sábado, 7 de junho de 2008

Ginástica Sueca II


Vem isto a propósito de mais um magnífico editorial de José Manuel Fernandes. A prosa inicia com esta singela confissão. «Não há nada como passar uns dias num país nórdico, como a Suécia, para perceber que o problema português é exactamente o oposto daquele que, em nome da auto proclamada “esquerda”, se defendeu esta semana no comício do Teatro da Trindade, em Lisboa». Varias coisas. Em primeiro lugar, o recorrente argumento provinciano: eu estive na Suécia e vocês não, seus marroquinos vermelhos, por isso, caluda e oiçam quem tem a experiência da realidade. Para comentar o texto do director teríamos que ocupar várias páginas, tal é a sabujice do mesmo.

Contudo, deixo ao leitor três pérolas de Fernandes e algumas questões da minha própria lavra:
«E se tudo está organizado e limpo, isso não sucede porque prevalece a autoridade, mas porque não se imaginam irresponsabilidades que ultrapassem os excessos alcoólicos de sábado á noite».

1. Mas não era a ASAE que estava prestes a ser imolada por tudo querer limpo e desinfectado?
2. Mas não era a autoridade que iria resolver o problema do combate professores-alunos em busca dos telemóveis e do carjacking?
3. Será por não imaginarem outras irresponsabilidades que se suicidam tanto?

«E a naturalidade com que, no dia seguinte, muitos se juntam numa igreja, não longe do relvado onde muitos se estendiam, em fato de banho, para beneficiar de um raro dia de calor, para contribuírem para uma obra social».

1. Pela santa espada de Thor, de onde vem esta associação entre a igreja, o fato de banho e a obra social?
2. Porque será que os portugueses depois das noites alcoólicas de sábado não vão para uma igreja não muito longe e se precipitam para o “guincho” e a “piriquita”?
3. Será porque não têm fatos de banho apropriados às cores dos tempos litúrgicos?

«Tudo antes de, segunda-feira, se apresentarem na fábrica da Volvo de forma pontual, para trabalharem com rigor e elevada produtividade».

1. Como é que os suecos conseguem beber cerveja no sábado, ir à Igreja no Domingo, e estar às oito horas na fábrica da Volvo para trabalhar com rigor?
2. Porque será que os portugueses não trabalham com o rigor com que José Manuel Fernandes pensa?
3. Quanto tempo vamos levar a perceber que não há nada como uma sueca de fato de banho, mesmo que seja ao Domingo na Igreja, para nos fazer estar à porta da Volvo às 8h00 de segunda-feira?

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