terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Retaliação em forma de elogio.

Se há coisa que se aprende no convívio com os outros é a violência. Sabemos que é um lugar comum assinalar a maior sensibilidade às críticas e o desprezo injusto pelos elogios. Podemos escrever mil páginas de conselhos técnicos sobre como escrever: maldizer os advérbios, a utilização de adversativas, a disposição gráfica, a arquitectura formal das orações, a subordinação à forma, a subordinação ao conteúdo, o abuso dos traços, a inconsistência das vírgulas. Pode ser o estilo, a economia de espaço, a travagem da personalidade, o domínio dos instintos, o rigor do argumento e a escassez de conhecimentos químicos essenciais para misturar dois significados opostos, e obter uma solução purificada que ilumine as imagens previamente esculpidas na mente do leitor. Pode ser ainda toda a tecnologia da atenção e da necessidade que há em captar os outros para o nosso círculo perverso e pervertido. É sempre comovente estar diante daqueles que tal como as crianças mantêm a sua fé no controlo das intenções.
 
 
Nada disso importa. Demoramos milénios a assimilar boas teorias porque as teorias são uma declaração de guerra ao corpo e nós, estranhamente, somos um novelo de circuitos desenvolvido numa estrutura mecânica; um padrão irregular composto por unidades de fronteiras muito instáveis; um acontencimento bizarro que se esforça por provar a existência. Nem sequer chegamos a assimilar as teorias que a seu tempo desarranjam e refazem o sentido da ordem, tal como os círculos de Dante ou a evolução de Darwin. Isto para dizer que o nosso ponto de vista é totalmente indiferente para o que formos depois das coisas terem sido, pois na verdade, as coisas continuarão a ser depois de nós. Suspeito que a única santidade é a que depende de um equilíbrio ascético, feito de muitas humilhações e da contemplação precisa e rigorosa dessas humilhações; de quem fala mantendo intacta a sua clarividência mas já separado de toda a economia da atenção. As coisas todas continuarão a ser e escaparão ao vosso juízo, tal como escaparão às minhas pobres intenções. Há todas as razões para ter calma porque só temos responsabilidade sobre o movimento e não sobre aquilo que permanece. Está tudo bem com toda a gente, desta ou de outra maneira qualquer.

5 comentários:

Tolan disse...

:))) estou-me a rir porque reli isto imaginando que era o Jorge Jesus a falar numa conferência de imprensa depois de, mais uma vez, não conseguir ganhar ao Vitor Pereira.

Desculpem -_-

Tolan disse...

referia-me à 2ª parte do post

Anónimo disse...

Nesse caso, devo recomendar que se proíba inteiramente a leitura deste post ao Jorge Jesus, uma vez que no seu caso não se verifica nenhum dos pressupostos:

a) nem está tudo bem com toda a gente.

b) nem se pode colocar o Aimar e o Carlos Martins de qualquer maneira.

Anónimo disse...

Já agora queria ainda recordar que, e isto de um ponto de vista muito sério, a comparação com o Jorge Jesus diante do F.C. do Porto é inteiramente justa, clarividente, precisa, até no domínio da gramática, ou não se chamasse este blogue O Elogio da Derrota.

Ah, ao menos o doce sabor da consistência.

Tolan disse...

Sim! :)