domingo, 13 de dezembro de 2009

Não há como um jogo em Olhão para me incitar à filosofia da ciência

Como é do conhecimento geral, as cadeias alimentares podem dividir-se, muito generalizadamente, em decompositores, produtores e consumidores o que implica tanto uma divisão do trabalho para sustentar aquela oscilação movimentosa a que chamamos vida como uma certa ideia de que o retorno ao vomitado está inscrito no movimento inconclusivo a que chamamos natureza, para usar pelo centésima vez a bela imagem bíblica. Pensava eu nisto quanto me veio à ideia uma pedrada com milénios mas que escondemos normalmente debaixo do tapete: o conceito de criação divina pode ser apenas um erro desviante formulado por uma espécie que não tem a consciência do seu lugar secundário numa cadeia alimentar. Ou de forma mais erudita, é uma produção natural do sistema nervoso de forma a assegurar que essa espécie não se precipita para o vazio perante o horror do seu lugar subalterno numa máquina que não é nem cruel nem bondosa, simplesmente é, no seu funcionamento cego. Saltando por cima dos problemas da consciência (que agora me dispenso de comentar porque acabei de almoçar douradinhos com puré) é interessante como todos os sistema religiosos, em todos os tempos, se ligam de uma forma umbilical à ideia da preservação do cadáver dos entes queridos diante dessa suprema visão orripilante que é a do nosso irmão corpo transformado em banquete de delícias para outros espécimes do planeta terra. A inumação quer desde sempre esconder esse horror. E tanto a cremação como os banquetes de pendor canibalístico não são mais do que fugas, uma para a frente, a outra para trás, desta triste realidade que é o facto de estarmos carecas de saber que pertencermos ao húmus mas mesmo assim termos alguma dificuldade em assinar uma declaração solene que o confirme. Vem a isto a propósito do inefável padre Portocarrero de Almada (o tal apelido que lembra o cruzamento entre uma pastelaria suburbana e uma loja de roupa de luxo numa rua de Milão) que vem hoje no Público lembrar-nos da naturalidade do matrimónio. Como estou cansado de explicar questões de naturalidade lembro apenas que também é natural algumas aranhas arranacarem a cabeça aos seus parceiros sexuais depois da cópula ou os ratos devorarem os seus filhos numa economia de sobreviência bastante enxuta, não sendo preciso lembrar exemplos humanos similares a fim de poupar o leitor a coisas porcalhonas, deixando isso para a literatura de Possidónio Cachapa e Rui Chafes, dois autores que a internet ilustrará quem são. Em todo o caso, é natural comer com as mãos, é natural não limpar o rabo depois de ir à casa de banho (as crianças, de quem Cristo tanto gostava, adoram saltar olimpicamente esta perversão higiénica da natureza cristã que é a limpeza corporal), é natural esmagar a cabeça de um adversário político com uma moca, é natural tirar macacos do nariz, é natural o Di Maria ser expulso por reagir depois de passar trinta minutos a levar pontapés de jogadores do Olhanense, é natural que o FC Porto não pudesse arriscar uma goleada com a melhor equipa do Benfica dos últimos 25 anos.

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