quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O problema do argumento «és um palhaço» é a cota de mercado que poderá retirar aos formandos do Chapitô

Concerteza que o Dr. Medina Carreira subscreverá a exigência argumentativa de Mário Crespo, de certo formado em escolas de altíssimo gabarito, num tempo em que as pessoas calculavam a raiz quadrada de 456797789,56 em três segundos em posição de pé cochinho e ainda recitavam, enquanto efectuavam a operação mental, as três estrofes finais do Canto VIII dos Lusíadas. Mesmo tendo em conta misticismos organizados como os das modernas teorias da liderança, a verdade é que a generalidade das pessoas se divide em dois grandes grupos: a) aquelas que acham que estão colocadas num ponto de vista privilegiado para anotar as imperfeições naturais da estupidez humana, geralmente um ponto que é constituído por uma poltrona qualquer bem remunerada; b) aquelas que acham que no meio de um grupo de palhaços os maiores palhaços são elas próprias pelo simples facto de terem consciência de que existe a palhaçada e de que não há maior palhaço do que aquele que julga que não há palhaços mas pessoas ignorantes que precisavam de gastar mais tempo com essa eterna palhaçada narcisista que é a leitura sileciosa. Não vejo em que é que difere a compra de uma empresa em Porto Rico, sob contornos dignos de um tendeiro da Golegã, da liderança informativa num canal especializado de um programa como Plano Inclinado, espaço cómico-jornalístico onde três espécimes, pertencendo ao grupo das pessoas-de-reconhecido-mérito, entoam elegias sobre a morte da exigência na sociedade portuguesa. Pode até dizer-se - recorrendo áquele baú mágico, qual mala do Sport Billy para frequentadores da cinemateca, que são os federalist pappers - que a palhaçada de Mário Crespo é até mais prejudicial ao arejamento da comunidade do que as obscuras transações com ilhas da América Central. Há muitas coisas que poderiam ser ditas a este propósito e tanto o Maradona como o Casanova citaram Moby Dick no espaço de um mês, o que me deixa melancólico sobre as esperanças da blogoesfera em constituir um discurso individual que possa contrariar o tom "marretas" em que mergulhou a generalidade da imprensa de referência. Embora concorde em grande parte com isto, devo utilizar um argumento de cunho vincadamente liberal para referir que esta lógica, um pouco pedida de empréstimo a Steven Seagal, apenas funciona numa perspectiva de exterioridade sociológica, isto é, quando o indivíduo que vem munido com a catana ou com a bazuca não pretende fazer uma intervenção cirúrgica a céu aberto e ao nível do baixo ventre do interessado em sublinhar a ideia de que na raiz da violência pode estar a mais genuina coragem. Até porque o problema da violência, como o caríssimo maradona devia saber, reside precisamente na dificuldade que coloca à identificação geral dos níveis de coragem praticados por indivíduos munidos com objectos capazes de nos fazer saltar os intestinos para a atmosfera.

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