quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Aquecimento global linguístico: um problema em crescimento (espero que isto não traga um súbito aumento de visitantes enganados a este blogue)

Se é verdade que o pensamento escatológico em torno das alterações climáticas mistura uma série de elementos mais contraditórios que uma mala de senhora isso não deve levar-nos a chutar para canto qualquer pensamento crítico a propósito dos modelos políticos de desenvolvimento económico expressão com que costuma caracterizar-se o actual sistema eufemista de esbulhamento de quem trabalha. Receio que a crítica à crítica do aquecimento global (justa em inúmeros parâmetros) possa acabar por ofuscar a crítica à produção industrial sem o reconhecimento dos direitos de propriedade (onde deve incluir-se o direito a não viver no meio da porcaria) tão queridos a uma vasta fauna de cidadãos liberais (desde empreendedores em actividades intensivas de conhecimento a académicos apostados em tecnologias aplicadas e respectivos direitos de patente). Poderia agora falar do vómito intensivo dos resíduos das lavagens de mineral efectuados por empresas de mineração sucessivas na ribeira e nascentes que ladeavam as hortas do meu avô numa aldeia entre o Açor e a Estrela mas não quero transformar este post na minha biografia político-ecológica. Reconheço que o ambientalismo é talvez a forma de hipocrisia mais irritante à face do planeta que se pretende salvar, secundado de perto pela teologia cristã, isto porque o ambientalismo produz indivíduos que conspiram em Copenhaga contra a globalização dos mercados e o terrorismo industrial a partir de terminais informáticos e de ténis de marca registada, ás vezes polos lacoste, que são eles próprios hinos à destruição de espécies animais raras e santuários arborícolas de valor incalculável. É como defender um inspector da polícia que para acabar com os assassinatos em massa use uma metralhadora com que vai eliminando todos os condenados por essa tipologia de crime. Em todo o caso, Henrique Raposo não pode ser comparado a Rui Tavares. E lembro a propósito disso o comentário que faziam em meados do século XIX sobre Almeida Garrett. «O Garrett é capaz das piores porcarias mas não tolera uma frase mal escrita». E se Tavares é elegante nas frases mesmo quando se lhe possam apontar inúmeras críticas, Raposo é capaz de produzir milhares de frase mal escritas a propósito das piores porcarias.

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