sábado, 24 de outubro de 2009

Deus cheira mal da boca

Uma das grandes virtualidades do concurso «A Bíblia: quem consegue dizer o disparate mais hilariante?», foi revelar-nos essa bem-aventurada realidade que é o facto de António Bagão Félix, Vasco Pulido Valente e António Lobo Xavier não apreciarem a literatura de José Saramago. Eu, que por vezes tenho que recorrer à Bíblia para cimentar uma identidade própria, através do mecanismo clássico da exclusão (Deus conhece cada um dos meus cabelos - e espero que cada um dos meus piolhos, uma vez que, nao fazendo acepções de pessoas, o Senhor não fará também segregação de parasitas) vejo-me assim aliviado da leitura chata dos textos sagrados, por meio desta claríssima declaração de diferença entre mim, que amo e louvo o senhor José Saramago, com todo o meu coração, e aqueles três comentadores da realidade portuguesa, por sinal, também três dos mais eruditos opinadores na categoria de «não sei do que estou a falar mas ele também não e eu sou mais rico e mais bem nascido por isso, cala-te já!». Outra das grandes virtualidades foi ter sido revelado a esta nesga de terra, comprometida com o culto perene da Imaculada Conceição, que surge um exegeta e profundo conhecedor da Bíblia a cada pontapé num cagalhão de um cão, para citar o meu avô, aliás, homem profundamente conhecedor da Bíblia mas também das trinta e uma maneiras de assassinar Almeida Santos e Mário Soares com instrumentos pirotécnicos, de cada vez que aqueles ilustres políticos apareciam, fortuitamente, no jornal da noite, após o decote de Serenela Andrade, e antes das pernas esbeltas da apresentadoras da metereologia, a louvar os benefícios da espectacular descolonização feita pelo Estado Português, isto quando corria o ano de 1974, e Portugal era um pais feliz, já que José Saramago não tinha ainda ganho o prémio nóbel da literatura.

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