quinta-feira, 3 de maio de 2012

O Pingo Doce enquanto categoria escatológica

Estou a citar de cabeça, mas não devo andar longe. As principais fontes de lucro de um supermercado, por ordem decrescente de importância são: aluguer de espaços a outros lojistas,  pagamentos para colocar produtos em locais chave, juros sobre o dinheiro em caixa e lucro com as compras do clientes. Mutatis mutantis, esta ordenação de rendimentos será bastante semelhante para todos os supermercados.

Presumo que a promoção  de anteontem tenha tido como motivação angariar dinheiro para emprestar ao grupo Jerónimo Martins, sem ter a maçada de ir à banca e pagar juros de usura. Presumo também que quem teve a ideia da promoção não estava à espera da enchente de gente que se verificou.

Mas estas considerações meramente monetárias rapidamente foram eclipsadas pela elevação do Pingo Doce a categoria escatológia. Ao Daniel Oliveira só faltou dizer, das quatro bestas do apocalipse, qual é o Pingo Doce. No Blasfémias defende-se o Pingo Doce como mirífico paladino dos pobres e oprimidos, campeão do liberalismo mundial. Ganha o Daniel Oliveira no desempate por penalidades, por ter o texto mais melhor bem escrito. Sim, eu sei.

O que não deixa de me espantar, e é dizer muito para quem tem o cinismo entranhado fundo na carne, dizia eu que o que não deixa de me espantar é o histerismo colectivo em torno de um evento que amanhã já estará esquecido. Tentar explicar o Portugal contemporâneo através deste acontecimento é no mínimo ridículo.

Não fosse ter proporcionado ao Ricardo Araújo Pereira finalmente produzir uma rábula decente nas manhãs da Comercial, nada se teria aproveitado desta tragicomédia.




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