sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Alguém falou em teoria dos jogos? III

Ora, os problemas para os economistas começam neste ponto. Em muitos dos casos, dotados de alguma impreparação histórica (pelo menos que toca a períodos anteriores ao século XIX), tomam como racionalidade de escolha, uma racionalidade que não tem em conta a ponderação do meio-ambiente e a racionalidade intrínseca de factores que o iluminismo tomou - e se nos é permitido, muito bem - como irracionais, mas no contexto de uma luta espícifica: a revolução científica dos séculos XVII-XVIII levou a que, estrategicamente, se produzisse um saber agressivamente racional - o que quer dizer formalizado - para derrotar a espiritualização da organização social. Fora desse contexto, algo que Newton ou Voltaire entendiam, a racionalidade é um fenómeno auto-referencial. Isto implica que se abandone a ideia de que a produção de razão se faz de uma forma unívoca, como um oceano que nos envolve a todos beatificamente. Podemos então dizer que afirmar a maximização das vantagens como fruto da escolha racional é uma tautologia sem qualquer valor explicativa se não estivermos a par dos contextos específicos. Só à luz da situação concreta é possível identificar as vantagens, o que não deixa margem para elaborações essencialistas sobre a escolha em situações abstractas. Daí que já Aristóteles intuía a dimensão contingente de toda a ética. Da mesma forma, a leitura dessas vantagens depende não só do processamento da informação - conteúdos externos - mas também das estruturas internas da consciência. North esclareceu de forma cabal, neste caso, a importância das instituições na produção de “racionalidades”. Apontou para o valor positivo - no que toca à produção de um chão para a valoração dos elementos a escolher. Faltou porém clarificar que esta produção de racionalidade, que Foucault desenvolveu no âmbito da produção de sujeitos, i.e., da individualidade, é chave para a leitura das relações de poder que condicionam as escolhas que desde o século XVIII nos acostumámos a apelidar de económicas. Daí que seja necessário, para uma leitura das racionalidades económicas, encontrar as regularidades discursivas onde se produzem os sujeitos da acção.

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