terça-feira, 27 de novembro de 2007

You were always on my mind

Iniciamos hoje no blogue da Ermida um espaço chamado You were always on my mind. Esta momento de reflexão pretende divulgar a importante opinião (diria mesmo, em vários casos, uma fulgurante capacidade de leitura do real) de vários colunistas de reconhecido mérito e prestígio. Perante o contínuo silêncio que lhes é imposto pelas forças ocultas do materialismo, estes homens amordaçados pelos sindicatos e pelo conservadorismo marxista resistem denodadamente ao espírito do tempo.

Para combater esse silêncio analisaremos o conteúdo dessas opiniões glosando as afirmações mais esclarecidas. Deste modo estaremos a contribuir para aquilo que julgamos ser um autêntico breviário comentado do homem moderno, permitindo, em simultâneo, que o esquecimento não nos separe destas fontes de clarividência.

Hoje temos connosco o Magister César da Neves. Com a crónica “O trauma e o regresso da religião” é todo um mundo que se descodifica perante o nosso olhar. Pela mão do Magister a realidade não tem segredos, e vemos ermergir uma autêntica “aletheia” interpretativa em torno da verdade.

Oiçamos com atenção:

“Assiste-se à expansão aberta das devoções descafeinadas, sobretudo nas zonas de decadência cultural, como a Europa”.

Apenas alguns poucos seriam capazes de perceber que a Europa é uma região em decadência cultural. Aliás, há vários decénios que não se lê um jornal, não se assiste a um noticiário, não se frequenta uma conferência em que a palavra crise seja pronunciada. Querem esconder-nos esta preocupante realidade. Mas o Magister Neves aí está para a desmontar pronunciando com coragem a palavra decadência, mostrando que a Europa é um lugar em ruínas, abjecto nos seus comportamentos, decadente, mirrado, pífio, a bolsar infecções por todos os seus poros. Apenas por compaixão o Magister Neves não conclui a sua tarefa fazendo desfilar perante os olhos atónitos do leitor uma autêntica galeria de regiões onde a a cultura pulsa, vibrante e radiosa como o sol de verão: a américa latina e a sua fulgurante cultura política, assente sobre uma irrepreensível distribuição da riqueza e uma multplicação imparável da escolaridade; a américa do norte e o seu desenvolvimento inigualável, movido por um combate cego a favor do pacifismo e da abolição das armas; o médio oriente e os seus inegáveis contributos científicos – o cinto de explosivos e a burka; a ásia, meu deus a ásia com o seu oriental respeito pelo silêncio, onde emergem culturas plenas de vida, de chumbo e de gaiolas habitacionais com meio metro quadrado; em África nem é preciso falar. Sobre África, ó Europa da vergonha, apenas uma palavra: catana.

“A juventude naturalmente não pode existir sem uma fé. Os que a assumem, vivem equilibrados; os outros são explorados por interesses sedutores. O rock e o metal, por exemplo, apresentam-se cada vez mais como avassaladoras galáxias de doutrinas metafísicas, com santuários, paramentos, liturgias e penitências. Os novos profetas organizam-se em bandas e a visita semanal à discoteca substitui para muitos a missa. O êxtase dos concertos imita as antigas apoteoses dionisíacas.”

Ó meu deus, como acompanhar tanta sapiência. “A juventude naturalmente não pode existir sem fé”. Sobre isto não compreendo e por isso não vou falar. Mas naturalmente que aqueles que assumem a fé decerto são equilibrados, de outro modo para quê assumir a fé? Ou alguém está por acaso a sugerir que a fé é uma forma de colmatar um forte desiquilíbrio em torno de uma incapacidade, tão humana, de não fazer silêncio perante aquilo que não compreende? Acho bem que o leitor não venha com progressismos iluministas ultrapassados e decadentistas. No que diz respeito ao rock e ao metal como galáxias de doutrinas metafísicas (uma bela expressão) acho que o Magister põe o dedo na ferida. Quando estabelece uma analogia entre a missa e a discoteca é como se uma luz brilhasse de repente na escuridão existencial dos séculos humanos. Isto porque há muito que me preocupava o facto de sair sempre da missa com um cansaço de quem está há três horas aos saltos, além do cérebro inebriado por uma espécie de repetição insurdecedora.

“Até a letra de muitas canções lembra o Livro dos Salmos. Nominalmente tratam do prazer, mas só ganham sentido como orações. Frases como "não posso viver sem ti" ou "amar- -te-ei para sempre" são incompreensíveis se dirigidas à amada; mas referidas a Deus, tornam-se plausíveis e razoáveis. Até o Papa pode rezar, quase sem mudar uma vírgula, com as nossas canções, da velhinha Always on my Mind (1972) de Elvis Presley até a I Do It For You (1993) de Bryan Adams.”

Agora ó incrédulos e materialistas façam silêncio perante as trompas da verdade. Magister não podemos viver sem ti. Esta ideia do Papa a rezar ao som de Elvis parece-me talvez o momento que inaugura este século XXI em termo de capacidade hermenêutica. Pet Shop Boys ao altar e já.

“São os meios anticlericais que mostram bem como a religião ultrapassa o campo da religião. O cepticismo militante mostrou ser a fé do avesso. O fervor beato dos ateísmos, jacobino ou marxista, o dogma inabalável do cientifismo panteísta ou a mística apocalíptica dos movimentos ecológicos e naturistas, contêm todos os elementos das igrejas tradicionais. Os pregadores inflamados estão hoje não nos púlpitos mas em comícios esquerdistas e revistas radicais”.

Em relação a este princípio de leitura é copiar para o caderno, acreditando que talvez um dia eu esteja à altura de o entender. Por agora resta-me unir as duas mãos e agradecer.

“Para compreender o trauma e o regresso à fé múltipla de Atenas, é preciso considerar a História recente. Ela começa no choque original da cultura moderna, as guerras da Reforma. Nessa época, em que detalhes teológicos se tornavam pretextos nos campos de batalha, as pessoas pacíficas não podiam falar de fé, sob pena de combaterem os vizinhos. Foi um tempo terrível! A razão por que os nossos intelectuais não percebem a religião, e só pensam em violência quando falam dela, vem da miopia imposta por esta obsessão. Este é o trauma.”

Não percebi. Repete uma outra vez Magister.

“Para compreender o trauma e o regresso à fé múltipla de Atenas, é preciso considerar a História recente. Ela começa no choque original da cultura moderna, as guerras da Reforma. Nessa época, em que detalhes teológicos se tornavam pretextos nos campos de batalha, as pessoas pacíficas não podiam falar de fé, sob pena de combaterem os vizinhos. Foi um tempo terrível! A razão por que os nossos intelectuais não percebem a religião, e só pensam em violência quando falam dela, vem da miopia imposta por esta obsessão. Este é o trauma.”

Ahhh, agora sim. Como ficámos traumatizados pelas guerras da reforma não conseguimos separar a religão da batatada renascentista. De maneira que as guerras de religião foram um pretexto para outras convulsões, mais estruturais, alimentadas por forças subterrâneas que fizeram depois pagar a factura aos deprotegidos credos das religiões, instrumentalizando a fé. Mas ó Magister isto cheira-me a materialismo. Se a religião não foi o verdadeiro motor da guerra, então qual foi? Não venha o leitor com a economia que saco já aqui da minha nossa senhora de fátima florescente.


“Perdidas as raízes culturais, apareceram duas soluções. O iluminismo do século XVIII julgou responder com a religião natural, sem padres nem igrejas. E acabou na guilhotina. O positivismo do século XIX fez do homem armado com a ciência o único deus, e Marx, Freud, Sartre, os seus profetas. Com o Holocausto, a bomba e o gulag, ele revelou-se o pior dos ídolos.”

De lágrimas nos olhos apetecia-me cantar uma canção do Frei Hermano enquanto lia o livro de Aura Miguel Porque viajas tanto, tal é a comoção que este desmontar da mentira e da perversão provoca no meu enganado coração. Perdidas as raízes culturais…Precisamente. Ou seja, acabado esse exercício de cultura que era a osmose combinatória (bela expressão de Manuel João Vieira) entre religião e poder foi o fim da cultura na Europa. Morto S. Inácio de Loyola e o Papa Leão X nunca mais a Europa assistiu a uma frase inteligente. Desde então vivemos na mais profunda escuridão. O iluminismo acabou na guilhotina. Nem mais ó Magister, nem mais. Até que enfim alguém diz uma verdade a esses ilumnistas. Virem para aqui com iluminações quando a o rebanho estava no escurinho a rezar o terço e a pedir para o pão chegar para o jantar. Olha os malandros.

Que mais Magister, que mais?

“Estas duas soluções, muito sedutoras, omitem a verdade mais evidente. A natureza e o homem não são deus, não se criam a si mesmos nem controlam o mundo à sua volta. Ou Alguém faz isso, ou então a vida e a realidade não têm finalidade e sentido.”

É preciso dizê-lo com clareza novamente. “A natureza e o homem não são deus, não se criam a si mesmo nem controlam o mundo à sua volta”. Exacto. Quem controla o mundo, enquanto Deus está de férias em Porto Galinhas, é o Sapo Cocas que ainda ontem lhe fiz uma prece para o jogo de quarta-feira na Luz. - Sapo Cocas, escuta-me com atenção que tu estás sempre no meu coração, quando o Petit chutar a bola para a bancada por favor suspende as leis da gravidade e faz com o que o esférico entre na baliza do Dida.


“Foi assim que o ateísmo, sem conseguir fundamento intelectual sólido ou resposta às questões humanas, se revelou uma crença arbitrária. Hoje, após a angústia da Reforma, o terror da Revolução e a perplexidade da guerra global, somos de novo, em tudo, os mais religiosos dos homens.”

Precisamente. “Fundamento intelectual sólido” têm os milagres de Fátimas a que o Magister já dedicou centenas de páginas. É uma pena que as pessoas continuem a ignorar esse facto. E quando assim é, como dizem os futebolistas, não é de admirar que a europa esteja em decadência.

“Só falta ouvir o que Paulo tem a dizer”.

Tentámos trazer aqui um testemunho de Paulo mas não estava disponível uma vez que amanhã se desloca ao comício da Al Qaeda, a convite de Bin laden, para uma conferência intitulada “Do apedrejamento de cristãos à diáspora do disparate: como contribuir para a morte de pessoas e sair por cima”. Não podemos ouvir Paulo, ó Magister, mas dedico-te esta canção do Marco Paulo:

Niguém, ninguém, poderá mudar o mundo
Ninguém, ninguém é mais forte que o amor
Niguém
Niguém

1 comentário:

Vitor Correia disse...

Tudo isto está muito certo; mas gostaria de acrescentar algo acerca da pessoa de JCN:
- é inteligente
- tem sentido de humor
- é um excelente economista (um bocado para o reaccionarote e beato até dizer chega; só que, em ambas as coisas, está no seu direito)

Diz disparates? Todos nós o fazemos, uma vez por outra. O problema é que a nossa comunicação social lhe dá uma visibilidade exagerada, deixando-o à solta a comunicar os seus estados de alma (que, em termos sociais, não interessam pevide) em vez de o coagir a só falar do que sabe, que é Economia.

Esta reverência da nossa dita comunicação dita social para com determinadas personalidades é que me incomoda. Lembro-me sempre do "só sábios éramos não sei quantos...", CS obviamente incluída.