sexta-feira, 22 de março de 2013

O Papa Francisco vai levitar amanhã na Praça de S. Pedro mantendo em rotação três jarras da China (dinastia Ming) a discografia completa dos Beatles, enquanto equilibra com a boca uma vassoura com cabo de pinho, mantendo ainda, em perfeito balanço sub-determinado, uma pilha (com as obras completas de Inacio Larrañaga) na ponta da referida vassoura.

A imprensa internacional está a recomendar calma a toda a humanidade pois o juízo final está próximo e vai mesmo concretizar-se para escândalo de todos os malandros que não frequentaram a catequese ou que pelo menos, tendo-a frequentado, ousam reconduzir o Papa às catacumbas da história e do esquecimento, lugar onde há já muito devia estar. Agora que o mundo se prepara para entrar na sua derradeira etapa de retrocesso mental e imperialismo religioso triunfante, e a malta começa a posicionar-se em relação aos pecados materialistas forjados pelas revoluções burguesas, Voltaire, Rosseau, todos os comunistas, e claro, os famigerados sindicalistas de Saltillo, Fernando Chalana e Carlos Manuel, e outras forças maçonicas, entregando-se toda a opinião pública, com raríssimas excepções, a essa disciplina magnífica que dá pelo nome de Soteriologia, livrai-no Senhor. A Igreja descobriu, o Senhor seja louvado, as maravilhas da consistência lógica e pretende agora ensinar a todas as pessoas de bem a probidade dos ensinamentos de Pedro, livrai-nos Senhor, a pertinência de toda a escatologia conciliar, as purgas republicanas a cargo de catedrais relapsos de pirilau levantado para tudo quanto era cortesã italiana renascentista, e não nos livrai disto Senhor, embora seja disto que sempre nos livrais, devo, contudo, relembrar que Santo Agostinho foi um claríssimo adepto dos serviços de prostituição norte-africana, apreciador de vinho verde, literalmente falando e até cansar, agora sim, livrai-nos Senhor, pelo que para nós sobraram as peixeiradas metafísicas do Bispo de Hipona e de todos os Concílios, incluindo as tremendas e extraordinamriamente úteis discussões da escola de Bizâncio, isto antes do cisma, claro, e dos infinitos debates sobre as propriedades energéticas (sic) de Deus, isto antes dos Turcos rebentarem aquela cena toda, tranformando Constantinopla numa ode à boçalidade intelectual, livrai-nos Senhor, para não falar dos camiões de páginas escolásticas com a pertinente discussão em torno da concepção virginal de Maria, dado que a mesma, sendo virgem, jovem mulher segundo a terminologia grega, parece que nunca coiso e tal, embora se diga à boca cheia (grande escultor de provérbios, o povo) nos mentideros que eventualmente um soldado romano, o que em nada belisca, antes pelo contrário, a atitude digna de um José, o carpinteiro, a única figura neo-testamentária que se aproveita, trabalha, fala pouco, está onde tem de estar, abandona o local quando todos se preparam para mergulhar no mais triste sentimentalismo, sempre discreto, é homem do seu copinho de vinho, mas sem exageros, livrai-nos Senhor.
 
 
Os vários níveis de dor acumulada necessários à ultrapassagem dos círculos do inferno a caminho da salvação, defendidos em várias obras de relevo na história do conforto humano, de Santa Teresa de Ávila, a alumbrada, até Santa Teresa do Menino Jesus, a francesa que endoideceu com jejuns e falta de posta mirandesa, bem como muitas outras preciosidades do museu intelectual do Vaticano, Santa Maria Madalena, rogai por nós, não foram exercícios votados à insignificância e nesta hora de aperto para as inteligências, sabemos que não foi pois em vão que durante mais de dois mil e tal anos, alguns dias e uns quantos segundos, a Igreja laborou na conservação das coisas tal como têm de ser, contribuindo para a continuação do mundo tal como tinha sido, orando pela permanência da natureza do ponto de vista das rochas que não se movem, ou movem, para a desintegração, mas muito, muito devagarinho. Com efeito, é preciso que neste momento de jubilosa esperança nunca perder de vista o esforço continuado, meticuloso, rendilhado, ornamentado com a espada da fé e o báculo da razão, todo um caminho na obtenção de cenários apropriados a mortalidades infantis da ordem dos 1000 bebés reduzidos a anjinhos por segundo, um raciocínio espiritual sobre o qual está erigido a cátedra do pescador de homens, o que quer que isso seja (mas faz-me lembrar o Jorge Mendes) e negador profissional (o galo cantou três vezes) havendo até professores de economia de Universidades portuguesas defendendo, com toda a propriedade, que foram os monges que inventaram a contabilidade, e por consequência lógica, terão os mesmo monges de ter inventado, muito naturalmente, entre ovos, açúcar e cerveja, o capitalismo, beato Nuno de Santa Maria, rogai por nós.
 
 
É pois com a tranquilidade primaveril que nos assiste esta novidade para as dores do mundo, Sua Santidade o Papa Francisco, argentino que se prepara para não reforçar os quadros do Benfica (não se pode ser completamente perfeito) mas também e sobretudo para forjar finalmente o homem novo, aquele que atravessa, desde os séculos dos séculos, a pé enxuto, o mar entre o Egipto e a terra prometida (onde hoje o portentoso Hugo Almeida assinou mais uma olímpica exibição). O Papa Francisco, para além da resolução de todas as nossas dúvidas existenciais (não, não existe morte depois da morte, e sim, o Jorge Jesus vai renovar pelo Benfica) prepara-se para devolver ao mundo a esperança, a cura dos paralíticos, a erradicação da droga, o fim da especulação imobiliária, a exterminação das micoses nos balnerários distritais, a redenção dos cativos, o problema das formigas nos parques de merendas, a salvação dos desorientados, sem falar do controlo das dívidas soberanas, da escalada dos juros, da neutralização das máfias russas, da manutenação das redes dos nossos telefones móveis que nos garantem o contatacto com as mães, nossas mulheres, dos nossos filhos e da descoberta da vacina contra a malária. Entretanto, nas horas vagas, o Papa francisco terá desenvolvido também um sistema de esmolas on-line para financiar um nova ordem religiosa especialmente dedicada a perseguir os víruas informáticos responsáveis por uma pequena parte, mas não negligenciável, do desemprego, o que como é sabido está na origem da fome, e por consequência, da violência nos países muçulmanos, o que já terá dado matéria sobra para romances de José Rodrigues dos Santos pelo menos até à sua quarta geração de descendentes, S. Inácio de Antioquia, rogai por nós.
 
 
Está também  a ser noticiado que o Papa Francisco tem um outro plano para acabar com toda a fome mundial e que consiste em distribuir senhas pela Caritas de Roma, a fim de que os pobres possam comparecer no Santíssimo Sacramento da Eucaristia na Basílica de S. Pedro. Há até quem assegure ter visto o Papa Francisco, o Secretário de Estado do Vaticano e o porta-voz do Papa, munidos de um maçarico, um pé de cabra e vários alguidares de latão, movendo-se silenciosamente dentro da Capela Sistina, a fim de descolarem a obra prima de Miguel Ângelo para recortar, almofadar e produzir em série cobertores para distribuir aos sem-abrigo latino-americanos de Nova Iorque, para além de um processo de fundição de todos os elementos escultóricos trabalhados em ouro, nas Igrejas de todo o mundo, o que segundo as fontes mais ambiciosas poderá encher até dois mil e quinhentos milhões de baldes num valor total de cerca de um terço dos pobres da cidade do México, Roberto Bolaño, rogai por nós. No entanto, a notícia não foi confirmada e segundo assegurou Paulo Futre, o verdadeiro plano é fazer vir «chartéres» de africanos e asiáticos de países deprimidos, recebendo-os em Roma, e montando-se, subito, um mega-acampamento de refugiados, indo do Coliseu até Messina, incluindo o estreito, e as ondas azul profundo dos arredores da Ilha de Lampedusa, onde segundo consta, os mesmos africanos se têm antecipado a naufragar, morrendo como sardinhas caindo de barcos do tamanho de uma casca de noz, tal é a vontade de fugir e abandonar o mais rapidamente possível essa descristianizada Europa das Luzes, S. Marquês de Sade, rogai por nós.
 
 
 
Large jacket version

 
 
Culture and literature series featuring a different Scottish writer each week. In this episode author Sir Steven Runciman remembers his childhood as the son of a Cabinet Minister with aspirations to be a thief, his many travels, and his joy in keeping a diary.

2 comentários:

Tolan disse...

*clap clap* ganda'alf (soa a Gandalf, do senhor dos anéis, um livro e um filme que provavelmente não conheces)

ngoncalves disse...

Moço, eu não me estava a referir a ti em lado nenhum e os esclarecimentos seguem dentro de momentos.

O actual Papa é-me, por enquanto, indiferente porque tal como afirmei, ninguém deixa de ir à missa por causa do Papa.

Um pequena correcção, Santo Agostinho foi putas e vinho tinto. Acho que o clima do norte d'Africa não é bom para o vinho verde.

O fundador dos Dominicanos, esse sim deve ter apanhado bastantes carraspanas à conta do vinho verde.