quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Ou há moralidade (com Romney) ou comem todos (com Obama): graças a deus, venceu a orgia da despesa pública desde que devidamente organizada a partir do chavascal coletivo, ao contrário de Portugal onde o chavascal é para a elite e as imposições austeras para o ordeiro rebanho que temos gosto em continuar a ser.

"By a margin of 69% to 13%, the pornography industry is supporting President Barack Obama over Governor Mitt Romney in this year’s election, according to a new survey by XBIZ.COM, the porn industry’s online journal" wrote the Washington DC-based organization that was founded in 1962.


Bastaria esta esplendorosa epígrafe para compreendermos toda a profundidade do que está em causa, ou seja, os caminhos da moralização em política são sempre extraordinariamente compensadores e espinhosos, as duas coisas em simultâneo, sobretudo para aqueles que foram formados nos prazeres do sacrífico, pelo que é necessário ter o olho grande, como diria Jorge Jesus, para não desfalecer na tempestade de factos e suas interpretações que caracteriza a nossa económica, política e folclórica existência.


Mas a presente eleição americana oferece-nos democraticamente a graciosa oportunidade para refletir sobre a vaga de despedimentos na imprensa escrita e publicada num papel que além de sujar as mãos, os livros, as calças, mantém o inconcebível gigantismo das folhas cuja utilidade parece ter sido deduzida das necessidades de acender a lareira burguesa, para não referir outras utilizações mais prosaicas e menos adequadas à moral vitoriana (onda de incentivos e punições culturais que varreu o mundo civilizado e o moldou perenemente até os americanos terem ajustado à transação monetária tudo o que mexia, incluindo os burros dos jornalistas). Penso que este aspeto tem justamente preocupado pessoas de inegável calibre intelectual, para não falar da monumental estatura moral que habitualmente caracteriza as pessoas preocupadas com estes aspetos - isto é, a injustiça produzida pela realidade das coisas serem o que são. Alguém menos prevenido poderia agora perguntar como chegamos a saber que coisas determinar como coisas ou como seleceionar no mar contínuo dos objetos um conjunto de «coisas» para depois dizermos que esse conjunto de coisas é a realidade? Mas como os meus leitores são habitualmente pessoas prevenidas, e os desprevenidos não lêm este blogue, passamos ao segundo ponto.
 
 
Logo pela manhã, antes de iniciar o dia e me dedicar ao que verdadeiramente interessa - a leitura da obra que a seguir se anexa ao post - e enquanto engolia torradas com marmelada e chá - depois de um fim de noite a regorgitar um garrafa de tinto maduro Foral (estou a ser perseguido por ironias) uma consulta bovinamente curta e passiva da CNN colocou diante da minha face agoniada os seguintes factos: numa comunidade política com 7,9% de desemprego, as pessoas que destacaram a economia (economy) como tema político central votaram maioritariamente em Romney, enquanto as pessoas que elegerem o emprego (jobs) como tema político central votaram maioritarimaente em Obama, uma conclusão tão simplesmente elegantico-repetitiva que não ficaria mal a um Mário Crespo ou a um Lauro António. Como o que está aqui em causa é naturalmente uma rotação dos observadores sobre o mesmo problema (a coordenação entre mecanismos para distribuir os recursos e a estabilidade do sistema monetário) que tanto pode ser visto  a partir do conceito de mercado (economia) como do conceito filosófico-político de participação do homem na comunidade (trabalho), os resultados apontaram, também muito naturalmente, para um equilíbrio entre representantes republicanos e democratas no Senado, uma vez que estamos todos (tantos nós como os americanos, como qualquer eleitorado democrático) enrolados em coisas que não compreendemos e acabamos por votar naquele indivíduo que nos parece menos perturbado, ou seja, Barak Obama.
 
 
Apesar dos resultados menos equilibrados nos votos eleitorais (devido ao sistema de equivalência entre votantes e peso eleitoral no conjunto dos Estados) com clara vantagem de Obama (303) contra Romney (206), quando falta apurar a Flórida de Miami Vice, o voto popular registou a mesma tendência da representação no Senado: um equilíbrio entre 50% de votos em Obama contra 48% em Romney. Deve notar-se que ainda não tinha terminado a primeira peça do meu par de torradas e já desfilava diante de mim uma acutilante análise sobre a estrutura socio-cultural do eleitorado: 3% asiáticos, 10% hispânicos, 13% pretos e 72% brancos cuja variação eleitoral foi depois escrutinada com asiáticos, hispânicos e pretos (26%) a votarem maioritariamente - e eu diria esmagadoramente - em Obana, e os 72% a votarem maioritariamente em Romney mas não o suficiente para equilibrar o massivo e abençoado voto de confiança da sempre esclarecida escumalha na liberdade democrática que os conduziu e apesar de tudo protegeu nas suas elegantes asas até ao local onde se encontram.
 
 
Mal trinquei a segunda torrada, um escrutínio do chamado jornalisticamente «abismo fiscal» elencou as diferentes tendências de compressão do PIB (cortes na despesa, fim das isenções fiscais de G. W. Bush, subsídios do desemprego) no valor total de 7 triliões de dólares, o que aponta para um impacto de -3 ou 4% de redução do produto interno brutalizado, e isto dito de forma clara e simples por um gajo horrível que no entanto foi rapidamente retirado do ecrã pelo realizador para dar lugar a uma não espectacularmente bonita mas ainda assim agradável locutora que nos levou em direto para todos os lugares do mundo, incluindo um aldeia do Quénia onde uma preta velha avançava por uma multidão de pretos aos saltos saudando a eleição do seu neto.
 
 
Como diria o imortal Professor Doutor Catedrático e pessoa de bem Marcelo Rebelo de Sousa, duas pequenas notas: em primeiro lugar, Deus abençoe a América porque raramente se engana no momento da verdade e afasta para bem longe todas as pessoas que acreditam mesmo na existência de Deus; em segundo lugar, os jornalistas da imprensa escrita que arrumem as coisinhas da sua secretária e vão rapidamente inscrever-se no centro de emprego que nós aqui tomamos conta da loja.
 
 
 
Leitura de apoio aos petroleiros de estupidez sobre as eleições americanas que vão ser metodicamente carregados hoje, ao longo do dia, nas nossas televisões e jornais.


1 comentário:

Izzy disse...

Torradas com marmelada e cha para curar a ressaca nao me parece que seja bom. Marmelada, nhac!

Quanto ao resto, foi-me tudo veiculado, exactamente como aqui escrito, nas noticias da manha, enquanto comia torradas com manteiga e leite com cafe, mas com menos adjectivos e adverbios de modo.