quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Neste blogue nada é por acaso, e mesmo quando o acaso nos visita, ou estamos embriagados ou não tardará uma explicação.

 And when I ope my lips, let no dog bark!
Shakespeare, The Merchant of Venice


Só venho aqui agora e num salto (olé) para responder a uma pergunta que me foi colocada. (Quem não quiser ler o post pode saltar até ao excerto marcado a bold e sublinhado).  Na página 7 desta tese magnificamente dactilografada (amen) e apresentada à sempre mui nobre e leal Universidade do Texas (yeah) no já distante ano de 1981, antes do budismo ter destruído os Departamentos de Literatura das Universidades Americanas, uma vez que no caso português foi a ignorância militante a destruí-los, o autor sustenta com propriedade a posição de que o sempre elegante William Empson defendeu no seu memorável artigo «Timon's Dog» em The Structure of Complex Words, London, 1981, p. 180, o carácter devastador do cristianismo, sobretudo como ideologia (ai) escravizadora das palavras, ao injectar o que julgava ser a natureza animal - e sendo que o cão era o menos apropriado dos casos para o exercício -, por força de uma teologia mix amanhada por africanos cristianizados e ainda por cima rebarbados (Agostinho), judeus helenizados, e ainda por cima negociantes (Paulo), e europeus eslavizados, e ainda por cima maricas (Bernardo) e outras aves raras da história da cultura ocidental, sendo que a palavra cão representa no século XVI a manifestação de uma monstruosidade incompreensível, o que no caso do Timão (ganda maluco que se sente mal entre os homens mas não menos mal entre os animais) serviu para catalogar o poeta bajulador que vende a sua arte por dinheiro, o que sem sombra de dúvidas não era o caso de Shakespeare, ao contrário do que se diz por aí (eu depois explico), aspecto que eloquentemente se encontra descrito no Timon of Athenas, da autoria (com colaboração) do filho de luveiros e já supracitado, William Shakespeare, onde a expressão cão surge abundantemente também para caracterizar o homem após a queda, isto no paraíso, entenda-se, e não nas escadas, no corredor ou na cozinha, o que pode ser muito mais doloroso (e fico por aqui por motivos de respeito, os amiguinhos dos animais que não me irritem) sobretudo se tivermos em conta que tudo isto ocorria num cenário deprimente, onde paradoxalmente triunfava uma visão pseudo-racionalista e logicamente pré-Kantiana (filósofo alemão que daria fundamento epistemológio ao famoso aforismo bíblico, a saber, «não convém que o cão volte ao seu próprio vómito») que colocava o homem como corolário do mundo natural, o que explica a demonização do animal praticada mesmo durante o Renascimento.
 
 
Ora, temos assistido ao longo dos últimos séculos a um homérico esforço de iluminação das palavras, levado a cabo por pessoas como Jean Jacques Rosseau, Frederico Nitxa (assim é mais fácil), William Empson, e eu próprio, sem que, no entanto, se almejem (isto é assim que se escreve?) os frutos desejados, em virtude de uma reação parola, irreflectida e pífia, das pessoas muito indignadas mas frágeis de pensamento e capacidade de trabalho, a todos os males provocados pelo cristianismo, o que explica o abjecto endeusamento do cão como criatura mistificadora do que não temos conseguido ser e até a colocação dos seus direitos (e note-se que eu votei orgulhamente pela despenalização - ai -  do aborto) acima dos direitos de uma potencial vida humana, isto é, nós, pelo que em face da pergunta sobre a intencionalidade ou não intencionalidade, segundo os parâmetros do sempre confuso e desorientado John Searle, do alinhamento decrescente da ferocidade dos cães representados graficamente no post anterior, devo responder que foi absolutamente casual, confesso, uma vez que me encontrava naquele momento a transferir frases avulsas de um texto chatíssimo sobre a identidade geográfica do rio Lima raiano (e isto é lamentavelmente verdade) enquanto redigia o post referido, o que em nada invalida a potência cerebral que instintivamente dentro de mim trabalhou paralelamente o efeito paralelo, e lucro metafórico, deste esvaziamento da agressividade canídea nesta representação figurada do melhor amigo do homem, a saber, o raciocínio.
 
Leonardo Da Vinci
Perna de cão comparada com perna humana.

6 comentários:

silvia disse...

Os teus textos tem " Cão" :)

alma disse...

boa silvia :)
aposto que o alf não conhece a expressão:)))

Anónimo disse...

Com efeito, não conheço.

alma disse...

heheheh
classe :) raça :) pinta :)

alma disse...

resumindo :)
belo i.e :))


silvia disse...

resumo do resumo da alma :)
heheheheheh

"os teus textos tem cão" :) são bons :)))

uma ironia para alguém que não gosta de cães :)

ai like :)