segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Com quantas palavras se descreve um problema?

Os compêndios, manuais, breviários, conjuntos de regras, bíblias, listas telefónicas, sobre as famigeradas leis da escrita perfeita têm estado na ordem do dia, não sei se devido ao triunfo comercial do modelo «se podes foder-te em companhia, para quê perder mais tempo a tentar fazê-lo sozinho?» ou se por colonização massiva do espírito computacional sobre as nossas melancólicas cabeças, a saber, uma obsessão incontrolável em reduzir tudo a um algoritmo manejável pelas máquinas, não querendo, de modo algum, cometer aqui a superficialidade de explicar o fenómeno por meio da infecciosa proliferação do grande capital.

Como alternativa, este magnífico texto apresenta uma invejável síntese do mais assustador zombie da literatura moderna, a saber, uma suposta ideia de maior verosimilhança patente no pechisbeque psicologista, ou seja, uma escrita que faz do fluxo da consciência (mas que raio é essa merda?) a única forma de retratar os abismos da personalidade humana. Não entro sequer pela crítica de uma suposta profundidade da consciência (e o sublinhado é nosso), devido às minhas evidentes limitações em topologia, mas tendo em conta o sucesso comercial dos livros de António Damásio (como todos sabem, um dos piores presidentes da história do Benfica) já seria o momento do venerável público assumir que a ideia de consciência é tão inefavelmente paneleira como a de alma ou de personalidade, no fundo, um outro nome para a nossa puta ignorância sobre nós mesmos, numa frase que poderíamos atribuir ao grego Samaris, ou a Herberto Helder, com toda a certeza, um gajo que torce pelo Sporting.

Por outras palavras, quem já se confrontou com livros de divulgação na área das neurociências (e tendo em conta que a Leonor Beleza seria em nova uma gaja com um certo nível de agressividade morfológica, de um ponto de vista do homem sensível) sabe perfeitamente como os mais reputados génios da especialidade, não fazem ponta de ideia acerca do que seja a consciência. Mesmo a descrição do seu funcionamento (pelas mãos de um Gazzaniga, gajo menos espalhafatoso do que o António Damásio - e não lhe perdoamos a contratação de Artur Jorge) corre o risco de se assemelhar mais à descrição do funcionamento de uma máquina retroprojetora de transparências (e lembrei-me agora de umas aulas sobre arte rupestre dadas pela reencarnação da Marlyn Monroe, uma gaja de quem toda a Universidade dizia ter galgado o estrado do ensino académico por motivos obscuros, digamos assim) do que à descrição de um organismo vivo, qualquer que seja a definição de organismo vivo, não me fodam agora o juízo com duas questões fodidas em simultâneo, ainda que a indústria pornográfica muito nos tenha ensinado sobre essa matéria.

Em suma, estamos a secar o terreno da ficção publicável, por estarmos todos fodidos do miolo, e não há gajo nem gaja (do Chef'sAcademy ao Factor X, do Alta Definição paneleiro Oliveira à Casa das espetaculares mamas da Sofia, sejamos rigorosos, passando pelo comentário do professor Rebelo de Sousa heil hitler) repito, não há gajo nem gaja, capaz de aguentar cinco minutos de oratória confessional televisiva sem incorrer nas lágrimas, apostando eu que isto se deve a não encontrarmos solução original para os nossos problemas, que é como quem diz, uma voz própria, foda-se, caralho, quando nada nos impediria de procurar um caminho, veja-se o caso de Tolstoi (outro merdas) que via na infelicidade da adúltera sentimental um maior emblema distintivo do aquele representado pela mulher desinibida disposta a vender o corpo de forma especializada e profissional, o que não o impediu - justiça lhe seja feita - de nos falar com uma cristalina objetividade, pelo que, pergunto, teriam os russos à época um «mestre de gramática armado com régua de madeira» em lugar de um cérebro habitado por uma consciência?

Do meu triste ponto de vista, tudo se deve à imaginação lunática de uns quantos literatos que encostados à parede pelas circunstâncias específicas da sua vida (e tanto Joyce como Proust se envenenaram o suficiente com a ideia platónica de alma) deram em ressuscitar a parafernália sentimental do cristianismo sob a forma científica e mecânica da consciência, esse esgoto a céu aberto. 

I believeit is also worth pointing out that (for some sections of the novel especially),a tweet feels like (and, tripping off the tongue, even sounds like) the idealdelivery mechanism for a fractured stream-of-consciousness monologue, an artJoyce didn’t invent but certainly cemented and codified as a literary techniqueof incredible aesthetic potential. Ulysses is, in some sense, about thefragmentation of thought and culture in the modern world — a panoramic snapshotof human minds in 1904.

Logicamente, a literatura vive da descrição das coisas, 1) por uso da inteligência, e 2) com recurso ao alfabeto, as únicas regras passíveis de serem formuladas com total segurança. Quanto ao estilo e tamanho das descrições, esperamos sempre esfomeadamente esse divino momento em que alguém, libertando-se em vertigem, tanto do medo do abismo como da consolação da esperança, decide expressar-se, mandando-vos a todos vós, venerando e respeitável público, para o caralho que vos foda.

E carnevale sia! - Vittoria Risi vista da Gino Gabrieli

2 comentários:

Anónimo disse...

Esqueceste-te de dizer que o António Damásio, com aquele corte de cabelo, perde toda a autoridade para falar sobre consciência.

Anónimo disse...

mandar os leitores para o caralho e escrever para o próprio ego: eis o objetivo supremo de qualquer escritor. o problema é que o leitor um merdas.

assim sendo, acho que a gaja loira tem umas belíssimas mamas.