quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Bolaño

Pese embora ainda não ter terminado a leitura, uma vez que motivos de força maior desviam a minha atenção para conjecturas sobre a possibilidade de Aimar poder reverter no tempo (fui convencido desta possíbilidade num sonho em que Clark Kent era um espião húngaro ao serviço da URSS declamava em grego antigo excertos da Montanha Mágica) desenvolvendo nas hostes do SLB seis épocas de irrefutável génio, terminando todos nós -Kent, Aimar e a moscambilha lisboeta - num carro de triunfo pelas ruas da Cidade do México de mãos dadas com alguns dos meus colegas de infância que, entretanto, se dedicaram à mecânica automóvel ou à refrigeração mecânica de unidades de café. Tirando a falta de tempo para melhor exegese, Bolaño é um autor relativamente trivial, com uma imaginação prodigiosa, é certo, mas ainda convencido de que cuspindo sobre autores consagrados, ainda que amando-os - e esse é já um pecado não negligenciável -, misturando apocalipse e empregadas chilenas de solicitação sexual fácil, assassinatos em série - uma espécie de garantia de sucesso hodierna - e discussões intrincadas sobre correntes estilísticas pós-modernas - os literatos dificilmente abandonam os seus vícios - causaria escândalo no templo da literatura. Vieram de imediato as palmas. Mais uma falsa partida para um pseudo-autor maldito que pouco falta para atingir os números do Código Da Vinci. Nada a obstar às vendas massificadas. Mas escândalo, ou génio, para não falar sequer em revelação, seria arrancar uma narrativa efectivamente lida onde nada se passasse, a não ser tiroteiros contra instalações bancárias, e descrições-variações de jogadas inconsequentes de Zidane e Cristiano Ronaldo, fazendo disto um acontecimento com significado semiológico suficiente para ocupar Casanova durante, pelo menos, dois meses.

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