sábado, 20 de fevereiro de 2010

Uma paneleirice singular nunca vem só

Durante as cerca de 2 horas e meia que levei ontem a tentar aconchegar a posição relativa das rótulas de forma a evitar formações de frentes frias derivadas da humidade que se faz sentir nestes últimos dias no território nacional (calculo eu que decorrentes do facto de neste blogue se terem feito alusões político-climáticas à causalidade entre calor e escassez de liberdade de expressão), dizia eu que durante esse lapso de tempo (expressão tão ao gosto de Carl Sagan), em que procurava combater a formação de frentes frias e alinhar as rótulas numa posição favorável a melhor circulação sanguínea, imaginei um post em que fazia alusões ao adestramento na língua de Camões (essa serpente de sangue) e os índices de publicação de livros cujo estilo dominante implique menções da cidade mítica da Figueira da Foz (que não sendo Chaves também não é Portimão e, por isso, não justifica tamanho foguetório), insinuações insinuantes sobre métodos de auto-ajuda e todo um conjunto de coisas de que já não me recorda o sentido. Entretanto, a observação do filme «A single man» pautou-se por uma destemperada ode à panasquice sem uma pinga de realidade, sem uma pitada de invenção, sem um grama de inteligência, sem um grão de força artística, em que tudo se desmorona numa pífia deambulação pelo imaginário de um estilista amaricado. Façam o favor de não incorrer no erro grosseiro de confundir esta última frase com qualquer preconceito. Proust é o pincel mais afinado da literatura do século XX e não deixou de ser um homossexual congénito e fulgurante mas de índole tauromáquica, isto é, um artista capaz de bandarilhar qualquer besta, um forcado capaz de pegar qualquer vida desgovernada, um bandarilheiro capaz de tourear em qualquer arena da sensibilidade. Não confundamos as coisas: a homossexualidade não implica qualquer espécie de fraqueza e a arte nunca sobrevive a mariquices, nem depois de filtrada pelo design estílistico em forma de pseudo-problema existencial. Em suma, continuam a doer-me as rótulas.

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