quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

São 3:08 mas está tudo bem.

Este conjunto de belas confissões melancolicamente desconexas suscitou-me uma tendência para a divagação metafísica de baixo alcance, movimento psicológico muito comum em personalidades anestesiadas pelo sofrimento - como é o meu caso - e que tenho tentado reprimir desde que vi, há cerca de duas horas e alguns minutos, uma fotografia da primeira página do Público do dia de amanhã, perdão, de hoje, em que alegadamente se entrevistam pensadores assustados com o facto de a bondade, alegadamente, ter deixado de salvar as pessoas. Não sei se a bondade foi eventualmente substituída por ambulâncias do INEM ou equipas de Bombeiros Voluntários, ou judeus filhos de carpinteiros, todos eles, em qualquer dos casos, espero que devidamente assalariados, uma vez que as pessoas não são números, mas em todo o caso, estou em dúvida acerca do tempo em que, alegadamente, no passado, a bondade terá salvo petroleiros carregadinhos de pessoas. Parece incompreensível, mas existe uma tendência para o nascimento de indivíduos que gostam de manifestar repetidamente a sua desistência perante a complexidade das coisas e não serei eu a negar a complexidade inerente ao conflito de interpretações desta cena a que chamamos o mundo, embora Fernando António Nogueira Pessoa (uma pessoa nascida neste planeta, pelo menos alegadamente, e com sérias dúvidas sobre os méritos de uma carreira literária assalariada mas ironicamente considerado o maior vulto literário do século XX português) tenha sublinhado por diversas vezes a linearidade do real, em particular naquela imortal frase escrita por Álvaro de Campos, onde se pergunta «então a merda da imprensa portuguesa é que é a merda da imprensa portuguesa?»
 
 
No que me diz respeito, considero todas as coisas bastante simples e vou agora confessar um dos meus secretos testes para avaliar a inteligência de um escritor publicado. Espero por aquele momento em que o dito escritor sente a mordidela felina da tentação, e vejo como resiste  ao uso do mais velho, medíocre, falacioso, inconsistente e estúpido argumento filosófico, que consiste em achar e defender que a passagem do tempo, por significar inexoravelmente a decadência do corpo e mente do observador, transporta uma decadência das sociedades, do moral, das civilizações, dos usos da língua, da ortografia, meu deus, quem sabe da própria natureza humana. Não vou aqui esboçar um argumento de tipo clássico e liberal, usando o meu ponto de vista da realidade como um retrato perfeito da natureza, e por isso, associando vitalidade natural com ausência de juízo moral ou político. Mas não posso deixar de sorrir perante as consciências que acham importante revelar aos outros que algures num passado mítico, a bondade - o que quer que isso seja - salvou as pessoas. Sem dúvida, se há coisa que podemos afirmar com segurança, é o facto de o intelectual contemporâneo ter feito da diabolização da máquina o seu derradeiro canto do cisne, incapaz de entender que importa tanto o seu juízo sobre a imoralidade da computação - que é a marca gloriosa da nossa irrepetível juventude -, quanto um cão que ladra diante de um comboio em alta velocidade.

16 comentários:

Anónimo disse...

essa merda da bondade... as pessoas olham para a bondade como olham para a evolução, como se fosse uma linha recta. a esmagadora maioria das pessoas, mesmo as mais bem educadas, as mais pensadoras e intelectuais, não tem vergonha nenhuma em pensar no homem como o pináculo da evolução, o animal mais bem adaptado. logo, à medida que "evoluímos" ou "progredimos", e evoluir e progredir neste contexto não é mais que construir merdas que sirvam de apêndices aos nossos sentidos, então, a bondade devia progredir também e devíamos ser cada vez mais bondosos, democratas e pacíficos. estas pessoas depois têm um choque do caralho quando se apercebem de que somos umas bestas de merda, chimpanzés frustrados, angustiados e (cada vez mais) depilados. e que a bondade.. o que é a bondade? o que é a maldade? sabemos todos mais ou menos o que é a paz, o medo, etc. e tal, o tesão sabemos bem, a liberdade fingimos que sabemos e gostamos, e prontos pá. bute lá escrever ensaios sobre as merdas porque somos pensadores.

enfim, tirando isto até que vai tudo nos conformes.

até podia falar mais sobre a temática das linhas rectas, mas não me apetece. penso que estes dois posts ainda não são bem aquilo que queres dizer, tás a ressacar da passagem de ano. mas espero por um daqueles bué de bons. por exemplo, leste a lista de livros de 2012 do ipsilon? lê e escreve sobre. estamos esperando.

F. disse...

Este post fez-me lembrar o filme do Woody "Midnight in Paris". Estamos tão inseridos em nós mesmos (como sempre foi seja no passado que quiserem) que não nos apercebemos da beleza dos tempos actuais. Cada era, cada nova geração trás e algo de novo e de sublime bem como alguma desgraça. Já dizia o outro que nada se perde e tudo se transforma e essas personagens para quem a bondade aparece como um animal perdido normalmente são as primeiras a não aplicar aquilo sobre o qual gostam de falar. Muito típico e pouco me leva a ficar espantada.

Porém, enquanto existirem alfs e outras almas que tais, o mundo está bem e continuará bem. A bondade e a beleza da vida está presente no interior de cada um e eu não sei quanto ao resto mas no meu mundo interior, este é o melhor dos mundos possíveis.

Tolan disse...

Não há coisa que eu mais abomine que esse tipo de raciocínio da decadência... então quando é aplicado aos jovens, é coisa para me fazer vomitar. No outro dia o Henrique Raposo veio com uma merda dessas no expresso, um discurso completamente imbecil a dizer que hoje caminhamos para a ditadura do politicamente correcto por causa da Internet e das petições etc. É do caralho.

Anónimo disse...

essa merda da decadência..

os velhos sentem sempre inveja dos novos. faz parte da coisa geral. nada a dizer sobre isso. o problema é quando se confunde tudo. quando novos e velhos são a mesma coisa, e são os novos a sentir inveja dos velhos. assim subverte-se a lógica da coisa. o exemplo do henrique raposo é disso prova. um gajo novo que sente profunda inveja dos velhos porque acha que os novos (categoria de que ele faz parte) estão a estragar tudo e que os velhos é que faziam bem, antigamente é que era. que burro. henrique raposo não é velho nem é novo, é apenas decadente.

F. disse...

Peço permissão para utilizar o termo decadente durante este próximo mês como forma de categorizar mentecaptos. Este blog tem essa forma especial de me deixar feliz com os mais pequenos detalhes.

Constanza Muirin disse...

Fantástico post.
Queria só dizer que, com o Prémio Nobel da Literatura (e não querendo ferir susceptibilidades), o caso é o mesmo. Só ganham aqueles que estão politicamente envolvidos com esta merda da bondade ou da maldade ou do raio que o partisse. Ganharem o prémio livros desvinculados da ciência política ou do ser engagé ou do suposto ensaio sobre a condição humana e a guerra tá quieto.
Bom ano

silvia disse...

Meninos,
A bondade não é uma merda :) é a finalidade suprema:) mesmo sabendo que o caminho está cheio de armadilhas e o mais natural é acabarmos crucificados como o outro:)

Não desistir ,resistir , ter a coragem de assumir que não somos nada e ao mesmo tempo podemos ser tudo, é lindo.Só precisamos de Força para lutar:) e um coração grande para amar:)

já estou como o anónimo lá de cima, perdi-me:)

Ah! já sei :)

ainda agora a caminho de casa atravessei o jardim onde uns miudos de uma escola estavam a fazer uma corrida com o prof. na meta :) o que vinha em último estava quase a parar )Bastou-me gritar :Não desistas :)) FORÇA :)) e lá o miudo acelarou o passo ...
heheheh gostei de ver que basta por vezes tão pouco para animarmos os outros será, isso bondade ? não sei o que foi :) mas estava um senhor de idade sentado no banco que ouviu e sorriu para mim, foi um momento feliz:)

Concordo com o Capitão Paddock , nos tempos que correm ser anónimo é um luxo:)

O mundo está de pernas para o ar e qualquer dia ninguém vai querer ganhar prémios :)

By the way Cap. Não tenhas medo :)

Unknown disse...

ah, ah
o alf a paççar a mão pelo pelo das bolas, de golfe, do Capt. e a chutar a ignomínia (a escrever caro comó caralho) a ignomínia da posta anterior (ou como diria o alf quando quer paççar por grande literato, da anterior posta)
o peor, que os topa ao longe, nunca te gramou
e por causa...

Unknown disse...

já agora, LOL, o fernando pessoa é, na parte em que não é o antónio aleixo dos pretensiosos, bom demais para andar com ele para aqui às reboletas
respeito pelos grandes, caralho

alma disse...

AM,
roubaram-lhe o nick ?!
se sim, compreendo :)
se não, há qualquer coisa que não está bem.

alma disse...

AM,
Não o sabia tão apreciador dos gatos fedorentos.

uma vez estava sentada no aeroporto e nas minhas costas vi que se juntavam montes de miudos a pedir autografos a um gajito :) olhei e não fazia a minima ideia de quem era. O gajito* parecia simpatico enquanto a mulher olhava para os miudos com cara enfastiada (tipico em mulheres de pouca educação que querem dar um ar chic)
virei-me para a frente e vejo um rapagão de cor com uns óculos escuros supersónicos a sorrir era um futebolista a viajar incógnito estava a sorrir com o humor digno de o seu valor e de os miudos não o saberem ali heheheheh
isto tudo para dizer que o mundo está a levar gato por lebre e nem se apercebe.

*o gajito era o tal R.A.P

** Se o tal R-A.P tivesse a graça da educação já teria feito o que qualquer pessoa educada faria, por sua livre vontade abdicaria neste momento das somas com que se abotoa.
Seria o 1ºa dar o exemplo.

pr disse...

A máscara veneziana que vos aparece ao espelho todos os dias pela manhã é inveja.
mas contetai-vos, não é de Ovar

Izzy disse...

OMFG quero la saber da bondade, onde eh que estao as fotos pornograficas do RAP?

Anónimo disse...

já agora, falar mal do RAP tá na moda? ficam muito chateados comigo se disse que gosto do gajo?

silvia disse...

último anónimo :)
ficamos :)))

Anónimo disse...

pr,

que a máscara veneziana possua dois orifícios equidistantes ao relevo do nariz, constituirá certamente para si abismal desgosto.