segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Por partes: primeira

O Pedro Arroja tem vindo já desde há muitos meses, a receitar a Tradição como solução para os nossos problemas actuais. Simplificando, ele argumenta que os males de que padecemos hoje devem-se a termos abandonado a nossa Tradição e imitado o que se fazia lá fora.

Eu sou naturalmente conservador, e portanto avesso a novidades e modernices. Ironicamente, ganho a vida a criar novidades e modernices tecnológicas. Mas pondo este pormenor de lado, seduz-me a ideia de procurar no passado as linhas que nos guiam para fora da actual confusão. No entanto, há um problema: de que tradição fala o Pedro?

Ele é bastante categórico quando afirma que na saúde, a nossa Tradição diz assim e assado mas na edução a Tradição já diz isto coiso e tal. De onde vêm estas afirmações? O Pedro costuma oferecer a Igreja Católica como exemplo de uma instituição que venera a Tradição. Mas esquece que a Tradição da Igreja não nasceu de um dia para o outro e foi, contínua e ferozmente, debatida, questionada e actualizada. Basta olhar para os concílios e perceber que desde os textos sagrados aos doutores da Igreja, as prácticas, e em certa medida as crenças, da Igreja mudaram consoante a época e o local.

E no caso português, de que tradição fala o Pedro? Do que se fazia no Estado Novo, na 1ª República ou nos últimos dias da Monarquia? Será que existe um apanhado de usos e costumes que seja familiar tanto aos súbditos de Afonso Henriques como aos portugueses que votaram no Bloco? A existir, qual é o catecismo da nacionalidade portuguesa ?

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