terça-feira, 30 de junho de 2009

Eles são cientistas. Eles são políticos. Eles são cientistas políticos.

Da Crónica de Miguel Monjardino no Expresso: «Na segunda-feira, o Centro de Tropas Comandos na Serra da Carregueira comemora o Dia dos Comandos e o Encerramento do 113º Curso de Comandos. Os Comandos são uns dos melhores símbolos da elite militar nacional. São também uma das unidades mais bem preparadas para defender os interesses nacionais no exterior em missões de guerra e de paz. 'A Sorte Protege os Audazes' é a sua divisa».
Estou desolado. Não vesti o meu camuflado, não oleei a minha J3, não revi os fabulosos textos de Jaime Neves sobre relações internacionais e a técnica de guerrilha, nem fui ver Monjardino marchar ao som da Portuguesa, nem jurei bandeira, nem enchi 44, nem gritei filhos da puta, nem perdi quatro dedos na guerra colonial, nem voltei para afogar a minha vida no alcool, nem fiquei encerrado entre as paredes xistosas de uma serra a vomitar a juventude que me foi roubada, nem repeti indefenidamente o medo ante o cheiro do capim, nem escutei as pás do helicoptero a varrer a planicie moçambicana, nem incendiei a minha casa porque já não controlo o que faço com os cigarros, nem ouvi o meu camarada a chamar pela mãe, nem engoli as lágrimas que me chamavam para a morte, nem fiquei atolhado de silêncio a interrogar fotografias sépia a amarelecer numa caixa, nem prometi nunca mais voltar, nem regressei ontem do mato a desejar uma bala, nem apertei a fotografia dela, nem me lembrei como era, juro que não lembrei como era porque estas coisas, sabes, estas coisas a gente esquece tão depressa, ou faz por esquecer.

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