quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Próxima estação: marquês de Pombal

Enquanto leio, Nabokov conta que no meio das suas doenças adolescentes, imaginava ou delirava que a sua mãe saía de trenó puxado por corcel nas ruas nevadas a comprar presentes, a sua mãe envergando casaco de pele de foca, de rosto colocado na velocidade que Nabokov imaginava ser um traço distintivo das aristocratas de S. Petersburgo, e sua mãe com pontas de uma volumusoa pele de urso cobria todo o corpo até ao peito, defendendo aquela fortaleza voluptuosa das lanças do frio, e a velocidade aumentava, e a respiração arquejante do cavalo, que lembra aquele cavalo negro que pára de repente no pensamento do poeta louco, aqui era o adolescente louco Nabokov que imaginava o docel castanho claro em velocidade noite dentro, os estalos ritmados dos cascos e os pedaços de terra gelada a saltarem à frente do carro atrelado ao corcel veloz, enquanto Nabokov delirava e a sua mãe sentia as mãos da noite postas geladas no seu rosto aristocrata. E Nabokov fala então de um lacaio que vai pendurado na velocidade do trenó noite dentro, de chapéu empenachado, um mero servo, lacaio, mas pendurado no carro e sentindo arfar o cavalo e a respiração ofegante da mãe aristocrata do escritor Nabokov, e é evidente que neste quadro, eu sou esse lacaio de penacho no chapéu, numa seta de tempo, em velocidade branca sobre a neve, sentindo a terra estalar gelada e o arfar pesado do cavalo, de cascos ritmados e a mãe de Nabokov, aristocrata pensando no presente que há-de levar a Nobokov e Nabokov pensando na mãe preocupada com o menino aristocrata delirante no seu leito, enquanto á volta tudo é noite e apenas o lacaio de chapéu empenachado apoiado no suporte estreito do trenó, recebendo no rosto a terra gelada que salta veloz à sua frente.

Sem comentários: