sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Luta de classes II, seguida de uma quase tentativa de cambalhota de um homem que nunca estará a morrer da escrita

Aí pelos anos oitenta, José Barata Moura celebrizou um tema de referência para crianças com menos de oito anos que não comessem a papa com alusões específicas a um tema que tem preocupado Luís Campos e Cunha, um indivíduo cuja origem de fama pública oscila entre a posse de uma cátedra de Economia e o facto de pentear o cabelo com um cilindro de comprimir alcatrão (parece que agora é uma mistura de pneu reciclado). O tema cantado pelo filósofo referia-se a um indivíduo chamado Anacleto Parafuso, grande inventor que, na aldeia do Juzo, montou um computador maravilha (supermioleira) com esperteza de mangueira e miolos de ervilha, acontecendo, porém, o estranho caso do dito computador se enganar com alguma frequência em diversas matérias. Estamos, como é bom de ver, diante do dilema razão/opinião, isto é, estamos diante do tema, trabalha se não levas no focinho. Neste sentido, Campos e Cunha espraia com apreciável luminosidade a separação entre a legitimidade política eleitoral e a razão científica da ciência económica, razão que, entre outras verdades gravadas a ouro nas tábuas da lei científica, decreta a impossibilidade do aumento do salário mínimo para 2010, já que o referido aumento «aumentará o desemprego dada a gravidade da situação económica e da inflação, que tem sido negativa». Seria a ocasião para descrever como justamente a ciência económica se explica decisivamente na necessidade setecentista de vergar a opinião pública a interesses comerciais coloniais mais do que duvidosos, invocando o alcance de supostos, mas duvidosos, benefícios públicos, para utilizar outra expressão do século XVIII. A verdade é que a ligação entre economia e ciência burguesa, hoje fora de moda, exlica a capacidade de financiar o novo poder tecnocrático que torceu a democracia e deixou novamente inquestionável a natureza do poder como ciência, que é o mesmo que dizer «trabalhe o preto e nós lucramos todos». Daí à criação da ciência económica como razão da política foi um saltinho. É claro que a ciência económica continua a explicar isto com o custo ideológico do cumprimento dos contratos.
Por outro lado, os pretos vão mudando de cor consoante mudam o tempo, as conjunturas e a geografia. Em todo o caso, o capitalismo continua a manter a sua lei de ouro: sem trabalho escravo não há acumulação, que é como quem diz que não há criação de riqueza. Eu já sabia. Mas eu gosto de cafés no Barreiro, de onde rompem chaminés às riscas vermelhas a furar um céu escuro e carregado por nuvens de pombos e gaivotas. Não vivi em Nova Iorque ou em Washington. Continuo a preferir a estação da Amadora, onde se comem, em pastelarias de paredes espelhadas e mobiliário plástico de tons mármore e ébano, as melhores sandes de panado do mundo, a baixo custo e com largos benefícios para quem quer deixar este planeta o mais depressa que for possível.

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