sábado, 31 de outubro de 2009

É preciso dominar a técnica

Existem muitas e variadas formas de insultar um ex-ministro pela sua ignominiosa ignorância (a leitura excessiva de António Nobre resulta nestes defeitos de linguagem), o problema é que, como é do conhecimento dos leitores deste blogue (três ex-frequentadores da missa em S. Domingos de Benfica, uma jovem promessa falhada do Atlético de Porto Salvo, um proprietário de um Talho no Beato e quatro amantes da prática do tiro aos pratos), costumo deambular por sítios onde o trabalho produtivo não é um valor de referência. Acresce a esta problemática - já de si bastante complexa por não se articular devidamente com os profundos conhecimentos de ju-jitsu jornalístico de Ricardo Costa - a escandalosa falta de sentido de responsabilidade que me anima desde as primeiras fraldas, aspecto vigorosamente assinalado pela minha mãe com a seguinte frase «olha para o que fizeste» e devidamente consagrado por uma Professora de Matemática (cujo cabelo ostensivamente pintado até à testa, e as sobrancelhas carbonizadas, explicam uma certa austeridade, na época incompreensível) que após um teste, digamos, menos feliz, sentenciou «que miséria Franciscana». O insólito da situação reside no facto de a saudosa Professora desconhecer que era eu o único aluno do secundário que havia lido, na totalidade, as obras completas de Francisco de Assis - graças à eterna bondade de Deus, não eram vastas - no tempo útil das aulas de matemática, o que resultava num cruzamento entre especulação lógica e as virtudes celestes dos malmequeres do campo, que não se verificava no planeta terra há pelo menos 650 anos. Grças também ao senhor por esta leitura não ter provocado danos irreparáveis na observação táctica das sucessivas equipas do Benfica que, ao longo dos anos, se têm despenhado na mais atávica imobilidade, perante o meu prognóstico, claro, objectivo e muito antecente ao desfecho do jogo. Se me tivesse deparado com frases cujo esquema geral invocasse um qualquer autor dos PALOP, as consequências seriam irreversíveis. Este reconhecido sentimento de irresponsabilidade leva-me, portanto, a não poder insultar ex-ministros que insultam jovens invocando a suposta ignorância da aritmética de jovens que, devido à incompetência de ex-ministros como esse que agora me abstenho de insultar, vão ter que trabalhar como caixas de supermercado, sem as devidas habilitações aritméticas e, assim, cumprirem a sua função de objectos de insulto catedrático. É que ontem (antes de evoluir no palco da Cornucópia a mulher mais bela do mundo, com um sentido de velocidade e leveza, neste momento só acessível às virtudes de Fábio Coentrão, com vertiginosas deambulações de sentido e raciocínios lógicos, golpes de emoção desferidos apenas com a íris - o que obrigou Luís Miguel Cintra a perder-se duas vezes no texto), estavam três adolescentes, dois rapazes e uma rapariga, não mais que dezasseis anos, à porta do Teatro, na esperança de conseguir Bilhetes. Esperaram, a fim de numa almofada (dada a superlotação da sala) sentados no chão, com o Hamlet fotocopiado debaixo do braço, aprenderem a arte de gastar uma vida inteira sem produzir uma única coisa que tenha a miníma rentabilidade no tecido produtivo e na competitividade das empresas. Não consigo sequer acabar de digitar a palavra competitividade sem me vir à cabeça a ideia de que o ferro de engomar, comprado a baixo preço, numa competitiva loja de um rentabilíssimo centro de comércio, acaba de me encher uma camisa branca de manchas castanhas. Aimar vai hoje ser expulso. Mas isso não será nunca um problema.

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