quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A teoria de jogos até nem é má pessoa

Aqui pedi para que escolhesse entre uma das duas alternativas. De acordo com a teoria de jogos, qualquer resposta é válida se e só se você escolher com a alternativa que mais prefere.

Ou por outras palavras, a teoria de jogos assume que os jogadores sabem a preferência relativa de cada uma das opções (basicamente, de qual é que gostam mais, de qual é que gostam menos, etc). A teoria assume também que os jogadores escolhem sempre a hipótese que mais preferem sobre todas as outras. Assim, se o Zé Manel preferir o aeroporto em detrimento do hospital, a teoria de jogos diz que o Zé Manel vai escolher construir o aeroporto e não o hospital.

Aqui chegados, é preciso fazer uma pausa e analisar as duas hipóteses que foram feitas. Começando pela segunda, é perfeitamente razoável assumir que os jogadores escolhem as opções de que gostam mais. No fundo é que isto a que a teoria de jogos chama de "jogador racional".

O problema está na primeira hipótese. Toda a complexidade do mundo foi reduzida ás preferências do jogador sobre as escolhas possíveis. Existem algumas restricções técnicas na definição formal de preferências (utilidade em teoria de jogos), mas no essencial é isto.

É claro de ver, que como ferramenta para explicar comportamentos humanos, a teoria de jogos é uma ferramenta útil nem que seja numa primeira abordagem. Efectivamente, é natural considerar que as pessoas têm preferências e que se decidem pelas escolhas que mais preferem.

Mas, e aqui é que a porca torce o rabo, como ferramenta de apoio á decisão a teoria de jogos deixa de ser tão interessante. Primeiro porque é extremamente limitativa no que respeita á forma como se definem preferências. Condensa toda complexidade da vida e do mundo num número (real, ainda por cima). E segundo, porque o caminho óbvio para a utilização da teoria de jogos consiste em manipular as preferências individuais para atingir determinados objectivos. Os típicos subsídios, incentivos, benefícios fiscais, etc que por aí pululam.

No entanto o problema principal corre mais fundo. Como é que uma teoria em que qualquer escolha é válida, dadas as preferências adequadas, pode servir para alguma coisa que não masturbações académicas ?

Sem comentários: