quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Os cães de Angélico estão neste momento a perseguir-me furiosamente pelo que não respondo pelos meus actos

Parece que a A Porto Editora vai lançar «aquela que será a maior antologia de poesia portuguesa reunida num só volume. Poemas Portugueses - Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI reúne oitocentos anos de poesia, 267 autores e mais de dois mil textos. Parece que segundo os antologiadores, «o elemento de distinção da obra, relativamente às organizadas no passado, é o facto de ela ser "a primeira antologia panorâmica que abarca a poesia portuguesa desde os seus alvores, na transição do século XII para o século XIII até ao ano de 2008". Parece que para Jorge Reis-Sá e Rui Lage, «esta é "a primeira vez que todo o arco temporal do século XX é objecto de um projecto antropológico não exclusivo, isto é, nem temático, nem tendencioso". Parece que «a antologia está organizada por ordem cronológica do nascimento de cada poeta, abrindo com a Cantiga de Garvala, de Pai Soares de Taveirós, trovador do primeiro decénio do século XIII, e encerrando com um poema de Luís Quintais, Rasto, datado de Outubro de 2008.» Parece que aqui fica o meu contributo, uma variação ao mote de Pais Soares de Taveirós, Canção da Ribeirinha, «No mundo nom me sei parelha/ mentre me for' como me vai,/ ca ja moiro por vos - e ai/ mia senhor branca e vermelha.» que seria escandaloso não incluir nesta antologia que se recomenda a todos os professores que das ilhas a valença participaram com denodo na luta por uma escola pública mais aberta, mais justa, mais fraterna, ai.
Havia senhora vós e eu num canto escuro
mas logo a noite levantou em nós um muro
Lage e Sá mas D'onde me saiu esta parelha
pois que no fundo deste poço o corpo cai
como no ceú cobalto um raio de fogo sai
como de a mim a vós a fúria se assemelha
se não fossem senhora os mariconços ai
minha louçana moça por mim tão vermelha
mais vermelha se por mim louçana e vai
levar com o livro desta mariconça vã parelha
e vermelha a louçana moça vai
como no poço o ar tão vão que cai
a prumo punhal que se assemelha
não fosse a dupla doce tão azelha
neste poço que é o mundo a treva cai
num livro como o bobo triste que ali vai
cortejar o cu do rei d'aver esta vã parelha
e vai de sorrisos na carpete tão vermelha
a moça desvairada sob as brancas luzes sai
leixando-me coitado tão pastor mas assi vai
e diz não posso mais aqui senhor com este calor
e vejo agora que num poço minha cabeça cai
Pois os esconsos Lage e Sá agitam-me com livro ei
grito p'ra esse peditório inda ontem um arroto dei
mas já lá vai louçana minha formosa moça Poesia ai
e minha vã cabeça mais no fundo scuro deste poço cai


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