terça-feira, 10 de novembro de 2009

O beliscão na sociologia do Sacramento: algumas consequências

Não tenho muitas ideias sobre a concretização institucional da vontade amorosa entre indivíduos do mesmo sexo, da mesma forma que sou tentado a hesitar sobre se Jorge Jesus deve retirar imediatamente a titularidade a Quim e promover Júlio César, que já mostrou capacidades técnico-psicológicas de índices superiores às demonstradas por Silvino ou mesmo as de Manuel Galrinho Bento, em época anterior ao uso do bigode, ou esperar por uma espectacular frangalhada de Quim, a fim de pontapear este último para o banco de suplentes, onde normalmente decorrem os momentos mais animados de um jogo de futebol, e, enfim, promover, perante o assentimento geral da comunidade benfiquista, a titularidade do brasileiro com feições nordestinas, muito próximas do tipo Tafarel, o que só pode ler-se como um bom augúrio romano perante as entranhas de aves de rapina. Embora possa duvidar-se de tudo, desde o teorema de pitágoras, passando pela exploração capitalista de Antigo Regime, até ao verdadeiro número ostentado por Vata quando marcou um prodigioso golo a uma equipa de Marselha, o facto é que, não tendo a instituição família nascido ontem, há indivíduos que parecem ter nascido há dois minutos e meio, tendo apenas tempo para verificar o funcionamento do frigorífico, engolir uma banana e ler as obras completas do cardeal D. José Policarpo numa versão para executivos sem tempo para ler as obras do cardeal D. José Policarpo. Se não, veja-se o caso de Afonso Azevedo Neves ao afimar: «o Sacramento que celebrei com a minha mulher na presença de Deus não fica minimamente beliscado com o contrato civil que o Joaquim e o Zé querem celebrar, já vivem juntos há anos, pois que casem.» Desconheço se o Joaquim e o Zé beneficiam desta graça de que Afonso Azevedo Neves e sua mulher tão condignamente beneficiam, sequer se vão aceitar o repto e casar, restando a preocupação sobre se o Sacramento será ou não beliscado perante a vontade do Joaquim e do Zé. Várias questões: o Joaquim e o Zé querem celebrar algum Sacramento? O Joaquim e o Zé pretendem estar na ditosa presença do Senhor? O Joaquime o Zé já vivem juntos há algum tempo, é que ninguém me tinha dito. A verdade é que tudo dependerá do local onde o referido Sacramento for beliscado (na cabeça, por exemplo, não costuma ser razão para preocupações com a sintomatologia; no rabo, pode eventualmente resultar num edema o que implicará medidas profiláticas; se for nas partes genitais, o Sacramento pode sentir-se na necessidade de retaliar, de acordo com as santas regras da natureza, e aí o Joaquim e o Zé que se cuidem, pois mesmo vivendo juntos há anos não é impunemente que se belisca um fenómeno estabelecido na presença de Deus. O Sacramento costuma ver o Benfica no mesmo café que eu e é um gajo lixado. Por outro lado, suponhamos que o Sacramento era celebrado na presença de Luís de Matos: podia efectivamente falar-se na probabilidade de toda a gente sair beliscada pelo simples facto de Luís de Matos ser uma criatura que faz descer, automaticamente, o índice de audiência de qualquer programa ou evento que estabeleça uma relação de parenteco com o mágico, o que nos levaria a considerações de ordem sociológica, mas o tempo da Igreja, que não se coaduna com discussões que impliquem argumentos, pertence à família de acontecimentos cronológicos cuja rapidez pode ser colocada no tipo de intervalo temporal que Caicedo leva desde que a bola chega às imediações do seu raio de acção até que qualquer coisa no espaço fisício aconteça entre a referida bola e qualquer outro corpo em deslocação num raio de pelo menos 150 metros.

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