sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Crítica da faculdade de mandar para o caralho quem eu quiser.

«(...) já estou a pensar chamar no Meu Meu Bolso Não Cabe o iPhone 5 a um dos contos que ando a escrever: a história de um gajo que fode um iPhone 5, apenas com uma semana, atirando-o para a linha na estação de Caxias, quando recebe um SMS da namorada que está a fazer um MBA em Londres, dizendo: “Olha, quando chegar a Lisboa temos que falar.”»
 


Se o inimigo faz viagens de passeio à feira do livro de Frankfurt pagas com subsídios públicos e oleadas por quaisquer agentes culturais que sejam desde que o apelido termine em Lucas Coelho, e se o inimigo mobiliza  o grande capital, piscando o olho à esquerda, à direita, ao centro, e cruza o atlântico para sabotar a devida propagação da língua portuguesa em formato digital, se o inimigo, insisto, inunda as fachadas imóveis e os autocarros em movimento com a propaganda perniciosa sobre discursos enganadores, incorretamente escritos, falaciosos e ignorantes, então permito-me a mim mesmo fazer auto-citações invertidas das minhas referências blogosféricas (que caralho anda a fazer o maradona), o que em linguagem de bombeiro aflito se denomina contra-fogo, isto com vista ao alívio da pressão indignatória que é a marca gold de todo o ressentido profissional.
 
 
Na verdade, as pessoas de bem estão mesmo convencidas de que quando um gajo diz, por exemplo, este livro é uma merda, ou esta gaja não sabe escrever, está a manifestar biliosamente uma incontrolável inveja, nada mais restando a esse pobre gajo, com olhos injetados de sangue, a boca seca, e os dedos retorcidos, entregar-se à combustão da sua raiva pelo facto do mundo dos factos devidamente alinhados pela ordem natural das coisas não ter priveligiado o ressentido com um livro publicado, não passando pela testa das pessoas a singela ideia de que, independentemente da fisiologia moral do referido gajo e do seu suposto ressentimento, a discussão decorre sobre os fundamentos da crítica e não sobre o significado psicanalítico da ciência literária. É por ninguém se preocupar com as merdas que as coisas estão como estão, sim, sim, porque a alocação dos recursos a partir das leis da oferta e da procura (por pessoas que não sabem ler os preços nem identificar se o produto está estragado) tem sido o que se tem visto em muitas matérias. Durante décadas ouviu-se o mesmo discurso em Portugal em relação às políticas públicas e tirando os comunistas, o presidente do Sporting, e os malucos, qualquer tentativa de sistematização crítica das escolhas eleitorais era logo etiquetada como uma manifesta incompreensão das esclarecidas escolhas dos burros dos portugueses. Ora, como é bom de ver, as escolhas dos burros dos portugueses é exatamente a única coisa que é forçoso discutir, assim deus me dê tempo para desfazer a imagem de donzelas concentradas no seu trabalho que os escritores de sucesso que por aí andam têm espalhado insidiosamente e basta para isso citar um exemplo.
 
 
A inolvidável voz que o leitor tem o prazer de estar a ler neste momento foi, durante a sua preparação secundária numa prestigiada escola pública, violentado com nada mais nada menos do que a obra de Inês Pedrosa, em particular um livro cujo título felizmente desapareceu da minha memória. Na época, eu era literariamente mais burro do que a Cristina Caras Lindas, embora as doses de sofrimento escolar acumulado e o meu talento natural me tenham permitido desconfiar prontamente de narrativas sobre adolescentes apaixonados que me causavam a mesma sensação nauseante das orações quaresmais, mas durante muito tempo andei desconfiado sobre o significado daquela erupção textual no programa de estudos da minha escola e no centro sentimental da minha vida académica de então, o estudo da língua portuguesa. Nas constituições menos robustas, um acontecimento deste género pode ser fatal e levar as pessoas a confundirem durante toda uma vida, uma obra literária com os livros de Inês Pedrosa ou João Tordo, ou José Luís Peixoto, ou outra porcaria do mesmo género. É esta a missão que nos move. Se parecer mal aos visados, que venham aqui comentar e apresentar os seus argumentos ou então que fiquem no seu silêncio hierático e nobre que nós, os porcalhões, os pervertidos, os frustrados, os impotentes, aqui estaremos para cumprir o nosso dever militar e militante, ou seja, antes de partir para a galeria imortal sob um outro nome, não podemos deixar de contribuir para o bem comum (no que até a Conferência Episcopal está connosco) e sujar as mãos, ainda que por breves instantes, nos assuntos do nosso tempo.

14 comentários:

Ex-Vincent Poursan disse...

Bom, isto já é tarde mas é para dizer que sim senhor.

Estou aqui pra cumprir não sei bem o quê, mas tem a ver com militares militantes avatares e mutantes, para apalpar não sei também o quê, mas espero que sejam mamas e não por breves instantes, porque a osmose do profundo erótico no desejo não robótico… demora pelo menos meia hora.
E tudo no interesse do bem, comum a mim e á dona das mamas que a mim me calhar apalpar e que espero sejam tipo das da Joana Amaral Dias, cujas… seios digamos assim, me fazem sempre recordar poesia, mais concretamente os seios da Nena dos montes velhos…

Tremeram os seios de Nena
sob o corpete justinho

Sob o corpete justinho
uniram-se os seios de Nena.

Já do corpete bordado
os seios de Nena saíam
- como duas flores abertas

Fodaçe… a arte é uma coisa do catano, isto até dá poesia a um eunuco surdo.

Mas quero deixar aqui bem claro que a mim, aquela história dos impotentes não se aplica… isto é tudo muito literário, pois está bem, mas vamos lá com calma.
Agora vou procurar um alka seltzer, deixar ali à mão um guronsan pra quando acordar, e ler até o quarto parar. Vou ler uma cena dum gajo que penso ser pouco provável algum de vocês estar a ler porque não gosto de misturas - aliás foram precisamente as misturas que me puseram assim de esguelha e sem norte -, PANAIT ISTRATI… um gajo que só tirou a 4ª classe e foi duas vezes repetente…
ainda melhor que o Einstein!!!

AM disse...

panait istrati é um nome do caralho (e sem um nome do caralho não há author por mais author que se seja)
o google não vai ter descanso :)

AM disse...

eh pá, vi agora que há um AM perdido numa posta lá para baixo
o gajo dos resumos não paira por aqui?
não m'obriguem a ler aquela merda toda

Anónimo disse...

Os resumos estão a cargo da Izzy, a resumidora oficial. Mas também há a hipótese estatística, AM, que consiste em definir um modelo de absorção de palavras por frase (nunca mais de três) e correr rapidamente o texto do fim para o princípio,que é o mecanismo que o Lobo Antunes utiliza para transformar os seus entediantes e repetitivos textos em hipotéticas obras-primas.

zé das couves disse...

se não souberes vender a tua obra ninguém a compra. daí os títulos dos livros, não tem nada a ver com compensação. um livro desinteressante é um livro desinteressante. até os escritores desinteressantes sabem isso.

foda-se.

isto vale para tudo. até para os artigos científicos. dos meus tempos de cientista o que me lembro melhor era quando chegava a hora de publicar o artigo na revista estrangeira com alto factor de impacto e peer review. não se submetia enquanto não tivéssemos encontrado aquele título que pegasse o potencial leitor pelos colhões e o obrigasse a ler a estopada que coligia gráficos, estatísticas, referências bibliográficas (referências correctas, não pode ser qualquer uma) e conclusões que centenas de pessoas, provavelmente milhares, já tinham atingido antes e que no futuro outras tantas vão atingir utilizando metodologias diferentes, e ao qual damos o autoritário nome de artigo cientifico. não se trata de fazer ciência mas sim escrever "artigos científicos".

e no fundo, é de autoridade que se está sempre a falar. publica quem pode, não quem quer ou quem sabe. quem tem capacidade de conferir autoridade às merdas que escreve, mesmo que sejam apenas merdas, está safo.

e a autoridade é um processo que tem principio, meio e fim. se não começas de inicio numa posição de autoridade é torna-se complicado porque é difícil entrar quando o processo vai a meio.

no fundo trata-se de escrever livros.

alma disse...

AM,
Aqui,a sua re-putação de educadinho vai pela blogo abaixo :)
ainda por cima a fazer links lá no seu estaminé :)))


AM disse...

obg, alf
vou passar a utilizar essa técnica

alma

educação são abelhas na chuva :)
em roma sê romano
na derrota digno :)

silvia disse...

Heheheheh
Há já muito tempo que penso que o problema das editoras e das livrarias em Portugal reside na profunda falta de visão de quem selecciona o material.Entrar numa livraria é como um depósito de lixo
Hoje em dia raramente entro numa livraria para comprar:) só lá vou para ler em diagonal o material a que se refere o alf.
Uma vez fiz uma viagem de metro entre o chiado e o marquês onde sentou-se à minha frente um gajito de uma editora ao que perguntei qual era o critério que tinham para convidar tal personagem para escrever foi maldosa a minha pergunta e como o gajito meteu os pés pelas mãos acrescentei : é por ela ser gira??? Heheheh o gajito ficou desconfortável e saiu na paragem logo a seguir:) fiquei com a certeza que não era ali que ele queria sair. heheheh
Ler é um dos melhores desportos que pratico e preocupar editores é outra :))

AM disse...

silvia :) o terror da última carruagem :)))
acho graça a essa ideia... dos editores como os maus da fita :)
a edição é um negócio :) não é mecenato nem (miniministério da) "cultura" :)
e o que são "editores" na idade dos blogues senão (cornos) os últimos a saber? :)))

Capt. Paddock disse...

Adivinha

Qual é o grupo editorial, qual é ele que prefere vender as sobras ao fim de dois anos a empresas de reciclagem de papel, em vez de vender os livros a 1 euro?

Pista: é o mesmo grupo editorial que faz tiragens elevadíssimas, mesmo sabendo que não as irá conseguir escoar.

E porquê? Talvez eu arranje paciência para avançar algumas hipóteses num próximo ensaio.



Izzy disse...

A cadela acordou-me as 6h30m. Esta inutil nao sabe distinguir o fim de semana dos outros dias, deve-se achar a Lady Violet, Condessa de Grantham. Adiante. O tempo extra desta manha permitiu-me a leitura completa do jornal, inclusive um inesperado (!) suplemento sobre livros a oferecer neste Natal. Normalmente, teria passado ah frente, mas a convivencia com o Alf "has rubbed off on me", tipo sarna,e dei por mim a ler a critica literaria do livro "M. Proust's Library" de Anka Muhlstein (decidi que esta seria a minha prenda virtual ao Alf neste Natal). "you are what you read" diz o critico. Ora foda-se, entao eu devia ser tao rica quanto o Rupert Murdoch!

Bom, depois de googlar RISTRETTO e saborear um PANAIT ISTRATI, pergunto-me: se se eliminar as editoras tradicionais da equacao, seguindo a via da autopublicacao, e se alcancar sucesso, legitimar-nos-ah isso aos olhos do Alf, ainda que sejamos uns romancistas de qualidade duvidosa? Esta lancado o debate.

Esta semana nao tenho tempo para resumos. Ja ando ah luta com perus, que eu infelizmente vivo rodeada de gente que nao sabe apreciar um polvo na grelha ou um bacalhau com broa. Lembrem-se disso quando se estiverem a lamentar da crise.

zé das couves disse...

esse é um grupo editorial bem catita. ajuda a limpar as prateleiras dos supermercados, faz reciclagem, etc..

diz-me que grupo é esse que vou-me inscrever de propósito no facebook para fazer like. depois desinscrevo-me do facebook e regresso à vida civil como se nada se tivesse passado.

isso dos grupos editoriais serem os maus da fita não sei. não estou dentro do assunto. mas estou em crer que, se é e negócio que estamos a falar, ninguém sai a perder.

isto porque quem perde não existe.

Anónimo disse...

Em plena fnac cheguei a concluir que é quase um feito descobrir um livro que interesse. Devo acrescentar que todo o investimento literário vai para o trabalho de contratar bons designers gráficos porque claramente, o que vende, acrescentando ao Ex-Vicent Poursan, não vai tanto o título mas antes a font a que está escrito o nome do autor - que por sua vez, dita a moda, é bem maior que o nome do livro - e todos aquelas ilustrações de capa altamente rebuscadas que para quem não sabe para quem só julga o livro pela capa, serve muito bem.

F. disse...

adenda - o anónimo sou só eu