sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Na velha contenda entre Freud e Nabokov, depois do suado empate conseguido pelo russo, vamos assistindo ao segundo tento do pai da psicanálise

Pio de Abreu descorre sobre a inveja e diz coisas muito avisadas, não fosse ele um indivíduo que se está a borrifar para o Plano Inclinado, programa da sic notícias que se está a transformar numa espécie de barómetro da estupidez, do género «quem concorda com Medina Carreira tem a capacidade de especulação lógico-dedutiva de um musaranho zarolho, quem discorda tranquilamente tem a capacidade cívica de um albatroz e quem discorda furiosamente tem a competência racional de um cruzamento entre Newton e Shakespeare». É interessante descobrir que os futebolistas escapam a este destino: só neste caso, a inveja cede à admiração. Talvez seja porque, à partida, ninguém os conhece, vieram da periferia, não têm nomes de família. Mas também pode ser pela sobranceria com que ainda vemos os jogadores de futebol, coisa a que eles se prestam com uma humildade cultivada. Para ilustrar que Pio de Abreu tem razão basta ver a reacção pública portuguesa ao triunfo glorioso de Cristiano Ronaldo em Madrid, acontecimento que muitos portugueses lamentaram no seu estilo carpideira enlutada pelo bem comum, mas acontecimento que teria feito Píndaro ressuscitar da tumba milenar para vir cantar, com sua harpa de prata, a explosão física, psicológica e intelectual (sim meus amigos, intelectual) de um dos mais sagrados atletas de todos os tempos. É evidente que há aqui uma glorificação do corpo, um ressuscitar da estétita pagã (há quem diga que ela nunca morreu e que toda a arte, desde Nefertiti até Emily Dickinson é um longo desfilar desse princípio) e que o corpo é matéria transitória que vai despenhar-se no abismo do nada. E então?

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