, isto sim, é que é Portugal, devo ser eu que ando a ver mal as coisas. Se calhar a operação à vista que fiz para corrigir a miopia e o astigmatismo não foi assim tão bem sucedida quanto isso.

Não é tanto o conceito que está em causa, e sobre esse se calhar ainda vão ter de me ouvir, mas sim a sua dúbia concretização.

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