segunda-feira, 29 de junho de 2009

Anti-americanismo secundário motivado por uma extrema admiração, quase amorosa, por Rosseau, um homem de boas maneiras

Raquel Vaz Pinto, Paula Moura Pinheiro e Soromenho Marques dançaram ontem uma contradança na rtp2. Entre os vários passos de belo efeito, gostei particularmente daquele em que se procurou definir o estilo geral do povo americano, exercício tão caro ao historicismo do século XIX e que os nossos liberais gostam de apresentar vestido à moda do último grito do pensamento analítico. E o que são os americanos, isto partindo do princípio de que os "americanos" são alguma coisa? Não sabem, mas distinguem, claramente, a ética e glorificação do trabalho, a responsabilidade individual e o pragmatismo político, uma espécie de sabedoria divina nos princípios de governo, no que se diferenciam dos europeus - líricos, utópicos, cavalgados por esse diabólica excrescência da história que se chama Jean-Jacques Rosseau. Deixem-me contar-vos uma história. Quanto o governo britânico das colónias americanas começou a cheirar a moscambilha, um rapazola chamado George Washington, filho de proprietários rurais da Virginia, zelador de imensos territórios, pelo menos desde 1748, foi encarregue de levar uma mensagem diplomática a um oficial francês, em 1752, pelo facto de estes terem ultrapassado o rio Ohio. Foi recebido com particular elegância, dado o carácter pacífico da sua missão, tratado com deferência e cortesia, bebendo bom vinho, alojado em óptimas instalações, dialogando com os oficiais do rei de França, que escutaram com atenção as suas razões, tendo, contudo, recusado o seu ultimato. Depois de regressar a Virgínia, passou a chefiar um pequeno Regimento que deveria expulsar os franceses do sul do Ohio, essas terras das grandes águas. Como fontes dessa missão existem hoje cartas do próprio Washington em que este relata um episódio que o terá marcado particularmente. No decurso dessa missão à frente de um Regimento, onde pontificavam tropas indígenas arregimentadas em negociações duvidosas, defrontaram-se com um contingente francês, também em missão diplomática. Ao contrário do tratamento cortês, o exército de Washington liquidou todo o grupo, sendo que foram os índios a tomar as despesas da operação, perpetrando, entre várias habilidades com faca, o escalpe do oficial francês que chefiava a missão. Depois de aberto o crâneo, o líder das tropas indígenas, sob o comando de Washington, apertou-o nas mãos, espremendo-o. É uma bela história, da qual não quero apresentar nenhuma conclusão. Em todo o caso, quando se trata de pensamento político seria desejável que Soromenho Marques e Raquel Vaz-Pinto limpassem os pés à entrada para não me sujarem o tapete da sala.

Sem comentários: