sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Tenho escrito inapto na minha cédula militar, pelo que devo ser desculpado

Num dos locais onde melhor se pensa em Portugal li há pouco que existe em alguns de nós, como pedra irremediavelmente presa ao calcanhar (Aquiles parece que tinha este problema, o que não o impediu de esmagar Heitor), uma certa propensão para a inação. Parecendo que não vem ao caso, até vem. Isto porque o que se discute no âmbito do pós-modernismo é muitas vezes uma questão de método e de alcance. É claro que biltres e saloios existem em toda a parte. Da mesma forma, não foi um auxílio à clareza as misturas da crítica à hegemonia do discurso científico com os próprios espaços onde se faz o discurso científico. Em todo o caso, o facto de não se perceber um texto, hipoteticamente apelidado de pós-moderno, não quer dizer que isso implique legitimidade para passar ao dito texto umcertificado de desquailificação racional. Há muitas coisas que nós não percebemos e que mesmo assim transportam carradas de utilidade. Eu, por exemplo, nunca percebi porque é que o Benfica contratou um jogador chamado Vata que era qualquer coisa entre o Mantorras depois da lesão e a lentidão desconchavada do Bruno Caires, traduzindo-se a sua acção numa espécie de cruzamento entre o curandeiro africano e a melancolia inapta dos poetas clássicos, isto até ao momento em que, aí pelos 11 anos, no ano de 1989, pelas 20h45 da noite, de ouvido colado ao plástico perfurado do transistor, já com uma certa afluência lacrimal a subir à janela da alma, perante a iluminação nas meias finais da Taça dos Campeões Europeus, a multidão explode abruptamente, confundindo-se com o ruído do sinal da emissão, altamente distorcido, e o relatador apenas concebe balbuciar incrédulo que aos 89 minutos, num canto marcado por Vitor Paneira, Vata entra na área e com a mão empurra a bola para dentro da baliza do Marselha.

1 comentário:

ateixeira disse...

Se vier por este te modo pedir-te que me indiques umas leituras que me iniciem suavemente no pós-modernismo.

Ignorante me confesso que nunca li nada de pós-modernismo per se. Já li alguma coisa sobre mas nunca li nada de fontes originais. Em parte porque não sei o que vale a pena ler em parte porque acho que não vou ter muita paciência para ler.

Mas diz-me uma espécie de Idiot's Guide to Postmodernism que eu para poder falar mal depois de ter lido. :P

Ps: Uma coisa que me fez perder muita fé no movimento pósmoderno foi a Sokal Hoax. Sobre isso li muito e todo a situação foi mesmo decepcionante.