sexta-feira, 11 de março de 2011

Trio d'ataque

O Manuel juntou-se na caixa de comentários daqui, e chamou a atenção para a minha total incapacidade em articular ideias. A questão dos dez anos é simples. Não é para estar parados por uns tempos até a economia melhorar. Antes, que quaisquer que sejam as medidas tomadas hoje os efeitos só se sentem a médio e longo prazo. A noção de que é possível resolver os problemas do país num par de meses parece-me rídicula. Isto não é obviamente impeditivo de organizar protestos e entregar folhas A4 com reclamações/ideias, tudo bem. Afinal nem só de pão vive o homem, nem só de frio racionalismo contabilístico se alimenta a mudança. Já dizia o poeta: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Portanto tudo bem, protestar por uma vida melhor é o primeiro passo para uma vida melhor. Mas não chega.

Vamos olhar para um caso concreto, os recibos verdes. A minha percepção era de que uma porção significativa da juventude era paga através de recibos verdes, mas parece que os números dizem exactamente o contrário. Longe de mim de estar a afirmar que os números não podem ser massajados, adulterados e torturados para dizer o que se pretende. Mas uma coisa é eu falar do que penso ser a realidade da precariedade no país, outra diferente é dar-me ao trabalho de quantificar a realidade. Este trabalho de quantificação não só não é contrário ao sonho que nos move, por definição inquantificável, como é necessário para nos movermos em direcção ao sonho. Dito de outra forma: sabemos para onde queremos ir, precisamos de saber onde estamos. Não vi ninguém no movimento dos enrascados a fazer este trabalho. No site apenas encontrei um JPEG com as estatísticas do desemprego, claramente favoráveis à malta com curso superior e em consonância com o que a Priscila Rêgo tem vindo a ilustrar.

E após este trabalho básico, é necessário tomar decisões que necessariamente não vão agradar a toda a gente. Suponha-se que os recibos verdes são proíbidos e apenas os contractos de trabalho, a termo ou não, são permitidos. Quais são as consequências ? Vai aumentar o desemprego ? Vão diminuir os salários dos que agora estão a recibos verdes ? Se realmente a percentagem de pessoas a recibos verdes for neglegenciável então não aquece nem arrefece. Pontualmente alguns poderão ficar pior, mas quanto a isso não há nada a fazer. Se por outro lado existir uma fracção significativa, pondo números acima dos 10% ou mais, a recibos verdes o caso muda de figura. Vai-se correr o risco de lançar para o desemprego uma porrada de gente ?

E não me venham com conversas sobre leis para proibir os empresários de despedir, baixar salários ou  obrigar a contractar. As leis contornam-se, como todos sabeis, e para efeitos ilustrativos relembro o nosso primeiro quando apadrinhou uma lei de seguros automóveis. O efeito foi que se acabou a pagar mais após a introdução de uma lei que pretendia exactamente reduzir o custo do seguro automóvel contra todos os riscos. Ou mais recentemente a mudança nas fracções dos parques de estacionamento que redondou num aumento generalizado dos preços quando se pretendia exactamente o contrário. Moral da história: de boas intenções está o governo cheio. Novamente isto não é um apelo à inacção e ao conformismo, antes um aviso à navegação. Reclamar amanhã é bonito, é necessário e tem efeitos positivos não quantificáveis. Mas não chega.

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