sábado, 5 de dezembro de 2009

As horas grandes e as pequenas

De acordo com Marcos Perestrello, «Antero demonstra que Portugal entrou sempre em declínio quando se afastou dos valores que inspiraram a sua fundação e as horas grandes da sua história - a liberdade, a tolerância e fraternidade, a abertura ao mundo e aos outros, a curiosidade pelo desconhecido, o espírito crítico e o sentido de modernidade e de futuro». E eu que julgava que Antero era um espécie de declínio em movimento contínuo, com génio suficiente para enganar deputados constitucionais como quem despreocupadamente confia a barba ruiva, e se tinha dirigido a um jardim no termo da cidade de Ponta Delgada para, contra o tumultuoso rugido das ondas atlânticas, dar um tiro na cabeça por esta merda não valer um chavo, ou então a fim de ver o resultado físico-químico da sempre inolvidável experiência de não apetecer estar aqui a ler o Marcos Perestrello. Como estava enganado. Afinal, Portugal esteve aberto aos outros, sempre curioso pelo desconhecido, o que foi demonstrado por Antero, e nós sabemos como a curiosidade pelo desconhecido é um atributo dos países encomendados à providência, talhados para grandes coisas. Penso por exemplo na Jamaica, esse país com um sentido de modernidade muito aguçado, onde Bob Marley desfez um dedo a jogar à bola e foi depois morrendo pelos cantos a fim de não dar de caras com o Marcos Perestrello. Antero demonstra ainda uma outra coisa. O melhor é não haver pistolas nas arcas da família, sobretudo ao Sábado de manhã, quando saiem as crónicas do Expresso.

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