quarta-feira, 18 de julho de 2012

Carta aberta a maradona num dia especialmente triste para o Benfica

Neste momento particularmente difícil para toda a nação, uma vez que a Igreja parece querer reentrar no circunstancialismo histórico que nos determina, não posso estar de acordo contigo, maradona, e acredita que isso me entristece, por razões que não posso agora explicitar.

Na verdade, incorres num erro típico de quem não fez estudos aprofundados de economia, e nisso estás acompanhado por Vítor Gaspar e Passos Coelho, isto é, insistes na ideia de que o circunstancialismo histórico concorre para a explicação da merda que somos. Com efeito, a menos que te tenhas tornado um corioláceo (mistura de crustáceo com Coriolano) defensor do marxismo, a economia neo-clássica de Becker e Friedman mostrou gloriosamente que as sociedades são livres para se foderem à vontade e não necessitam de ajuda da história ou de um mediocre como António José Seguro.

Ressalvas, e bem, que apenas a invenção de um sistema de previsibilidade nos poderá garantir um futuro digno de um panfleto das testemunhas de Jeová (mas apenas com as americanas loiras e boazonas e sem os leões) mas eu pergunto, porque gosto de perguntar coisas: e se a inconclusão das políticas de Passos Dias a Foder Portugal Coelho for precisamente o garante de uma situação de caos que precipite os incentivos necessários para que génios como tu passem a gastar o seu tempo com uma exacta reflexão sobre a forma de representar a previsibilidade, eliminando de uma penada os partidos, em vez de andarem a coçar os tomates na blogosfera porque se realizam profissionalmente numa outra merda qualquer que a estabilidade do sistema ineficientemente, do ponto de vista do bem comum - peço desculpa -, vai garantindo?

É bom de ver que estamos em pleno território da teoria da agência e um dos sinais de que uma teoria é boa - e deus abençoe a boa e rara teoria económica - é a sua capacidade de sendo um instrumento estar completamente esvaziada de todo o valor político, necessariamente subjectivo, personalista.
Ora, a assunção do interesse de Portugal nas tuas linhas é um desgosto que não posso deixar passar em claro, e o facto de achares que a mudança do mundo, que necessariamente não depende de nenhum circunstancialismo histórico mas apenas das leis da física, possa ficar entregue aos burros e ignorantes do 5 Dias, é um dado que me enche de melanconia, como dizem os italianos.

Na verdade, o que é fascinante na teoria económica, a verdadeira, única e anjelical, e que ninguém lê, pois está encerrada em livros dos anos 30 que não falam nem de Keynes nem de ajustamentos, é a clara separação entre as consequências dos nossos actos - por exemplo, retribuir ao mundo empresarial Passos Coelho - e o juízo político e moral sobre essas consequências. Ou isso ou alguém vai ter que explicar qual foi o circunstancialismo que explica que a Alemanha tenha produzido Bismarck, Hitler, Brant e Merkel quase no espaço de um século. Ok, não foi um bom exemplo.

Mas, em todo o caso, pelo menos, a fazer fé nesse circunstancialismo histórico, teriamos que explicar em que medida é que Salazar não foi capaz de fazer mal a Portugal para lá do seu circunstancialismo (geográfico, astrológico?) e em que medida é que o circunstancialismo de D. João II e D. Manuel lhes permitiu inspirarem uma música a Carlos Paião que conclui gloriosamente que num passado longínquo quase chegámos a ser alguém?

Como estou ligeiramente embriagado termino com uma recomendação. Não terá chegado o tempo de os indivíduos se deixaram de colectivismos e deixarem que o circunstancialismo histórico, na medida em que não determina o que quer que seja, permita que as coisas possam ser o que na realidade são, sem que estejamos sempre a tentar que as coisas sejam os que nós pensamos que são? Para isso só vejo um caminho: fazermos silêncio.

Sem comentários: