quinta-feira, 28 de maio de 2009

Um elogio à ignorância (dos portugueses)

Pois é, caro Alf, é hoje, que venho aqui escrever.
Já pus de parte, por 10 minutos, as minhas diarreias intelectuais para melhorar os meus poemas. Vou parar por uns instantes. Até o Porto ganhar a Taça de Portugal, acho que vou entrar em estágio e só depois, de comemorar com o nosso homem da alheira de Mirandela, é que volto àqueles "Míseros textos prosaicos".

Mas é sobre o tal nosso amigo da alheira que venho aqui falar hoje. Primeiro deixa-me dizer-te que acho que não fica bem alheira com uma imperial. Penso que é indigesto. Prefiro pensar a imperial com tremoços.
Ontem lá no Instituto onde ando, passeavam por lá uns tipos de camisa lisa e bem parecidos a distribuir panfletos e a incentivar ao voto. Estes senhores eram da JSD. Entenda-se, caro leitor, que "J" não significa juventude, mas sim movimento de "imbecialização" (palavra tecnocrata que acabou de sair do meu saber) de jovens. Muitas vezes, estas imbecializações, são fruto da auto-flagelação pensativa dos próprios jovens - tipo católico, na missa de domingo ao meio dia, antes do cozido ou da sardinhada, que ao ouvir o saber do padre fica na mesma, mas que veste a "camisola" e inspirado brama ao seu próprio ser: VAMOS LÁ!!!!!

Entretanto, e depois de chamar os tipos de reaccionários - peço desculpa ao leitor pela insistência na palavra "tipo", mas não encontrei nenhum substantivo para personificar naquele "tipo" que andava a distribuir os panfletos - começo, eu que me preocupo com a minha vida, ali, à porta do pavilhão central, reluzindo aos olhos de Deus o nome do meu instituto (IST)- mais pelo sentido do saber escravizado ao mercado, do que ao próprio saber - inicio o meu ritual de vómito àquilo que parecia um programa eleitoral digno de tremoços e de 500 barris Sagres para o povo.

Uma das medidas era: Combater a crise com os fundos europeus.
Caro Alf, aqui é que se vê que o gajo deve ir mesmo à missa, e depois come o cozido. É que isto de pedir cheira-me a prática religiosa, não? Talvez esteja errado, neste ponto, da igreja, mas acho humilhante a demagogia do senhor em querer rebaixar-nos ao ponto de pedir esmolas.
Não é que sejamos ricos, ou que tenhamos petróleo em Sines, que possa pagar esta crise, mas não está certo.

Outra frase de apelo ao voto no PSD, e ainda mais engraçada (humor desta frase não atinge, por enquanto, os malucos do Riso, ou qualquer intervenção jornalística da TVI/Manuela Moura Guedes) é esta: "Famílias Portuguesas acima das famílias europeias - assina por baixo?"
Eu assinava, caro Alf, mas não isto. Preferia assinar um atestado em que metesse o tipo, a bater com a cabeça nas paredes, para pensar um pouco. Quando é que estes tipos percebem, que o pessoal deixou de ser menos estúpido, e sabe que eles representam única e exclusivamente, os seus próprios interesses - o tal poder que todos ambicionam?

E agora, para me despedir, quero apresentar ao caro leitor, a medida mais estruturante para Portugal na Europa. Aqui, e como os dois partidos do bloco central possuem o conhecimento (não daquele que porventura precisaríamos) da visão futura para o país juntaram-se e proclamaram aos céus: "Pai nosso, nós precisamos do TGV. É aqui que Portugal pode vencer". Comentários a isto, Alf? Acho que não se precisa.

Caro Alf, finalmente parto. Porém parto com o teu lema, aqueles que enunciaste dum tal romano, aqui no blogue, de que sagradas são as armas, quando só nelas reside a esperança.
Eu, bem sei que querias mudar isto pelo saber, mas como gosto do lado bélico da coisa, prefiro as armas - são mais eficientes (desculpa este meu desabafo abjecto de reflexão).
Porém espero, que quando encontrar-mos o tal senhor, aqui por Oeiras, talvez ele nos possa oferecer uns tremoços e umas imperiais, antes das canetas, e tu ensinares-lhe alguma coisa - Eu não porque não sei o suficiente para o ensinar (risos).

Já é tarde, mas antes de ir deixo aqui apenas um texto dum senhor que descobri, graças a ti, caro Alf, que ilustra bem o que às vezes sentimos (impotência) por (ainda) não conseguirmos mudar isto:

Daniel Faria
"Para que visses"

«Para que visses
Tão sinuosos como o interior dos búzios
E o dispensar assustado dos cardumes
Os olhos já não estão
Nem eles próprios nem outros
A florir»

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