domingo, 26 de outubro de 2014

Com toda a sinceridade que é possível reunir nesta hora de aflição, o verme que sou pretende endereçar encarecidas desculpas e abraçar José Luís Peixoto, lá nas alturas onde se encontre.

Estando nós a verter dos nossos lábios ressequidos o líquido viscoso típico dos pigmeus morais, tanto por sermos recalcados enquanto pessoas odiosas, como por nisso continuarmos por inclinação e vocação, eis que uma simpática leitora oriunda da terra onde reina a Ordem e o Progresso (parabéns Dilma) veio apimentar a nossa trágica existência com uma retumbante e legítima acusação de recalque, ainda a propósito do texto mais lamentavelmente lido (de acordo com as diabólicas estatísticas) nesta nossa singela publicação O Elogio da Derrota, a saber, uma merdola qualquer e sem interesse nenhum a propósito de uma crónica do imortal José Luís Peixoto, merdola que eu próprio, num triste momento da minha vincada e original estupidez, dei a lume com tremenda frustração diante do Carnaval de parvoíces que me caracteriza, de onde gostaria de salientar, entre numerosos exemplos aqui passíveis de serem aduzidos, a minha contumaz mania de fazer do mundo um lugar melhor para todos, a começar por todos e cada um dos leitores de José Luís Peixoto, deus os ajude.

Porém, volvidos dois anos, e sendo o referido texto satírico por mim redigido, uma retumbante merda, não posso deixar de o apresentar aqui como prova da minha existência como ser vivo, e testemunho da luta sem quartel a que me entreguei nestes últimos anos, ficando este texto para a posteridade, como uma de várias dolorosas cicatrizes nesta minha ascensão ao Olimpo, não estando o referido monte dos deuses sequer à vista (Olimpo onde, segundo reza a lenda, passeiam gajas nuas de aljavas penduradas nos apetitosos flancos, mas também paneleiros, é preciso ter cuidado). Contudo, porém, e sem esquecer que no entanto, nada me impedirá de prosseguir nesta vitoriosa senda em busca de qualquer coisa melhor do que esta hora em que nos encontramos, precisamente, as 17 horas e 18 minutos de uma tarde onde é imperioso derrotar o Braga de Sérgio Conceição.

A referida prosa:

 Notícia de última hora: José Luís Peixoto explica ...

O comentário da simpática leitora Lena:

Nossa! Seu "recalque" é de doer as vistas... Como diria uma "pensadora contemporânea" brasileira, "beijinho no ombro para o recalque passar longe!". 

Lembro, contudo, aos ilustres leitores aqui trazidos por qualquer irónica curva do nosso sistema político-digital, que neste tenebroso e húmido lugar, como o próprio título indica, trata-se de elogiar a derrota, o recalque, o falhanço, a impotência, a falta de mulheres, a escassez de dinheiro, a ressaca, os golos falhados por Lima (avançado do Benfica), as noites em branco, o ranger dos dentes, o morder da almofada, o espremer da bílis, o ressentir da inveja, enfim, todas as patologias psicológicas de que o leitor, como filho (ou filha, ou filha, não esquecer) da nossa bendita medicalizada civilização, for capaz de convocar neste momento de aflição da história da cultura ocidental. Na verdade, para celebrações do génio, temos inúmeras instituições, nomeadamente, as pessoas espectaculares, o que não é, manifestamente, o meu caso, pois tenho bilhete comprado no comboio das doenças mentais, e com muito gosto, o amor de Cristo nos uniu, saudai-vos na paz de Cristo.

Apesar destes excitantes momentos de tensão quero parabenizar a simpática Lena pela sagacidade espiritual e agradecer o beijinho no ombro, tão necessitado estou de carinho neste já longo mês de Outubro, aflito com o destino da minha vida, esmagado com as previsões da minha consciência, derrotado pelos raciocínios do meu cérebro, enjoado pelos espasmos do meu sistema nervoso, inquieto pelas deambulações do meu pessimismo, queimado pelos incêndios da minha imaginação. A todos os leitores e leitoras de todo o nosso belo mundo, do Atlântico ao Pacífico, passando pelos recifes de coral e as neves eternas dos Himalaias, o meu muito obrigado por continuarem a ler O Elogio da Derrota, este imperdível bastião na luta contra tudo e todos, incluindo eu próprio.


1 comentário:

Cuca, a Pirata disse...

Bilhete comprado no combóio das doenças mentais é uma metáfora tão boa, tão boa mas tão boa, que vou rouba-la todas as vezes que puder.