segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Não seremos mais, José Luís?

«...uma pessoa que duvido muito que goste de ler, porque se soubesse saberia brincar melhor.» Maradona in A Causa foi Modificada
Mesmo não sabendo quem é, ou o que é, o Sérgio Lavos, foi com este mote aparentemente evidente ou, se quiserem, enigmático, que me ocorreu estabelecer uma ligação entre a manifestação pró-família e a manifestação pró-todos os cremes em geral para usar uma imagem do autor-mais-decisivo-da língua-portuguesa do momento. É claro que a construção de convicções políticas não difere materialmente da construção de suportes para lavatórios de casa de banho. São necessários pregos, madeira, cola química, experiência acumulada, impressões empíricas sobre as consequências de uma martelada no dedo, um claro repositório de posicionamentos técnicos a fim de aplicar, numa posição de escasso conforto ergonómico, a maior pancada possível, seca e repentina, a fim de não entortar a cabeça ao prego. O que é um homem? perguntava um filósofo amigo. No reconhecimento da homossexualidade, onde fica o sentido da ponte de Vila Franca e dos magníficos touros de cobrição a pastar com paciência na lezíria verdejante, enquanto o Tejo corre a despejar suas mágoas no grande oceano da indiferença? Mas não será a prática do coito entre elementos do sexo masculino um problema de representação? Claro. Trará problema demográficos? Não. Trará problemas educativos? Claro, mas isso também a conversão de Faisal. Como explicar a uma crinça de sete anos que aquele indivíduo de cabelo branco, emergindo capciosamente nas cassetes históricas com os momentos gloriosos da selecção portuguesa, colocando o braço direito na bola como quem mete a mão na coxa da vizinha reformada, decidiu abraçar a religião de Alá? Porém, a meio desta ligação neuronal, talvez pela influência do profeta, ausentaram-se-me as palavras ao televisionar José Luís Peixoto e um companheiro careca muito sensível que dorme com cartas de Mário Cesariny, enquanto organiza encontros em torno da poesia, uma actividade alegadamente com grandes ligações à verdade. Parece impossível como ainda há indivíduos no actual momento do calendário cristão capazes de sujarem o palato ou a dentadura postiça, que tanto trabalho dá escovar, com o conceito de verdade. Que tragam a poesia para este bacanal de triste sentifo fisiológico parece ainda mais repugnante ao observador que acaba de ver o FC Rubén Micael (o assento é no é) ganhar cinco-um a uma equipa cuja presença enigmática no campeonato se assemelha à do Sérigo Lavos na discussão pública do casamento homossexual: está ali para atrapalhar. Peixoto leu uma coisa em forma de câmara de ar furada, da sua autoria, em que éramos cinco na hora de pôr a mesa, depois a minha irmã casou e o meu pai morreu e continuámos a ser cinco, e a minha irmã mais nova foi para casa dela, e seremos cinco enquanto um de nós for vivo, seremos sempre cinco. E eu estupefacto, fiquei a tentar conciliar a cada vez maior concordância entre tentativa literária e auto-ajuda, perguntando se isto não será um problema de pouca frequência das próprias cuecas por lavar como se diz na região de Condeixa.

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