domingo, 18 de janeiro de 2015

Vocês podem ser o Charlie Hebdo, mas

eu não sou, e tento não ser, o Charlie Hebdo. Primeiro, porque o humor é rasco e segundo, porque tem como único objectivo ofender os visados. Típico de adolescentes. E não sou o único a pensar assim, visto que antes do ataque os tipos estavam com dificuldades em pagar as contas. Parece que, ao contrário dos lamúrios do alf, o mercado das ideias ainda vai revelando alguma racionalidade. O dinheiro que os manos Kouachi gastaram em kalashnikovs e lança foguetes, era mais bem empregue a comprar o Charlie para depois mudar a linha editorial.

Esta história toda impressionou-me, não pela proximidade, mas porque pura e simplesmente não consigo compreender o que levou os tipos a fazer isto. Ou os que os camaradas deles se preparavam para fazer na Bélgica. Por partes.

As atrocidades que vão sendo cometidas na Nigéria, Síria, Iraque, Paquistão, etc, fazem todo o sentido. São senhores da guerra a tentar alargar o pátio. Não deixam de ser atrocidades, e todos, em conjunto com os débeis mentais que no Facebook colocaram a bandeira do ISIL, merecem como destino uma vala comum bem regada de cal. Mas ao menos eu percebo o que os move.

Agora os tipos que fazem estas merdas na Europa, isso já é algo que eu não consigo entender. A razão oficial é infantil: sentiram-se ofendidos com caricaturas. Poderão existir outros motivos, que eu por ignorância desconheço. Em verdade vos digo irmãos que tenho andado bem mais ocupado a ler sobre paradigmas de computação e não me tem sobrado tempo para radicalismos muçulmanos. Mas mesmo que a minha ignorância possa ser a chave da minha incompreensão, também é certo que eu nunca consegui perceber o mal.

Ou seja, eu entendo o ódio (olá José Sócrates) e o desejo de violência física contra terceiros (bom dia Paulo Portas). Mas o mal, a pura essência da maldade, essa tenho sérios problemas em compreender. Serão graves deficiências psicológicas, serão as vicissitudes da vida?

Há uns tempos tive esta discussão com autóctone, cuja tese de doutoramento em história tinha sido o comportamento dos nazis belgas no pós-guerra. Ele não percebia porque é que pessoas que tinham, não só saudado os soldados alemães como dado ainda o corpo ao manifesto na campanha, não mostravam um pingo de vergonha pelos actos criminosos que foram cometidos na época. Não chegámos a uma conclusão, em parte porque nos perdemos a tentar definir o que era o mal. E quando conseguimos, não fomos capazes de aplicar a definição.

Portanto de volta à estaca zero. O que leva esta gente a fazer isto ?

3 comentários:

binary solo disse...

o mesmo que leva gente a ir a IURD e dar metade ou mais do que tem. Porque isso os preenche.

Se pensares que estes rapazes nunca tiveram uma referencia na vida e que ao estarem na prisao lhes aparece alguem que lhes da, e facil chegar a este ponto. e nos proprios nao andamos muito longe deste ponto de loucura. mesmo os nazis apos tantos judeus queimados ja nao punham em questao o porque de fazer aquilo. o anormal pode ser normal quando nao tens ninguem que te coloque em perspectiva e te defina moralmente. A ti foram os teus paizinhos, estes rapazes foi um ayatollah maluco.

Alma disse...

O que leva pessoas a fazer actos de loucos , o desespero.
O que leva charlies a utilizarem de forma tão gratuita a liberdade de expressão também nao sei .
para ser se bom é preciso o triplo da força e da vontade do mal e nem uns nem outros estavam do lado certo.

ngoncalves disse...

Se for só, ou principalmente, uma questão de educação então o verniz da sociedade quebra muito facilmente. E eu, é estúpido eu sei, sinto-me um bocado culpado por ter sido um dos sortudos em ter tido a família/amigos/escola que tive. Será que se me chamasse Mohamed e tivesse nascido na Síria, andava agora com barba de três meses e kalashnikov em punho ? É injusta a lotaria dos nascimentos.....