quinta-feira, 22 de abril de 2010

Nunca fui à Islândia (nem tenciono ir)

Um dos meus maiores atributos é a capacidade de estabelecer limites à minha fulgurante competência e, como tal, não medirei sequer um pelo púbico do vulcão que tanta tinta tem (ora aí está uma figura retórica de que não consigo libertar-me) feito correr nestes últimos dias que (como diria uma testemunha de Jeová ou um católico apostólico romano) parece que são os últimos. Pedro Lomba não manifestou igual capacidade e hoje perora sobre o facto de «não sabermos nada» sobre estas difíceis circunstâncias de vivermos ameaçados por uma natureza hostil. É, aliás, e criticamente falando, assaz curioso constatar que só não sabemos nada quando parece ser conveniente sabermos que nada sabemos. Já a propósito da relação entre mercados financeiros e desenvolvimento integrado das sociedades modernas, parece que sabemos tudo o que haveria para saber entre a linha do equador e aqueles espaços meta-gelados, onde sarapateiam (consultem o dicionário de mirandês) raparigas esquisitas - mas bonitas - e indivíduos logicamente propensos ao suicídio: o que haveriam de fazer indivíduos do sexo masculino rodeados de gelo e raparigas bonitas mas esquisitas? Na verdade, como tenho anunciado continuadamente - para o caso de um dos meus leitores estar a pensar escrever um livro nas próximas décadas - não tenho tempo, isto porque estou a laborar nas minhas obras completas, e garanto desde já que não são nem «sonetos a Cristo», nem elaborações sobre cidades rurais encomendadas por um grande grupo de venda a retalho do tecido económico português. Posso apenas avançar que já tenho cinco cadernos manuscritos e a tendência é para aumentar o número de palavras cuidadosamente retiradas do fundo do poço. Sabei, leitores, que não partilho: a) nem da complexidade forçada - que, embora estilizada, incorre no pseudo-auto-elogio-da-inteligência-académica, e abunda nalguns dos melhores bloguistas, embora os admire com a profundidade dos meus dois pulmões abertos; b) nem da estafada tendência para considerar a simplicidade da língua e o trabalho de corte das primeiras versões como uma regra sagrada dos clássicos instantâneos (uma das expressões, forjadas pela crítica, mais estúpidas, dos últimos trinta anos), opinião onde não me encontro sozinho - como diria uma natural da Serra da Estrela - pois parafraseando Nabokov, «A mamã é simples. O Jornalês é simples. Os resumos são simples. A porcaria é simples. Mas os Tolstóis e os Melvilles não são simples.»

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