segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Contra contra-ataque

Bastou o filho do homem reclinar a cabeça durante o fim de semana para que o inimigo contra-atacasse violentamente, ou nas palavras de Jorge Jesus, bastou termos estado ligeiramente no limite das nossas capacidades físicas para que os nossos rivais exercessem o contra-golpe, inundando um jornal de referência, o Público, com uma cortina de napalm cultural, a saber, uma reportagem de 4 folhas dedicada ao tema «o segredo da viagem» do reparador de biciletas José Luís Peixoto à Coreia do Norte, uma crónica do funcionário das finanças valter hugo mãe sobre os impactos fisiológicos do fim do livro em papel, que ele lamenta de lágrimas nos olhos porque alegadamente lhe foram ofertados espécimes com flores de buganvília no interior, e os livros electrónicos não têm cheiro, elmento essencial uma vez que segundo o aclamado escritor, as pessoas são como os cães, guiam-se pelo mijo nas paredes (um tópico que parece estar a fazer escola), e ainda uma segunda crónica a cargo do mandarim chinês Nuno Pacheco, sobre as potencialidades metafísicas das crónicas de Eduardo Prado Coelho, onde ficamos a saber que o gigante do pensamento era uma pessoa que se preocupava muito com as horas que a sua empregada brasileira perdia nas filas dos serviços de estrangeiros e fronteiras, uma coisa desagradável do ponto de vista humanitário, não esquecendo este humilde leitor os aspetos nocivos no descurar da limpeza e alimentação da cultura portuguesa.
 
 
Mas não faz mal: só é vencido quem pensa um dia vir a ganhar, o que não é manifestamente o nosso caso porque somos vencedores antecipados, «uma vez que já tudo se perdeu», dizia o escafandrista mais conhecido de Rio Maior, e hoje mesmo estareis aqui a contemplar um espectacular post onde se explica porque que é que o livro de Giorgio Agambem sobre Bartleby, a pequena obra-prima de Melville, que tive o azar de ler este fim de semana, é uma das mais ridículas e claras manifestações da impotência filosófica dos académicos na área das humanidades, e explica não só o declínio público dos intelectuais como a ascensão dos ignorantes em matéria de livros e sentido das coisas. Agora tenho que ir ganhar a vida mas já volto porque tal como dizem os turras muçulmanos, o jornal Público (atenção que os turras muçulmanos citam muito o jornal Público) com esta provocação descarada ao Elogio da Derrota, acaba de abrir as portas do inferno.
 
 
Parece também que há uma guerra no país das guerras mas eu sou como as misses mundo: custa-me sobretudo ver crianças a sofrer, mas de resto, quanto aos maiores e vacinados, que tenham juízo e aguentem se podem que a política não começa no dia em que soam as bombas. Devo dizer ainda que estes israelitas são de facto velhacos e escolhem o pior momento para os seus delírios bélicos, famosos desdes as temíveis fisgas do pequenino David, o que obrigará o Daniel Oliveria e o 5 Dias a abrir uma pausa na denúnica da política de austeridade, forçando-os a regressarem ao seu tema justiceiro predilecto: disparos e malandrices na faixa de Gaza. Recomendo às pessoas eventualmente chocadas com este post, porque eu não tenho tempo para me justificar, que leiam as Cartas de Londres de Eça de Queiroz onde se explica porque é que a perna partida da vizinha, numa queda aparatosa, nos comove mais do que os milhões de indivíduos enterrados por um terramoto no Indostão, sobretudo se a vizinha for jeitosa, então aí, meus amigos, adieu temáticas humanitárias. Claro que os homems em geral não partilham estas coisas com o universo feminino, embora nos nosso dias, e alegadamente - ainda segundo um cronista do Público -  o silêncio se deva a um processo de ajustamento em relação à sua identidade. A questão será entre expandir a parte feminina ou acentuar a virilidade. Bom almoço.
 
 
Franz Kafka e Max Brod, divertidos, na praia. Calma, a vida não são só coisas tristes.

3 comentários:

F. disse...

Os Europeus, na sua velha arrogância assemelham-se aquelas pessoas de idade que nunca conseguiram sair do passado. Passado este que não foi assim tão brilhante enquanto era presente, mas que por qualquer motivo lhes devia dar uma melhor noção de identidade do que o estado em que se encontram actualmente. Não irei comentar os judeus nem entrar em grandes detalhes. Contudo, do pouco que sei, o povo "Árabe" é bem mais sofisticado do que este mundo ocidental tem capacidade para compreender e talvez um bocado mais autênticos ao invez de fingirmos todos que é tudo muito bonito e que vai tudo ser muito amigo until the end of time. Enfim... intrigas políticas. Curiosamente, o que acho fantástico nas cartas de Eça é a sua noção de tolerância e em como esta consiste em não levar as pessoas (neste caso, nações) muito a sério. Podíamos todos dispensar este espírito de gravidade em relação a toda a existência humana e dar liberdade para as pessoas serem como bem lhes entende...mesmo quando são perfeitas idiotas.

Mais uma vez, fico sempre com a ideia de que tudo o que escreve aqui nunca faz grande sentido. Any way, have a nice day.

F. disse...

Tudo o que escrevo* (dislexia à hora do almoço no seu melhor)

alma disse...

alf,

"expandir a parte feminina ou acentuar a virilidade."
Tanto nos homens como nas mulheres há que obter o equilibrio.Em ambos os sexos há que expandir e acentuar a coragem moral :)))

Nunca tinha reparado que o público era um jornal de referência :)