terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Eles sabem bem o que fazem, não sabem é o que poderiam antes fazer

Um dia Cícero terá dito que o dinheiro é o nervo da guerra. Richelieu, na boa esteira do classicismo francês, não se cansou de o repetir. Toda a revolução industrial, apesar das "robinsonadas económicas" foi suportada pela guerra no Atlântico. A bomba, como reducção dos custos de transacção, continua a ser a estratégia de mercado mais eficaz. Em 2007 foi publicado na Princeton University Press um estudo sobre a importância da guerra no desenvolvimento da economia-mundo. Há quem acuse estas leituras de simplismo. Que a guerra é muito complexa, que a cultura e tal... Pode ser que seja. Nós somos muito mais que o nosso estômago. Acontece que almoçamos todos os dias (e como não se cansa de repetir o Magister Neves: não há alomoços grátis. Tomamos o pequeno almoço, o lanche, o jantar, a ceia, andamos vestidos, compramos casas, discutimos a inflacção, sonhamos com o aumento, pensamos nas contas, negociamos o crédito. É verdade que vamos à missa, à música na Gulbenkian, ao futebol. Acontece que a tudo isso subjazem relações de força, traduzidas nas relações económicas. A competição faz o mercado. A competição última, decide-se pela força dos argumentos. O melhor argumento é sem dúvida a exterminação do adversário. A guerra impõe-se como necessidade oculta das nossas relações objectivas, enquanto a competição não for substituída por outras formas de relação. A gasolina que compramos, as relações de mercado das quais fazemos depender o equilíbrio político e a segurança, a flutuação dos preço dependem de relações de força, onde concorrem factores muito variados mas que, nas suas consequências últimas gerninam nas relaçoes de força. Neste sentido, os homens da guerra precisam de ser protegidos, para que zangadas as comadres não se saibam as verdades. Às tantas poderia ficar claro que é tudo mais simples do que parece e isso não seria benéfico para o comportamento das bolsas.

Daí que a vida política esteja sempre dividida entre dois planos: o plano das acções concretas, que é simples e deriva das relações sociais objectivas; e o plano das explicação das acções concretas, que é complexo e se relaciona com as motivações dessas relações sociais subjectivas. Ninguém, depois de Marx, sintetizou isto melhor do que Pessoa: "o único sentido oculto nas coisas é as coisas não terem sentido oculto nenhum"

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