sexta-feira, 6 de maio de 2011

Somos um país lusco-fusco

Uma possível resposta à pergunta aqui deixada. Não é original, já O Miguel Esteves Cardoso tinha dito falado na permanente insatisfação que nos caracteriza. E o Pedro Arroja fala constantemente em Portugal como uma figura feminina.

Nunca estamos contentes com nada, existe sempre algo no país que deve ser mudado e melhorado, porque na Alemanha é assim, na Islândia é assado e em Inglaterra cozido. E não se admite que no século XXI, em plena Europa, ainda ... (inserir situação escandalosa e terminar com um sonoro "por isso é que este país nao avança"), etc...

E o resultado é uma multiplicação de esforços, uma divisão de recursos que raramente produz efeito. E lá caímos outra vez na insatisfação. Por isso é que é tão difícil governar este rectângulo de terra. Não se pode ceder a todas as exigências, a maior parte terá que ser ignorada.

A tradição da nossa democracia dita exactamente o contrário. O povo reclama, o povo tem. E com povo quero dizer qualquer agremiação com ligação directa aos média ou ao palácio de São Bento. E actualmente, não existem distinções entre os dois. Existem excepções, como Canas de Senhorim, mas convenhamos que são excepções.

Estou convicto que a democracia, à lá mundo civilizado, não se aplica a Portugal. Anteontem mesmo, o primeiro-ministro anunciava com alegria a suspensão da democracia por cinco anos. E o evento cívico de 5 de Junho tem como único propósito escolher o Miguel de Vasconcelos para os próximos cinco anos.

Note-se, não estou contra o que na generalidade, a troika nos impõe. Apenas que a decisão sobre o caminho a percorrer tem de ser feita de livre vontade. Daqui a cinco anos, anuncia-se o fim da crise (tal como o primeiro-ministro fez periodicamente no passado) e lá vamos nós outra vez ceder a tudo quanto é exigência, necessidade e ou opção estratégica para o país. Portanto, estou convencido que a democracia não é viavél em Portugal.

Voltar para trás também não, para trás mija a burra. Um regime com uma polícia política e personalizado num líder carismático funciona bem apenas enquanto o líder tiver forças para continuar. E sufoca de tal forma a vida intelectual do país, que no dia em que o poder cair nas rua existem apenas ideias enviesadas e tóxicas para o substituir. Ainda hoje considero um milagre Portugal não ter virado comuna em 74.

Uma monarquia também me parece impensável nestes tempos. Que eu saiba, nenhuma dinastia subiu ao trono em Portugal sem antes limpar o sebo à concorrência. A única coisa que os bigodes de Cascais matam é perdiz e lebre, e apenas ao fim-de-semana em espaços próprios para o efeito. Tudo demasiado conforme as regras, mentalidade imprópria para revoluções.

Então fazemos o quê ? Uma possível solução é eleger, periodicamente, um tirano. Eu sei, parece absurdo, mas primeiro estranha-se e depois entranha-se. Escolher uma pessoa, a cada dez ou vinte anos, entregar-lhe as chaves da cidade e deixá-lo fazer o que bem entender. A principal vantagem que vejo nesta solução é moral. Seja quem for que controle a cidade, faça-o da forma que fizer, o povo tem sempre uma figura contra quem a revolta é moralmente legítma. Tem um ponto em que centrar as suas fúrias e as suas bajulações. Evita-se a dispersão de recursos e de vontades. E como todos sabemos, o povo unido jamais será vencido.

Sem comentários: