quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A minha carreira apresenta-se, neste momento, e com efeito, tão fulgurante como uma sardinha e tão grandiosa como uma ventoinha de Secretaria

A certo momento, o narrador de Moby-Dick explica como o pretinho do baleeiro, após cair nas ondas, puxado pela corda de um arpão, foi tecnicamente abandonado, ainda que por breve momentos, no mar alto, e Ismael, impressionado com aquela pequenina cabeça, oscilando para cima e para baixo no meio das gigantescas muralhas prateadas, explica como o oeano imenso aspirou a razão do pobre náufrago, transformando-o num louco, que desde esse momento, mesmo depois de resgatado, passou a errar ao longo do convés, cantarolando como um tolo. Aqueles que têm seguido o meu calvário espiritual, aqui, neste local, sabem como me assemelho a esse pretinho, cada vez mais perdido entre as vagas imensas da blogosfera e crescentemente esvaziado da minha razão. Não vou fazer uma defesa sacerdotal do sacríficio, descansem, nem um elogio das infinitas misérias espirituais da humanidade (para isso temos Manuel Luís Goucha) mas não posso deixar de incitar ao orgulho todos os que, tendo consciência da magnitude do problema que nos foi tatuado na testa no momento do parto, se mantêm firmes, entre as ondas, em vez de seguir um qualquer navio carregado de óleo de baleia, para vender num entreposto manhoso de uma qualquer cidadezinha medíocre do nosso confuso planeta. Entendam isto como um comentário tecnicamente profundo, e elaboradamente objectivo, de todas as variáveis económicas que, durante o próximo trimestre, agitarão a sua cauda de baleia entre as confusas vagas da comunicação social. Uma nota de estima e consideração para os comentários de Marques Mendes porque às vezes, as pessoas não estão boas da cabeça, e é preciso uma cabeça, boa ou má, para que ouçamos uma outra cabeça dizer que podemos não estar bons da cabeça, e mesmo que para isso fosse necessário clarificar o que é uma boa cabeça, não faz mal, porque é uma tarefa tão primária que Marques Mendes (com efeito, meu deus, com que poderoso efeito), evita, com propriedade (com muita propriedade, diga-se) empreendê-la, não só porque trabalha em empresas, e isso, mas certamente porque já se apresenta maravilhosamente dotado de uma cabeça, mesmo que oscilante, tremendamente oscilante, entre muitas coisas que agora me escuso de identificar.




P.S: Alguém sabe quando sai o Shakespeare do Lampedusa? Ameaçam estas merdas nos jornais e um gajo anda duas semanas a lamber o balcão das livrarias, tirando sempre do bolso a mesma pergunta, até as empregada colocarem a sua face de costureira fascista convencidas de que estão a participar numa sórdida inabilidade de tarado.

3 comentários:

alma disse...

Ontem vi um pretinho a sair de um bruto porsche (panamera) passou por mim e disse: boa tarde (com uma satisfação digna do pretinho acima mencionado).
Ri-me muito com a cara das pessoas que estavam ao meu lado
a vida é muito curiosa
para quem é gulosa como eu :))))

alma disse...

O Shake do Lampedusa sai dia 6 de fev. numa bulhosa perto de si LOL

http://www.bulhosa.pt/livro/shakespeare-giuseppe-tomasi-di-lampedusa/

Anónimo disse...

Eternamente grato por uma informação tão preciosa. Porque será que insisto em falar directamente com os responsáveis comerciais dos estabelecimentos de venda sobre datas de publicação de livros?