sexta-feira, 19 de junho de 2009

Escola pública e publicação de protestos sobre o governo da escola: algumas notas e um profundo bocejo

Tendo passado pela escola, uma das coisas que não compreendo é a confusão entre a exigência na sala de aula e a avaliação dos alunos. Posso ser muito exigente e mesmo assim passar, no fim do ano, um aluno que, em teoria, não cumpriu os objectivos que, globalmente, estavam definidos para a disciplina. Nem tudo que se pode contar é importante e nem o que é importante se pode contar. O que é um 2? O que é um 8? Onde começam as falhas do aluno e findam as incapacidades do mestre? Não é ele, precisamente, o mestre? Normalmente, os professores que colocam a tónica na exigência - utilizando o chumbo ou a pretensa necessidade de fazer exames "exigentes" para elevar os conhecimentos - escondem-se nesses instrumentos como forma de fugir ao verdadeiro ponto complexo da educação: como convencer uma criança ou um adolescente sobre a importância do conhecimento sem o ameaçar com um teste dos seus conhecimentos. Por isso, se verifica a confusão que Paulo Guinote apresenta relativamente à sua crítica das ideias de Valter Lemos, sujeito que não conheço e em quem avalio o corte de cabelo muito negativamente. Diz Paulo Guinote ironizando sobre as ideias do empreiteiro da educação:
Um segundo ciclo de mais seis anos, em que as não-transições poderão acontecer, mas só depois de esgotados 23 impressos e um batalhão de ferramentas como os planos de recuperação (a estender até ao 12º ano), de modo a que qualquer aluno que saiba assinar o nome completo, distinguir o presente da Pré-História, um animal de um mineral e multiplicar com uma máquina de calcular, poderá ter acesso a um curso superior, bolonhizado claro está, e acabar em profissional de obra por fazer ou professor(zeco?) incapaz de pedir rigor e mérito a alguém, por ele próprio nunca o ter experimentado.
Mas este é o problema: 1) como garante Paulo Guinote que esta não é já a realidade de muitos dos professores que entraram no sistema democratizado, em nítida, e inevitável, queda de exigência depois de 1990? 2) se assim for, quem morre se os alunos apenas tiverem estas curtas ferramentas? Como disse outrora um Presidente da República que não prima pela exigência educatia, há que continuar a trabalhar. Não me digam que vão agora invocar o desenvolvimento económico ou a emancipação do cidadão, quando a escola é, como todos sabemos, o braço do Estado na manipulação intelectual da sociedade civil. Mais uma vez, isto explica-se com a teoria do naufrago no meio do oceano. Os professores, acossados por uma sociedade que lhes vai roendo a autoridade, precisamente porque a autoridade lhes vinha do prato onde agora cospem - o ME -, cerram fileiras quando talvez fosse mais útil optarem por uma visão integrada dos problemas públicas deixando de vez esse cancro das democracias - virus forjados pelos liberais no século XIX - que é precisamente uma "visão reflectida da educação" que não é mais do que um cadáver adiado que continua a procriar, depois da ruína do estado-nação.

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