quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O acontecimento mais importante da minha biografia intelectual foi a compra deste postal na feira do Fundão no fim do Verão do ano de 1985


Em primeiro lugar, que diria Francisco José Viegas se tivesse que apresentar um livro cujo tema fosse o comentário técnico-literário a cada um destes prodigiosos criadores do meio intelectual português, fotografados nesta pose masculina, agora que os profissionais do futebol parecem todos nascidos na Quinta da Marinha e até ostentam nomes como Vilas-Boas? É claro que a apresentação desse livro imaginário não poderia ser precedida da interpretação em quarteto de cordas do Nocturno de Borodin, sendo bem mais apropriada a audição do inesquecível tema «O que é que você vai fazer Domingo à tarde» de Nelson Ned. Mas atente o leitor na veracidade telúrica desta equipa, considerando, a título de exemplo, o trio Nené, Humberto Coelho, Toni, antes de voltar a expressar qualquer entusiasmo perante uma cabriolagem de Di Maria ou um espasmo muscular de David Luiz. É que, como diria Herberto Helder, havia aqui «uma essência de oficina», tanto como a energia da «madrugada e a noite triste tocada em trompete», e isso, meus caros, não se repete todos os dias, mesmo se Javi Garcia representa para todos os homens portugueses uma secreta esperança de que o futebol volte a ser o que era, agora que se pretende a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Além de que o comentador hodierno, inspirado pelas influências homossexuais do proto-director desportivo Luís de Freitas Lobo, ao entender o futebol como articulado de pernas depiladas e passos de dança amaricados, esquece frequentemente a máxima de Bela Gutman: o futebol é 50% técina e 50% força, o que só reforça a ideia (se pensarmos que a técnica pode condensar nos seus 50%, outros 25% de destreza - que não deixam de ser uma categoria de força) de que qualquer um destes jogadores, acima representados, poderia esmagar com uma só mão o crâneo de Futre, Juari, Gomes, Domingos Paciência ou Kostadinov, o que explica a ignominiosa debácle do Benfica no final dos anos 80 e a minha definitiva inclinação para os poetas melancólicos.

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